O Segredo dos Gêmeos

Na sala da diretoria, o ambiente era denso como o ar antes de uma tempestade. Adam mantinha o olhar fixo no chão, evitando Aurora, que já travava uma batalha verbal com a diretora.

“Eu já disse que foi ele quem começou! Ele afundou meu rosto na comida que, por sinal, deveria estar deliciosa... Mas esse delinquente, que chegou há alguns dias, arruinou minha paz,” Aurora disparou, apontando para Adam com um gesto de desdém.

A diretora, uma mulher de postura rígida, cabelos negros presos num coque impecável, ergueu os óculos e uniu as mãos sobre a mesa. Sua voz soou fria e firme: “Eu já te avisei para se manter longe de confusões.”

A diretora então virou-se para Adam, tentando recuperar o controle da situação: “Peço desculpas, Senhor Neville. Aurora pode ser um pouco... impulsiva, mas isso não vai se repetir.” Ela mal terminou a frase quando Aurora soltou uma risada sarcástica, recebendo de volta um olhar severo.

“Espero que não,” respondeu Adam, com um sotaque cortante que parecia escavar o silêncio da sala. Ele se levantou, a expressão impassível. “De qualquer forma, tenho outros assuntos para tratar. Até mais tarde, diretora.” E com um gesto casual, abriu a porta de vidro, deixando o ambiente pesado para trás.

Aurora o seguiu com os olhos, perplexa. “Sério que vai deixar ele sair assim?” Sua indignação ecoava na sala enquanto apontava para a porta já aberta. A diretora suspirou, cansada, e voltou-se para Aurora, como se já estivesse acostumada com essas situações.

“Bem, não posso fazer muito mais além disso. Como punição, você vai limpar todo o refeitório,” decretou, sem emoção, voltando a mexer em papéis sobre a mesa.

Aurora congelou, seus músculos enrijecendo. “Só eu? Ele fez a maior parte da bagunça!” Cruzou os braços, os lábios formando um beicinho de insatisfação.

A diretora sequer levantou o olhar dos documentos. “É isso ou uma advertência e uma ligação para seus pais.”

A cadeira de Aurora arrastou com um ruído áspero quando ela se levantou abruptamente. Em um movimento brusco, ela empurrou a porta de vidro com tanta força que as dobradiças rangeram, ameaçando ceder.

O corredor parecia ainda mais vazio enquanto Aurora caminhava em direção ao vestiário feminino. Seus passos ressoavam, ecoando o turbilhão de emoções que ferviam dentro dela. Ao se aproximar do banheiro, vozes abafadas surgiram do interior.

Ela entrou com passos cautelosos, os olhos imediatamente capturando a visão dos gêmeos Kaiser e Akash, agachados ao lado de um balde cheio de balões coloridos.

“E se colocássemos pimenta? Melhor que só água. Imagina eles gritando de dor,” sugeriu Akash, um sorriso travesso dançando em seus lábios enquanto enchia um balão.

“Seria bom, mas não queremos ser expulsos, irmão.” Kaiser respondeu, seu sorriso tão afiado quanto a lâmina de uma faca.

Ambos se sobressaltaram ao notar Aurora encostada na porta, observando-os com uma expressão que misturava cansaço e irritação.

“Oh, querida, estamos apenas fazendo um pequeno... projeto,” disse Kaiser, os cabelos platinados e molhados caindo desordenadamente sobre os ombros, o uniforme manchado de terra e água.

Aurora manteve-se firme, sua voz cortante como uma lâmina: “O que vocês estão fazendo aqui? Não deveriam estar na aula? E por que diabos estão no banheiro feminino?” Seus olhos varreram o balde de balões coloridos, seu tom impregnado de desaprovação.

Kaiser tentou suavizar a situação, levantando-se lentamente. “Calma, você está muito tensa, minha amiga.” Ele colocou as mãos molhadas sobre os ombros de Aurora, mas mal teve tempo de reagir antes que ela o afastasse com um movimento rápido e decidido, seus olhos faiscando.

“Não somos amigos desde que vocês jogaram um balde cheio de minhocas na minha cabeça,” disse ela, sua voz gelada.

–Qᴜᴇʙʀᴀ ᴅᴇ ᴛᴇᴍᴘᴏ–

Aurora

P.O.V

Tirei todo o molho e a salada grudados na minha roupa, esfregando as manchas com a palma da mão, sem muita paciência. O banho quente havia derretido a tensão no meu corpo, como se lavasse mais que sujeira; eu estava quase me sentindo outra pessoa. Peguei algumas roupas do armário da Mia — ela nem notaria, certo? A saia xadrez e a blusa branca dela serviram perfeitamente. O toque macio do tecido me fez sentir mais confortável, embora uma voz na minha cabeça dissesse que, se continuasse pegando emprestado as roupas dos outros, logo me confundiriam com uma mendiga. Mas, nesse momento, não era como se eu me importasse.

Depois de jogar meu uniforme na lavanderia da escola — que sorte ter lembrado que eles têm uma própria —, caminhei até a saída do vestiário. Mas, claro, os gêmeos estavam lá, bloqueando meu caminho.

"O que vocês querem?", perguntei, cruzando os braços e levantando o olhar para encará-los, já que eles eram bem mais altos que eu.

"Nada demais, só estamos curiosos para saber para onde você vai", respondeu Kaiser, com um sorriso de canto que não inspirava confiança.

"Vou limpar o refeitório... Por quê?", franzi a testa, tentando entender o que eles planejavam.

"Por que não vem com a gente? Vamos matar as duas últimas aulas. Sem dúvida é mais interessante do que esfregar mesas", sugeriu Akash, balançando um casaco à minha frente, como se isso fosse algum tipo de incentivo.

