O vislumbre da liberdade

Kyun não poderia estar mais envergonhado perante aquele jantar. Como todos os presentes, notou o tom sarcástico do filho, que fez questão de estalar a língua, pouco interessado na jovem pretendente. Ainda por cima, o Rei não se encontrava nada contente com o modo ao qual o pegou atento a outro homem, andava desconfiado desde os comentários de Jaehye.

— Qualquer homem faria valer seu orgulho ao aceitar a futura duquesa do reino, esta bela dama que o vê com verdadeiro afeto.

— Qualquer homem, hm. Permitam-me dizer – Jeon prosseguiu desafiador ao pai. O olhar de Jimin sobre sua figura ainda faziam pesar os seus ombros. Sequer havia imaginado que tentavam colocá-lo preso em uma emboscada matrimonial. — Não sou o alfa desta adorável dama. Sequer a conheço, e devo admitir que não estou interessado em conhecê-la.

— Jeon!

— Minha rainha, tais palavras soam desrespeitosas? Posso lhe jurar que estou procurando ser gentil ao rejeitar seus planos — indiferente, Jeon deu atenção à Sra. Cecil quando esta foi até Jimin e o orientou a arrumar a postura. — A verdade é que tenho pressa para dar fim a todo este espetáculo ambicioso. Por gentileza, façam-me o favor de prosseguir com o jantar.

Ao ser atendido prontamente, Jeon sorriu de canto, observando com discrição o ômega segurar com receio uma taça de geléia, leite e amoras. Por fim, o ponto de partida foi refeito, ainda que não houvesse como mudar o final.

De fato, Jeon poderia vir a se casar com a adorável filha da Sra. Mayumi. Era uma jovem bem apessoada, com queixo reto e nariz um tanto avantajado, mas que lhe caía muito bem na face com longos ângulos. Até mesmo as mãos tinham peculiar beleza, finos e longos eram os seus dedos, como os de uma experiente escritora, profissão que Jeon sabia ser um segredo da própria, recém descoberto por seu falante amigo. E por falar em Kim Taehyung, este brigava contra o riso tentando escapar a todo momento porque achava hilária a ideia de ver o Sr. Park enciumado, sem suas barreiras para com outro homem. Observava com grande divertimento o ômega tomar pequenas colheradas do creme doce em sua taça, os olhos castanhos baixos e brilhantes sem foco algum.

Por isso, logo que o jantar acabou Taehyung seguiu Jeon às pressas, quando este evitou Jimin assim que o viu se erguer da mesa. Aquela situação era incabível, mas como seu melhor amigo, não hesitou em acompanhá-lo no corredor. Que irritante era aquele príncipe quando rejeitado, pensou Kim.

Porém, ambos não esperavam que Jimin viesse logo atrás, junto da Sra. Cecil comentando o jantar.

— Fale com ele – Taehyung sussurrou para o amigo, mas Jeon negou-se a fazer aquilo. — Oh, por favor, tente ser cordial ao menos uma vez, Jeon.

— Eu costumo ser cordial — o outro retrucou um tanto ofendido, mas teve que admitir que não era mesmo verdade. — Mas já estamos acertados assim, e mudar as coisas outra vez só geraria mais bagunça e problemas para ele.

— Você não o percebeu enciumado no seu jantar de noivado? Jeon, tenha coragem!

— Esqueça, Kim. Vamos logo para a sala de jogos, tenho a fácil missão de derrotá-lo no truco.

— Talvez, se ele soubesse...

— Já conversamos sobre isso, Kim.

— Oh, Sr. Park! — Taehyung girou no mesmo instante, sorridente todo.

— Maldito seja – Jeon murmurou para si mesmo quando Taehyung chamou por Jimin na curva do corredor. — Cale-se, Kim. Ele vem vindo...

De repente, Taehyung e Jimin estavam frente a frente, mas com a Sra. Cecil desconfiada logo atrás:

— Como tem passado? – com um belo sorriso no rosto, Taehyung se curvou com pompa e o observou inseguro. — Não me diga; posso notar que recebeu o máximo de cuidado por aqui. Está belíssimo, ainda mais com trajes carmesim.

— Agradeço – para se fazer confiante, Jimin respirou fundo diante do alfa e escondeu as mãos frias nas costas retas. — Também não posso deixar de agradecer-lhe pelo apoio que me deu pela tarde, Sr. Kim. Foi muito corajoso e bom amigo.

— Não foi nada, não mesmo. Oh, Jeon!

Num instante, Taehyung chamou pelo amigo quando pressentiu que ele fugiria no sentido contrário, e riu-se com charme ao segurá-lo pelo ombro e fazer com que observasse Jimin de perto.

