Aqueles Limites

Antes que fosse levado para dentro, Jimin ouviu a estrondosa revolta do Sr. Park, que era contido por Kim Taehyung e o cocheiro. Seu tremor alcançou novos rumos, fazendo os braços se fecharem ao redor da cintura do outro. Mesmo não colocando os olhos no pai, ele se encontrava tão assustado por aquela presença que não ousou se afastar do corpo maior que cobria o seu como uma armadura poderosa. Dava passadas erradas, a cabeça baixa ao ouvir seu nome vir da boca escancarada do homem que o colocou no mundo, daquele que o feriu com palavras e punhos por tantos anos.

— Jeon — por medo de ser arrancado dos braços do príncipe a qualquer momento, Jimin escondeu-se o quanto pôde naquele abraço, vendo que chegaram ao hall e tomavam o caminho da escadaria.

— Não tenha medo, ele já está de saída – Jeon o tranquilizou, por fim, tocando os cabelos loiros para deixá-lo mais calmo. — Estou aqui com você agora, então não há motivo para qualquer preocupação.

No entanto, ao passarem do topo das escadas, Jimin murmurou outra vez quando encontraram Jaehye e Hoseok ali, porque Jeon fez questão de alertá-los que o assunto não acabaria repentinamente. Seu tom foi frio como no inverno mais cruel, a voz dominante causava tensão duas vezes maior ao caso. Até mesmo Hoseok recuou e o encarou com espanto por um segundo, antes de se curvar ao vê-los seguir em frente.

Entretanto, ao contrário dele, Jaehye não se surpreendeu com a postura possessiva do irmão.

— Eu serei sua rainha, Hoseok – ela soou seca, ainda que seus olhos se mantivessem nas costas de Jimin e Jeon no corredor, sem perceber que Hoseok engoliu em seco. — Quando estiver sob os meus comandos sua reverência deve ser direcionada somente a mim.

— Perdoe-me, alteza. Eu não pretendia...

— Cale-se – ela ergueu a mão e respondeu depois de um instante de reflexão. — Para mim, parece-me que o meu irmão está planejando causar mais problemas. Dê conta disso: Jimin precisa ir embora.

...◇◇◇...

— Perdoe-me – pediu Jimin assim que entrou no quarto onde dormiu na noite anterior, limpando as lágrimas e correndo até o jarro de água sobre a mesa de estudos. — Não diga nada; acabei provocando mais situações estranhas, certo? Q-quem sabe, meu appa convenceu a princesa a mandar-me de volta para casa. Ele é muito perspicaz quando precisa de algo, tenha certeza. Pensando bem, faz total sentido! Ambos andaram trocando cartas, mas d-de nada adiantou enganar a princesa quando...

— Não recomendo que você se envolva em ilusões como essa – Jeon o repreendeu porque não achava sensato fugir tanto da realidade, mas foi gentil ao pegar uma cereja sobre a cesta na mesa de chá e oferecê-la ao ômega hesitante. — Jaehye não é do tipo influenciável. Por favor, coma algo doce para se sentir melhor.

Jimin hesitou e sentiu-se enrijecido ao notar o olhar preocupado lançado para si. Os dedos ainda trêmulos foram seguros entre os maiores, e sua respiração tranquilizou-se ao permitir ser guiado para outro abraço, um caloroso daquela vez. Seus nervos ainda se encontravam tão abalados que ele apenas relaxou quando deitou a face contra o peito largo e quente, aliviado que estivesse seguro e acolhido.

Jimin suspirou longamente e observou os botões do sobretudo reluzindo contra a luz do sol adentrando o lugar:

— Não tenho como agradecer o que fez. Tive tanto medo de não ter escolha, mas você a devolveu para mim, Jeon — ele tocou a cereja contra os lábios, resvalando os dedos contra os do príncipe, e a mordeu para relaxar com sua doçura e o calor do peitoral tocando uma das suas faces. — Eu gostaria de ter a coragem de enfrentá-lo, assim como os meus irmãos.

— É tão jovem para lidar com tudo isso sozinho, Jimin — Jeon argumentou junto ao gesto de limpar as lágrimas que restaram no rosto corado. — Não se cobre tanto, não é justo com você mesmo. Fiquei tão preocupado quando dei conta da situação, mas verdadeiramente aliviado quando pude acolhê-lo.

