Você foi pego

...°°°...

Ao longo das horas que se passaram, muita movimentação se deu no palácio naquela noite. Um pequeno baile se dava para apresentar as moças da recém maior idade à sociedade nobre; o que acabava por ser um evento entediante para Jaehye porque ela pouco se interessava em observar jovens despreparadas correndo atrás daqueles homens amargos.

Um suspiro escapou por seus lábios, a frustração se tornou evidente sem querer ao se perguntar a razão de Park Jimin não ter respondido ao seu convite. Havia enviado a ele uma breve carta formal pela tarde, esperava ansiosamente recebê-la de volta com a assinatura do ômega na linha marcada. Toda a tarde passou, o céu escureceu e o salão dourado se encheu com os convidados da corte; e por todo aquele tempo Park Jimin não se manifestou.

Jaehye desviou sua ansiedade para o fim daquele baile; muito embora não pudesse realmente dar por encerrado o evento, tampouco ordenar que a orquestra tocasse algo mais sútil aos ouvidos. Tudo estava um tanto agitado em demasia por ali.

Uma jovem serva se aproximou com sua bandeja e lhe ofereceu uma taça, junto da carta com sua letra.

— Oh, por fim! – exclamou Jaehye, pegando com pressa o papel. — Mas o que significa isso?

A assinatura de Jimin não estava ali, a linha se encontrava intacta. Ele não recebeu seu convite?

— O Sr. Park não esteve em seu quarto por todo este tempo? Fale do que se trata isto.

A jovem serva a encarou com olhos violeta vívidos, aquela era a primeira vez que ganhava permissão para falar diante de um nobre:

— De fato, confirmo-lhe que o Sr. Park não esteve em seu quarto por todo o dia que se passou. Fui encobrida de dar a ele seu convite e estive ali diversas vezes para assim fazê-lo, no entanto…

— Procure-o junto dos guardas imediatamente – Jaehye a interrompeu, frustrada com as novas informações, rejeição e a forma que a garota não abaixou a cabeça ao se dirigir a ela. — E se anuncie: está claro que você é novata na corte, hm.

— Freya Soyuri, sua serva mais fiel.

— Serpente de olhos violeta... – com óbvio desagrado, Jaehye a confrontou e se irritou ao vê-la sorrir de canto de lábios. — Seu nome não me soa bem, sua postura me parece o pior.

— Devo dizer que me sinto honrada ao ter a atenção da princesa voltada inteiramente para a minha imagem.

— Zomba de mim? – num instante, Jaehye ficou de pé e não mais se surpreendeu que a serva sequer hesitou ao sustentar a bandeja, tampouco abaixou a vista dos seus olhos negros impetuosos. — Ordeno que se curve.

— Pois não – a serva cumpriu sua ordem, no entanto, quando arrumou a postura voltou a encará-la com o mesmo brilho divertido no olhar, e aquilo realmente enfureceu a outra.

— A-agora suma da minha vista e encontre Park Jimin! – Jaehye simplesmente vacilou a postura diante da outra, mas esta fingiu não ver seu mal jeito e lhe deu às costas.

Algo estava errado, Jaehye ponderou ao deixar a taça de lado. O olhar astuto varreu o salão onde as saias robustas balançavam para todos os lados, em sincronia, observou o ir e vir dos rapazes, mas ali não estava o seu irmão.

— E aquele patife não perde uma boa festa neste salão. Oh, omma!

Jaehye se ergueu assim que a rainha se aproximou sorridente, radiante com a belíssima noite, embora a filha permanecesse contrariada.

— Por qual razão você não está dançando com o seu ômega, Jaehye? Ele continua com seu medo ridículo de pessoas? Oh, por Deus, aquele pequeno animal precisa aprender boas maneiras.

Jaehye ignorou seus questionamentos a respeito de Jimin. Preferiu não contar ainda que ele parecia ter desaparecido:

— Viu Jeon em algum lugar? Ele jamais perderia a oportunidade de importunar estas pequenas idiotas.

— Meu belo rapaz, um alfa como nenhum outro haverá…

— A senhora… a senhora  bebeu, omma?

— Ora, Jaehye, deixe o seu irmão em paz!

Tão logo surgiu, assim a rainha se foi; andava alegremente entre os jovens, até encontrar o Rei e sorrir apaixonada.