— Soube que vocês são bons amigos também.

Ele comentou com falsa inocência e captou o momento em que os olhos do ômega reluziram ao ser visto por Jeon outra vez. Um instante de silêncio parecia ter se eternizado, a troca de olhares chegou a pesar os ares; havia algo como rejeição e, acima disso, forte atração que os manteve rígidos e com as peles quentes dentro das vestes de gala.

É verdade que Jimin sentiu ciúmes? Jeon não pôde deixar de se perguntar porque gostaria demasiadamente que fosse verdadeira a observação do amigo, mas tinha receio de confiar nos olhos de um conquistador nato, que a todo momento elaborava histórias mirabolantes para agradar a qualquer um.

Enquanto sorria para os dois, Taehyung acreditou que qualquer outro alfa perceberia que aquele ômega corado até às orelhas esperava mais do príncipe. Na verdade, para si mesmo a situação dos dois homens se repetia dentro de suas lembranças; aquela era a forma que admirava o Sr. Min, seu doce amante francês. O olhava com olhos brilhantes, reluzindo urgência de toque e afeto mútuo.

Tudo lhe parecia tão simples àquela altura, exceto pelo fato de que Jimin ainda resistia com as poucas barreiras que lhe restaram:

— Que bons amigos temos aqui... Sr. Park, por que não nos acompanha na sala de jogos? Estou ansioso para conhecê-lo a fundo, e este me parece o momento perfeito!

Se num instante Jeon admirava o ômega descaradamente, no outro foi pego de surpresa no momento em que Kim Taehyung guiou Jimin pelo corredor, ao menos lhe dando a chance de negar seu convite. Ficou paralisado ali mesmo, vendo-os seguir em frente e junto da Sra. Cecil, claramente irritada com o rumo que a noite tomava.

— Maldito seja Kim Taehyung – rugiu Jeon, dando duras passadas para acompanhá-los por fim.

A sala de jogos estava localizada no piso a cima daquele, um espaço com jogos de tabuleiro, cartas e bebidas importadas. Curiosamente, diversas mesas redondas estavam postas, e um grupo de convidados do jantar se divertia um tanto alterados e sem muito decoro. Até mesmo Hoseok sorria para os soldados da mais alta linhagem do reino, trocavam experiências enquanto tinham cartas de baralho em mãos e charutos entre os lábios.

Haviam três garçons mantendo as mesas fartas de petiscos e destilados, e músicos animando o ambiente de luminosidade baixa e quente. Aquele não era o lugar que Jeon pretendia levar Park Jimin, pois estava rodeado de alfas e ômegas sem nenhum pudor; a sala de jogos não passava de uma fachada para a verdadeira diversão.

Desse modo, Jeon amaldiçoou seu melhor amigo pela terceira vez naquela noite porque, além de apresentar o seu ômega àquele lugar nefasto, ainda por cima se atrevia a apresentá-lo aos seus conhecidos.

Obviamente, Jimin se mostrava receoso com cada detalhe, mas os cumprimentava em retorno e até mesmo tomava um gole do que Jeon reconheceu ser Champanhe. Tudo estava em ordem até aquele momento, até perceber uma ômega repreendendo seu alfa que, por beber demais, deixou evidente seu interesse pela figura tímida de Jimin.

Aquilo bastou para Jeon rosnar baixinho, seu lobo incomodado de ciúmes ao observar o homem de pé, inclinado sobre aa mesa, o jogo de tabuleiro havia se tornado uma bagunça.

Kim Taehyung sorriu sem jeito e deu fim a aquela apresentação e segurou Jimin pelo braço, no entanto, o homem agarrou o braço livre do ômega e lhe disse algo que Jeon não ouviu, mas reconheceu ser o suficiente para estar ao lado de seu protegido num piscar de olhos. Não fez questão de demonstrar sua impaciência ao afastá-lo e ameaçar confrontá-lo, mas voltou seu olhar negro e cruel para os olhos castanhos brilhantes que refletiam tranquilidade.

— Se acalme, príncipe Jeon Jungkook – pediu Jimin, citando seu nome com os lábios projetados para frente. Ele tocou os dedos do outro com o máximo de discrição que conseguiu, sem levantar desconfianças. — o Sr. Baekyung apenas me informou que devo tomar cuidado com as cartas que o Sr. Kim esconde em suas mangas.

Então, Jeon suspirou frustado e apontou para Taehyung, que ergueu se mãos em defesa:

— Esteve a trapacear por todos esses anos? Não posso acreditar, Kim Taehyung!

