Um dia no Palácio

Era curioso que todo o rancor de Jeon fosse desviado para o jovem ômega, de fato. Não havia um verdadeiro motivo para odiar Jimin, nem mesmo ser um homem ômega importava realmente para o príncipe. Seu melhor amigo tinha o costume de se estender em longas conversas sobre um caso ou outro com homens ômega pela frança. O Sr. Kim deixou Jeon totalmente à par de suas peculiares preferências amorosas.

— Que face instigante ele tem – confuso, Jeon comentou consigo mesmo sobre os traços de Jimin, e franziu o cenho ao retirar a camisa alva e murmurar enraivecido para o excesso de feromônios nela. Maçãs, doces e frescas maçãs vieram aos seus pensamentos, reconhecendo em suas cores quentes o vislumbre do brilho fervoroso nos olhos castanhos daquele ômega. Como poderia continuar negando que o cheiro lhe agradava ao ponto de sentir os olhos pesar, tamanho o êxtase evidente? — Maldito... maldito seja um homem de cheiro doce. Eu o conheço, Park Jimin é uma aberração que veio para rondar a minha existência; por sorte, um mal evitável. Ele precisa, definitivamente, ir embora!

...∆∆∆...

Pela manhã, as portas do quarto onde Jimin dormia se abriram subitamente. Uma senhora de idade avançada, mas muito ágil e jeitosa, adentrou o lugar com uma bandeja repleta de frutas, pães e suco para o jovem ômega desorientado por conta do sono pesado que teve. Ele não se lembrava de já ter dormido tão tranquilamente antes, apesar das apresentações desastrosas do fatídico jantar ocorrido.

— Oh, isto tudo – ele se surpreendeu com a bandeja posta em seu colo. — Minha senhora, agradeço sua gentileza de me trazer tanta comida quando mal pude comer no jantar de ontem. Estou faminto, é claro. Mas espere, por favor! Sim, volte aqui um instante, minha senhora. Desculpe o incômodo de lhe dar este trabalho. Mas confesso que eu não poderia sair deste quarto tão facilmente. Tenho medo de me perder.

— Não se preocupe – breve, a mulher torceu o nariz para Jimin, que notou seu tom desgostoso e esmoreceu. — Se a senhorita me dá licença...

— Eu sou... – em choque, ele acompanhou o caminho da mulher com os olhos, quando ela lhe deu às costas e saiu dali. —... um homem.

Foi num instante que Jimin sentiu falta das duas jovens servas que estiveram lhe dando apoio, pois estava claro que não seria bem-vindo também pelos outros trabalhadores do palácio. Era diferente o bastante para não agradar a maioria, ele sabia bem disso.

Logo, comeu mais do que nunca, desde os pãezinhos de açúcar, até os cubinhos de frutas e suco de laranja com mel e limão; considerou este último muito refrescante, embora o limão não fosse realmente sua fruta preferida. Na verdade, Jimin jamais gostou daquele azedume.

De todo modo, havia chego o momento de agradecer devidamente a princesa que deixou seu cheiro no ar, oferecendo-lhe seus feromônios calmantes por detrás da porta. Uma atitude típica de alfas protetores, é claro.

— Não me pareceu enjoativo dessa vez, tenho certeza – Jimin considerou um tanto surpreso, mas deixou aquele pensamento de lado quando saiu da cama para receber as duas servas na porta. — Bom dia, vocês chegaram em boa hora. Eu não tenho roupas adequadas para perambular por este lugar, mas preciso me encontrar com a princesa.

— Viemos com esse propósito – em sincronia, ambas entraram e correram até o armário, tirando dali algumas peças de roupas. — Por aqui todos devem andar muito limpos e cheirosos. Vamos banhá-lo e vesti-lo, Sr. Park.

De rompante, as portas dos armários se abriram e dali uma nova e robusta vestimenta foi retirada, junto dos sapatos de couro de primeira linha.