Era bom que o máximo de pessoas ali se distraísse, assim pensou a Sra. Cecil, alerta de bandeja em mãos. Os petiscos se encontravam intocáveis, um claro sinal de que aquela gente magricela dava maior importância às suas medidas que a comida servida. Um desperdício, pensava ela. Porém, seus pensamentos pouco se prendiam no baile ao redor porque a mulher não pôde esquecer nem por um segundo que seu protegido se encontrava numa situação inconcebível. Gostaria de escapar com facilidade e ir ao quarto de estudos para saber como estavam Jimin e o príncipe.

— De todo modo, eles nunca comem.

Ela se virou para sair do salão, pena seu pulso ser agarrado assim que foi em direção até as portas que davam acesso a um corredor. Jaehye havia a encontrado, o que assustou a pobre Sra. Cecil, devido ao fato da princesa estar com seu conhecido fervor vermelho na língua d'água dos olhos. A outra a  soltou, limpou as mãos sobre o tecido do vestido de seda e apontou para trás da coluna, onde ali dava pouca luz.

E assim que tomou privacidade para questionar a mulher, Jaehye observou-a tremendo assustada:

— Do que tem medo, serva? Está agindo com estranheza.

— Tenho medo do frio da estação, princesa – respondeu a Sra. Cecil, a bandeja instável em suas mãos. — Como vossa alteza bem vê, não podemos usar luvas diante dos convidados. Temo perder os dedos por conta da friagem.

— Perderá a língua se continuar a falar tanto – indiferente, Jaehye a viu fazer uma reverência desleixada. — Quero tratar sobre Park Jimin. Ouvi bem quando meu irmão a nomeou como acompanhante do meu convidado especial.

— Sim, alteza. Isto é verdade.

— Pois me diga onde o Sr. Park se encontra neste momento.

— Oh bem – hesitante, a Sra. Cecil torceu as mãos. — Ele está em seus aposentos e pediu-me para não ser incomodado. Como a senhora bem sabe, o jovem Park é bastante tímido quando junto de pessoas desconhecidas.

— Jimin está em seus aposentos, hm…

— Dá uma vez que conferi… – hesitou ela, diante do semblante exasperado da princesa. — Quem sabe, o Sr. Park foi até a biblioteca…

— Quem sabe, está mentindo para sua princesa – Jaehye a confrontou, por fim, decidida a tirar a verdade daquela que negava insistentemente com a cabeça, muda desde então. — Tenha ciência disso, serva: ainda esta noite Jimin será encontrado, quer ele queira ou não. No entanto, se eu não conseguir o que quero você será responsabilizada.

Então, Jaehye voltou para o salão de baile e deixou a velha Sra. Cecil mortificada com sua sentença. Aquele era seu fim; Jimin teria que sair do quarto onde se escondia.

...¥¥¥...

No quarto de estudos, Jeon recebeu uma bandeja de jantar em sua porta: havia pedido para dois. Deixou-a sobre a pequena mesa e, com custo, caminhou até a porta do banheiro onde Jimin se fechou. Não estava mais irritado por ter sido esbofeteado, na verdade, compreendia que o ômega se assustou com suas próprias atitudes em relação ao alfa. Se antes ambos tinham quaisquer dúvidas, elas se foram. O lobo de Jimin reagia ao de Jeon.

— Jimin, podemos conversar agora? Sei que tem fome e sede, por isso, pedi o jantar – o chamou gentilmente, porém, não houve respostas. — Prefere que eu saia, imagino.

De repente, ruídos foram ouvidos ali dentro e, logo, a porta se abriu aos poucos. Incapaz de erguer o olhar, Jimin se colocou à sua frente e negou a ideia do príncipe. O cheiro de comida e suco de morango e mel chamaram sua atenção, mas não ousou se mover antes de se desculpar por seu comportamento.

— Sinto muito por subir em… em você, e por rosnar quando os ômegas não devem fazer isso; por xingá-lo e ser impertinente com seu corpo quando sei que somos dois homens e este comportamento é francês e inapropriado. Em minha defesa, devo afirmar que perdi a lucidez quando meu lobo sem qualquer moral tomou conta dos meus sentidos…

— Não diga bobagens, Jimin.