— Disparates – respondeu seu amigo, o sorriso zombador pouco lhe passava credibilidade. — Oh, mas aquela é Lady Parvaneli, da capital francesa? Felizes são meus olhos que a vêem! Jeon, por gentileza, faça companhia ao Sr. Park a partir daqui, sim. Tenho algo urgente a tratar, você deve se lembrar da promissora joalheria que mencionei mais cedo. Pois bem, até mais!

— Trapaceiro – ralhou Jeon, mas não foi realmente ouvido por seu alvo, muito embora Jimin riu discretamente do seu jeito irado. O gesto raro voltou a chamar sua atenção. — Sr. Park, devo supor que é a primeira vez que aprecia Champanhe. Por gentileza, permita-me acompanhá-lo até uma mesa para que fique confortável.

Contente pela bebia que causava cócegas em seus lábios, Jimin assentiu cordial, grato pelo braço que foi enlaçado ao seu. A sensação calorosa de ambos se tocando despertou seu coração antes calmo, e as bochechas queimaram vermelhas pelo álcool e situação dos nervos abalados apenas por Jeon estar levando-o para a mesa mais reservada da sala, onde a iluminação se perdia um tanto do resto.

— Sente-se um pouco – Jeon o ajudou com a taça, e Jimin ocupou a cadeira ao seu lado. — Ali vem o garçom. Preciso de vinho, mas também duas taças de água, por gentileza. Ah, peça para que os músicos toquem algo decente esta noite, pois não teremos baderna enquanto eu estiver presente.

Logo que o despachou, Jeon encarou o semblante rosado do ômega e sorriu, virando-se para admirá-lo animado com o lugar, ou mesmo afetado pelo Champanhe.

— Jeon Jungkook – ouviu seu nome ser pronunciado novamente por Jimin, que se inclinou para seu lado e o encarou. — "Jungkook" é a metade que faltava, a faceta gentil que conheci, mas que eu não soube como nomeá-la realmente. No entanto, ah, "Jeon" me soa formal em demasia, é tão sério e distante de mim. Eu gosto de Jungkook, como Jugkookie.

— Por Deus – arrebatado pelo que considerou ser um excesso de afeto pelo jeito adorável a que Jimin se colocou, Jeon imitou seu gesto e se aproximou determinado. — Este pequeno diabo acaba de me fazer adorar meu próprio nome, nome este que destestei por toda a minha vida. Você é perigoso ao extremo, Sr. Park.

Aos risos, Jimin concordou e ofereceu a ele sua taça de Champanhe:

— Do que se trata esta doce bebida, Jungkook? Há mel aqui, suponho. Eu simplesmente espero encontrar mais disto!

Todo sorrisos, Jeon resvalou os dedos ao longo da taça de cristal sob o poder do ômega de semblante risonho, e desceu a mão livre para a perna direita do outro.

Observou a face bonita ganhar seriedade e os olhos brilhantes descerem para a vista dos seus lábios:

— Sr. Park, tem uma doçura audaciosa em suas belas mãos.

Em resposta, Jimin umedeceu os lábios fartos e segurou a mão que ainda estava sobre o domínio da sua perna:

— Você pode dizer o mesmo, Jungkookie?

Então, Jeon contemplou com torpor o sorriso se abrir por completo, e os olhos que tanto adorava se tornarem duas linhas curvadas de modo encantador demais para um homem. Porém, ali surgia outra vez a dita questão: Park Jimin não era como os outros homens que Jeon conheceu. Havia algo como uma mistura entre o masculino e feminino que fazia do ômega um ser impressionante aos seus olhos. Sim, ele também sabia se mostrar audacioso, sagaz e atrevido quando provocado, e Jeon não poderia estar mais satisfeito com aquele traço da personalidade de Jimin.

— Não sabe o quanto eu gostaria, ômega.

De repente, Jimin vacilou constrangido e observou ao redor por receio de estarem sendo óbvios. As pessoas estavam totalmente alheias ao que ocorria fora do espaço de suas mesas, e algumas damas se deram ao luxo de relaxar ao ponto de abandonarem suas cadeiras, ocupando com atrevimento os colos dos homens de risadas escandalosas.

— Esta é uma das festas do príncipe Jeon? — compreendeu Jimin, se lembrando das histórias que ouviu sobre o alfa. — Das histórias que ouvi no passado, até mesmo dentro de meu próprio lar. Essas damas que aqui estão, esses homens...

—São amantes, Jimin. Todos aqui são livres para fazerem o que bem entendem na minha... na minha sala de jogos.

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