Helena
P.O.V.
Enquanto vasculhava a gaveta, meus dedos tocaram um papel amarelado, e o coração disparou ao reconhecer a carta que escrevi para Aurora. Com um suspiro, peguei-a e a coloquei cuidadosamente sobre a escrivaninha. A ansiedade tomou conta de mim enquanto me dirigia para a cama, onde uma caixa grande e lacrada aguardava, cheia de promessas e sonhos.
Desci as escadas lentamente, cada passo medido para não acordar Aurora. O silêncio da casa era quase palpável, como se o tempo estivesse congelado. Cheguei à camionete e abri a porta traseira, colocando a caixa em meio às outras, certificando-me de que tudo estava ali. O peso do momento me apertava o peito.
Voltei para a casa velha e, com um leve tremor nas mãos, abri a geladeira. Meus olhos brilharam ao ver a torta que eu havia feito, um pequeno tesouro em meio à escuridão do lugar. Peguei um pequeno recipiente e cortei uma generosa fatia. "Isso vai me sustentar até lá", murmurei para mim mesma, tentando encontrar um pouco de ânimo.
Já se passaram dois meses desde que comecei a planejar minha fuga. A verdade é que nunca gostei dos meus pais adotivos, mesmo sendo a filha favorita. O que me manteve nesse lugar esquecido foi a esperança de que, ao menos, Aurora estivesse perto dos dezoito anos. Com apenas alguns dias faltando, minha decisão estava tomada: partir para Nova York, um lugar onde sempre sonhei estar.
Um suspiro pesado escapuliu dos meus lábios enquanto entrava na camionete, e uma última olhada para a casa trouxe à tona uma onda de memórias. Nunca tive boas lembranças aqui, mas esse lugar, embora sombrio, me ofereceu abrigo. Agradeci em silêncio, sentindo meus dedos gélidos pelo frio se apertarem contra o volante. A indecisão de deixar minha irmã para trás me corroía, mas a urgência da minha escolha era maior.
Eu precisava fazer isso. Nova York me esperava, um futuro repleto de possibilidades, emprego e um apartamento que poderia chamar de meu. Assim, poderia finalmente convidar Aurora para morar comigo. Revisei mentalmente meu plano, absorvendo a força que ele me trazia. Com um último olhar para a casa que eu deixava para trás, dei partida, seguindo pelas ruas lisas e vazias dessa cidade esquecida por Deus.
Nova York, aqui vou eu.
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Aurora
P.O.V.
Quando os primeiros raios de sol filtraram pelos buracos da cortina velha, iluminando meu quarto de maneira suave, levantei-me com um gemido. Os meus ossos protestaram com estalos ao enfrentarem a rigidez de mais um despertar tão cedo. Com um movimento hesitante, caminhei até a porta. Sabia que meu guarda-roupa era quase vazio, e aquela peça, embora simples, era a única que eu considerava "a melhor". Sem ânimo para me banhar ou trocar de roupa, decidi que uma escovação rápida nos dentes seria o suficiente.
Ao abrir a porta, meu olhar se fixou no corredor vazio. Com passos silenciosos, dirigi-me ao banheiro, que ficava ao lado do quarto da Helena. Ela, a filha perfeita, nunca precisava se preocupar em esperar para usar o banheiro.
Ao passar pela porta entreaberta do quarto dela, uma sensação estranha me invadiu. O espaço estava deserto, apenas a cama coberta com uma capa branca padrão e uma velha escrivaninha dominavam o ambiente. O ar parecia carregado de um vazio inquietante.
Senti um impulso irresistível e entrei, os olhos caindo sobre um papel deixado sobre a escrivaninha. Meu coração acelerou, pulsando na expectativa e na ansiedade. Com dedos trêmulos, desdobrei o papel e li, reconhecendo imediatamente a letra de Helena.
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"Sei que você se culpa por morarmos aqui, mas não foi sua culpa. Eu não te abandonei. Estarei indo para Nova York. Consegui um emprego que paga muito bem. Quando juntar a quantia certa, vou te buscar. Então, poderemos ficar juntas. Sei que você vai ficar bem, pois é difícil de quebrar, como o gelo..."
Com amor, Helena...
