Capítulo 4: Otávio: As consequencias dos meus erros

Otávio...

Logo que saio do banheiro, olho no celular e tem uma mensagem de Amanda, abro para ver e é a foto dos meus filhos.

Não contenho as lágrimas e a dor que invade meu peito.

Lembranças on...

Hoje eu e Ângela comemoramos um mês de namoro, vou pedi-la em casamento, oficializar o nosso compromisso. Estávamos jantando num restauranta na área externa.

— Tenho uma novidade! — dizemos em uníssono.

— Diz você primeiro! —diz com um sorriso estampado em seus lábios.

— Primeiro as damas!

— Estou grávida! Vamos ter um filho!

Paraliso, mas a emoção logo invade o meu ser, levanto, pego a sua mão e assim que se levanta a puxo para um abraço apertado.

Em seguida, me ajoelho aos seus pés, retiro a caixa de aliança e faço o pedido.

— Me daria a honra de se tornar a minha esposa?

Ela abre um lindo sorriso e diz que aceita.

...Aquela noite foi mágica para ambos....

...........................

Devido a sua gravidez, adiantamos a data do casamento.

Quinze dias depois, tudo já estava pronto para o nosso sonhado momento. Ainda não contamos as nossas famílias, mas Ângela já está entrando na décima quarta semanda de gestação. Ela tem usado vestidos mais soltos para que ninguém fique sabendo.

Algumas horas antes da cerimônia, estava em meu quarto me arrumando quando a minha mãe entra. Desde que meu pai planejou esse casamento e minha mãe soube quem era a família escolhida por ele, dona Ravena, deixou claro ser totalemente contra.

Minha mãe é uma mulher preconceituosa e racista, foi por esse motivo que não aceitou a minha noiva e sua família. Contudo, na frente deles sempre foi muito boa atriz.

— Tem certeza, que vai levar esse casamento a diante, Tavinho? Filho, olha pra mim, não precisa se casar com essa mulher, só porque seu pai está mandando!

— Não estou fazendo isso, pelo meu pai! Estou fazendo por mim, porque amo a Ângela!

— Como pode amar, uma garota como aquela? É um homem tão lindo, simpático, poderoso...

— Me poupe dos seus comentários racistas, mãe! Guarde apenas para a senhora!

— Não vai ser feliz com uma mulher como ela!

— Nada que fale, me fará mudar de ideia! Ainda não revelamos a família, mas minha noiva amada, está esperando um filho meu!

Ela fica pálida.

— Eu não acredito que caiu nessa, seu idiota! Estará amarrado a essa familia para sempre!

— Não vai estragar o meu dia, mãe! — digo asperamente.

A porta do quarto se abre e é a minha avó.

— Não acredito que está aterrorizando o menino, minutos antes do casamento! — diz brava.

— Quero que o meu filho seja feliz, mamãe!

— Mentira! Quer apenas a sua felicidade! Como sempre, pensa apenas em você, no que quer! Deixe que os seus filhos escolham as mulheres que amam para se casar, se não serão infelizes, assim como voce é!

— Eu não sou infeliz!

— Claro que é! Pensa que não sei das coisas, Ravena! Estou velha, mas não cega!

Minha mãe saí irritada do quarto.

Minha avó se aproxima e me puxa pelo ombro, para alcançar a minha testa e pousa um beijo carinhoso.

— Não ligue para a sua mãe! Seja feliz, meu neto amado!

— Eu serei, vovó! Eu serei! Eu queria muito, que a senhora entrasse comigo na igreja!

— Eu?

— A senhora sempre foi mais mãe do que a minha própria mãe! E se ela não aceita o meu casamento, não quer me ver feliz, também não quero que ela entre comigo..., quero alguém que compartilhe da minha felicidade!

Ela sorri e concorda em entrar comigo.

Seguimos para a igreja e minha mãe fica visivelmente furiosa, ao saber que quem vai entrar comigo será a miha avó. Ela se preocupa muito, com o que os outros irão dizer, o que a sociedade vai dizer, tudo para ela é status.

Entro com a minha avó e aguardo ansiosamente pela chegada de minha noiva. Olho no relógio de minuto em minuto, ajeito a gravata, até  que a marcha nupcial toca, as portas se abrem dando a visão da mulher mais linda que já vi na face da terra.