— E sinto muito mesmo por acertá-lo no rosto. De tudo o que lhe fiz, tenha certeza de que agredi-lo é o que mais me envergonha.

— Sr. Park...

Segurando-se para não cair na risada com o monólogo, Jeon o admirou longamente e captou o momento em que Jimin subiu a vista para si. Sorriu de canto ao observá-lo erguer a mão direita e tocar sua face avermelhada pelo tapa.

— Está doendo muito, Jeon?

— Oh, sim, sim – teatral, Jeon segurou a mão junto a sua face e murmurou de olhos estreitos. Cheirou a palma da mão com aroma de maçã e sorriu de canto ao notá-lo atento ao menor dos seus gestos, receptivo aos carinhos. — Sei que sou um guerreiro resistente, no entanto, hoje me encontro abatido e incapaz de me recuperar com agilidade de qualquer golpe. De todo modo, me sentirei muito melhor se você se juntar a mim na mesa e na... cama.

— Francamente... – rápido e outra vez irritado, Jimin puxou sua mão da dele e foi sozinho até a mesa, onde se sentou e arrumou o lenço sobre o colo. — Vejo que está em perfeito estado, até mesmo voltou a dizer bobagens.

Jeon acabou por rir, finalmente, e foi até a mesa para se servir de frente ao ômega vermelho e carrancudo:

— De todo modo, não se desculpe por rosnar quando irritado. Me agrada ouvir; soa realmente atraente aos meus ouvidos…

— Definitivamente – Jimin o confrontou, ainda que abalado com o descarado flerte. — Não voltará a acontecer…

— Oh, mas é claro, Sr. Park.

Por fim, Jeon assentiu de bom humor e preferiu deixá-lo comer sossegado enquanto fazia o mesmo, embora não tivesse apetite e se sentisse um tanto enjoado após algumas garfadas em seu jantar. De certo, o outro percebeu seu estado e, inevitavelmente, se colocou numa postura hesitante ao vê-lo encarar a cama tão logo que começou a ignorar a salada no prato.

Jimin se perguntou por que não conseguia deixar morrer a sensação incômoda que inquietava seus sentidos. Reparava que havia duas sombras escuras ao redor dos olhos do outro, assim como os lábios sem cor e ressecados, fazendo-se óbvio o mal estar constante.

No entanto, por que o príncipe não melhorou durante as horas que se passaram? Em sua alma habitava um lobo alfa de extrema força e notável saúde; não fazia sentido Jeon permanecer adoentado.

— Tome um pouco do suco – Jimin ofereceu a ele o seu, pois não havia outro na mesa, mas apenas água. — Ao menos um pouco deste para ter energia. V-veja bem, eu me servi de um tanto mais de mel porque faz bem para a saúde. E está… está docinho, entende?

Pego de surpresa por seu gesto, Jeon sequer cogitou a possibilidade de negá-lo, apesar de não apreciar doçura; assentiu sonolento e tocou os dedos junto a taça, mas se demorou ao desfazer o toque e sorriu para Jimin.

Ele desviou sua atenção para os dedos cobertos pelos seus, em seguida o observou nervoso:

— Sua preocupação é muito gentil – ele se ergueu e o encarou de cima, levando a outra mão a taça e tomando antes de lhe dizer — Tomarei um gole, é claro, em seguida irei me deitar para tirar um descanso. Se for de sua vontade, por favor, junte-se a mim, sim?

Logo que soltou sua mão e foi até a cama, Jeon ouviu-o murmurar constrangido e sorriu para si mesmo. Aquele era um ômega realmente sensível ao seu toque.

Na mesa, Jimin recolheu a mão para junto do colo e se viu perdido ao modo ao que tal cena lhe pareceu doméstica e íntima. O coração disparou com a constatação do desejo de aceitar ir correndo se deitar na cama macia, imerso no cheiro de rosas entre os lençóis dourados e o calor do outro. Como negar? Era confortável, como deitar nas nuvens num dia de primavera. Queria aquilo imediatamente, tanto que os dedos dos pés se reforçaram virados para o chão, e um suspiro longo escapou dos lábios corados.

"Quem sabe, a marca está mudando minhas perspectivas. Isto é terrível e perigoso!" pensou ele.  Porém, antes que pudesse especular muito mais sobre o caso, se surpreendeu com a porta se abrindo de repente, revelando a Sra. Cecil, alarmada.

