Ômega De Valor - Jikook

Ômega De Valor - Jikook

A Farsa

^^^"Afinal, quantas moedas eu valho?"^^^

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Num lugar muito distante do novo mundo, perdido no tempo, um pequeno e modesto vilarejo se mantém vívido junto às flores e frutos que a terra lhes oferece com muito custo. Do menor ao maior, eles suam nos campos e pomares, lotando suas carroças e cestas para movimentar a feira, onde as moedas de ouro, prata e bronze rodam de mão em mão todos os dias. Em seus corpos as almas buscam complemento, uivam como lobos solitários e ansiosos por companhia e acolhimento. As pessoas se dividem em dois grupos: homens alfas, dominantes, rígidos e calculistas. E mulheres ômegas, gentis e doces como mel; portando traços delicados e bochechas coradas.

No entanto, algo de incomum ocorreu quando nasceu ali um homem ômega tão belo e gentil que despertou o desprezo dos homens e inveja das damas. Estas torciam o nariz para as curvas peculiares e cabelos de ouro do rapaz, enciumadas, desprezando duramente os olhos brilhantes e gestos reduzidos numa timidez aliada a certo temor.

"Um homem de cheiro doce, tal qual uma dama. Abominável!" diziam eles ao jovem de dezessete anos enquanto o observavam de suas barracas na feira, ou mesmo na caminhada de volta para suas casas. Tal caso soava inimaginável, uma falha da natureza sem qualquer perdão. E nem mesmo o próprio jovem ômega ousaria discordar de seu julgamento.

Ele se considerava inadequado até o último fio de cabelo, mas se esforçava ao máximo para se encaixar naquele grupo, de qualquer forma:

— Passo o ponto, então devo cruzá-lo.

A agulha ia e vinha com seus pontos no tecido de linho junto às mãos de Jimin, o mais novo dos quatro filhos da família Park. Era preciso aprender uma nova função àquela altura, pois a convivência com os outros fora de sua casa não andava boa para os negócios da família.

Agora Jimin tentava se adequar aos costumes das mulheres ômegas, levando em conta que, embora fosse um homem, não tinha jeito com a rotina dos alfas.

— Para formar um novo arabesco.

Seus dedos pouco ágeis se encontravam doloridos por conta dos furinhos vermelhos gerados depois de descuidos, no entanto, ele persistia com suas tentativas de cativar sua mãe, que o observava sentada em sua poltrona naquela tarde abafada de fim de verão.

— Estou indo bem, omma? – perguntou Jimin, ansioso por sua aprovação.

— Para um homem... – o comentário nada contente da Sra. Park desanimou o filho, embora ele não expressasse aquilo ao prosseguir com seu trabalho cuidadoso. — O que há com esta expressão desgostosa? Longe de mim lhe acusar de ser um caso perdido na única coisa que acredito ser de seu talento, Jimin. Sei que você guarda mágoas muito facilmente, mas não há motivos para tanto desta vez.

Inesperadamente, Jimin desejou contraria-la porque não era verídico que ele guardava mágoas como foi dito. Se a Sra. Park estivesse certa ele não estaria ainda debaixo do seu teto, ou mesmo sendo obediente ao seu pai e irmãos.

Mas não valia a pena lançar argumentos, afinal, sua mãe era exatamente aquilo que o acusava: terminantemente sensível ao mínimo tom acusatório.

— A senhora está certa, é claro.

— No entanto, seu ponto está errado – com um olhar frio, ela o obrigou a refazer o trabalho. — Oh, por Deus, você nunca foi normal. Mas tem me dado o dobro de desânimo esses tempos, Jimin. Nossa família está imersa num rio de vergonha e, ainda por cima, posso nos imaginar sustentando sua inutilidade por toda a vida. Você errou outra vez! Será que só sabe chamar por alfas, como um imundo abominável?

Jimin também poderia dizer que nenhuma daquelas acusações estavam certas, que jamais chamou por alfas em sã consciência. E não era imundo, tampouco uma abominação. Mas os outros faziam todo o esforço para que acreditasse naquilo.

No entanto, ele não passou dezessete anos ouvindo tais adjetivos. Seu rancor se deu início a três meses atrás, um período recente para tomar costume.

— Preciso do seu incentivo – Jimin pediu, tímido e cabisbaixo. — Por favor, me ajude a ser útil em nossa família.

— Por acaso, não estou aqui para ensiná-lo a bordar? Mas agora vejam só, não posso expressar minha frustração debaixo do meu teto. Sou cruel, pois não? Que disparate! É natural que eu fique inquieta por ter um filho ômega, quando se sabe que estamos diante de um caso incomum. Atente-se ao ponto, Jimin! Ah, mas não me agrada, não mesmo.

A Sra. Park gostaria de ser totalmente sincera e dizer-lhe que estaria de fato contente se Jimin fosse uma garota ômega — como era de se esperar — mas preferiu refrear seu impulso mais extremo diante do rapaz já tão fragilizado.

— Eu aceito o que a senhora achar melhor, omma.