Jimin não esperava todos aqueles tons de verde diante dos seus olhos:

— Estas roupas são todas para mim? Têm uma cor tão vibrante! Oh, por favor, mas as calças de ontem realmente....

— Valorizamos as suas..!

— Curvas – derrotado, Jimin completou a mesma frase de antes e observou outro conjunto de calça e camisa sobre a cama, dessa vez em tons azuis. — Não consigo imaginar como os alfaiates conseguiram chegar neste belos tons. Ouvi boatos de que a cor verde é realmente difícil de permanecer no tecido. Oh, e que belo azul temos aqui.

— Fique com o verdade, senhor — uma das servas recomendou de repente.

— Pois sim – incerto, Jimin assentiu, mas seu nariz coçava diante de um incômodo que ele ignorou. — Então, vamos começar!

...∆∆∆...

Na sala pequena onde a família real costumava passar seu tempo lendo os livros da grande prateleira junto às paredes, a princesa Jaehye guardou um dos seus preferidos e caminhou pelo lugar. Ela estava ansiosa para se desculpar com Jimin e se retratar de alguma maneira. Não teve descanso desde que o seu irmão a colocou numa situação terrível com o ômega, mas esperava agora que pudesse recomeçar.

No entanto, quando Jimin entrou discretamente na sala, fungando e com as unhas coçando os punhos, só um pensamento a dominou:

— Por que está usando isto?!

De súbito, ele se espantou, mas não pôde fazer nada além de levar as mãos para a cabeça e fechar os olhos com força. Tonturas e suadeira estavam deixando-o realmente desorientado.

— Jimin! – apressada, Jaehye deu passos largos para trás, não iria se aproximar do rapaz de forma alguma. — Tire essas roupas imediatamente. Estou lhe dando uma ordem!

— Não me sinto bem – ele murmurou, sua vista estava girando sem parar, causando-lhe reviravoltas no estômago. — O ar... O ar não vem para dentro de mim. Acho que vou vomitar... eu...

— Guardas!

Um alvoroço se fez ouvir do lado de fora, e de repente a sala foi tomada por homens usando vermelho e espadas em punho, mas todos se afastaram horrorizados quando perceberam Jimin num canto da prateleira, totalmente verde e transpirando em demasia.

— Arsênico! – eles gritaram em uníssono, afastando-se para o mesmo lado em que a princesa se encontrava, próximo à janela.

— Por favor, me ajudem – enjoado, Jimin pediu para todas aquelas pessoas, mas nenhum deles se moveu. — Sinto-me muito doente!

Jimin, na verdade, não tinha mais forças para ficar de pé, sentiu-se mais do que doente, mas morrendo com aquele mau estar. Seus olhos turvos se prenderam sob os da princesa encarando-o com temores, e ele compreendeu que poderia cair naquele momento, mas não seria socorrido. Seu peito doeu como se recebesse duras marretadas, e o desespero de seu abandono o fez grunhir assustado.

— Me ajudem, eu imploro por minha vida!

— Não ouviram?! – de repente, a voz severa do príncipe se fez presente quando ele mesmo passou pelas portas e percebeu Jimin caindo no chão. — Tirem as roupas dele agora mesmo, homens. Vamos, estou mandando que façam isso, ou eu mesmo os dispenso das tropas! Oh, mas é isto mesmo, estou lidando com covardes?

Frustrado, Jeon sequer tomou tempo para compreender tal situação; o ômega estava realmente sufocado por tamanho veneno e precisava de uma atitude urgente ao seu favor. Por isso, ele lançou um último olhar endurecido para aqueles homens e sua irmã com o rosto virado para a janela, puxando ar puro para os pulmões, e foi até Jimin, que estava desorientado no chão, implorando por ajuda e se agarrando a primeira coisa que sentiu ao toque: o braço do príncipe.

