Curve-se

^^^"Qual o sentido de tentar me fazer acreditar que não estou sozinho apartir daqui?"^^^

Ao passar de uma semana, cedo da manhã do início de outono, a Sra. Park ergueu seu olhar cansado para ver Jimin lhe estendendo um perfeito bordado no linho límpido e devidamente dobrado. Rígida, ela deixou o trabalho de escolher os feijões sobre a mesa, pegou o tecido e procurou falhas em cada ponto que formava delicados arabescos florais vermelhos como sangue.

— Deixe-me ver seus dedos – inquieta, a Sra. Park agarrou as mãos do filho e se surpreendeu por não encontrar ferimentos. — Ora, ora, Jimin.

— Fiz bem, omma - ele forçou um sorriso em seus lábios, mas seus olhos estavam avermelhados, refletindo um grande temor. — Isso deve bastar para vocês, sim? Posso trazer dinheiro, muito mesmo, com este trabalho. Serei útil de hoje em diante, nada faltará de comida, bebida e roupas. E vestidos! Posso aprender a fazer belos vestidos para a senhora, omma, e camisas e calças para o appa e meus irmãos. Apenas... eu imploro, venda bordados, toda a arte que eu fizer sobre os tecidos, mas... mas não a mim.

Estupefata, a Sra. Park então compreendeu o porquê de seu filho ter se empenhado tanto com o bordado, e que a conversa com o restante da família - na semana anterior - nunca foi um segredo. Antes fosse, é claro! Mas agora a situação tomou novos rumos. Por um instante ela não soube o que dizer, afinal, Jimin realmente foi colocado numa posição de objeto de troca. Caso a família real, de fato, surgisse por sua porta a decisão estava tomada.

— Jimin, me escute – com um mau estar repentino, a Sra. Park segurou o pulso fino e fez com que o filho se sentasse na cadeira ao seu lado, enquanto ela recuperava sua linha de raciocínio. — Você não compreendeu muito bem as coisas que ouviu.

— Não, omma?

— Oh, bem – desorientada, ela fugiu do olhar penetrante e desesperado de Jimin pálido. — Está claro que você pode bordar, mas o tempo que levará para dar fim a cada peça não é favorável aos negócios da família. Logo...

— Mas, então, por que a senhora me ensinou a bordar?

— Digo — a Sra. Park se calou e voltou a observar o filho perplexo. — Jimin.

— Não está me dando opções – ele não era estúpido, embora muitos o considerassem assim. — Se eles vierem, mesmo que eu trabalhe sem descanso algum...

— Não seria o bastante, comparado ao que podem nos oferecer.

— É claro – diante de tal conversa franca, Jimin reprimiu seu choro e assentiu com firmeza para a mãe inexpressiva. — No fim das contas, espero valer o bastante para que você fique contente.

— Não sou um monstro, Jimin. Pare de tentar me colocar nesta posição!

Confuso, Jimin cruzou os braços:

— Se a senhora me permite dizer, não a coloco em tal posição. Mas autoafirmar constantemente não ser um monstro não é um alerta que provém da sua consciência, omma? Por que está tentando se fazer provar tantas vezes, se eu não lhe acuso de qualquer coisa? Apenas me instrua na direção que a senhora bem entender, me faça ter o valor que todos vocês esperam.

— O que diabos aconteceu com você, rapaz?

Obviamente, a Sra Park encarava o filho com assombro por notá-lo frio de repente, era como estar diante de alguém que a própria jamais conheceu em sua vida. Se num instante Jimin implorou para permanecer com a família, agora mesmo não rejeitava seu destino. Ele sequer chorou! Aquela nova pessoa a colocava numa posição muito mais prática, e questionar não teria sentido algum depois de tudo.

— De todo modo, Jimin, quero que saiba de antemão que não desejo o seu sofrimento. Pelos Deuses, você é o meu filho! Acredito que os nobres estão sim, observando a todos nós, e que espero garantir-lhe um futuro único, realmente precioso. Oh, não sabemos tanto, afinal. Mas eu posso pressentir boas energias ao seu redor, meu querido. E vou me manter em contato, seja lá onde você estiver. Cumprirei o meu dever como sua omma!

Jimin fungou sem jeito, altivo e rígido:

— Me.Instrua.

— Você não é uma mercadoria!

— Omma – embora soasse firme, Jimin engoliu em seco. — Qual o sentido de tentar me fazer acreditar que eu não estou sozinho apartir daqui? Todos os alfas da nossa família rejeitaram-me desde menino por saber que eu sou um maldito ômega. Chegou o seu momento de admitir sua rejeição. Está tudo bem... eu compreendo que a minha anormalidade é repulsiva. Mas agora... agora o seu apoio até aqui é o que basta. Não causarei mais problemas e, ainda por cima, deixarei algum lucro para trás, certo? Se os nobres voltarem, por favor, esqueça este discurso e me oriente com tudo o que tem em mãos.