— No entanto, aí estão os seus olhos cheios de lágrimas. Você chora como uma dama e deforma por completo sua imagem já tão frágil de homem. O que vou fazer? Eu bem que desejo não ter que lidar com isso, pois já ando tão cansada! Você não tem os dotes de uma ômega de verdade, tampouco poderia ter o porte másculo que era de se esperar de um homem – a Sra. Park o analisou enquanto Jimin voltou seus olhos imensos e castanhos para sua imagem endurecida. — Sua voz é suave como a brisa das manhãs, seus olhos carregam o resplendor das estrelas. Mas que desgraça, você não seria uma ômega de se jogar fora, Jimin. Entretanto, tudo isso se perde quando não há uma fenda entre as suas pernas.

— P-passo o ponto... – Jimin se perdeu um instante, encontrava-se em conflito sobre o que ouvir de si mesmo e de sua mãe. — Cruzo corretamente, e então... Então vou...

— Está errado! Você está errado!

— O p-ponto... – a agulha perfurou o dedo do jovem outra vez naquela tarde, ocasionando um grunhido que terminou preso em sua garganta. — Perdoe-me, eu realmente...

Enfurecida ao observar os olhos castanhos baixos e inundados por lágrimas presas, a Sra. Park apertou as mãos juntas no colo:

— Aí está a prova de que só estamos perdendo tempo, um tempo escasso. Sinceramente, o que diabos vou fazer com um homem ômega em meu lar? Se você não tem forças para segurar o cabo de enxada e foice sem que suas mãos se encham de feridas, deveria ao menos dar conta de uma agulha!

Trêmulo por conta da enxurrada de xingamentos que passou a ouvir naquele momento, Jimin limpou o suor da testa e não teve coragem de encarar os olhos de fúria da mãe. Insistia com os pontos, embora odiasse vê-los tortos e tão feios que não poderiam ter serventia alguma. Sua mãe tinha razão, ele pensou imediatamente: não servia para aquilo, ou para qualquer outra coisa.

— D-devo continuar?

— Desista de uma vez, desista de uma vez por todas disto tudo!

De repente, um forte temor originado daquelas palavras o perturbou porque Jimin se lembrou de dias atrás, quando cogitou a possibilidade de dar fim aos seus ao seu tormento. Agora, desejava com todas as suas forças que sua mãe não estivesse levando-o a considerar tamanha crueldade contra si mesmo.

— Desistir de tudo? Como isto... como isto pode ser? Não compreendo o que me diz.

— E eu não compreendo sua existência – logo que desabafou seu desassossego, a Sra. Park se agitou na cadeira e soltou um pigarro brusco ao notar Jimin pálido e rígido. — Que postura irritante você toma, e que postura cruel é a que me coloca, Jimin. A única coisa que peço é que você aprenda algo nesta casa. No entanto, nenhum esforço é o suficiente, simplesmente não há como chegar a lugar algum quando se trata de você. E isso me irrita demasiadamente! "Faça-o ser alguém" seu appa me impõe este fardo; "Não o carregaremos em nossas costas!" reclamam os seus irmãos. Seja útil, ou simplesmente me deixe sozinha e livre desta vergonha!

— Vou fazer bem, mas, por favor, não me deixe sozinho – ele suplicou, sufocando seu desespero por falhar diante da mãe esfregando o vinco em sua testa enrugada. – Veja isto, omma, apenas observe melhor. Ficará tão lindo quando pronto que poderei vendê-lo para a Sra. Kim. Ela... ela o usará no centro de sua mesa de jantar, e me pedirá por mais bordados. Posso mudar quem sou, posso fazer isso imediatamente.

— Guarde sua confiança para o amanhã. No dia de hoje, como pretende remover estas manchas? Seus dedos estão sangrando, tornando seu trabalho um verdadeiro desastre – ela não se incomodou de acusá-lo quando tocou no linho para avaliar o bordado do filho entristecido. — Tal qual um homem com linha e agulha na mão, é o que vejo.

— Há muitos alfaiates homens – argumentou ele, ansioso para garantir esperanças à mãe. — Se eu me esforçar mais, posso lhe jurar, me sairei bem. Vou buscar mais linho e...

— Não temos moedas para desperdiçar com mais linho! E se você se esforçar mais ficará sem dedos, sendo um completo desagrado para uma rara alfa, caso ela resolva cair do céu para não condená-lo a uma vida de solidão nessa velha casa de madeira. Nada de linho, nada de mais erros da sua parte!

— Não g-grite, por favor – pediu ele, temeroso pelo rosto contorcido de fúria da mulher. — Por favor...

— Prefere que eu lhe diga palavras bonitas, Jimin? Olhe para todo este sangue e me diga se eu posso lhe falar de dias de glória para um homem ômega – impaciente ao ver as lágrimas rolando dos olhos de Jimin envergonhado, ela se levantou, tirou o longo tecido de linho do colo dele e o jogou sob sua poltrona. — É incapaz de lidar com números para ajudar o seu appa e irmãos na feira. Sequer consegue tomar sol sem que fique doente! Admito, sim, que você tem lá seus belos traços, mas isto basta para quem? De onde virá uma mulher alfa neste vilarejo? É claro que anseio que eu esteja enganada, e que ela se arranje com a forma que tentei educá-lo.

— Uma mulher alfa? — de repente, Jimin se surpreendeu com a possibilidade.

— Mas o que estava pensando? Nenhum alfa normal poderia aceitá-lo, isto é óbvio. Se você nasceu um homem ômega, ouse trabalhar bem com o que as damas costumam tomar seu tempo! Mulheres ômegas precisam ser úteis no lar e na cama; e com este último dos casos já não há mesmo esperanças para você.