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Uma lágrima escorre pela minha bochecha. Limpo-a com raiva, como se quisesse apagar a dor que ela traz. O papel em minha mão é amassado e lançado ao chão, uma pequena explosão de frustração. Por que perder tempo pensando em Helena? Um suspiro escapa dos meus lábios, e ao me virar, um choque me paralisa. Uma mulher de aparência magra e quase cadavérica se aproxima, suas bochechas marcadas como se a vida houvesse a abandonado. Ela está vestida com trapos que mal cobrem seu corpo, e seus cabelos escuros estão emaranhados, como se não vissem água há meses.
"Cadê a Helena, pirralha? Preciso dela para a preparação da festa", ela diz, sua voz falhando, cada palavra carregada de desespero.
Engulo em seco, sentindo as mãos tremendo e se apertando como se quisessem se proteger. "Eu não sei, eu a vi saindo hoje cedo. Talvez ela tenha ido à lavanderia", murmuro, torcendo para que ela acredite na minha mentira esfarrapada.
"Bem, pelo menos ela é útil... Quero você aqui às nove horas. Vamos fazer uma comemoração em família. Ahro terá que vir, mas não é para você entrar pela porta da frente..." Ela pausa, um soluço interrompendo suas palavras. Aponta o dedo em minha direção, como se pudesse me ferir. "Entre pela porta dos fundos e não chame atenção para si. É só para mostrar que você está bem, pirralha."
Ao se aproximar, a mulher se engasga e, em um desespero absoluto, corre para o banheiro. O som repugnante de vômito ecoa no silêncio do quarto.
Assim que ela sai, um suspiro de alívio escapa de mim. O que ela estava fazendo aqui tão cedo? Normalmente, passava as noites na rua. Mas se ela está aqui... Provavelmente, ele também. O pânico me invade ao pensar em cruzar com ele. Sem hesitar, corro para o meu quarto e tranco a porta, o coração disparado.
Procuro freneticamente meu uniforme, sussurrando "Cadê, cadê, cadê..." até que a verdade me atinge com um peso insuportável.
Merda.
Deixei o uniforme na escola. Sem ele, não posso entrar. Malditos gêmeos Acqua e suas línguas traiçoeiras! Bato com a mão na testa, frustrada, e pego minha escova e minha mochila. Jogo a mochila no ombro e abro as cortinas. O céu tem um azul fraco, quase tímido, enquanto o sol ainda se desprega de seu sono. Um suspiro pesado escapa de mim e, sem pensar duas vezes, pulo pela janela, mergulhando na floresta, alimentando o sonho de que conseguirei entrar na escola com as habilidades de uma fugitiva.
Quebra de tempo...
Me escondo entre os matos, camuflando-me como uma sombra. Observo os últimos alunos entrando, e, em segundos, os grandes portões da CherryPree se fecham com um eco ensurdecedor. Coço meu rosto, sentindo a ansiedade tomar conta de mim. Preciso entrar. Então, lembro do muro que os gêmeos Acqua usaram para escapar. Se não me engano, Kaiser não deve ter conseguido tirar aquela corda de lá.
Arrasto-me pela terra, ignorando a sujeira que mancha minhas roupas — que já não estão limpas de qualquer forma. Ao me aproximar dos altos muros da escola, esforço-me para recordar em qual direção saímos, mas as memórias são nebulosas, como sonhos que escapam ao acordar. Cada tentativa de lembrar provoca uma dor aguda na minha cabeça. Caminho desanimada ao longo dos muros, até que, de repente, a esperança renasce: lá está a corda. Corro e a seguro, verificando se minha mochila está firme no ombro. Firmo meus pés na parede e puxo com toda a força, sentindo o peso da minha determinação.
Subo lentamente, com medo de fazer barulho, até que, de repente, a corda é puxada abruptamente para cima. Alguém do outro lado a está puxando! Um desespero me invade. E se a diretora encontrou a corda? Então, faço o que qualquer pessoa normal faria: puxo a corda para baixo, tirando os pés da parede e deixando todo o meu peso na corda. Para minha surpresa, ela começa a subir como se eu não pesasse nada. Fico pendurada como um animal à espera do abate, os dedos protestando de dor enquanto me agarro à corda.
Mas parece que a pessoa do outro lado perdeu a paciência. A corda sobe de uma vez, e a pele dos meus dedos se arrasta na parede, fazendo-os sangrar. Em um último esforço, faço uma cambalhota no ar antes de tocar a neve fofa do chão. Quando abro os olhos, encontro os gêmeos Acqua me observando, confusos. O uniforme preto deles exibe o símbolo da CherryPree, e ambos estão envoltos em cachecóis fofos, listrados de azul e branco.