— Ah, Sra. Cecil.

— Perdoe a nova intromissão, mas é realmente urgente – ela se anunciou, chamando atenção do príncipe sentado na cama. — Mas não há tempo, estamos encrencados! A princesa… ela exige a presença do Sr. Park no baile das moçoilas. Temo que desconfie do seu sumiço por todo o dia. No entanto, o seu cheiro… oh, não há o que fazer, toda esta farsa será exposta!

— Se aquiete, mulher – Jeon a repreendeu, em seguida, notava Jimin petrificado de medo, agora próximo a porta do banheiro. — E não há razão para que você volte a se trancar aí. Jaehye deseja ver o Sr. Park? Pois diga a ela que falará comigo antes de qualquer uma de suas exigências tolas.

— M-mas senhor…!

— Estarei em seu escritório num instante – sem demora, Jeon caminhou até Jimin e passou reto, indo em direção ao lavatório.

Então, a Sra. Cecil e o ômega trocaram um olhar aflito, antes de ela deixá-lo com a promessa de lhe trazer roupas formais logo mais. Estariam prontos caso Jaehye não voltasse atrás com sua decisão.

Ele sentou na cama e respirou fundo, os feromônios do alfa exalavam com mais força dos poros; a marca danificada voltava a queimar, rogava diligência e aflorava suas carências. Sentou-se de lado, unindo os pés, e levou a mão a testa e cabelos loiros; não queria ficar sozinho, no entanto, o príncipe estava saindo do banheiro, pronto para se apresentar a princesa e deixá-lo angustiado em seu quarto.

— Jimin – estranhando-o numa postura aflita, Jeon se sentou de frente para ele e esperou que o outro mostrasse a face, mas o segurou no pescoço ao observá-lo tremer na ameaça de um pranto. — Não há o que temer, de maneira nenhuma. Sei que é difícil confiar em mim a esta altura, mas prometo que Jaehye não irá encontrá-lo aqui.

Angustiado, Jimin arrumou a postura e o encarou com o semblante pálido e sofrido:

— Por que não percebe o mesmo que eu? Agora que o temor abriu meus sentidos para o risco de sermos descobertos nesta situação, isso está muito claro. Por que não percebeu ainda que… que está completamente marcado por meu cheiro?

Estupefato, Jeon o observou a ponto de ver o frágil corpo pálido vir para junto do seu, pedindo como que em segredo por seu abraço acolhedor, e ele mesmo não o negaria.

De fato, não se deu conta dos feromônios do ômega junto a sua pele, talvez porque seu faro tenha sido afetado pelo mal estar, ou porque simplesmente se acostumou rapidamente ao aroma de maçãs. Era refrescante e adorável.

— Sinceramente, estar marcado pelo seu cheiro de maçãs não me incomoda em nada, na verdade, sinto-me um tanto orgulhoso por isso – de repente, sorriu ao ouvi-lo choramingar em seu ombro, e acariciou os cabelos loiros com notável afeto. — Me agrada tocar em você, cuidar de você; sentir o seu cheiro e abraçá-lo como estou fazendo neste momento. Que ironia, no entanto…

— Somos dois homens.

— Gosto que seja você – um tanto hesitante, Jeon concluiu para si mesmo e para o outro, estava se declarando de certa maneira. — Você me encantou, Sr. Park.

Então, para o total espanto de Jimin sentado naquela cama, um beijo foi deixado na sua testa, tão lenta e calorosamente que ele nem sequer se moveu. Voltou a tremer inteiro, um sopro de ar escapando da boca farta.

— O que isso quer dizer? — questionou, mesmo que temente à resposta do outro, murmurando satisfeito ao toque dos dedos cruzando entre os seus. — Por favor, eu não poderia...

— Pensas que posso ir contra algo assim? Por Deus, eu perdi todo o controle dos meus atos desde a sua chegada, Park Jimin. Eu volto num instante.

O olhar arregalado acompanhou Jeon se erguendo e dando-lhe as costas. Observou os passos ágeis, parecendo ter pressa para dar fim aquela questão e voltar até ali. Neste aspecto, Jimin apenas especulou com o resto de sanidade que lhe foi deixado porque não havia nada mais a fazer além de se render ao fato de que, talvez, ele também tinha pressa para o fim de tamanho confronto; no mais, Jimin também não se incomodaria que o príncipe voltasse logo.

