Alucinação

Aurora

P.O.V.

As palavras se emaranham na minha mente como fios de um novelo. Sinto minhas mãos se apertarem ao lado do corpo, uma âncora em meio ao caos. O homem à minha frente avança um passo, e, nesse instante, percebo que não estou mais no banheiro luxuoso onde estive. O ambiente ao meu redor se transforma em um espaço quadrado de madeira, repleto de prateleiras empilhadas, abarrotadas de frascos de poções coloridas. A luz é escassa, e, apesar da confusão que nublava minha mente, uma mecha de cabelo verde brilha à minha frente. Será que havia algo na bebida que tomei?

“Você é um elementa da terra, presumo...” Sua voz profunda e melodiosa ecoa na sala, envolvendo-me como um canto hipnótico. A sensação é ao mesmo tempo aconchegante e aterradora. “É necessário que você se retire.” Ele pausa, a tensão pairando no ar. “Elementares da terra não são bem-vindos nesta área.”

Pisco algumas vezes, tentando processar suas palavras. “Do que você está falando?” minha voz se torna quase um sussurro, enquanto a realidade começa a se desenhar em minha visão. “Dê um passo à frente.” A exigência em sua voz é clara e, num impulso, bato o pé, desafiando sua ordem.

“Eu não…” Desvio o olhar, ignorando o instinto de perigo que me sussurra ao fundo. O homem permanece impassível, mas, de repente, sinto algo áspero e sinuoso como uma corda se enroscar em meu pulso. Olho para baixo e vejo raízes verdes surgindo das costas dele, puxando-me para frente. Meus pés descalços deslizam pelo chão de madeira, enquanto o medo cresce em meu peito. Ao emergir na luz, fecho os olhos, mas a curiosidade me força a piscar algumas vezes.

Quando finalmente consigo ver, meu coração dispara. Ele é... magnífico, como uma visão saída de um conto de fadas. Seu cabelo verde se estende até a metade das costas, emoldurando um rosto de traços etéreos: orelhas pontudas como as de um elfo, olhos verdes que cintilam com uma luz sobrenatural e uma pele tão branca que poderia ser confundido com a de um vampiro. Ele parece perplexo. “Como...?” sussurra, quase para si mesmo.

Meus olhos vagam pelas suas roupas. Ele usa uma blusa cinza justa que molda seus braços esguios e uma capa cinza adornada com finas linhas de ouro que brilham sutilmente sob a luz. A capa, que cai até os joelhos, é sem capuz, revelando ainda mais de sua presença cativante. Suas calças são largas e também cinzas, e ele calça sandálias pretas abertas, completando o visual com uma coroa de ossos que contorna sua cabeça de maneira intrigante.

Ao olhar ao redor, percebo que estou em uma sala de aula. Um lugar tão diferente que eu poderia até aceitar ser torturada por aulas de matemática ali. Ele limpa a garganta, e volto a atenção ao seu rosto sereno, onde não há vestígios de tensão.

“Você precisa voltar, senhorita. Deve ter ocorrido um pequeno problema nos portais. Vou garantir que isso não se repita.” Sua voz mantém um tom calmo, quase reconfortante. As raízes que me prenderam soltam-se lentamente, e, ao tocar onde estiveram, um arrepio percorre meu corpo. Mas, em um movimento súbito, as raízes se enroscam em meus ombros, levantando-me do chão. Minhas pupilas se dilatam, e a respiração se acelera.

As raízes me colocam de volta ao lugar onde eu estava. “Preciso que feche os olhos, senhorita.” Ele esboça um sorriso gentil, mas seus olhos transmitem uma seriedade que não pode ser ignorada. Uma das mãos se move atrás das costas, enquanto a outra se ergue, lançando um pó verde em meu rosto. Antes que o pó possa atingir meus olhos, fecho-os rapidamente.

Quando os abro novamente, o mundo parece girar. Coloco uma mão na cabeça, enquanto a outra busca apoio na borda da pia. Percebo que não estou mais naquele lugar, mas na casa de Milena. Um suspiro de alívio escapa de meus lábios.

Ainda bem...

Logo, ouço batidas na porta. “Você está bem?” A voz de Milena ecoa do outro lado. “Sim,” respondo, e escuto os passos dela se afastando. Fecho os olhos, convencendo-me de que foi apenas uma alucinação, uma entre tantas que tive desde pequena. Desde então, aprendi a ignorar as visões estranhas, desde plantas que pareciam se mover sozinhas até criaturas bizarras na floresta. Não posso ser considerada louca.

Vamos lá, Aurora, isso é loucura, não pode ser real...

Olho para o espelho e vejo o pó verde brilhante em meu vestido. Com as pontas dos dedos, toco o tecido macio, levando os grãos minúsculos para mais perto dos olhos.

Isso foi real... Até demais...

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Atualizado até capítulo 53

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