O Eco das Sombras

Aurora

P.O.V.

Sussurros e palavras indecifráveis ecoam ao meu redor. Uma mão fria e gelada aperta meu ombro.

"Acorda... Você precisa abrir os olhos..."

A voz sussurra.

Abro os olhos, tentando me orientar. Olho ao redor e vejo apenas uma tocha lançando sombras vacilantes pelas paredes de pedra. Levanto-me, as mãos trêmulas pegando a tocha. Minha visão se estabiliza aos poucos, e observo melhor o lugar onde estou. Parece uma caverna, mas não pode ser; cavernas não são feitas de pedras talhadas assim. Um ar gelado passa pelos meus cabelos, e gemidos e sussurros distantes ecoam no ambiente.

"Quem está aí?", pergunto, sem obter resposta.

Os sussurros cessam e dão lugar a uma conversa mais alta. Aproximo-me de uma porta de madeira. Parece que estou em um calabouço, cercado por pedras, madeira e murmúrios. Seria alguma espécie de brincadeira?

"Majestade, você precisa fazer isso. Só uma pode viver. Vamos enviar uma para o mundo dos Zargons, e a outra governará o reino."

A voz do homem é profunda e retumbante, cada palavra saindo como um trovão contido.

Aproximo-me e espreito pela fresta da porta entreaberta. As luzes dentro são fracas, dificultando minha visão. Um homem alto está de pé. Ele tem cabelos longos e verdes, veste roupas pretas adornadas com detalhes estranhos, como se fosse de outra época. Uma grande espada pendia de suas costas, e um símbolo desconhecido está estampado em sua blusa.

Ao seu lado, uma mulher está sentada no chão. Ela tem cabelos castanhos e chora enquanto segura dois bebês, um em cada braço. O sangue escorrendo de seu corpo me enjoa, fazendo-me dar alguns passos para trás. No entanto, a conversa dentro da sala prende minha atenção.

"Não... Não farei isso. Farei com que ambas vivam. Não deixarei nenhuma morrer ou ser enviada ao reino dos Zargons. Não sacrificarei nenhuma de minhas filhas para aqueles vermes. Se alguém deve morrer, serei eu... Não permitirei que minhas pequenas tenham um destino tão cruel."

Suas palavras saem como uma mistura de súplica e desespero.

Ela se levanta com dificuldade e coloca os dois bebês no berço. Então, volta seu olhar para o homem. Ele suspira, ergue-se e empunha sua espada, levantando-a acima da cabeça da mulher.

"Espere... Eu preciso fazer algo."

Ela se aproxima do berço, retira um colar de seu pescoço magro e o coloca no pescoço de um dos bebês.

"Mamãe precisa partir, mas está tudo bem. É para o bem de vocês duas. Eu prometo que, quando eu me for, essa guerra acabará."

Ela pega o bebê que recebeu o colar e beija sua testa. Com um olhar melancólico, o coloca de volta no berço. Pequenos soluços escapam de sua boca.

A mulher passa a mão pelo vestido vermelho, ergue a mão e retira a coroa de prata da cabeça. Então, a coloca sobre a pequena cama desgastada. Erguendo o queixo, ela encara o homem alto, que ainda segura a espada. Ele se ajoelha no chão, em um gesto de respeito.

"Tudo que aconteceu hoje ficará entre nós. Você esconderá minhas filhas e não deixará aqueles vermes chegarem perto delas. Como sua irmã e rainha, essa é minha última ordem."

A mulher fecha os olhos, pronta para seu destino final.

O homem ergue a espada e, em um movimento rápido, desfere o golpe. Em segundos, a cabeça da mulher rola pelo chão. Sangue jorra pela parede, e eu assisto, horrorizada, enquanto os olhos entreabertos e sem vida da mulher me encaram.

Lágrimas se formam em meus olhos, e um grito estridente escapa da minha garganta.

A dor me atinge em cheio. Meu coração se aperta. Sinto como se conhecesse aquela mulher. Ela não me parece estranha, mas não entendo essa dor. Minhas pernas fraquejam, e eu cedo ao peso do sofrimento, caindo de joelhos. Uma dor agonizante percorre meu corpo. Fecho os olhos com força e, de repente, sinto algo me puxando.

"Acorda... Você precisa acordar, querida."

Abro os olhos ao sentir algo tocando meus lábios. Adam está a poucos centímetros do meu rosto. Meu corpo treme, o ar enche meus pulmões, e volto a respirar. Empurro-o e viro meu corpo de lado, vomitando água. O líquido quente rasga minha garganta. Com a visão turva e ardendo, olho ao redor. Todos os meus colegas de classe estão me observando. Alguns com olhares de preocupação, outros contendo risos.

Adam continua perto, seu olhar carregado de preocupação. Ele coloca uma mão quente em meu ombro, olhando profundamente nos meus olhos.

"Você está bem?", ele pergunta, suas mãos trêmulas contra minha pele.

Engulo em seco e aceno levemente. Adam apenas se levanta, e eu o sigo com o olhar enquanto ele se mistura à multidão de alunos.

"Vamos, pessoal, só foi mais um drama dessa dentuça. Ela ama chamar atenção. Dramática!"

A voz de Ava ecoa, e ela bate palmas, incentivando os alunos a se dispersarem. Assim que todos se afastam, ela sorri maliciosamente.

Ela dá alguns passos na minha direção, agacha-se até ficar na minha altura e segura meu rosto com força. Suas unhas afundam na minha pele, provocando uma dor insuportável.

"Da próxima vez, eu garanto que você não sai daquela piscina com vida. É melhor não entrar no meu caminho, esquilo. Entendeu?"

Ainda atordoada, resmungo e dou um pequeno sorriso. Minhas mãos tremem, mas eu apenas as fecho com força. Não vou deixar isso continuar acontecendo. Não mais.

"A única cadela que vejo aqui é você. Pelo menos, eu não preciso transar com um professor para passar de ano."

Solto uma risada seca.

O olhar de Ava se transforma em ódio. Ela aperta ainda mais minha mandíbula.

"Parece que alguém precisa de uma lição."

Ela bate minha cabeça contra a cerâmica do chão da piscina.

Uma... Duas... Três vezes...

Tento reagir, mas meu corpo não responde. O cheiro metálico do meu sangue enche minhas narinas, me fazendo enrugar o nariz. Olho para o líquido vermelho manchando a cerâmica. Minha visão fica turva, e meu corpo se torna cada vez mais fraco.

Com uma última batida, Ava se levanta. Como se não fosse suficiente, ela coloca o pé sobre minha barriga e me encara com nojo.

Ela pressiona o pé contra mim, aumentando a intensidade da força a cada segundo. A dor aguda se espalha por todo o meu corpo.

Meu corpo se curva instintivamente, tentando escapar da pressão. O ar me falta, e minha visão começa a escurecer nas bordas. O som ao redor vira um zumbido indistinto. Cada pulsação de dor envia ondas de náusea pelo meu corpo, fazendo minhas pernas tremerem.

Tento puxar o ar, mas a dor é esmagadora, como se uma maré negra estivesse me engolindo. A pressão na minha barriga se torna insuportável, e começo a perder o controle dos meus pensamentos. O mundo ao meu redor gira lentamente, e as vozes se tornam ecos distantes. Minhas pálpebras pesam, e a escuridão me envolve.

Antes que tudo desapareça, a última coisa que sinto é a dor profunda e a opressiva sensação de sufocamento.

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Atualizado até capítulo 53

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