Ela estava linda, radiante.

A cada passo, sorri segurando no braço de seu pai.

Até que seu sorisso se fecha, enpalidece e lentamente vai caindo. Tudo parece acontecer em câmera lenta, seu pai a segura e a deita em seus braços ajoelhado no chão. Aquela cena, faz eu perder o chão, corro em sua direção, me ajoelho aos seus pés e chamo desesperadamente por ela.

— Calma filho, deve ser devido a gravidez! — sussurra vovó em meu ouvido.

Mais calmo, a pego no colo e a levamos para o hospital mais próximo. Ela é socorrida e levada para a emergência.

Conto os segundos, minutos até que a preocupação volta, pois completou uma hora e ainda não haviam vindo dizer nada sobre o seu estado. Naquele momento, todos ficam sabendo de sua gravidez, pois tive que dizer assim que os enfermeiros a colocaram na maca.

Dois médicos vieram falar conosco e foi nesse momento, que meu coração parecia ter sido esmagado, a dor era horrível a cada palavra deles.

— A paciente entrou em coma, seu estado é muito grave! Teremos que tirar os bebês, caso contrário ela não vai resistir!

— Bebês — pergunta meu pai

— Sim! Ela está grávida de gêmeos... ela não vai conseguir levar a gestação em frente e se salvar!

— Ângela jamais aceitaria isso! — digo e seus pais concordam comigo.

— Fazer isso seria desumano! — completa seu pai.

— Mas o que ela tem necessáriamente, doutor?

— A paciente desenvolveu um tipo de doença rara no sangue, não conseguimos identificar o problema, estamos fazendo várias exames! Mas é algo nunca visto antes, que afetou seu cerebro!

Meu mundo desaba ali.

— Posso vê-la doutor?

— No momento não!

E o meu sofrimento não terminou aí, Ângela nunca mais acordou, nem ao menos pude me despedir. Três meses depois, seu estado só piorava, mas por um milagre, conseguiu manter a gravidez até a vigésima quarta semana.

A família contratou uma enfermeira que cuidou dela nos seus últimos meses de vida.

Amanda se tornou uma grande amiga, sempre me dando conselhos, tentando me animar.

Eu estava acabado, encontrava força nos meus filhos, praticamente morava no hospital. Meu irmão Leonardo, passava o dia aqui comigo e a noite minha avó. Se não tivesse o apoio deles nesse momento, talvez não teria conseguido passar por tudo isso.

O quadro dela, piorou e era como se ela estivesse lutando para sobreviver por nossos filhos. Os médicos se impressionaram com o seu caso.

Os médicos fizeram cesária e o nosso casal de filhos, teve que ir direto para a encubadora, pois nasceram de 24 semanas. Assim que nasceram, Ângela veio a óbito, me deixando em pedaços.

A dor que sentia, era insuportável, acreditei que não conseguiria sobreviver a isso.

Lembranças off...

Ouço batidas na porta, não respondo, então Leonardo entra e me vê como uma criança abraçada ao meu corpo chorando compulsivamente. Se aproxima e me abraça fortemente.

— Será que essa dor nunca irá passar?

— Não tem nada que o tempo não cure, irmão!

Nosso abraço é forte.

A lei do retorno é dolorida, parece que não vamos suportar. Alguns acreditam que não pagamos por nossos erros, mas a verdade é que toda ação, tem sim uma reação. Como dizem, plantamos espinhos e os colhemos com as mãos sangrando.

Toda a maldade que tinha em meu coração, para separar Maya do seu amor, todas as lágrimas que a fiz chorar, o quanto a magoei..., voltou para mim. Tudo o que plantei, estou colhendo agora e como doí. Essa dor parece que não terá fim.

Tento ser forte e peço todos os dias para que os meus filhos, não venham pagar pelos meus atos, que eu possa vê-los crescer, que eu possa aconselha-los.

Estou a procura, de alguém que cuide deles, essa pessoa tem que ser forte o suficiente, para enfrentar a maldade em que estamos cercados. A tornarei a minha esposa por contrato, apenas para que seja a mãe que os meus filhos precisam. Quero alguém, que esteja disposta a lutar com unhas e dentes por eles, que seja simples e os ame incondicionalmente.

Uma pessoa, que possa ensinar os valores que Ângela tinha.

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