— Por que diabos está vestindo isso, hm? Como pode não ter a menor noção, Sr. Park?! – Jeon se livrou do toque desesperado e retirou o colete verde de Jimin, assim como a camisa longa de mesmo tom, jogando-a para as portas logo em seguida. — Não vomite em mim.

Num instante, ele ergueu Jimin sobre seus braços e caminhou pelo corredor, descendo a escadaria facilmente, e atravessou o hall do palácio, indo rumo aos jardins do lado leste.

— Homens! – rugiu para o jardineiro e seu auxiliar, que correram para ajudá-lo a colocar Jimin deitado sobre um dos bancos à céu aberto. O ar fresco os ajudaria. — Usem algo para apoiar a cabeça dele, está todo de mal jeito. Espere, deixem que eu resolvo! Suas mãos estão cobertas de terra. Saiam, vão até o vilarejo e mandem que o Dr. Namjoon venha até aqui imediatamente. Envenenamento por Arsênico, não se esqueçam disso. Corram de uma vez!

Aos tropeços, eles obedeceram o príncipe, apesar de temerosos por terem mantido contato com a substância que todos sabiam ser extremamente tóxica. Pelo visto, apenas o ômega andava mal informado para aceitar ser vestido daquela forma.

— Que desastre – Jeon suspirou longamente, retirando sua camisa contaminada e observando o ômega desacordado, mas com um tom de pele um tanto melhor que antes. — Sr. Park, o que diabos aconteceu afinal de contas?

Havia um motivo para Jeon estar com peso na consciência: ele ordenou que uma das servas pusesse um lenço de bolso na vestimenta de Jimin; mais específicamente, na vestimenta azul. Sua atitude tinha motivos claros, esperava que Jimin ficasse doente e decidisse ir embora.

Entretanto, jamais imaginou com um traje contaminado por arsênico, num nível muito mais elevado do elemento tóxico.

— Aquelas malditas fizeram tudo errado.

Sua fúria se voltou para as duas mulheres que foram designadas para estar com Jimin.

— Ugh, não respiro bem – os resmungos alheios foram ouvidos por Jeon, que se atentou ao ômega desorientado, tentando abrir os botões da sua camisa de baixo.

E foi então que Jimin recebeu ajuda mais uma vez, justamente de quem causou o seu mau. Dois braços foram colocados sobre as costas magras e fizeram com que Jimin se sentasse e apoiasse o rosto contra o pescoço do príncipe, que também se sentou no banco para facilitar a retirada da camisa branca. O forte cheiro do Arsênico estava impregnado nela, fazendo com que Jeon sentisse os olhos queimarem por estar tão próximo. Naquele momento, seus peitorais se encontravam desnudos, e ele engoliu em seco, tenso por conta do toque considerado íntimo realmente.

— Respire devagar – Jeon orientou sabiamente e segurou os braços de Jimin para que este voltasse a se deitar, mas foi em vão. — Deite-se, Sr. Park.

— E-espere – num sussurro sufocado, Jimin pediu.

Em meio ao desespero de não conseguir respirar normalmente, ele afundou seu rosto por completo na curva do pescoço do príncipe, tomando para os seus pulmões o cheiro de rosas que deixaram-no amortecido daquele mau estar.

— Seu cheiro... Uh, seu cheiro...

— Pare de me agarrar assim – relutante, Jeon pediu, mas se sentia tão culpado pelo que fez que não o afastou de fato. — O que está fazendo, afinal? Ah, se acalme um instante, ou eu vou...

— Não me afaste! – desesperado, Jimin se agarrou a ele e murmurou contra a pele de seu pescoço, os feromônios do alfa abriram caminho por suas narinas como uma onda de medicina, aliviando as queimaduras em seus pulmões. — Por qual... por qual razão os seus feromônios...?