De repente, Jimin subiu os toques para junto dos cabelos negros ao seu alcance e os sentiu macios contra seus dedos. O cheiro das rosas inundou seus sentidos como onda perigosa, mas havia ali também outro cheiro.

Suas pálpebras pesaram, algo estava errado com o alfa:

— Por que está cheirando a remédios?

— Perdão? — Questionou Jeon, nervoso de repente. — Ah, não foi nada. Apenas senti dores de cabeça e fui recebido pelo Dr. Namjoon.

Desconfiado, Jimin se esquivou e foi até as cortinas, antes da grande janela, atento ainda a Jeon seguindo-o com distância maior a partir dali:

— Seu amigo Kim Taehyung está aqui.

Para tentar limpar a imagem do amigo, Jeon se colocou ao lado de Jimin e apontou para a carruagem dos Park indo pela estrada:

— Posso assegurá-lo de que Taehyung tem bom coração, tanto que não hesitou em ajudar-me antes mesmo que eu pedisse. Veja só, você pode relaxar agora. Não precisa ter medo, sim?

Jimin assentiu positivamente, mas estava incerto sobre o que aconteceria a partir dali.

Por isso, se inclinou de lado para ver o perfil do outro:

— Logo você voltará para as tropas, passa boa parte dos seus dias longe deste lugar.

Jeon murmurou sem ânimo, voltava a perceber seu corpo perdendo energia. — Não se preocupe, tive uma ideia para deixá-lo perfeitamente bem. Ah, apenas deixe-me comer algo um instante.

Jimin estranhou que Jeon fosse apressado até a mesa de chá, e também porque ele parecia esconder algo quando mexeu no bolso das suas calças. Não queria soar mexeriqueiro, por isso se manteve calado ao ir até a cama e sentar-se.

— Há um lugar – Jeon comentou enquanto se servia de pãezinhos e mel. — É próximo daqui, onde passa um riacho com... com ervas da região. A terra é boa para o plantio, mas a casa precisa de reparos. A chaminé definitivamente está para cair, tenho certeza. Quanto às portas e janelas, bem, mandarei que reforcem, ou mesmo as troquem. Mas garanto-parece-mequele é um lugar conveniente, mais que isso, me parece adorável. Farei uma reforma completa, com certeza. Pensei que você gostaria de vê-lo.

De repente, Jimin estava confuso:

— Quando pensou nisso?

— Ontem.

— Ontem? — Ao questioná-lo, ele observou com espanto Jeon sentando-se na cadeira enquanto esfregava a testa. — Assim que ofereceu-me um lugar?

— Ah, não foi tão breve assim. Mas por que pergunta, afinal? Não faz diferença.

— Eu o vi a cair no sono – Jimin respondeu desconfiado e com insatisfação refletida na face. — Como pode ter pensado nisso quando estava a dormir?

—Mas você... — um sorriso se abriu mínimo nos lábios de Jeon. — Você me pegou, é claro. Não pude mencionar que acordei muito tarde da noite. Ao menos pude admirá-lo um instante, você dorme como um anjo.

Constrangido por ouvi-lo rir contra a xícara de chá, Jimin apertou a colcha de cama com as mãos em cada lado do corpo. — Não deveria fazer isso, príncipe.

— É bem provável que não.

— Acho melhor eu voltar para o meu aposento agora — ainda envergonhado, Jimin se ergueu da cama. — Percebi que parece cansado, talvez doente outra vez. Deve descansar um pouco.

Os efeitos dos remédios faziam pesar as pálpebras de Jeon, e ele ficou de pé ao tomar o restante do suco e seguir até a porta. — Fique aqui por enquanto, está tudo bem. Mas imagino que a minha proposta agrade-o, hm? Mandarei que a Sra. Cecil venha agora mesmo.

— F-fique!

Subitamente, Jeon não girou a maçaneta em sua mão, e aquele medo repentino assombrava seu peito novamente. Jimin continuava a se mostrar indecifrável para si. Ele realmente o queria por perto além do alvoroço do momento? Seu peito deu sinais de alerta.

— Precisa de algo? – perguntou ele ao se virar e observar Jimin ofegante e de pé no centro do quarto. — O que há, Jimin? Sente-se mau?

— Você está mesmo doente, não é? Não negou minhas suposições, e isso... isso é preocupante.