"Que isso?" Kaiser é o primeiro a falar, seu tom alegre e debochado vibrando no ar, como sempre.
Reviro os olhos, tentando ignorar o incômodo que ele provoca. Akash, com seu olhar penetrante e confuso, estreita os olhos cinzas. "Você está bem?" Ele segura meu cotovelo e me levanta do chão como se eu fosse uma pena, seu toque é gentil, mas firme. Seus olhos vasculham lentamente meu corpo, e sinto as bochechas ardendo de vergonha por causa das roupas que escolhi.
"Sim, eu acho que só machuquei as mãos." Viro as palmas, revelando a pele do dedo rasgada, pequenas gotas de sangue brotando. "Não foi nada demais," afirmo, tentando soar despreocupada, mas a tremulação na minha voz trai minha tentativa de indiferença.
A expressão de Akash muda instantaneamente; o olhar preocupado se transforma em raiva. Antes que eu possa entender o que está acontecendo, Kaiser agarra o braço de Akash, segurando-o com firmeza. Mas antes de ir, ele pega seu cachecol e o joga em meu rosto. O cheiro de avelã invade minhas narinas, familiar e envolvente, lembrando-me de seu irmão. Com as mãos tremendo, agarro o tecido, sentindo sua suavidade contra a pele. Quando olho para frente, os gêmeos já desapareceram na multidão. Que estranho...
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Kaiser
P.O.V.
Aperto o braço do meu irmão com força, sentindo a tensão pulsando sob minha pele. Ele está descontrolado, e embora não tenha certeza, sei que tudo isso é por causa de Aurora.
Estamos fora da escola, mergulhados na escuridão dos becos. O cheiro de lixo se infiltra em minhas narinas, nauseante. "Calma, eu vou conseguir algo para você," tento confortá-lo, mas as palavras saem mais como um sussurro do que um comando. Ele rosnando como um animal selvagem, sua raiva é palpável, e não consigo encontrar meu tom debochado, especialmente quando ele está assim. Akash sempre foi meu protetor, aquele que me livrou de encrencas e me cuidou.
Não esperava que ele perdesse o controle por causa de uma garota, muito menos ele, o sereno e imperturbável Akash. Saio do beco, notando que a praça está quase deserta a essa hora. O silêncio é interrompido apenas pelo eco de meus passos, e olho ao redor, buscando cuidadosamente minha vítima. Logo avisto uma senhora sentada em um banco perto da fonte de água. Ela usa um vestido roxo que vai além dos joelhos, coberto por um chapéu verde e um cachecol que a protegem do frio. Seu olhar está distante, perdido em pensamentos.
Caminho devagar até ela, a superfície da praça é irregular, e meus sapatos pretos e polidos fazem um leve ruído ao tocar o chão. Sento-me ao seu lado, tentando trazer um pouco de calor ao ambiente gelado.
"Esse tempo está tão bonito, não é mesmo?" meu tom é suave e gentil, como se estivesse conversando com uma criança.
Ela pisca, como se estivesse retornando à realidade. Ao olhar mais de perto, percebo que seu rosto está marcado por rugas e linhas de expressão; até mesmo o cabelo curto e grisalho não é suficiente para lhe conferir beleza. "Sim, realmente, muito bonito," ela responde, um sorriso gentil surgindo em seus lábios. Sinto meu olhar se desviar para seus dentes, claramente artificiais, brancos demais para serem verdadeiros.
"O que traz uma senhora de idade a este lugar a essa hora?"
"Meu filho, que eu não vejo há mais de trinta anos, finalmente vem me visitar. Depois de tanto tempo trabalhando, ele conseguiu um dinheirinho para tirar férias," ela diz, e seu sorriso se alarga, iluminando seu rosto. Com movimentos lentos, ela pega uma bolsa verde que parece ter sido usada por décadas, suas mãos enrugadas vasculham o interior até encontrar uma foto. Estendendo a mão, mostra a imagem a mim: um homem de aparência envelhecida, na casa dos trinta anos, com um largo sorriso que brilha na fotografia.
"Veja, ele finalmente vai vir aqui. Mas e você, mocinho?" Ela faz uma pausa, seus olhos se fixando em meu uniforme. "Nossa, você estuda na CherryPree! Sempre quis colocar meu filho lá quando era pequeno, mas é tão caro. Você tem sorte! Aliás, o que está fazendo aqui? Já não está tarde?"