— Eu não poderia gerar... Oh, com certeza eu...

Tomada pelo assombro, a Sra. Park apontou seu longo dedo:

— Seria grotesco, inimaginável que se atrevesse a gerar uma vida! Este ventre não é seu, Jimin, nenhum de nós perdoaria tamanha atrocidade. Seus cios de ômega, não me importa como, devem pedir por uma alfa mulher. Já não basta... não basta a vergonha que passamos? Se lembre disso, eu exijo que você mude o tanto quanto puder. Suas pernas... suas pernas são de homem, elas não se abrem para outro homem! Logo, não nos envergonhe tanto, jamais ouse criar fantasias imundas depois do escândalo no celeiro!

Ao citar aquele lugar escuro e úmido, a Sra. Park estranhou que Jimin, ainda sobre o banco, lhe desse às costas aos prantos enquanto tremia por inteiro.

Ao vê-lo se perder em lembranças terríveis, ela deu um passo para atrás e esfregou as mãos, nervosa:

— Está no passado, é claro que não há razão para exageros. Você... você acredita que eu também não tenho vontade de cair aos prantos por toda essa situação? Se coloque no meu lugar, ao invés de adotar uma postura que, obviamente, me faz refletir como um monstro aos seus olhos! Homens ômegas; não sei o que fazer com esta ideia do acaso, só consigo pensar no erro que tudo isto me parece. Se você não pode ser um homem alfa prestativo, não pode ser uma bela dama ômega e prendada, me diga, Park Jimin; o que você pode ser?

Quem dera Jimin pudesse arranjar como mágica a resposta que sua mãe tanto esperava enraivecida e decepcionada, nem mesmo esperanças de um dia encontrá-la ele tinha. Seu peito se encontrava dilacerado, o coração batendo com tanta força e rapidez que trazia calor e mau estar ao corpo ossudo e encolhido num canto.

— Me desculpe por ser assim. Se eu pudesse... se eu pudesse apenas desaparecer da sua vida, não ficar perto para pesar como um fardo. Mas para onde eu iria? Sozinho num cio, sem a minha alfa... – de repente, Jimin se perdeu no que pensava ser pensamentos, não se dando conta de que falava num fio de voz trêmula e falha. — Sinto tanto... tanto por ter nascido assim, porque só agora eu entendo que minha existência não tem, de fato, sentido algum. Quero mudar, quero ser um alfa, quero ser uma ômega, mas não posso ser nenhum dos dois. Por que só me resta ser um fardo? Isto me dói tanto que...

— Jimin.

De braços cruzados, a mulher não desviou o olhar endurecido do filho amuado no frágil banco de madeira, escondendo o rosto úmido com as mãos avermelhadas e evidentemente doloridas.

— Você é um homem, apesar de todo o resto. Pare de chorar, é repugnante vê-lo tão frágil quanto uma dama abalada. Nem mesmo as suas lágrimas podem ser comparadas.

— Omma, por favor...

— Já basta. Suma da minha frente, Jimin. Não suporto mais os seus lamentos. Chore no quintal, ao menos tomando conta da plantação. Só volte quando o jantar estiver na mesa.

Jimin não insistiu em tentar se fazer provar como um bom filho. Ele saiu em disparada pela porta, limpou as lágrimas com a manga da camisa de algodão e, em seguida, as ergueu para lavar as mãos na torneira do quintal, onde se podia ver a plantação de nabos, cenouras e batatas. A três meses, todas as tardes se repetiam como um ciclo, tão cansativo para sua mente que nenhum outro pensamento era realmente seu. As palavras de sua mãe não iam embora com o vento quando Jimin ficava sozinho, elas o torturavam duas vezes mais depois de tudo.

Desse modo, o jovem ômega se encontrava frequentemente aéreo e com aparente exaustão.

— Estou esquecendo de algo.

Não era muito para garantir o sustento de uma família com tantos filhos, por isso seu pai também trabalhava tratando dos cascos dos cavalos da vizinhança.

— Oh, por favor – de súbito, Jimin se lembrou de que deveria ter cumprido uma ordem de seu pai, e agora teria que correr até a casa dos Kim para fazer a entrega de uma caixa de cenouras. — Terei tempo, tenho certeza.

Enquanto ele foi colher as cenouras, lavá-las naquela mesma torneira e colocá-las na caixa, não se deu conta de que era observado por um cavaleiro no alto do pequeno morro, à esquerda de sua propriedade. A sombra das árvores o mantinha em precária discrição, e teria que bastar por mais alguns dias. E Jimin efetuava seu trabalho com atenção; sendo inseguro como todos sabiam, era vagaroso. Mas o homem continuava ali, em vestes retas de tons bordô, onde uma fileira de medalhas deixava evidente sua alta posição para com a monarquia.

— É tão jovem – os lábios ressecados do homem permitiram que seu pensamento escapasse. — E tão pobre que não me espanta que seja um saco de ossos por baixo daqueles panos puídos. Pela Rainha, não há nada de encantador, nada mesmo para levar em consideração.

