Adam
P.O.V.
Eu engulo o líquido amargo da cerveja que desce quente pela minha garganta. "Que droga", murmuro. Fui tolo. Não posso me orgulhar das minhas ações, mas às vezes é necessário ser duro, mesmo que machuque. Olho para minha mão, que minutos atrás segurava o pulso de Aurora. Ainda posso sentir sua pele macia. "Droga, que merda", falo baixo. Espero que esse inferno acabe logo. Não posso ficar aqui mais dias, ou vou acabar atacando Aurora, e isso certamente não será benéfico para ela.
Continuo a beber qualquer coisa com álcool nesta mesa. Ava me causa náuseas, e não pretendo voltar para onde ela está. Só o seu cheiro me dá vontade de vomitar. Dou mais um gole na minha mistura de energéticos com cerveja, e então ouço, ao longe, um uivo desconhecido. Como lobo, meus sentidos são aguçados, e isso inclui minha audição. Consigo sentir qualquer coisa duas vezes mais intensamente do que qualquer outro, e isso faz meu lobo interior despertar.
"Aurora", penso. Ela entrou na floresta sozinha, provavelmente fazendo o caminho para casa. Eu sei que seja lá o que for aquilo, não está aqui para brincar. Passo pelos alunos, esbarrando neles, empurro alguns para tirá-los do meu caminho. Corro pela floresta, farejando o ar como um animal selvagem, até que sinto seu doce aroma.
_____
Aurora
P.O.V.
Ótimo, Aurora, muito inteligente da sua parte vir para essa festa. Agora, além de perdida, vai congelar até a morte, eu me repreendo. Patético da minha parte ter vindo. Acredito que o único motivo foi uma última chance de ver minhas amigas antes de irem embora para seus futuros brilhantes, enquanto eu apodreceria em Zalazar com um emprego que mal me sustentaria.
Suspiro, vendo meu pé afundar na neve. Está tão frio... e escuro. Se eu fosse uma mocinha de filme de terror, com certeza o monstro apareceria agora e me arrastaria para a escuridão, onde eu encontraria uma morte lenta ou rápida, dependendo do monstro.
Alguns são mais ligeiros, como Jason, que me mataria com um só golpe. Já Freddy Krueger seria diferente; ele esperaria até o desespero ser a única coisa que me restasse antes de pôr fim à minha vida miserável. Ótimo pensamento para se ter numa floresta escura cheia de neve.
Um relâmpago ilumina o céu nublado, revelando toda a floresta. Um barulho de galho quebrando me deixa alerta. Inclino-me e bato no chão com as mãos, procurando uma pedra. Meus dedos encontram uma superfície lisa. Pego a pedra e a seguro com força. Outro barulho vem de trás. Viro-me, esperando o pior, apertando os olhos na esperança de ver algo.
Duas órbitas brilhantes amarelas são a única coisa visível na imensa escuridão. Jogo a pedra, mas a coisa se desvia com facilidade. Ela vem numa velocidade além da minha compreensão e tem... mão?
Outro relâmpago corta o céu, iluminando quem está à minha frente: Adam, com toda sua graça. Não sei como me sentir sobre isso. Minutos atrás ele me humilhava, agora está com a mão tampando minha boca. Seus olhos são tão... lindos. Suspiro.
— Shhh — ele coloca o dedo indicador nos lábios carnudos, pressionando-os.
— O quê? — tento falar, mas é inaudível por ele estar tampando minha boca.
Gritos preenchem a floresta, antes silenciosa, exceto pelo soprar do vento. Ele dá mais alguns passos, fazendo-me recuar até encostar no tronco de uma árvore que não percebi. Ele permanece em silêncio, apenas me olhando. Foco nos gritos atrás de mim, pensando que deve ser mais uma brincadeira idiota de adolescentes... Eu espero que realmente seja isso.
Minha linha de pensamento é interrompida por barulhos de galhos quebrando em sequência. Olho para cima e vejo apenas chamas brilhando na escuridão. Engasgo. Adam me empurra mais contra o tronco. Volto meu olhar para ele. Algo passa em seus olhos.
Ele tira a mão da minha boca, e eu aproveito para respirar fundo. Grande erro. O que quer que seja aquilo parece ter escutado. Seus olhos, que parecem chamas ardentes, olham para o fundo da minha alma. A criatura solta um rugido animalesco, e eu fico paralisada, esperando que pule do galho e me devore. Mas isso não dura muito.
Sinto meus pés saindo do chão. Olho para Adam, que agora me segura nos braços. Uau, ele é duro como pedra. Ele começa a correr numa velocidade que deixaria qualquer corredor olímpico com inveja. A criatura nos segue quase na mesma velocidade. Sinto a respiração quente dela nos meus pés. Adam pisa na neve como se estivesse flutuando.