Jeon estranhou seu delírio, mas fez o possível para não se mover ao perceber Jimin um tanto mais disposto:

— Realmente se sente melhor assim? Não me agrada isto, não mesmo. Homens não devem estar próximos desta forma: você é ômega, mas ainda é um homem. Ugh, isso é estranho... Pare de me cheirar! – num ímpeto de raiva, Jeon o agarrou pela face e a virou para estar diante da sua, mas se surpreendeu ao notar as lágrimas brilhando dentro dos olhos apertados. — Mas o que... Oh...

— Permita-me – abatido, Jimin pediu por aquele aroma que acalmava seus nervos e pulmões feridos, tornando o príncipe incapaz de negar seu apelo fraco.

Hesitante, Jeon segurou a mão fria que estava junto ao seu peito, apesar de estranhar os dedos longos e delicados como os de uma dama, coisa que o ômega não poderia ser. Era esquisito vê-lo chorar aos soluços, agitado e desorientado conforme a respiração voltava a ficar desregulada diante dos seus olhos negros arregalados.

Ele assentiu derrotado e o puxou para junto de seu peito outra vez:

— Não chore por isso, está tudo bem. Mas que diabos... que diabos estou fazendo, afinal? – confuso, murmurou contra os cabelos loiros e se surpreendeu ao sentir o perfume de maçãs se fundindo ao seu. Aquele maldito cheiro tão perto e hipnótico era motivo para sua repulsa, mas também da sua maior contemplação. — Sr. Park, por favor... Como diabos eu vou... Não consigo compreender mais nada. Mas sei que o senhor não deveria mesmo estar aqui, compreende? Existem pessoas ruins, acredite ou não, realmente bem piores do que eu mesmo. Pode não acreditar em mim, de todo modo, prefiro fazer o que for preciso para que vá embora porque eu sei que acabará perdido ao lado de Jaehye.

Jimin gemeu dolorido. — Se eu pudesse...

— Ser normal? – desgostoso, Jeon franziu o cenho ao sentir a ponta do nariz de Jimin resvalar na curva do seu pescoço, ainda que este se encontrasse cada vez mais sem forças para manter os olhos abertos. A pele era acariciada de certa maneira, o que não facilitava em nada fingir que não se importava porque acabou se arrepiando a partir dali — Diga-me o que é ser normal? Há momentos em que eu mesmo não sei, afinal, meu gesto inconsequente não é algo que pode ser considerado normal, não quando estamos falando de um provável rei.

De repente, Jeon engoliu em seco o seu incômodo, dando-se conta de que fez com que seu cheiro de rosas se expandisse por um instinto considerado inconveniente. O que fazia agora? Aromatizava seus feromônios no ar, num gesto possessivo, ou absurdo de se considerar real. Não fora a primeira vez, pensou de repente, se martirizando.

— Ontem mesmo o senhor estava de pernas trêmulas diante de mim, o medo era evidente nesses olhos imensos. Mas agora o Sr. Park se agarra a mim, deixando-me saber que é sensível ao meu cheiro.

— Eu não...

— Exceção – Jeon o interrompeu de súbito, mas acabou batendo as costas no encosto lateral do banco de jardim, pois também foi afetado pelo Arsênico. — Temos aqui uma exceção, não se esqueça disso. Ah, mas estou tão cansado. E você não tem o peso de uma ômega, compreende?

— Precisam de mim vivo – com muito custo, Jimin abriu os olhos e se deu conta de que estava debruçado sobre o peitoral largo e firme. Constrangeu-se fora de hora, tanto que uma tosse repentina o assolou. — Sinto muito, estou com tanto medo.

— Não se desculpe.

Jeon deu pouca importância para aquilo, afinal, seus olhos queimavam, e o ar já encontrava dificuldades para se manter em seus pulmões:

— Mil demônios, todo este veneno está me deixando zonzo. Que desastre, é um terrível desastre!

— Oh!