"Ah, sim..." Olho ao redor, buscando as palavras certas. "Infelizmente, aconteceu algo trágico. Meu irmão comeu algo que não devia e está passando mal." Aponto para o beco, onde a escuridão parece engolir tudo. "Ele está lá."
A senhora se levanta, a testa franzida em um sinal claro de preocupação. "Então vamos lá," ela afirma, já caminhando apressadamente em direção ao beco, seus passos largos e decididos. Ao chegar, avista meu irmão sentado, com os olhos mais cinzas do que o normal, um brilho inquietante refletido neles. Ele ergue o olhar para a mulher, um tremor passando por ela, e se levanta, apoiando-se nas pedras da parede.
Ele caminha em direção a ela, a boca se abrindo para revelar uma fileira de dentes pontudos, afiados como lâminas. A mulher tenta gritar, mas rapidamente coloco minha mão em sua boca, sentindo a textura do batom barato manchando minha pele. "Você não vai gritar... Vai ser rápido," sussurro, a voz baixa e controladora. Ela não tem escolha a não ser obedecer, uma mistura de terror e resignação nos olhos.
Akash se aproxima, suas mãos se movendo delicadamente pelo rosto da mulher, quase como se estivesse a acariciando, antes de se direcionar ao seu pescoço. Então, sem aviso, ataca. O sangue respinga em todas as direções, manchando o chão e o ar ao nosso redor. Eu apenas observo, um espectador em um espetáculo grotesco, enquanto ele desmembra a mulher, devorando-a como um animal faminto, consumindo cada pedaço de sua humanidade.
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Aurora
P.O.V.
Caminho lentamente pelas masmorras da escola, um labirinto que descobri ao fugir de Ava. Meus dedos deslizam pelas pedras úmidas, sentindo a textura fria e áspera. O caminho até o banheiro é envolto em sombras, e, ao chegar a uma marceneta de ferro, puxo-a para o lado, revelando o banheiro. Melhor do que nada. Empurro a porta de volta para o lugar e entro.
Uma onda de calor me envolve. O vapor paira no ar, dificultando a visão. Meus olhos percorrem o ambiente; há várias cabines, cinco ao todo, e um balcão de cerâmica separa a entrada do resto do espaço. Conto duas portas de saída e me dirijo à área onde deveria estar a máquina de lavar ou, pelo menos, o cesto. Então, o barulho da água enche meus ouvidos. "Alguém está aqui?" Pergunto, arregalando os olhos.
Engulo em seco e tento passar sem fazer barulho, mas uma pequena barra colorida passa por mim. Sem querer, piso nela, e, com um estrondo, caio de cabeça no chão. O som da porta de uma cabine se abre. Fecho os olhos, rezando para que não seja Ava. "Pensei que a segurança de uma escola de alto padrão não permitisse mendigos aqui," uma voz masculina doce, com sotaque, ecoa pelo banheiro.
Abrindo os olhos, encaro um homem imenso, muito maior do que eu. Arregalo os olhos ao ver suas duas orbes brilhando em amarelo, enquanto pingos de água escorrem de seu corpo e respingam em meu rosto. Continuo a olhar, paralisada, sem saber como reagir. "Está gostando da vista, esquila?" Ele ri, e o som reverbera como um desafio.
Franzo a testa, levantando-me com dificuldade. Ao me erguer, cambaleio para o lado e, por um instante, sinto a cabeça girar. Sinto dois braços fortes passando sob os meus, oferecendo apoio. "Você está bem?" A preocupação em sua voz parece improvável, quase um mistério.
"Sim, o que você está fazendo aqui? Este é o banheiro feminino," pergunto, empurrando-me para frente, quase caindo novamente. Ele segura meu braço e me vira de frente para ele, nossos corpos se pressionando, a proximidade inesperada. Suas mãos encontram minha cintura, e, por um instante, fecho os olhos, mordendo os lábios rachados, tentando processar o que está acontecendo.
"Em primeiro lugar, o que você está fazendo aqui? Este é o banheiro masculino!" Ele arqueia uma sobrancelha, um sorriso de lado moldando seus lábios enquanto molha a boca. "Se queria uma foto, era só pedir. E, em segundo, por que está parecendo uma mendiga? Sei que você vive na rua, mas não precisa vestir suas roupas de indigente aqui."