— Não estou doente, e já pedi que você não se obrigue a nada — um tanto irritado, Jeon abriu a porta e estalou a língua em repreensão quando o viu vir apressado em sua direção. — Devo ir agora, Jimin. Se sua própria segurança o preocupa, saiba que estou indo ter uma conversa com Hoseok para garantir que você não tem qualquer responsabilidade sobre o que me acontece.

— Não deveria mentir – com visível angústia, Jimin se aproximou o suficiente para, ainda que hesitante, sentir a face que relaxou imediatamente ao seu toque. — Sua pele está queimando, pode ser uma febre.

— Não é uma doença –Jeon acreditou estar sendo sincero ao responder.

Tomou a mesma atitude que Jimin, tocou-o na face e admirou o corar das bochechas imediatamente.

Seu corpo ferveu numa sensação boa quando Jimin observou-o acolhedor e preocupado.

— Oh, Jimin. Estou resolvendo a questão, acredite nisso. Não deve se preocupar, sim? Garanto-lhe que terei total condição de cumprir minhas promessas. Sua casa estará pronta o mais rápido possível, ômega.

— A-Alfa – Jimin não engasgou por pouco ao sentir a face ser acariciada pelas costas dos dedos de Jeon, e fechou os olhos por um segundo ao reconhecer o desejo de estar mais próximo. — Seremos amigos, certo? E amigos se preocupam com o bem estar um do outro. Peço que conte-me qual a questão, por favor. Posso ajudá-lo? Deve haver algo que eu possa fazer para retribuir a realização do meu novo sonho.

— É mesmo um anjo.

O coração de Jeon bateu mais forte quando se pegou observando os lábios fartos por tempo demais, até que ousou levar seu polegar ao inferior deles e estremeceu levemente junto de Jimin. Aquela era, de fato, a segunda vez que Jeon reconhecia seu desejo de beijar outro homem. Na verdade, estava muito perto de cometer tal loucura considerada maravilhosa quando se tratava de Park Jimin.

— Confesso que ainda estou aprendendo a reagir a você. Somos amigos, hm. Mas não é fácil para mim.

— Compartilho da mesma sensação, senhor – Jimin admitiu amuado, os olhos pesaram conforme sentia a pressão contra seus lábios. — Ah, acredito que também estou febril.

— Seu corpo reage ao meu – com coragem, Jeon trouxe de volta a questão antes ignorada por Jimin, que assentiu com pesar. — De certa maneira, tudo é tão novo para mim também. A cada segundo você se mostra encantador, muito mais adorável do que já presenciei antes, Jimin. Po-por Deus, e seus lábios são tão lindos que...

E foi então que Jeon freou seus gestos ao ver que Jimin abaixou a cabeça constrangido e possivelmente intimidado com tudo o que ele expunha de repente.

Sentiu-se duas vezes mais enfermo ao vê-lo rejeitar seus toques e insinuar que tinha anseio de se afastar:

— Perdoe-me, eu não quis fazê-lo se sentir mal outra vez – ele o soltou dolorosa e rapidamente, desviando o olhar da face confusa que se voltou na sua direção. — Oh, não, não há nada que você possa fazer, Jimin.

— M-mas...!

— Mas isso não é um problema, vou resolver tudo – agitado, Jeon se afastou. — Agora devo ir, realmente preciso tratar de assuntos importantes.

Ele engoliu seco quando abriu a porta e saiu dali às pressas, como o bom fugitivo que era. Achava cada vez mais custoso ficar próximo de Jimin, pois compreendia com muito mais facilidade seus instintos sobre aquele ômega que roubava com pouco esforço o seu afeto.

— Preciso afastar-me – nervoso, ele concluiu sozinho e levou o lenço de bolso aos lábios quando tossiu seco, deixando uma pequena mancha de sangue sobre o tecido. — Mas que diabos, estou morto!

...◇◇◇...

Pela noite, Taehyung foi convidado a sentar-se com os Reis e príncipes, mas sua atenção era toda de Park Jimin sentado muito depois dos vários convidados para aquele jantar. E enquanto as pessoas conversavam animadamente entre si, era nítido o desconforto dos príncipes e ômega cabisbaixo.

— Humhum – Taehyung chamou a atenção de Jeon ao seu lado e se inclinou o mais discreto possível para que ele o ouvisse. — Amigo, pode me dizer por que deixou Jimin completamente isolado neste jantar? Nota-se que ele está desconfortável entre tantas pessoas estranhas.