...◇◇◇...

Em seu escritório, a bandeja com o jogo de chá foi posta sobre a mesa, em seguida, Jaehye dispensou o servo para fora dali. Impaciente, recebeu com total desagrado o recado do irmão, e também com estranheza; Jeon não solicitava uma conversa consigo duas vezes num mesmo dia, na verdade, ele nunca nem mesmo costumava estar no palácio.

Então, quando o outro entrou pela porta e vestido de modo informal, com a camisa um tanto amassada e de cabelos desalinhados, o estranhou outra vez. Sentada em sua mesa, esperou que o irmão se aproximasse, mas ele sequer a olhou nos olhos; foi até a janela e cruzou os braços, alheio e rígido.

Jaehye suspirou exasperada:

— Jeon, caso não tenha reparado, estou um tanto ocupada esta noite e não tenho tempo para lidar com você, muito embora eu me pergunte por onde esteve por todo o dia – em princípio, ela se distraiu com o chá e aguardou que ele se manifestasse, mas encarou seu perfil pálido diante o silêncio do outro. — Por que está tão desalinhado? Até mesmo seu perfil me parece pálido…

Por fim, Jeon lhe respondeu, mantendo a mesma postura distante:

— Acredito que tomei um resfriado, é típico para a estação fria.

— Típico para ômegas… – Jaehye pontuou prontamente, desconfiada e curiosa. — Alfas como nós são definitivamente mais resistentes a doenças de quaisquer estações, e eu sei que você sabe muito bem disso. Venha até aqui, quero olhar para você, Jeon.

— Você ainda não é Rainha, e eu não sou o seu súdito – rude, Jeon sorriu de canto quando a ouviu se agitar na cadeira, estava irritada e aquilo lhe pareceu bom. — Estou bem aqui, um tanto cansado, mas com ouvidos perfeitamente saudáveis.

— Pois muito bem, como quiser, desde que seja rápido. Estou no meio de um baile e, ainda por cima, a procura do meu convidado.

— Sinceramente, não sei por que ainda o procura, Jaehye – ele soou irônico. — O Sr. Park não é o seu ômega e você sabe muito bem disso. Algo sobre nossa visita mais cedo ainda lhe coloca dúvidas? Não posso acreditar em sua insistência.

— Não se trata disso – se defendeu ela. — Farei o que você me pediu, não vou arrastar Jimin para a coroa quando compreendo que ambos seremos prejudicados no futuro. Por Deus, no entanto, só eu sei o quanto está sendo difícil abrir mão de um passo tão grande até meu objetivo. De todo modo, quero explicar certas coisas a ele e… ora, mas por que isto lhe importa?! Você já se intrometeu o suficiente neste assunto!

— Deixe que o Sr. Park descanse por esta noite – enfim, Jeon voltou os olhos escuros e caídos para a irmã intrigada. — Imagino que seu convidado perderá o sono depois de constatar a rejeição. Faça isso pela manhã, é o mais sensato.

— Algo está errado – de repente, Jaehye concluiu e ficou de pé, enfrentava-o avaliativa. — Você o viu, não foi? Esteve com Jimin, assim como aquela serva gorda, e ambos estão o escondendo de mim.

— Não seja ridícula, Jaehye – em resposta, Jeon zombou. — Se o Sr. Park deseja vê-la, ele sabe aonde ir para encontrá-la. Entretanto, lhe recomendo aceitar que ele jamais desejou algo meramente semelhante a ideia.

— Claro, muito bem – astuta, Jaehye tomou outro rumo. — E isto o alegra no fim das contas. Oh, não tente negar a verdade. Nós somos todos esquisitos por aqui, vivendo cada um os seus segredos por detrás das pedras deste palácio: você está interessado na figura de um homem ômega, devo dizer, até mesmo obcecado por ele.

Ao levantar o que a própria considerava ser absurdo, Jaehye riu nervosa por não receber qualquer justificativa, ou mesmo um comentário ácido do irmão, admirando a noite pela janela.