Eu coloco minhas mãos nos ombros de Adam, sentindo sua pele quente através do tecido. Era mais quente do que qualquer outra que eu já havia tocado. O vento frio faz meus cabelos longos flutuarem no ar, dançando de maneira irritante em minha visão.
Aperto minhas mãos nos ombros de Adam, que parece não se importar. — O que é aquilo? — pergunto, mas não obtenho resposta. É como se ele estivesse me ignorando, mas não me importo. Prefiro estar com ele do que com aquilo.
Outro raio cruza o céu, e aproveito para olhar para frente. Adam desvia de uma árvore com facilidade, e arregalo os olhos ao ver uma grande abertura no chão. Engasgo e meus olhos se arregalam ainda mais.
— Eu sabia! Socorro, socorro! — grito desesperada. Eu sabia que não devia confiar nele. Agora vou morrer sendo jogada de um lugar alto.
Adam rosna, fazendo seu peito vibrar. — Fique quieta, ou eu mesmo vou fazer isso — sua voz é baixa, mas ao mesmo tempo, calmante.
Para minha surpresa, ele não me joga; ele pula. Ficamos alguns segundos no ar, e eu aprofundo meus dedos em sua camisa, fechando os olhos. Ele pousa graciosamente no chão, como se não tivesse acabado de pular de uma altura humanamente impossível.
A criatura para na borda do outro lado, rosnando. Seja lá o que for aquilo, parece olhar para baixo. Pelo barulho que vem lá de baixo, diria que há água lá. Adam olha com desdém para a criatura, que dá meia-volta e entra na floresta. Ele caminha mais devagar, e logo vejo luzes e ouço vozes.
Desvio meus olhos das luzes amarelas e olho para os olhos cor de mel que já estão fixos em mim. Sua respiração é lenta. Quase acharia isso romântico, se não fosse pelo perigo iminente e tudo que acabamos de passar. Mil perguntas rondam minha cabeça, mas não consigo dizer nada, focada apenas em seus olhos. Alterno entre olhar sua boca e seus olhos, ambos tentadores. Minha boca se abre para respirar melhor, uma tarefa difícil com ele a centímetros dos meus lábios.
— Você é mais feia de perto — ele rompe o silêncio. Seu hálito de menta com cerveja sopra no meu rosto, enquanto ele me solta, quase me jogando no chão.
— O quê? — De todas as coisas que ele poderia dizer, ele comenta sobre minha aparência. Que babaca.
— Foi isso que você ouviu. Seus dentes são tão desproporcionais ao seu rosto que assustam mais as pessoas do que aquilo — seu tom é zombeteiro.
Na pouca luz, vejo seus lábios se curvarem num sorriso travesso. Levanto minha mão para bater em seu rosto, mas ele segura meu pulso, apertando dolorosamente.
— Não esqueça quem te ajudou lá atrás — ele se aproxima do meu rosto, e eu enrugo o nariz.
— Eu não pedi a sua ajuda — levanto o joelho, acertando-o nos Países Baixos. Ele me solta com um gemido de dor, música para meus ouvidos.
— Que ingrata, esquilo. Deveria deixar você morrer — sua voz está cheia de incerteza.Dou de ombros. Ele parece se recuperar do golpe, seus lábios formam um pequeno sorriso.
— Sabe, vou sentir sua falta, esquilinho — ele coloca a mão em meu pescoço, subindo lentamente até minha nuca. Então, afunda os dedos em meus cabelos, puxando-os e inclinando minha cabeça para o lado.
Ele se inclina, ficando mais próximo do meu rosto, e beija a minha testa. Seus lábios são quentes e macios, e eu fico paralisada. Todo meu corpo esfria. Nunca estive tão próxima de alguém. Não é como se eu tivesse muitas memórias dos anos anteriores; tudo parece um borrão. Mas aposto que nenhuma dessas memórias foi em uma floresta escura com um garoto de olhos amarelos.
Ele se afastar, abrindo os olhos, ele segura
meu olhar por alguns segundos, –Adeus, esquilinha–, o seu tom é áspero, o seu hálito quente causa-me arrepios por todo o meu corpo.
Eu pisco algumas vezes, ainda tentando voltar para minha cruel realidade, mas tão rápido como chegou, ele foi-se, o lugar onde ele beijou ainda queima, as minhas bochechas ficam quentes só de sentir.
Então, eu volto completamente para a realidade.
— O quê acabou de acontecer?
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Atualizado até capítulo 53
Comments
Neide Kiyoko Tanaka Akiyama
inadiável???? Não seria inaudível??
2024-07-04
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