Ecos de Invisibilidade

Aurora

P.O.V.

Olho para Adam, que sai da sala sem uma palavra. Um desprezo palpável me invade. Respiro fundo, reunindo meus pertences e os guardando na mochila, que lanço sobre os ombros. Caminho em direção à porta, mas me detenho ao ouvir meu nome ser chamado.

"Vamos almoçar juntas? Milena não vem hoje, talvez possamos ficar juntas", Miandra oferece.

Encaro-a e, evitando ser descortês, concordo. Caminho pelos corredores com Mia ao meu lado; ela não é muito falante, mas já me acostumei com isso. Desde o sétimo ano, sempre tentei afastá-la, mas ela insiste em voltar. É peculiar.

Uma vez, no nono ano, ela pegou um gerador de energia tão facilmente que me assustei. Ela não deveria ter essa força. Eu precisei da ajuda de cinco pessoas para arrastar o gerador, enquanto ela o ergueu sem esforço. Pelo menos ganhamos o primeiro lugar em ciências.

Paro no meu armário, digito a senha do cadeado e guardo minha bolsa. Pego minha roupa de educação física na segunda prateleira. Mia faz o mesmo. Olho para o pedaço de pano que chamam de short-saia.

Odeio roupas curtas; minhas pernas são magras demais. Isso só faz as outras garotas zombarem ou comentarem coisas como "Você precisa comer mais" ou "Você precisa engordar".

Estou tentando comer mais, mas está sendo difícil. Suspiro e sigo em direção ao refeitório, acompanhada por Mia em silêncio.

Nesta escola, muitas vezes me sinto invisível. Quando notam minha presença, é frequentemente para zombar. Isso contribui para que eu tenha poucos amigos. Na verdade, não me importo muito com isso. Mia e Milena são as únicas que fazem questão de conversar comigo.

Miandra e eu não somos tão próximas; temos nossos altos e baixos, mas sempre mantemos uma linha entre nós. A única coisa que nos une é Milena, minha melhor amiga.

No refeitório, pego uma bandeja e coloco um prato branco sobre ela. Escolho um pouco de salada e frango para o almoço. Ao me aproximar das bebidas, alguém me empurra, fazendo com que toda a comida caia no chão e eu bata a testa no duro piso.

Levanto a cabeça e vejo os saltos brilhantes de Ava. Ela é a pessoa mais mesquinha e mimada que já conheci; preferiria furar meus olhos a olhar para ela.

"Olhe por onde anda, esquilo", ela zomba.

Sinto meu rosto queimar, não de vergonha, mas de raiva. Como se eu estivesse no caminho dela, quando na verdade é ela quem parece cega.

Ava passa por mim e se dirige a uma das mesas, balançando o quadril enquanto caminha. Olho para a mesa para onde ela vai e vejo Adam rindo de mim. Minhas bochechas ficam mais vermelhas e meu coração bate mais rápido quando nossos olhares se encontram.

Eu suspiro, olhando aqueles olhos azuis hipnotizantes. Eu poderia me perder no vasto oceano de seus olhos por horas, mas, ao perceber o motivo de sua felicidade, uma leve pontada me atinge. Mia me ajuda a levantar, levando-me para uma mesa distante e vazia, enquanto eu mantenho a cabeça baixa.

"Eu peguei suas roupas. Estão um pouco sujas, mas servem. Pode ficar com meu lanche", ela diz, empurrando uma bandeja com comida peculiar.

Ela ajusta os óculos e me entrega as roupas. Só então percebo que as tinha deixado cair ao olhar para baixo do meu braço.

Fico em silêncio, observando a madeira da mesa, desejando que o chão se abra e me engula, para nunca mais precisar ver ninguém deste lugar maldito.

Levo as mãos ao rosto e, pelos dedos entreabertos, vejo Adam na mesa à frente. Como ele consegue se integrar tão rapidamente?