— Como não percebi antes? – em choque, ela se aproximou em passos largos, o agarrou pelo pulso com força e puxou o ar para as narinas sensíveis. — Meu convidado e você se esfregando como dois cães no cio, provavelmente, rindo de mim. Que improvável, quanta humilhação você me faz passar, Jeon!

Diferente do que pensou ao confrontá-lo, ela não imaginou que o veria se livrar do seu aperto com um relés afastar de mão, tampouco ficou contente quando o ouviu estalar a língua em desagrado, o olhar afiado preso ao seu.

— Você está especulando absurdos, e sabe que não gosto que me toque. Tenha o mínimo de postura, Jaehye, do contrário, darei por encerrada esta conversa – em contrapartida, Jeon soou sincero. — De fato, estive com o Sr. Park pela tarde, o encontrei à beira de uma queda do alto da escada junto a estante, na biblioteca. Sinceramente, você deveria me agradecer por seu convidado estar vivo.

— Diz mentiras! O cheiro dele está forte em você.

— O que posso fazer se tive que segurá-lo na queda? – ao mentir descaradamente, Jeon deu de ombros. — Não está claro agora? O Sr. Park se assustou, tomou um segundo para se recuperar enquanto eu o segurava com total respeito.

— Jeon, por Deus, eu posso jurar que acabo com os dois, caso eu descubra que você está mentindo para mim – aquela era a segunda ameaça que Jaehye lançava numa mesma noite, e não se arrependeu nenhum pouco de sua atitude. — Eu não perdoarei tamanha traição!

Inesperadamente, no quarto onde Jimin descansava, a porta foi aberta com a ordem de um soldado, e por trás dela surgiu a serva Soyuri que antes havia falado com Jaehye. Sorriu ao encontrar Jimin sentado sobre a cama, assustado e desgrenhado como quem acaba de acordar no quarto do príncipe.

— Ora, vejam só quem acaba de acordar no quarto errado – comentou ela, ácida e petulante. Jimin havia pulado para fora da cama num instante. — Não se assuste, eu poderia ter visto coisa muito pior para o horário. No entanto, devo admitir que estou realmente perplexa com os gostos franceses do príncipe Jeon.

Naquele momento, ao ser pego em tal circunstância pela mulher estranha, e por ouvir seu julgamento, Jimin murmurou negativas, aterrorizado com o futuro próximo. Estava feito, todos saberiam que foi marcado, levado aquele quarto e tomado a liberdade de se permitir ser vestido com as vestes de outro homem. O coração falhou no peito, o pedido mudo para que Jeon voltasse logo se tornou o único meio de se manter de pé até que o outro estivesse mesmo ali para salvá-lo da vergonha.

Jimin se encontrava impactado ao encarar a mulher zombando de si, ameaçando destruir sua vida com um sorriso diabólico nos lábios; por isso, caiu sentado na cama e fechou os olhos com força. Não, não poderia esperar por Jeon. Teria de lidar com aquilo sozinho porque seu tempo para reverter o que se formou era escasso.

Então, Jimin a observou de pé e decretou:

— Entre definitivamente e feche a porta. Teremos uma conversa, e nada do que eu lhe disser sairá daqui.

Quando a porta foi fechada, no corredor do andar abaixo daquele, Hoseok acompanhava a agitada Sra. Cecil no quarto do Sr. Park. Enquanto corria de um lado ao outro e buscava entender tamanha urgência, se surpreendeu com as novidades mais recentes. Acreditou veementemente em Jeon, tinha certeza de que ele não permitiria que Jaehye encontrasse o ômega marcado até o fim daquele tormento. Em contrapartida, a Sra. Cecil jogou ao chão os lençóis usados da cama e trocou por novos, reclamando ainda de não ter mais idade para aventuras como aquela.

— Roupas limpas e confortáveis!

De repente, Hoseok foi empurrado para longe do armário, que se abriu para a mulher revirar algo decente para que o ômega não fosse pego com as roupas do príncipe; seria o fim de todas as coisas caso aquilo acontecesse!

Hoseok concordou, exasperado de tamanha bagunça e faladeira. Resolveu ajudá-la a preparar uma pequena cesta com os pertences, correu para abrir a porta para a mulher e andou ao seu lado no caminho até a escadaria. De fato, precisavam ser rápidos, afinal, ele não pôde impedir que os soldados cumprissem a ordem da princesa e batessem em todas as portas à procura do Sr. Park.