— Garoto...

— Vocês querem se livrar de mim; eu devo ir embora – Jimin concluiu amargurado. — Tudo está esclarecido entre nós.

Então, a Sra Park procurou se distrair com os feijões enquanto concordou aflita e inquieta. No minuto seguinte ela desatou a contar histórias sobre a monarquia, o palácio e os costumes rotineiros. Em sua juventude ela trabalhou servindo as mesas nos bailes anuais, quando a mão de obra dobrava, jamais esqueceu de andar por aqueles corredores de pedra polida e longos tapetes de veludo.

Jimin a ouvia atentamente naquele momento, no dia seguinte e até mesmo pela noite, ignorando os insultos de seus irmãos quando estes estavam em casa para o jantar. Queria aprender cada detalhe, ser ensinado a se comportar diante de pessoas da máxima classe social. No entanto, algo o tão deixou confuso que ele desviou sua atenção da sopa de batatas.

— Os príncipes são gêmeos, no entanto, têm uma convivência escassa?

— Óbvio – um dos irmãos respondeu rude e com a boca cheia de batatas. -É uma corrida pela Coroa, um trono digno do alfa, obviamente. O príncipe Jeon, apesar de passar seu tempo fora do palácio, não terá muitos problemas quando enfrentar a princesa que pensa ter algum poder sendo ômega.

— O príncipe rejeita o trono – o Sr. Park se meteu na conversa. — Por mais estranho que pareça, corremos grande risco de sermos súditos de uma ômega. Um absurdo! O que bordadeiras têm a acrescentar ao reino? Dizem que a princesa anda estudada, mas não é por isso que se deve dar um posto tão importante a uma mulher.

Por muito pouco Jimin não contrariou o pai, no último segundo ele se lembrou que acabaria por receber uma surra caso falasse em demasia. Ele não era nada mais que suportável, para não dizer o mínimo. Se pudesse, oh se pudesse... Com as informações que tinha até então, como negar que aquela mulher alcançou a sabedoria com maestria? Ouviu-se que ela liderava o que lhe era de direito desde já, determinada e fiel aos princípios da monarquia.

— Há um amigo meu... – mais um dos irmãos, o mais velho deles, puxou um fato em sua memória. — ... que está nas tropas por cerca de um ano. Contou-me das farras logo após uma longa batalha vencida pelo príncipe, este que arranjou maravilhosas maneiras de aproveitar a boa vida. As ômegas se jogam aos seus pés! Que homem de sorte, pois não? Dizem às más línguas que, estando em seu cio ou não, o príncipe Jeon jamais perde o vigor. Alfa, um dos verdadeiros!

As gargalhadas dos homens ecoaram sobre a mesa e casa pequena, causando incômodo aos ouvidos de Jimin que - com aquela informação assustadora - perdeu a fome.

Ao pensar no príncipe ele passou a considerá-lo como um dos animais que rodearam o celeiro naquelas noites terríveis que viveu aterrorizado, sob a ameaça de ser tocado sem o seu consentimento.

Se pudesse escolher, Jimin jamais se afastaria da princesa Jaehye e torcia desde agora para que ela o protegesse do menor contato com seu irmão promíscuo.

— Terrível — assim que falou, seus olhos arregalaram e a mão subiu para os lábios.

— O que é terrível? – seu pai não deixou passar, assim como os três alfas na mesa. — Diga, garoto, o que alguém como você pode considerar terrível no comportamento normal de um alfa? Vou dizer-lhe o que é terrível; você! Um homem ômega exalando o cheiro de fêmea é terrível, nojento de todas as maneiras. Logo, cale a boca quando estiver na minha mesa, seu inútil!

— A sopa está esfriando, correto? - a Sra Park foi ágil em cortar um de seus filhos, que se ergueria para atacar Jimin inexpressivo e rígido sobre a cadeira. — Comam de uma vez e, por favor, quietos.

Apesar de seu gesto, Jimin não se via ao menos grato por sua mãe interromper uma nova leva de insultos em sua direção. Àquela altura, como seria possível conciliar algum rastro de zelo materno com o desespero, caso ele desistisse de se vender para estranhos como uma forma de facilitar a vida da família? Ele não se deixaria mais encantar pelo mínimo de afeto, aceitou seu papel realmente. E quando, ainda em silêncio, ajudou sua mãe com a louça do jantar, suas dúvidas sobre toda a monarquia haviam cessado, pelo menos até o dia seguinte.