Ele chegou há tão pouco tempo. Não faz sentido. Ele entrou no final do ano e já estamos finalizando o bimestre. Não faz sentido ele querer ainda vir para a escola. Talvez esteja aqui apenas para obter o diploma da CherryPree. O diploma pode abrir muitas portas e dar muitas oportunidades.

Mas é difícil consegui-lo. Requer notas muito altas. Uma façanha que não alcanço. Sorte minha tirar a média em quase todas as provas. Os exames são tão difíceis que às vezes parece que estou tentando decifrar uma língua nova sem enlouquecer.

Meus olhos se desviam para Ava, agarrada ao braço de Adam. Eles parecem tão à vontade juntos. Rindo e conversando como se se conhecessem há anos. Ava está tão próxima dele que parece prestes a se fundir à sua pele. Poderia ser eu, mas será que ele gostaria de mim? Eu sou tão... estranha.

Talvez ele prefira mulheres como Ava. Seus cabelos lisos e pretos caem como uma cortina de seda, e seus olhos são tão escuros que parecem abismos sem fundo. Ela é alta, magra, o tipo ideal de qualquer homem. E eu? Bem, sou apenas eu.

"Não tô com fome. Perdi o apetite", suspiro, esfregando as mãos no rosto.

Mia me lança um olhar rápido. "Você que está perdendo, isso está delicioso, huuum..." Ela faz barulhos exagerados enquanto enche a boca de comida.

Abaixo as mãos, ainda olhando para ele. Só percebo que estou o encarando quando seus olhos encontram os meus. Ele franze a testa e me lança um olhar de flerte.

Viro o rosto, mordendo o lábio inferior. Um garoto do time de futebol se aproxima da mesa. Alto e loiro, seus olhos castanhos são muito expressivos. Ele olha na minha direção ao perceber que Adam está olhando para mim. Viro o rosto para Mia, que está distraída com a comida.

"Podemos ir para a quadra? Não quero ficar aqui...", falo num tom hesitante, abraçando meu corpo. Não que esteja frio; todas as janelas estão fechadas, mas o olhar daqueles dois me dá um frio na barriga.

"Espera, só vou terminar aqui", Mia diz, dando uma última garfada em sua comida.

"Vamos, mas antes vamos passar no banheiro das garotas da ala 02. Não quero que você vá para a quadra assim, sua roupa está toda suja." Levantamo-nos e seguimos para o banheiro.

Mia me empresta outra roupa de educação física: sua antiga saia e uma blusa com uma pequena mancha. Ela disse que não usa porque já tem outras.

Sabendo que não gosto de mostrar minhas pernas, ela me dá uma meia branca que vai até as coxas. Depois de me trocar, vamos até a quadra. As meninas foram separadas em duas equipes.

Ava e suas amigas estão de um lado da quadra; eu e Mia, do outro. O professor decidiu que vamos jogar queimada. Até agora estamos indo bem; temos um total de doze jogadores de cada lado. Com o passar do tempo, fomos perdendo mais pessoas. Agora, só restam eu, Mia e outra garota cujo nome não sei. Ava sorri maliciosamente e tenta me acertar, mas Mia pega a bola e acerta uma garota ruiva do lado de Ava.

Ava parece ainda mais irritada. Ela pega a bola e se aproxima da linha da quadra.

"Não se preocupe, eu vou te proteger, princesa", Mia diz, se posicionando mais perto de mim.

Franzo a testa e olho para Mia. Ela inclina a cabeça. "Como assim, princesa?", pergunto, inclinando a cabeça para o lado.

Um som escapa de sua garganta, e, antes que eu perceba, a bola vem voando na minha direção. Mia levanta a mão e a pega antes que chegue perto do meu rosto.

Como ela pegou a bola sem nem olhar para ela?

Ela apenas me lança um olhar estranho. "Nada", responde, afastando-se sem mais nenhuma palavra. O que ela quis dizer com princesa?

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Comments

Celty Sturluson

Celty Sturluson

Surpreendente!

2023-12-24

3

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Atualizado até capítulo 54

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