Passos ágeis foram avistados pelos guardas ao longo dos corredores, era de se estranhar o comportamento daquelas pessoas. Os movimentos esvoaçantes das vestes causavam certo ruído entre as passadas, no entanto, somente os olhos dos homens incumbidos de vigiar os extremos dos corredores se moviam. Não foram solicitados, logo, lhes restou apenas a apreensão e curiosidade. Dois pares de pernas se moviam rapidamente até o quarto de estudos, porém, mais uma pessoa se juntou à corrida até ali. A cada minuto a porta se encontrava mais próxima, apenas dois metros de distância e, de repente, ela se abriu de súbito. Quatro pessoas esbarravam umas nas outras, e Jimin exclamou surpreendido ainda dentro do quarto. A Sra. Cecil caiu por cima de Hoseok, mas foi segura por este, desconfiado com Soyuri, a serva que teve o braço seguro por Jeon.

O príncipe a confrontou enraivecido:

— Quem diabos é você e o que faz aqui, sua intrometida?

Num segundo, a Sra. Cecil declarou derrota, gritou a plenos pulmões o fato de serem descobertos; e que desespero foi até fazê-la se recuperar de seu surto e entrar no quarto com Jimin. Por sorte, este último a fez se calar ali dentro; era preciso encerrar a atenção redobrada que recebiam de repente, num curto espaço de tempo.

Hoseok dispensou um grupo de cinco guardas que vieram correndo com espadas em punho, e Jeon rosnou como um lobo faminto por carne e sangue quando a mulher de olhos violeta mencionou saber sobre a marca no pulso do ômega. Ela prometia guardar segredo repetidamente, assustada com o modo ao qual era agarrada e vista como uma ameaça a ser abatida. Implorava por perdão por entrar ali; disse que a princesa lhe deu ordem para explorar todos os cômodos, junto dos guardas de honra.

— Eu estava cumprindo ordens, alteza…!

Jeon a lançou sobre Hoseok, nada paciente com lágrimas e faladeira:

— Poupe-me desse escarcéu, criatura intragável! Trato com você em breve, mas lhe aviso de antemão que saberei encontrá-la caso se atreva a abrir a boca. Depressa, leve-a daqui, Hoseok. Não quero olhar para essa petulante!

Então, Jeon girou a maçaneta e desapareceu por detrás da porta, a fechando com destempero diante o caos daquela noite interminável. Logo, avistou Jimin socorrendo a Sra. Cecil na pequena mesa, dava a ela um copo de água e usava um abanador sob o rosto pálido da mulher.

No entanto, antes que pudesse especular sobre Jimin e a serva estranha em seu quarto, Jeon deixou o caso de lado, agarrou o pulso do ômega e o puxou com agilidade contra seu peito. O baque surdo se quebrou ao ouvir o coração do outro batendo forte, seu próprio peito queimou ao notá-lo de pêlos arrepiados. O abraçou com força, mesmo quando ouviu murmúrios confusos e o sentiu trêmulo e ofegante; Jimin estava assustado por ser pego marcado, Jeon sabia e por isso agiu como agiu.

Ele o acolheu com verdadeira satisfação:

— Estou de volta, Sr. Park.

— Obrigado por isso – de repente, Jimin suspirou longo e sonoro, as mãos de toques inseguros relaxaram na altura dos ombros alheios. — Eu tentei impedi-la de falar a verdade, Jeon…

— Você fez bem – Jeon se surpreendeu com o modo afetuoso a que era abraçado de volta, e cheirou os cabelos loiros de aroma florido e doce. Queria ficar sozinho com ele outra vez, realmente desejava aquilo com urgência. — É hora de… de dispensarmos a Sra. Cecil, hm.

— M-mas Jeon…

— Ganhei tempo suficiente para descansarmos, precisamos disso o quanto antes – astuto, ele segurou o pulso marcado, coberto pelo curativo límpido próximo ao seu rosto e observou atentamente os olhos brilhantes e castanhos. — Sua marca exige os cuidados que somente eu posso dar. Não gostaria disso, ômega?

— Eu… sim, sim – um tanto aturdido, Jimin assentiu tenro, arrebatado por sua própria urgência de atenção. — Eu acho que... que gostaria disso, Jeon.

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!