— Rosto de fada! – a voz de menino surgiu por detrás das costas do homem, e a face corada de criança curiosa se mostrou para o pai, que assentiu contrariado. — Sim, appa, ele teria mais beleza se comesse como eu, que tenho grande apreço por devorar uns bons pratos de carne e galinha.

— Talvez você esteja certo, Hyan.

O menino curioso murmurou confuso, pois se encontrava realmente surpreendido com a figura de Jimin ao longe:

— Appa, o senhor acha que louros como os Park podem ter descendência das fadas? Ele se parece com a personagem do meu livro de gravuras: falo da fadinha magricela de cabelos amarelos. Acha que estou certo? Tenho pensado nisso com certa frequência, desde que recebemos a missão de fazer guarda ao plebeu.

— Oh, meu caro – seu pai se divertiu com a mistura de formalidades e infantilidade do filho de apenas seis anos, mas prosseguiu. — Quem sabe, podemos estar diante de seres mágicos. O rosto de fada é inegável, e os cabelos claros brilham contra este Sol implacável.

— A princesa vai gostar muito dele, certo, appa? Também estou certo sobre isto, ainda mais quando aquela fadinha ganhar bochechas rechonchudas de quem come do bom e do melhor. Ela contou à minha omma que prefere ômegas como aquele, que nasceu tão diferente quanto a própria.

— Este garoto – Hoseok ralhou, mas Hyan insistiu.

— Ouvi também que a princesa Jaehye espera marca-lo no baile de inverno, depois de tirar todas as suas dúvidas pessoalmente. Estamos diante de uma fada de sorte!

— Você voltou a ouvir conversas debaixo da saia de sua omma, garoto? Já lhe alertei sobre sua falta de modos. Oh, então você apenas se ri de algo assim, uh? Anseio pelo dia que ela irá descobri-lo por debaixo dos panos.

— Appa, eu sou um bom espião, não me culpe por ter alguma excelência. Não faz sentido! E escute isto. Diferente de sua irmã alfa, o Jeonie não quer pretendentes no palácio. Todos tem conhecimento de que ele não será paciente com o modo que a fada magricela se comporta – o menino apertou os braços em volta da cintura do pai para que fugisse do olhar de repreensão sobre os ombros. — Sabe-se que o príncipe não gosta de homens fracos, appa. E aquele Park é mesmo tão fraquinho que fica vermelho apenas por tomar um pouco deste Sol 'implacívil.

— Diz-se "implacável", meu pequeno falastrão.

— São príncipes durões, alfas durões como eu mesmo sou!

— Hyan, controle-se de uma vez. A princesa prefere manter seu gene em segredo no momento.

— Mas...

— Se comporte, senão eu terei de deixá-lo na semana que vem. E não chame o príncipe por apelidos quando estiver fora do castelo, Hyan. As pessoas não compreendem, sequer podem cogitar algo do tipo com a família real.

Aquele homem era Jung Hoseok, o chefe de conselho da realeza, homem de confiança e incumbido de observar o ômega homem que tanto se ouviu falar, desde o escândalo com o clã dos Park.

— De todo modo, ao menos este jovem rapaz irá se livrar de maus lençóis – comentou ele, falando com si mesmo.

Foi esclarecido a todos, por meios dos boatos, que os homens da família Park esconderam por dezessete anos a situação do último filho, afim de evitar um escândalo e, por fim, a decaída das vendas de verduras na feira. Andavam sempre desconfiados pelos cantos, forçando o caçula a vestir roupas fartas e não falar com ninguém. Por muito tempo, sua aversão à camaradagem e a reclusão de Jimin foi suficiente para eles seguirem vivendo suas vidas. No entanto, no ano seguinte o primeiro cio do rapaz se deu e, por serem tão pobres, não puderam comprar inibidores que controlassem as dores e cheiro fortemente adocicado do ômega.

Naquela noite chuvosa, alfas das regiões mais próximas perderam o controle e correram para aquele cheiro de perdição, deixando em casa suas damas enciumadas e enfurecidas. O primeiro cio de Jimin obviamente atraiu aqueles alfas, mas de modo tão doce que muitos outros deles não paravam de chegar.

Os Park tiveram que trancar Jimin no celeiro e afastar os alfas que foram atraídos pelo doce cheiro de maçãs exalando pelos ares, realmente forte, mas que não os abalava por terem o mesmo sangue correndo nas veias.

— Pobre rapaz – Hoseok comentou ao se lembrar dos boatos terríveis.

— Sim, appa – Hyan respondeu aéreo. — O coitado é tão pobre.

— Oh, não falo apenas de posses, Hyan. Falo do quanto este Park sofreu no seu primeiro... Hm, bem, você não entenderia. Vamos de uma vez, temos que voltar para casa agora. Está ficando tarde.

O que não ficou claro para o menino é que Jimin acabou por entrar em transe naquela noite chuvosa, trancado no frágil celeiro.

Tampouco contou que o ômega não compreendia o que aqueles homens cercando o lugar, tentando quebrar as ripas de madeira, queriam consigo. Seu corpo estava quente, o suor encharcava suas roupas. A virilha queimava sensível ao toque que ele não ousou dar.

Foi naquele momento que Jimin se deu conta de que não era um alfa, mas o alvo de dezenas de homens tentando usar seu corpo como animais no cio.

Pena nunca lhe contarem a verdade sobre si mesmo, ao menos para alertá-lo dos perigos futuros que chegaram cedo demais.