De rompante, Jimin foi sacolejado e erguido, seu rosto vermelho foi parar nas costas nuas do príncipe. Este havia jogado-o sobre o seu ombro esquerdo, e agora o levava como mercadoria pesada, rumo ao poço próximo do jardim que estava em manutenção. Sem cessar seus passos, o príncipe resmungou por todo o caminho, furioso com a constatação de que caiu em sua própria armadilha.

— Estou enjoado! – Jimin esbravejou com os movimentos das passadas do outro.

— O alertei sobre vomitar em mim, pois não? Ora, mas estou fazendo demais pelo senhor, é o que vejo. Logo, fique de boca fechada!

— O que fez por mim, se não me envenenar? Pude ouvi-lo, meu senhor, não estou surdo!

— Antes estivesse. E mudo também!

Num movimento rápido, Jeon deixou que o corpo menor que o seu caísse para frente, mas fechou um dos braços envolta da cintura de Jimin quando este fraquejou de pé. E foi então que seus dedos sentiram a mínima curva naquela área colada junto ao seu corpo.

O toque de pele com pele, junto dos peitorais colados, confundiu as sensações do príncipe perplexo com tal proximidade:

— Eu poderia dizer que o Sr.Park é delicado como uma dama, mas prefiro ressaltar o fato de que homens ômega são tão fracos que me irritam.

— Acaba por dizer o que bem entende, de qualquer maneira. Mas... por favor, não respiro bem – sem pedir permissão, Jimin inspirou mais do perfume calmante de Jeon e suspirou enjoado. — Preciso de água com urgência.

Ao vê-lo desorientado outra vez, Jeon se percebeu inseguro sobre aonde ir porque Jimin voltou a esconder a face na curva do seu pescoço, lhe provocando um instigante arrepio quando as mãos frias o tocaram ali, causando choque em sua pele.

— Sr. Park, por favor – Jeon soltou um murmúrio nervoso, e suas mãos foram para os pulsos ao seu alcance, pretendia afastá-lo, mas acabou por deixar ali algumas carícias hesitantes. Sequer compreendia o porquê de pensar determinada forma e agir de outra, seus gestos acabavam sempre por serem cuidadosos ao tocar aquele ômega. — Consegue andar sozinho? Precisamos chegar até aquele poço, logo mais a frente. Hm, disse algo? Não tenho como compreender se você mantém seu rosto colado em meu pescoço, rapaz. Ah, mas está evidente que

voltarei a carregá-lo como uma dama por aí. Oh, sim, é isto mesmo.

Num instante, Jeon passou um dos braços por detrás das pernas de Jimin e caminhou com ele:

— Agora está trocando as nossas posições; faz de um príncipe o seu servo. Certo, certo, não precisa cravar estas unhas afiadas em mim. Vou deixá-lo em paz um instante. Ora, mas veja só! Temos um balde de água bem generoso aqui, seu franguinho cheirador de alfas.

— Não sou isso!

— Beba o quanto desejar.

O príncipe acreditou deixar o restante de sua dignidade cair por terra quando sentou ali mesmo e ajudou o ômega a se debruçar sobre o balde de ferro. Por sorte, estavam próximo do poço onde os jardineiros tiravam água para manter as plantas vivas. Observou com espanto Jimin levar as duas mãos até a água e jogá-la sobre o seu rosto três vezes seguidas.

Curioso, Jeon não pôde deixar de analisar cada detalhe que o deixava desconcertado. Era notório como o jovem Park não poderia se assemelhar a uma dama, ainda que ele fosse ômega, mas também parecia impossível ignorar os cílios longos e espaçados, os lábios fartos e sensuais e as maçãs do rosto aveludadas e coradas. Jimin não era uma mulher, mas também não era como os homens que Jeon conhecia. Na verdade, ele tinha beleza única e capaz de enlouquecer quem caísse em seus encantos. "Não seria nada difícil!" pensou Jeon com certo espanto.