Rígido dos pés à cabeça, Jeon tomou vinho e se forçou a não observar o ômega. Lutava contra seus instintos outra vez, despertando o desagrado do lobo rasgando sua alma aos poucos.

— Acredito que devemos manter distância até a entrega de sua casa, é o melhor para ele — esclareceu Jeon, revirando as ervilhas no prato, ao invés de erguer os olhos e correr o risco de ser traídos pelos mesmos. — Tivemos uma conversa pela tarde que deixou em evidência todos os pontos que faltavam para minha decisão: Jimin precisa de espaço e eu também. Acredito que fará bem para ele. Ah, sinceramente, sinto-me um verme ao percebê-lo se obrigando a oferecer cuidados somente porque pode ser prejudicado, caso eu pareça mal de saúde.

— Francamente, Jeon – ralhou Taehyung. — É aceitável que Jimin não seja receptivo a alfas, porém, algo me levou a crer que ele poderia não ser tão hostil com você. Pense um pouco na possibilidade de ele estar realmente preocupado com a sua saúde, meu amigo. Se anime, uh? Por acaso, aquele não é o seu ômega, afinal?

De repente, Jeon sussurrou irritado:

— Kim, tenha um pouco de senso e não comente sobre isso neste momento.

Taehyung, obviamente, o ignorou:

— E por que o seu ômega fingiria estar preocupado? Ele não pode estar sendo sincero quanto a isso?

— Jimin tem medo que Hoseok venha a responsabilizá-lo, caso algo de ruim me aconteça. Obviamente, eu jamais permitiria – o nome de Jeon foi chamado à mesa, e o seu semblante carregado se voltou para a Rainha, esperando por algo. — Perdoe-me, não pude ouvi-la.

A Rainha sorriu desconcertada para a Sra. Mayumi, sua amiga de longa data que estava acompanhada da jovem filha corada àquela altura:

— Meu querido filho, estávamos falando de você por todo este tempo. Ah, como pôde não perceber? De todo modo, escute isso. A Sra. Mayumi fará de sua filha a mais bela noiva da região!

— Minhas felicitações – Jeon as saudou com um breve brinde e trouxe a taça para junto de seus lábios, no entanto, não bebeu. — Ah, um minuto. Não acaba de dizer que falavam de mim?

— Pois sim.

— Pois...

Com custo, Jeon observou alarmado as três mulheres sentadas próximas; uma cena de terror desenrolava na sua frente. Elas sorriam tanto que causavam estranheza, algo que fazia o estômago revirar.

Por mais de seus instintos, Jeon voltou os olhos para Jimin na ponta extrema da mesa e o pegou encarando-o longamente, ao que tudo indicava.

Sem sucesso, malditos olhos traidores!

O semblante do ômega não sofreu quaisquer mudanças, ainda lhe parecia inexpressivo desde sua chegada ao jantar, mas aqueles olhos castanhos refletiam, de repente, uma nuvem espessa de sentimentos confusos. O que Jimin pensou diante o que ouviu dos lábios da Rainha?

Jeon não esperava grandes feitos a partir dali, no entanto, seu coração acelerado incomodava no peito. Ao se virar parcialmente na direção daquele que tomava sua total atenção, seu gesto foi imitado por todos os presentes na mesa, e o ômega engoliu sonoro a salada que descia com amargor pela garganta. E Jeon percebeu o seu constrangimento num instante, e desejava imediatamente tirá-lo dali e puxá-lo para os seus braços.

Subitamente, sua mãe rugiu:

— Jeon Jungkook, seria muito gentil da sua parte responder às visitas.

Então, havia ali um novo estrondo.

Como aquela mulher se atreveu a expor o nome pelo qual Jeon detestava ser chamado desde menino? Ainda mais com Jimin presente! Não tirou os olhos dele nem mesmo após o considerado vexame, e seu mal estar deu trégua quando o observou murmurar seu nome, as bochechas coradas e um tanto mais infladas por conta da pronúncia peculiar. Sim, certo, seu nome poderia soar agradável se viesse através dos lábios fartos e brilhantes daquele ômega.

— Oh, compreendo – para que deixassem Jimin em seu canto, Jeon fez os talheres soarem desagradáveis na porcelana e observou os pais atentos em si. — E aqui temos uma grandiosa razão para este belíssimo jantar.

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