Jimin sempre ouviu que era o alfa mais diferente de todos, por ser dócil quanto uma dama ômega.

Seu appa já tinha suas certezas, assim como os três irmãos alfas, e sua omissão deu margem para que o ômega estivesse tomado pelo despreparo e pavor enquanto ouvia rosnados por todos os lados, seguidos do sons de garras destruindo o que lhes era possível.

A chuva forte ainda dava conta de causar mais assombros. Os raios e trovões assustadores tinham forte impacto no escuro do celeiro úmido, mas os olhos de Jimin estavam atentos por todo o lugar, ao mesmo tempo em que ele se perguntava o que fariam consigo, caso conseguissem arrombar a velha madeira.

Naqueles dias, todo o vilarejo correu para lá, pois os homens e jovens filhos largaram suas casas para ver o burburinho. E suas esposas, irmãs e filhas os seguiram para tentar tirá-los daquela armadilha vinda dos Park, tão detestáveis nos dias de hoje.

— Sra. Kim – embora temesse o rancor dos vizinhos, Jimin precisava fazer aquela entrega, mesmo que apenas três meses do ocorrido tenham se passado. — Venho trazer as cenouras que pediu ao meu appa.

— Ora – estranhando vê-lo, a gentil mulher de cabelos ruivos apontou para a mesa da sala de estar, guiando Jimin até ali. — Como tem passado, meu jovem?

— Vou bem, minha senhora – esboçou um sorriso nada verdadeiro ao sentir-se avaliado com estranheza. — Agradeço sua preocupação. Oh, que belo é o seu colar, noto que são pérolas rosé. Realmente uma raridade.

— Que gentil, Jimin. Geralmente, as damas costumam notar estes pequenos detalhes... – sem que pudesse se reprimir, a mulher apertou os olhos com força e se arrependeu por seu comentário. — Não que você seja uma dama, é claro.

— Seria tão mais fácil se eu fosse.

— Pois sim – ela concordou com a mesma estranheza de antes, e o viu se encolher quando passos vieram da escada mais a frente. — Oh, não se assuste. Querido, volte para o quarto um instante! Meu filho Taehyung o intimida, Jimin? Depois do ocorrido, não deve ser fácil lidar com os alfas.

— Não quero incomodar.

— Vou buscar as moedas num instante, meu jovem. Tenho certeza de que as deixei na cozinha.

Jimin não se sentiu bem dentro daquela casa, havia um alfa ali também e ele temeu-o sem sequer vê-lo descer os degraus da escada. Preferia não ter contato com alfa nenhum, embora pudesse ouvir os assobios melodiosos do homem lá em cima.

— Estive na França.

Ele se assustou com o tom de voz sereno vindo dali, e voltou seus olhos grandes e expressivos para o alto, mas Taehyung soube respeitar seu espaço e não se mostrou de fato.

Seu vizinho prosseguiu com bom humor:

— Conheci um homem ômega naquelas ruas, Sr. Park. Acredita nisso? Outros homens ômegas? Você deve estar muito surpreso, tenho certeza de que pensou ser o único neste mundo. Bem, considerando que o seu mundo é este vilarejo, não posso culpá-lo por ser ignorante ao assunto. Oh, não vai falar comigo, certo? Embora esteja curioso; está sim. O adorável Sr. Min não tem os trejeitos de um homem, mas também não podem se assemelhar aos de uma mulher porque nota-se que há muito mais beleza em toda a sua peculiaridade. Ele tem traços delicados como os seus, uma altura mediana como a sua e, engraçado, soa bem mais falastrão do que você poderia se mostrar na vida.

Assustado, Jimin voltou seu olhar para as portas e teve receio por vê-las fechadas. Sua mente lhe dizia que Taehyung era um bom rapaz, que não iria intimidá-lo, mas seus traumas ainda eram muito recentes para que conseguisse se dirigir a um alfa. E tal assunto lhe parecia absurdo! Nem que sua garganta se abrisse um tanto mais, devido ao seu nervosismo, ele poderia comentar algo a respeito.

E o Sr. Kim não esperou realmente por seu retorno:

— Mas eu entendo o porquê de não falar comigo, ou com qualquer outro homem deste vilarejo, Park – como se ouvisse seus pensamentos, o alfa prosseguiu. — Soube que passou por oito dias muito difíceis, e que as noites eram muito piores, se arrastando longas e dolorosas para um pobre homem ômega intimidado por outros homens. Verdade que não puderam lhe dar de comer e beber? Os boatos são de causar tremores, mas nenhum de nós poderia estar na sua pele para que tenhamos a devida noção dos fatos. Em todo caso, disseram-me que você pedia aos céus que voltasse a chover para que arranjasse água, e que, quando todos os alfas se foram, seu corpo estava tão fraco que saiu dali carregado por seus irmãos. Boatos e boatos: Um cão no cio, é o que dizem por aí quando mencionam o mais jovem dos Park.

"Apenas cale-se!", Jimin implorou mentalmente e agradeceu pela Sra. Kim vir com suas desculpas pela demora, entregando cinco moedas e lhe prometendo que compraria nabos na segunda-feira. Porém, ele não contaria aquilo ao pai porque estava determinado a perder algumas moedas, desde que não voltasse à casa dos Kim para ouvir aquele alfa intrometido.

