XX - Entrada para Lost Maze

Após horas de intenso treinamento para se prepararem para a perigosa jornada de Lost Maze, os tripulantes do Ésde finalmente encontraram um momento de merecido descanso. Espalhados pelo convés do navio, eles relaxavam e sorriam ao som das músicas suaves de Emi, todos compartilhando uma atmosfera agradável.

[…] – Mandamos bem demais! – Aponta um deles.

– Sim! Mas eu mal consigo segurar minhas pernas, tremem se eu tentar ficar de pé!

– Vocês são um bando de Maria mole, isso sim. – Grom ressalta com provocação, Emi sorri enquanto continua a dedilhar alguma melodia em sua guitarra.

– Está se metendo em quê, velho? Nem participou porque as pernas não aguentam mais! – Diz um tripulante sentado sobre a amurada com uma expressão afrontosa, porém divertida.

– Como é, seu moleque?! – Grom o observa com olhos fulminantes e caminha em sua direção.

– É-é brincadeira, velho, q-quero dizer, Grom! – Ele gagueja ao perceber que o ferreiro continua se aproximando e não há como fugir. – E-ei, não me olha desse jeito!

Com a fumaça envolvendo o rosto do tripulante que agora tosse freneticamente, Grom diz com um sorriso amarelado. – Velho é o seu pai! – Em um movimento brusco, o ferreiro empurra o mais jovem para fora do navio, com o baque na água, os respingos de água salgada sobrevoam.

...Todos sorriram....

[…] Enquanto o sol brilhava no céu, um aroma delicioso começou a se espalhar pelo ar. Foi preparado um almoço especial para celebrar o progresso alcançado. Sobre a churrasqueira, um grande peixe Cioba grelhada exalava um cheiro tentador, sinalizando uma refeição suculenta e reconfortante.

Ao tilindar da taça de vidro, os homens se reuniram em torno da mesa improvisada no convés, seus rostos exibiam sinais de fadiga misturados com uma sensação de triunfo. As conversas animadas e risadas preenchiam o ar, dando vida a um momento de descontração e gratidão. Todos compartilhavam histórias de superação e comemoravam as conquistas que haviam desenvolvido durante os rigores do treinamento. Emi aproveitava para absorver as histórias e opinava alegremente. Grom parecia cético, mas por vezes uma risada sarcástica saía entredentes.

Quando Aiko se juntou à mesa, todos eles a observaram com expressões suaves, aguardando ela degustar para que pudessem então saciar-se.

Ela retira a sua adorada boina com educação e os observa com seus olhos alaranjados. – Antes da refeição, queria poder expressar o orgulho e a gratidão que tenho por cada um de vocês que se esforçaram durante o treinamento. Eu os observei minuciosamente e sei melhor do que ninguém o progresso que foi apresentado. – Com um olhar baixo, ela suspira. – Sabemos que à cada hora, nossa distância a Lost Maze é reduzida significativamente, então peço para que todos descansem bem antes de chegarmos. Estaremos em constante vigilância, espero poder contar com todos vocês.

Com um aceno silencioso e a concordância de todos os presentes, ela mordisca a primeira garfada e assim a refeição se inicia. Eles mordiam pedaços suculentos da Cioba grelhada, e sentiam a energia e a vitalidade se renovarem em seus corpos. O sabor fresco e delicioso do alimento era uma recompensa merecida por seus esforços.

"Enquanto desfrutava do almoço, meus olhos ocasionalmente se voltavam para o horizonte. O log pose, que marcava a aproximação do Ésde à ilha de Lost Maze, era uma constante lembrança da minha missão. Olhando para esses meros homens, todos se usufruindo de sorrisos inocentes, eles não merecem viver pelo perigo. Diferente de mim, são pessoas com famílias que ainda aguardam por suas voltas seguras."

Aiko se levanta em silêncio, deixando a carcaça da Cioba no prato. Ao se distanciar de todos eles, retorna para o seu escritório, e observa as águas do oceano pela panorâmica janela ao dispor da sala.

...[…]...

Uma batida suave na porta a interrompe de seu descanso e devaneios.

– Entre. – Ela cruza as pernas e se ajeita na poltrona, enquanto se mantém vigilante à porta.

– Com licença, capitã. – Emi aparece com seu sorriso mais tranquilo, fazendo Aiko desviar o olhar. Ao perceber a atitude da capitã, ela substitui a sutileza por uma expressão preocupada. – Está tudo bem com você?

Aiko suspira. – Como sempre.

– Hum. – A ruiva caminha até a janela e observa o oceano. – Essa loucura toda me abriu os olhos para uma nova realidade, sabia? Já criei vários eu líricos que nunca pensei em escrever. – Ela diz orgulhosa.

– Que bom, Emi. – Com os olhos baixos, tamborilava os dedos no braço da poltrona sem estender o diálogo.

Emi suspira. – Bem, e o que você espera encontrar em Lost Maze?

– Eu não sei. – Ela vira o rosto para a janela novamente, acompanhando a vista de Emi.

Após um instante de silêncio, a ruiva sorriu outra vez. – Estou esperançosa, sabia?

– Huh? – Aiko arqueia a sobrancelha.

– Seja lá o que estiver nos esperando, sinto que vamos conseguir.

Aiko desvia o olhar sem responder fazendo o sorriso de Emi ser desfeito novamente.

A ruiva se aproxima da capitã que parece cética, e ao se agachar próximo a poltrona, ela segura a mão fria de Aiko. – Ei. Eu confio em você, essa é a única razão de existir alguma esperança nisso ou em qualquer outra situação para mim.