— Tenha cuidado – sem jeito, ergueu sua mão para afastar alguns fios loiros e molhados da face direita de Jimin, mas a fechou em punho e reprimiu o gesto quando o viu recuar assustado. — Oh, está pensando mal de mim. É claro que você ainda sustenta algum ego, pois sim. Imagino que logo após o incidente naquele celeiro você acredita que todos os alfas vão tentar agarrá-lo. Até mesmo um nobre não pode resistir ao seu encanto! Espera que seja tão fácil assim, não?

Corado até às orelhas, Jimin assegurou:

— Algo do tipo não me interessaria!

— Tampouco eu tenho hábitos imorais, homem – Jeon reforçou, mas não se atreveu a levantar sua voz para ele. — É bom que não confunda os meus atos como os daqueles homens que foram enfeitiçados pelo senhor, no seu cio. Francamente, é tão constrangedor...

— Estou ciente de que aqui não poderia ser diferente – com falsa confiança, Jimin escondeu sua mágoa. — Fale o que quiser, estou acostumado à culpa de ser como sou.

"Esquisito" pensou Jeon. Não por saber que Jimin atraiu homens para o seu primeiro cio, mas sim por estar diante de alguém que aceitava tão facilmente as ofensas que recebia. Geralmente, as pessoas têm mais orgulho.

Mas é claro que o príncipe não se expressaria a favor do outro:

— Haviam alguns fios soltos na sua face. Foi uma visão incômoda, apenas isso.

— Pois... Pois sim.

Constrangido com o rumo daquela conversa, o ômega voltou a se lavar com a água do balde que agora guardava apenas a metade dela. Esfregava seu braço esquerdo primeiro, pois coçava bastante. Enquanto isso ele notou pelos cantos dos olhos que estava sendo observado atentamente, mas sua agonia não lhe dava tempo para sair dali. A água fresca não apenas limpava sua pele, mas também acalmava os seus nervos. E depender do cheiro daquele alfa não era mais uma opção, não quando Jimin estava em melhor estado mental e físico.

— A pele está sensível – o príncipe voltou a puxar conversa, dessa vez mais comedido em seu tom. — Não deveria esfregá-la, ou vai se ferir. Soube que o senhor é intolerante ao Sol, imagine então à forma bruta de se lavar depois de entrar em contato com uma substância tóxica. Ah, mas que teimosia. Não está me ouvindo, rapaz? Pare de se coçar desta maneira.

— Por que questiona os meus cuidados comigo mesmo quando foi o meu senhor quem me causou este mau estar?

— Oh, mas...!

— Eu ouvi bem quando o senhor culpou as duas servas que foram designadas a mim. Não é difícil compreender que o senhor estava ciente do caso a algum tempo. Sua crueldade não tem qualquer justificativa aceitável, me envenenar, seja lá com o que for…

— Arsênico – Jeon revirou os olhos irritados e os prendeu no olhar magoado. — Até então, este elemento acaba por ser o único componente capaz de deixar o tom verde por mais tempo no tecido. No entanto, nos adoece ao ponto de... bem, alguns morreram neste trabalho pesado. Mas quem usa sente apenas um mau estar.

— Oh, pois eu vejo bem o mau estar! – com horror, Jimin voltou a esbravejar.

— Seria bem isto se usasse apenas o lenço de bolso, mas está claro que o senhor tem grande azar para companhias – Jeon respondeu duramente. — E aí está a questão: por que aquelas malditas levaram uma vestimenta completa ao seu aposento? Fui claro na noite anterior, um lenço, apenas aquele reles pedaço de tecido deveria estar no seu armário. Ah, mas sou mesmo cruel! Não salvei a sua vida, é claro que não...

— Ousa ser irônico – Jimin se enfureceu e ficou de pé com algum custo, e Jeon o imitou. — Meu príncipe, não espere que eu agradeça por ter me envenenado. Não sou tão estúpido quanto pensa!