Entretanto, Jimin voltava pela estrada se perguntando o porquê de Taehyung, filho único dos Kim, estar de volta ao vilarejo tão depressa. Na certa, seus estudos foram interrompidos de forma apressada.

— Há outros como eu – ele se lembrou daquele fato, mas negou-se a acreditar que algum dia estaria diante de alguém semelhante. — Sr. Min; Sinto muito por ele, embora eu não o conheça.

Ele acreditava que todos os homens ômega eram uma falha onde quer que estivessem, pois era somente o que ouvia de sua omma, irmãos e pai. Que vida sofrida seus semelhantes teriam.

Diante de sua própria experiência, por mais que se esforçasse para se adequar a quaisquer dos lados, Jimin não sabia ser ômega como as mulheres, ou fingir ser o alfa forte e astuto como os outros homens se faziam ser. Estava perdido dentro de si mesmo, sentindo-se viver para causar incômodos, agora não somente entre sua família.

— Se eu pudesse ser mais prestativo...

Se desde muito novo ele foi rejeitado direta e indiretamente por seus trejeitos, depois do escândalo não há qualquer pessoa no vilarejo que o veja com bons olhos. É também por este motivo que Jimin não pode ajudar com o carregamento da feira, pois os falatórios quando é visto atrapalham os negócios de seu pai.

— Jimin!

Sua omma lhe chamava da porta dos fundos, pois a noite estava por vir, trazendo com ela um jantar modesto, pouca conversa e descanso para Jimin.

O dia seguinte não seria nada diferente deste, mas a semana seguinte aguardava novidades que poderiam assustá-lo muito mais quanto aos alfas, ou torná-lo grato por uma mudança inimaginável até então.

Em contra partida, havia muito a se dizer sobre o palácio onde a família real habitava. Rodeados por quadros de seus ancestrais fixos nas paredes de pedra, prataria e móveis de luxo, o conforto inegável se limitava a um total de apenas cinco membros da monarquia. O Rei Kyun IV, um homem de idade avançada e paciente, a Rainha Jayah, a princesa Jaehye, o príncipe Jeon e a matriarca da família, a antiga Rainha viúva hoje em dia. Como um todo, eram pacíficos, até que se estendesse a vista para os príncipes que não se aturam por mais de uma hora num mesmo ambiente.

É curioso que os gêmeos sejam tão diferentes, até mesmo em sua fisionomia.

Jaehye se orgulha de sua posição como a primeira mulher alfa de seu reino, tem anseio por cuidar de seu povo com toda a instrução recebida desde a infância. A princesa alcançou muitos corações até os vinte e três anos, não somente sua inteligência cativava, mas também sua personalidade fervorosa. Soa imponente e, ao mesmo tempo, muito gentil, vez ou outra se colocando mais vaidosa para se fazer presente em sua melhor figura. Seus longos cabelos negros cheiram a flores do campo, os lábios macios e bem traçados mantêm um costumeiro sorriso que aproxima qualquer outro que lhe interessasse.

Jaehye não tem dúvidas de suas virtudes: adequada para circular entre parlamentares, conselheiros e oposição. E o seu nome foi o mais bem visto para herdar a coroa, junto ao parceiro que descobriu estar mais próximo que nunca, segundo seus planos até o ápice da glória na monarquia.

Sendo um extremo oposto, o príncipe Jeon se mostrou alheio aos seus deveres com o reino, preferindo comandar as tropas de mais de dez mil homens, vivendo cada dia uma nova aventura que traria mais terras para compensar seu tempo distante da monarquia.

Seus piores dias eram os que se via obrigado a voltar para o palácio, vestir os trajes reais e acenar para a multidão do alto da torre, em algo que costumava chamar de "teatro mal arranjado". No entanto, se sua falta de simpatia e comprometimento o colocam em desvantagem num caminho rumo a Coroa, sua impressionante beleza atrai todos os olhares onde quer que esteja presente. Seu corpo foi moldado em favor das batalhas sangrentas, os olhos negros misteriosos carregam consigo uma sombra sobre os cílios, refletindo um ar desafiador, e seu maxilar firme e angular nunca relaxa.

Jeon não costumava ter conversas prolongadas, estava sempre indo embora. Porém, seu sarcasmo não passava despercebido antes do adeus. O príncipe curvava os lábios corados minimamente quando se via obrigado a ouvir mais do que o costumeiro, e quando os abria de modo a mostrar seu sorriso alvo, estava zombando em segredo, até que deixasse escapar ácidos comentários tão temidos por seus subordinados.

O próprio Duque do Vilarejo chegou a se retirar soltando palavrões certa vez, quando ouviu "... você não vale muito mais que suas botas imundas, então não me peça por um lugar no meu palácio, aldeão."

Aldeão! O Sr. Jin jamais perdoou tamanha afronta. Mas ele não era o único a ter seu orgulho ferido pelo príncipe. Nem mesmo a princesa Jaehye escapava do seu veneno, e ele a atacava outra vez, no almoço junto aos Reis no palácio.

— Um homem ômega – comentou ao encarar o óbvio desagrado estampado na face da irmã. — Posso imaginá-lo usando os seus vestidos enquanto você se coloca nas calças esfarrapadas do franguinho, irmã. Quanto ao que acontece depois do casório, recomendo que você seja gentil com a sua... dama.