Aiko observa Emi com surpresa. Ela estava notavelmente sem uma reação clara, não parecia acostumada com votos de confiança. Com a pausa, recolhe a mão hesitante e esboça um sorriso simples. – Obrigada Emi. Mas particularmente, acredito que você precisa priorizar sua vida acima de votos como esse.

– E por que não os dois? – Ela inclina a cabeça com convencimento.

– Porque... Nem sempre temos o direito de se apoderar de duas escolhas tão importantes.

– O jeito que você fala, me faz entender que você poderia me deixar morrer na mão dos seus inimigos. – Emi sorri intrigada.

– Não. Isso não aconteceria. – Ela suspira. – Eu só quero que saiba priorizar sua segurança por si mesma. Talvez eu não esteja lá para proteger você.

– Ainda continuo mantendo minha grande confiança por você.

Aiko se levanta abruptamente, e Emi acompanha seu movimento com o olhar.

– Por que? – Aiko pergunta sem fazer contato visual com Emi, mas sua pergunta refletia angústia.

A guitarrista se levanta, confusa. – Eu não pensei que fosse tão difícil para você aceitar um voto de confiança. – Emi sorriu envergonhada.

Aiko cerra os punhos e olha para o horizonte através da janela. – Você não entenderia. – Ela finalmente se vira para a ruiva. – Não pense que eu não protegeria você ou qualquer outro tripulante. Mas não confie cegamente em alguém que não te provou se merece esse voto.

– Mas você provou, Aiko. – Ela gesticula para fora da sala. – Você nos libertou da opressão, está indo resgatar uma das nossas crianças, e ainda usou a sua energia que poderia ser usada em um confronto quando chegarmos, só... Para fortalecer todos aqueles homens, e à mim. – Ela suspira e fecha os olhos com uma expressão serena.

– Tudo bem, Emi. Eu gostaria de ficar sozinha, por favor. – Sua voz parece firme, e a ruiva assente em silêncio, encolhida pela confusão, então decide sair da sala sem falar mais nada.

"Eu não vou carregar essa responsabilidade e estragar tudo outra vez." – Ela pega um objeto de porcelana e joga contra a parede.

– Eu não posso estragar tudo. Não posso me apegar a nada e nem ninguém. Apenas os fortes vão ficar de pé, como o papai dizia. – Aiko cerra os punhos e sente seu coração se afundar dentro de seu peito.

...[…]...

– Avistamos uma zona estranha à frente, o log pose está apontando para este lado! Capitã!

– Lost Maze. Chegamos.

À medida que o Ésde se aproximava da entrada de Lost Maze, a atmosfera a bordo do navio tornava-se tensa e carregada de expectativa. Os tripulantes se aglomeravam nas bordas do convés, observando com fascínio a paisagem se transformar diante de seus olhos.

– A-a entrada para o labirinto... – Menciona Maroon enquanto ajusta os óculos.

A vegetação marinha começou a se agitar, como se fosse despertada pela presença iminente do navio. Em um espetáculo surreal, os tentáculos se estendiam e se entrelaçavam, formando uma figura colossal de uma caveira. Era uma visão assustadora e impressionante ao mesmo tempo, uma representação macabra da entrada para o labirinto de Lost Maze.

"Ao me deparar com a visão impressionante diante dos meus olhos, meu coração disparou em meu peito. Uma mistura de fascínio e apreensão tomaram conta de mim, a vegetação marinha se movia de maneira geral, formando uma gigantesca caveira que parecia olhar diretamente para minha alma. Os tentáculos retorcidos e as órbitas vazias da caveira eram ao mesmo tempo assustadores e fascinantes. A escuridão emanando da abertura abaixo das narinas da caveira me chamava, despertando minha curiosidade e uma pontada de medo. Era como se o próprio labirinto estivesse me desafiando antes mesmo de eu adentrá-lo."

No centro da caveira marinha, abaixo de seus orifícios sinistros, uma abertura escura revelava a entrada para o labirinto desconhecido. Parecia uma passagem sombria, envolta em mistério e desafio.

"Era um chamado para a aventura, uma oportunidade de provar minha coragem e habilidades. Eu estava preparada para enfrentar o desconhecido, para desafiar os limites do meu próprio ser." – Seria eu capaz de enfrentar os perigos que me aguardavam ali? Seria eu forte o suficiente para superar os desafios do labirinto de Lost Maze?

Sorrio comigo mesma. – É claro... Eu sou a capitã Miss Aiko, uma Suzuki. Eu não vou perder. Virar o leme à direita, vamos entrar! – Ela manda a ordem definitiva e eles concordam.

– Sim! – Disseram os tripulantes em uníssono.

À medida que o Ésde adentrava a entrada escura, a luz do sol diminuía gradualmente, dando lugar a uma penumbra misteriosa. Todos se prepararam mentalmente para o que viria a seguir e mantendo a vigilância constante, armados com coragem e determinação para desbravar o labirinto mortal de Lost Maze.

– Vamos resgatar seu neto. – Aiko caminha até o ferreiro.

Ele concorda lentamente antes de se desfazer do seu charuto, o jogando na água.

– Uma oferenda aos deuses dos mares, Grom? – Aiko sorri com presunção.

– Até parece. – Ele sorriu. – Eu tenho cara de quem acredita nisso? – Grom cruza os braços e em segundos todos são mergulhados na escuridão através da entrada.

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