"Limpar o refeitório me soa bem melhor do que andar com vocês", retruquei, mas havia um toque de dúvida na minha voz.

"Vamos lá, vai ser divertido. E olha, trouxe um casaco para você, não seja ingrata", Akash jogou o casaco azul na minha direção, como se me fizesse um grande favor.

Cerrei os dentes, minhas mãos apertando o tecido com força. Se olhares pudessem matar, ele já estaria estirado no chão. Mas, no fundo, eu sabia que seria melhor acompanhá-los do que passar o resto da tarde sozinha no refeitório.

"Eu só vou porque quero", murmurei, enfiando os braços no casaco que, apesar de confortável, não combinava em nada com o resto da roupa.

"Bom, como você sabe, sair da escola não é assim tão simples", começou Kaiser, colocando a mão tatuada no ombro do irmão. "Mas a gente tem um plano, e precisamos da sua ajuda."

"Sabia que não viriam atrás de mim sem segundas intenções... Fala logo o que querem." Descruzei os braços e apoiei as mãos na cintura, esperando pela próxima parte do plano idiota.

"Você vai nos ajudar a pular o muro que dá para a floresta. Estamos com preguiça de andar pelo campo e passar pelos arames", Kaiser passou a mão no pescoço, onde outro símbolo vermelho brilhava. "E você, minha querida, vai ser a nossa escada."

"De quem foi essa ideia genial?" revirei os olhos enquanto me agarrava ao muro de cimento, minhas mãos já vermelhas de tanto esforço. Definitivamente, eu precisava reavaliar minhas escolhas.

"Para de drama, Aurora. Só precisa levantar a perna e passar para o outro lado. Prometo que ninguém vai espiar sua calcinha de vovó", debochou Kaiser, sua voz repleta de malícia.

Mordi o lábio, tentando ignorar o comentário. Coloquei uma das pernas na parte superior do muro, o corpo todo tremendo enquanto me equilibrava. Por um segundo, achei que ia cair do lado oposto e me espatifar no chão.

"Respira", murmurei para mim mesma, como se fosse algum tipo de mantra tranquilizador. Finalmente, consegui passar para o outro lado, caindo num pequeno monte de neve. Fechei o punho, comemorando silenciosamente. Mas meu alívio durou pouco.

A pedra sob meus pés escorregou, e antes que pudesse reagir, senti algo quente envolver minha cintura. O cheiro de avelã preencheu o ar ao meu redor, e a voz de Kaiser sussurrou em meu ouvido, fria e provocante.

"Cuidado, querida. Não vai querer se machucar."

Sem pensar, dei uma cotovelada em sua barriga, sentindo-o me soltar bruscamente. Eu caí direto no chão... ou melhor, nos braços de alguém. Abri os olhos, que nem me lembrava de ter fechado, e me deparei com Akash, seus olhos cinzentos fixos em mim.

"Você está bem?", perguntou calmamente.

"Sim..." Levei alguns segundos para processar o que havia acabado de acontecer. Como ele tinha chegado aqui tão rápido? E como Kaiser subiu aquele muro?

Kaiser saltou do muro com facilidade, caindo no chão e se levantando como se seus joelhos fossem feitos de aço. "Aurora, está confortável?" Ele se aproximou, pegando a corda.

"Como você fez isso?", a confusão estava estampada no meu rosto. Akash me colocou gentilmente no chão.

"Não foi nada demais", respondeu Kaiser, com um sorriso malicioso. "Você conseguiria fazer isso se praticasse algum exercício. Mas, sem ofensas, seu físico até que é bonitinho." Ele piscou para mim, como se estivesse apenas sendo simpático.

"É melhor irmos", disse Akash, mudando o foco.

Caminhamos até o parque abandonado, um lugar desolado e cercado pela neve. A roda-gigante enferrujada rangia com o vento, o silêncio pesado cobrindo o ambiente. Tudo ao redor estava decadente, tomado pelo tempo e pela neve, exceto pelas árvores ao redor que, de alguma forma, traziam um ar melancolicamente bonito.

Eu segui pela trilha de pedras, parando em frente à grande boca do palhaço. O rosto, antes branco, agora estava manchado de cinza, resquício de um incêndio de anos atrás. Ninguém mais visitava aquele lugar, e um arrepio percorreu minha espinha enquanto eu olhava para dentro da boca escura.

"Tem alguém aí?", perguntei, sentindo uma estranha urgência em descobrir o que havia além daquele portal de sombras.

"Vem, Aurora. Vamos para a roda-gigante", Akash segurou meu braço, me puxando para longe do palhaço, e eu tropecei ao tentar acompanhar seu ritmo. Meu olhar se voltou para a boca sombria mais uma vez, mas resolvi deixar para lá.

"Olha o que eu achei", a voz de Kaiser ecoou, me fazendo olhar para ele, que estava sentado num pequeno carrinho rosa de criança, arrastando-se como um menino travesso. Soltei uma risada curta.

Mas o riso morreu na minha garganta quando ouvi um barulho estranho no topo da roda-gigante. Levantei a cabeça e, para meu horror, vi uma criatura negra, coberta por uma gosma escura, se contorcendo lá em cima. Ela rugiu, revelando dentes afiados, e outras criaturas começaram a surgir de todos os cantos, inclusive da boca do palhaço.

Minhas pernas travaram quando vi a criatura virar sua cabeça esquelética em nossa direção. O som de ossos quebrando ecoou, e, ao meu lado, os gêmeos começaram a mudar. Suas mãos agora ostentavam garras afiadas, e seus olhos brilhavam com uma luz inumana.

Akash me puxou com força. "Corre."

________

(Não revisei, pode ter erros de português, mas vale lembra que o app ou correto muda muitas palavras fazendo elas ficar fora de contexto, então peço desculpas.)

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Atualizado até capítulo 53

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