— Oh, por favor – apreensivo, Jeon passou a seguir o rapaz que andava de mal jeito, suas mãos estavam erguidas em defensiva. — Não me agradeça por algo do tipo, mas sim por tentar mandá-lo para longe de minha irmã!

— Acha que eu não sei que a princesa tem melhor caráter que o seu?

— C-como ousa... Como ousa ser tão sincero, Sr. Park?!

— Como ousa ser tão sem vergonha, príncipe Jeon?!

De repente, ambos se encararam de frente; Jimin alguns centímetros mais baixo, o príncipe alto e falsamente perplexo com a ofensa declarada.

— Park, ninguém jamais ousou ofender-me tanto! De todo modo, saiba disso: Jaehye e eu somos gêmeos, ambos mal caráter. Cada um à sua maneira. Logo, me escute bem. Minha irmã ainda vai arrastá-lo para um poço fundo como aquele ali. E eu espero que o senhor caia de cabeça!

— Pois eu...!

O nome de Jimin foi chamado das portas que davam acesso a um dos incontáveis corredores do palácio. A própria princesa o aguardava com as mãos unidas e semblante preocupado.

— Ora, vejam só – malicioso, Jeon zombou ao lado de Jimin receoso e envergonhado. — Está trêmulo diante dela, como se estivesse mesmo diante da sua alfa.

— É porque a princesa é a minha alfa, a única possível – Jimin arrumou os cabelos apressado.

— Oh, é mesmo? Me diga então por que a minha irmã, como a sua alfa, não sentiu qualquer instinto de proteção quando o senhor estava morrendo envenenado?

— Estamos falando da futura rainha, correto? – Jimin retrucou e tentou cobrir o peito nú com um dos braços. — Nada de ruim pode acontecer com ela. Eu poderia tê-la contaminado e dificultado os planos da realeza.

— Você poderia ter contaminado a mim, um provável...

— Ela me protegeria se sua posição permitisse que adoecesse – Jimin o cortou duramente, mas reforçava a si mesmo aquele argumento. — E o meu Senhor bem que merecia ser contaminado por intermédio meu, já que me causou esta desgraça.

— Sr. Park.

Jeon estava alertando-o, mas Jimin ergueu o queixo e não desviou o olhar do seu:

— Sabe que falo a verdade, que deve pagar pelo mal que me fez. É claro que isso não seria um problema para o senhor como é para a princesa, afinal, não é na sua cabeça que colocarão uma coroa.

Jimin sabia cometer afrontas quando queria, Jeon percebeu naquela tarde turbulenta. Até mesmo os olhos, antes assustados e inquietos, agora lançavam brasas na sua direção. E sua personalidade indecifrável acabava por ser bastante interessante.

Quem poderia adivinhar?

— Para quem não falava com alfas, o senhor é falante até demais comigo, uh? – Jeon comentou com seu típico tom zombeteiro, mas perdeu a atenção de Jimin quando Jaehye chamou-o mais uma vez. — A mal caráter da vez espera por sua atenção, franguinho. Até mais ver.

Seus passos se distanciando fizeram com que Jimin se virasse para ver as costas largas do príncipe, que foi na direção dos portões do palácio. Ali era possível avistar o jardineiro e auxiliar vindo junto do famoso médico que atendia no palácio e vilarejo. Aquele era Kim Namjoon, o homem responsável por trazer de volta a saúde do ômega exausto e intrigado com o príncipe que agora falava com os homens.

— Alfa promíscuo – ele murmurou irritado, mas engoliu em seco, assustado quando seu olhar cruzou com o do príncipe outra vez.

Então Jimin correu para dentro do palácio, ouvindo ainda que deveriam preparar seu banho, pois ele estava "fedendo a rosas". E Jaehye jamais admitiria que o seu ômega estivesse embebedado pelo cheiro do seu irmão. O problema em questão é que Jimin não sentiu que ficaria melhor depois do banho, não depois da água levar embora os feromônios que foram capazes de fazê-lo voltar a respirar como antes.

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