— Há tanta curiosidade por detrás do seu veneno, irmão – Jaehye deixou a xícara de porcelana no pires, e desviou seu olhar para a mãe lendo determinado panfleto. — Está atenta a isto, omma? Seu querido príncipe não é adorável tentando tirar informações outra vez? Quem sabe, ele realmente teme que eu me case tão logo quanto espero.

Assim que levantou a questão ela se enfureceu quando o ouviu rir zombeteiro, mas insistiu com seus instintos:

— Omma, ainda que eu precise aturar a desagradável presença desta pessoa, por favor, atenda o meu pedido. Quero fazer com que Park Jimin venha ao meu encontro o mais rápido possível. É um evento e tanto! Como alguém evidentemente simples estará bem apresentável no inverno? Não posso correr o risco de ele se negar a vir quando for surpreendido com um convite a poucas horas para o baile de inverno.

— Oh, por favor, querida. As pessoas têm conhecimento de quando será o baile, muitos se preparam com meses de antecedência. É assim para todos – a rainha não desviou sua atenção do papel em mão nem mesmo quando bebericou do suco de maçã. — Já temos exceções o suficiente.

— Os Park jamais vieram ao baile sem que fosse para nos servirem verduras!

— Oh, eu já me informei sobre os Park; trata-se de uma família modesta, estão à beira da última geração – o Rei Kyun ponderou a questão. – É algo a se pensar. Mas ouso dizer que eles sabem usar os bons modos num baile. Afinal, não estamos tratando com animais.

— Appa – a princesa persistiu e, diferente da rainha, o rei entregou-lhe toda a sua atenção. — Diga-me se estou errada: Estamos falando do mais jovem dos filhos. Jimin acaba de completar dezoito anos. Ele tem suas inseguranças e precisa de apoio até o baile. Logo, dê-me a sua permissão para prepará-lo. Isto é muito importante para mim. Por toda a minha vida acreditei que não encontraria alguém que se assemelhe ao que eu sou, mas agora o destino colocou Park Jimin, um homem ômega, em meu caminho. Quero fazê-lo se sentir confortável na minha presença, e o baile pode assustá-lo sem que haja a devida instrução.

— Me parece sensato. O pobre rapaz passou por um período difícil, como todos bem sabem.

— É um fracote – o príncipe estalou a língua em desagrado. — Appa, este Park não serve para nada. E não é aceitável trazê-lo ao palácio quando todo o vilarejo foi afetado com seu vergonhoso cio de fêmea. Dizem que as damas podem sentir o cheiro de maçã até hoje, nas vestes impregnadas dos seus maridos, que foram tentados por um garoto problemático.

— Eu gosto de maçã – a rainha comentou distraída e ergueu sua taça com o suco de tal fruta. — É muito agradável.

— É esquisito – Jeon acusou com um revirar dos olhos negros que caíram sob os vermelhos da irmã. — Não estou de acordo que você o traga para o meu palácio, irmã. Um macho-fêmea não ficará entre nós, é ridículo até mesmo para você, sua estúpida precipitada.

— Cale-se, Jeon! –Jaehye fechou os punhos com força, segurando-se para não perder a postura diante do irmão inabalável. — Eu ordeno que você cale esta boca maldita e que volte para as missões.

— Oh, você ordena – ele zombou sorridente, mas uma de suas sobrancelhas desceu para expressar seu desagrado. — Se trata de um conto de fadas, certo? Um homem ômega brotou da terra como um nabo, então você quer se casar com ele porque está desesperada para... Oh, para arrancar a coroa da cabeça da nossa omma. E foram todos felizes para sempre!

— Detestável! – Jaehye acertou a mesa com um estrondo.

— Basta! – o Rei Kyun se alarmou diante do destempero dos filhos, e se voltou contra o príncipe. — O que há com você, Jeon? Qual o seu interesse em perturbar sua irmã com um assunto que não é do seu cargo? Está interessado no trono, por isso levanta tantas questões?

— De modo algum – com visível tédio, Jeon avaliou o vinho em sua taça. — Simplesmente não compreendo como vocês podem ceder ao capricho absurdo de minha irmã. Fazer de um homem ômega Rei é ridículo, uma inversão de tradições inteiras. Apenas pensem nisso, antes que esta estúpida coloque esperanças na cabeça oca daquele franguinho. E não me olhe de tão mal jeito, Jaehye, ou serei obrigado a dar-lhe umas boas palmadas.

— Atreva-se! – ela quase rosnou como seu próprio lobo interior, erguendo-se em desafio.

— Quanto descontrole – ele desdenhou.

— Descontrole?! Querido irmão, é você quem está fugindo aos padrões desta vez. Não costuma dizer que prefere estar entre as tropas, tropeçando entre tabernas e tendas? Você só veio até aqui para dificultar a minha trajetória e felicidade com alguém que, muito possivelmente, é o meu parceiro. É um infeliz que insiste em incomodar a todos nós. Mas não vou aturá-lo! Vá se embrenhar nos lençóis das suas amantes, fazer disso a sua "missão pela monarquia", irmão. Não é necessário fugir da sua rotina enquanto eu trabalhar de verdade!