— Não fale com aquele alfa – a Sra. Park o surpreendeu com a ordem direta, enquanto pendurou seu avental no prego torto cravado na madeira gasta. — Preste bastante atenção, Jimin. Um título de nobreza, para certos alfas, os deixa em lugar favorável para cometerem certas... atitudes inapropriadas. Quem puniria um príncipe, caso você desse a atender que as suas pernas de homem estarão abertas para...

— Compreendo – ele garantiu e lhe deu às costas para que pudesse esconder seu nervosismo. — Mas não se preocupe com algo assim. Alfas são detestáveis, animais aos quais eu farei de tudo para me manter afastado. Mesmo que me obriguem a estar diante do príncipe, caso o interesse da monarquia seja real, não trocarei mais que cumprimentos rotineiros, e isto se dará para que não cortem a minha cabeça por ser... rude.

Entretanto, até mesmo um simples cumprimento seria desafiador para Jimin, que espera sempre algo assustador vindo de qualquer alfa. Só esperava que todos aqueles planos fossem algum engano, afinal, uma medalha não era lá grande sinal para os outros causarem tanto rebuliço. De qualquer maneira, ele não conseguia mais escolher o que poderia ser pior: ficar em sua casa com pessoas dizendo constantemente que não era bem-vindo, ou realmente ser enviado para debaixo do teto do príncipe promíscuo.

— Por sorte, a princesa é justa – Jimin murmurou sozinho enquanto entrou em seu quarto e se debruçou sobre a janela para ver as estrelas. — Se eu puder ficar próximo dela, estarei bem.

Seu julgamento sobre a personalidade da princesa estava correto. É do costume de Jaehye ouvir que sua popularidade se dá por não cair em deslizes quando precisa tomar decisões em favor da justiça, muito embora, naquela noite, desejasse expulsar os convidados de farra do seu irmão gêmeo, que estava dando uma festa imoral no hall do palácio. O Rei deixou bem claro que Jeon não deveria usar o salão de baile, logo à direita, depois das portas de carvalho, mas ninguém poderia proibir o príncipe de usufruir do espaço onde se encontrava, junto de um grupo animado e embriagado.

— Imundos – inconformada, Jaehye observou a baderna do alto da escadaria que se dividia para dois caminhos, torcendo o nariz para as damas levantando as barras dos vestidos de cetim. — Isso é inaceitável!

A passos largos ela procurou pela rainha, decidida a fazer com seu irmão fosse repreendido e enviado de volta para o acampamento das tropas reais. Os músicos sequer tinham noção da barulheira que causavam, gerando incômodos pelos corredores! Mas não era de se estranhar, obviamente. Os irmãos passaram aquela longa semana alfinetando um ao outro, causando problemas e se distraindo do mais importante: a reputação que tinha a zelar.

— Omma! – Jaehye a chamou no momento em que abriu as portas do quarto de sua mãe. — Eu exijo que...!

— Traga-o!

Com um rugido furioso, a rainha em sua cama retirou uma bolsa de água quente de sua testa, estava exausta de tentar apaziguar os ânimos dos filhos. E Jaehye realmente estagnou no mesmo lugar, paralisada e descrente do que foi dito.

— Trazê-lo?

— O mais jovem dos Park. Traga-o até nós, ensine-o etiqueta até a noite do baile de inverno. Faça o que bem desejar, Jaehye, contanto que ignore completamente esta guerra que o seu irmão e você trouxeram para o meu lar!

— Farei isso! – de repente, aquela notícia foi o suficiente para renovar os ânimos da princesa sorridente. — E prometo-lhe que, não importa o que meu irmão fale, seguirei com o meu propósito. Oh, serão dias maravilhosos para mim, estou tão animada agora mesmo! Quero... quero trazer Park Jimin amanhã mesmo, se a senhora me permite.

— Não o coloque diante de mim sem que antes ele saiba curvar-se em reverência, ao menos isto. Oh, céus, essa dor de cabeça terá fim, assim espero.

Com a rainha de volta aos lençóis, Jaehye se retirou imediatamente. Pouco importava que Jeon lançasse fogo sobre as cortinas, derramasse vinho no carpete, seu único pensamento era o ômega homem que a alfa tanto esperou para conhecer. E abordá-lo no dia seguinte, assim que o sol nascesse, se tornou uma missão exclusiva!

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Comments

Ilizeth Domingos

Ilizeth Domingos

ainda não entendi nada, não sei nem porque contínuo lendo,,,,

2024-01-18

0

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