"Eeer..." Minhas palavras falham enquanto minha atenção se fixa em seus lábios. Balanço a cabeça, tentando afastar a confusão. "Eu estou aqui a pedido da diretora para um serviço," digo, cruzando os braços em um esforço de manter distância daquela parede de músculos que ele é. Contudo, ao olhar para cima, percebo que estou pressionada contra seu membro, e uma onda de constrangimento toma conta de mim. Ele começa a se erguer, e a consciência disso me faz sentir as bochechas arderem. O vapor que envolve o banheiro só intensifica meu desconforto, e eu me afasto rapidamente, buscando escapar da situação.
Meu corpo protesta contra a dor, mas sigo me afastando. Ele permanece em silêncio, seus olhos amarelos fixos em mim, como se estivesse flutuando em um mar de intensidade.
Sinto todos os pelos do meu corpo se arrepiarem, uma mistura de medo e excitação. Ignorando essa sensação, continuo meu caminho em direção ao banheiro feminino, determinada a escapar daquela interação constrangedora.
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Helena
P.O.V.
Bato as mãos no volante, a frustração me consumindo. "Mas o que...?" As ruas se assemelham a um cenário de terror, a neblina cobrindo tudo como um manto opaco, tornando o mundo um borrão indistinto. Corvos voam de lá para cá em círculos, suas silhuetas grotescas se destacando contra o céu cinzento. Quando o sol ainda brilhava, consegui ver essas aves repulsivas, mas agora tudo se distorce sob essa névoa impenetrável.
Esfrego os olhos, tentando focar em algo na estrada, até que, à distância, vislumbro uma figura. Não consigo identificar exatamente o que é, mas a altura é inconfundível. A silhueta desaparece de repente, e um frio percorre minha espinha. Freio bruscamente, meu cabelo loiro caindo sobre meu rosto, e, com unhas recentemente pintadas, me arranho involuntariamente. Calafrios percorrem meu corpo, e engulo em seco, olhando ao redor em busca de qualquer sinal daquela presença.
Um estrondo alto ressoa nos meus ouvidos. Cubro-os com as mãos, os olhos apertados enquanto a respiração se torna pesada. Finalmente, retiro as mãos dos ouvidos e, ao olhar pelo para-brisa, uma pequena borboleta branca, com as pontas das asas pretas, pousa sobre ele.
A borboleta se agita e, lentamente, dirijo meu olhar para o espelho retrovisor, tentando descobrir o que poderia ter assustado aquele frágil inseto. Então, vejo: atrás da caminhonete, uma figura encapuzada, envolta em roupas pretas, está completamente imóvel. Meus olhos ardem de pavor. Com as mãos trêmulas, ligo a caminhonete, mas, de repente, a coisa aparece à frente do veículo, fazendo-me frear com força.
Ela inclina a cabeça de maneira sinistra, e um frio intenso se espalha pelo meu corpo. Sem pensar duas vezes, dou ré, colocando o braço apoiado no assento de pano velho, tentando ver o que está atrás de mim. Mas tudo o que vejo é neblina, espessa e opressora, como se o mundo estivesse se fechando ao meu redor.
Desesperada, coloco a caminhonete em marcha à ré, e a figura some da minha visão. Freio abruptamente, fecho as janelas e respiro fundo, tentando recuperar a calma. Olho ao redor, buscando qualquer sinal dela. Com a mão trêmula, passo pelos meus cabelos loiros, que agora estão desordenados, e procuro meu celular. O avisto caído no chão do carro e o apanho, desbloqueando-o com pressa. Acessando o aplicativo de telefone, digito o número da polícia, mesmo sabendo que não há sinal. Mas, sendo uma chamada de emergência, a esperança persiste.
O celular emite um bip, e uma voz feminina atende. "911, qual é a sua emergência?"
"Tem um cara estranho..." minha voz sai trêmula e desesperada, buscando consolo nas palavras. Mas a frase morre em minha garganta quando meu olhar se fixa no espelho retrovisor. A figura encapuzada está sentada no banco de trás da caminhonete. O ar parece falhar em meus pulmões, e minha respiração se torna pesada.
"Senhorita, está bem? Aperte os números se precisar de ajuda," a voz feminina insiste do outro lado da linha, mas meu celular escorrega de minhas mãos, caindo com um leve clangor no chão do carro. Minhas sobrancelhas se elevam em horror, enquanto lágrimas quentes escorrem pelo meu rosto. Sinto meu corpo se paralisar, completamente imobilizada, enquanto a criatura inclina a cabeça de forma sinistra, observando-me.
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(Sim, uma eternidade para um capítulo. Prometo que me esforçarei mais, bjs!!)
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Atualizado até capítulo 53
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