— Entediante – ele também se ergueu, observou uma última vez os pais atentos em si e lhes deu às costas. — Fiquem cientes disto: não me curvarei para um homem ômega, e antes que esta possibilidade possa surgir, me casarei primeiro. Eu serei o herdeiro da Coroa.

Então Jaehye rosnou em alto e bom tom e foi impedida pelos servos para que não seguisse o irmão, que a ignorou por completo. Ela sentiu-se ameaçada, ultrajada como nunca antes por ele. E lutaria com tudo o que tinha para derrotá-lo.

Naquela tarde uma guerra fria iniciou-se, causando um clima tenso pelos muitos corredores do palácio, até que os boatos caíssem sobre o vilarejo onde Jimin estava alheio às notícias, ajudando sua omma a pendurar os lençóis lavados. Porém, quando o vento ergueu um dos tecidos de algodão, seu olhar foi guiado para o alto do pequeno monte, onde o bosque se estendia numa faixa curta. E foi então que ele avistou algo brilhando contra o sol.

Sua curiosidade foi tanta que ele escapou da mãe e subiu o morro correndo, pensava ser uma moeda caída na relva.

Entretanto, Jimin não poderia estar mais surpreso ao se abaixar para pegar uma medalha de honra, certamente, de responsabilidade das tropas da monarquia.

— Que bonita – ele observou-a na palma de sua mão, mas não conhecia o significado do símbolo em alto revelo no ouro. — Como algo assim caiu por essas bandas? Omma, veja o que eu encontrei! É uma medalha da monarquia, e está novinha.

Quando ele a entregou para a Sra.Park, notou com espanto que ela perdeu a voz enquanto recebia o pequeno objeto em sua mão. Sua mãe sempre tinha respostas diretas para as maiores adversidades, mas se encontrava pálida e chocada naquele momento.

— Posso devolvê-la ao palácio, omma? – Jimin sugeriu ansioso para ver a belíssima estrutura da qual tanto ouviu falar por toda a sua vida. — Eu realmente adoraria.

— De... de modo algum – a medalha foi fechada no punho da Sra. Park, que apontou para sua casa. — Entre agora mesmo, vou terminar com os lençóis sozinha.

— Quero lhe ser útil, omma.

– Pense um pouco mais na forma como fará isto, mas dentro de casa!

Magoado, Jimin assentiu rapidamente e deu largas passadas até a porta, mas correu para o quarto dos irmãos e se escondeu com o objetivo de observar a mãe ainda ali fora.

— Qual o problema? É apenas uma medalha perdida, afinal.

Chateado, ele se jogou sobre a cama, que rangeu envelhecida, e se perguntou se algum dos nobres realmente esteve próximo de sua casa, ou se algum ladrão a roubou e perdeu pelo caminho de sua fuga. Apenas soldados de vigília faziam roda ao vilarejo, e nem mesmo eles costumavam andar entre as casas de fazenda, próximo aos bosques. Mas antes que Jimin pudesse pensar muito sobre isso, os cascos dos cavalos da família se fizeram ouvir, alertando-o para a chegada de seu pai e os irmãos. Não se moveria para vê-los porque ele era obediente à sua mãe que, muito provavelmente, lhe daria uma bronca se o visse fora de casa depois de sua ordem.

Entretanto, Jimin podia ouvi-los deliberando em frente a plantação de nabos. E o seu nome estava em questão. "... ele mesmo encontrou isto, querido. Acredito que a monarquia anda interessada no escândalo de meses atrás" dizia sua mãe, soando aflita.

Obviamente, os outros retrucaram indiferentes, até frios demais, não escondendo seu desapego com um homem ômega em seu lar.

Àquela altura, Jimin se encolhia em sua cama de solteiro, culpando-se um tanto mais por não se sentir amado e protegido pelos seus. Seus dedos machucados apertaram o lençol, o choro - que diziam ser frequente e irritante - ficou entalado em sua garganta e olhos arregalados. Ele teve medo, mas não admitiria tão logo.

"O que podem querer com o Jimin? Não há nada que ele possa fazer. Porém, se eles o levarem, podemos ter chances de uma vida mais robusta por aqui. Devemos esperar por um acordo, entenderam?" com ânimo, seu pai encerrou o assunto aos sussurros, agindo como um típico negociador feirante quando este arranjava seus meios de ganhar frente à concorrência.

Com seu lamento trancado no peito, Jimin compreendeu seu lugar na família naquela tarde. Ele se tornou mais uma mercadoria que todos esperavam ter algum valor, afinal. E se fosse verdade que a monarquia estava interessada em comprá-lo, por amar e respeitar quem lhe colocou no mundo, ele se prestaria a ser vendido. Faria aquilo por sua Omma, embora esperasse que ela o defenderia no fim das contas.

Restava apenas que descobrisse como ele poderia ser agradável e útil aos nobres, quando seus olhos estavam caídos e o seu sorriso não se abria sinceridade.

— Afinal, quantas moedas eu valho?

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Comments

psicoticc

psicoticc

Que história boa, você escreve super bem! Apaixonada no enredo e nos detalhes 😊

2024-10-05

2

Charllie Hunteson

Charllie Hunteson

vamos ver então Jeon Jungkook /Chuckle//Casual/ só sei que sei de nada

2024-06-23

0

Charllie Hunteson

Charllie Hunteson

O príncipe Jeon é? /Chuckle/

2024-06-23

1

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