Capítulo Dezenove

SERENA

— Eu sei que está acordada.

Já fazia algumas horas que eu havia acordado e não fazia ideia de onde estava. Era uma sala de pedra quase como uma prisão fria e suja.

Minha mente só entendeu tudo quando vi Afonso se aproximar do lado de fora. Esse pervertido havia me sequestrado e apesar dele ser estranho, eu não imaginava que ele faria algo assim.

Não que esse tipo de bandido tivesse cara. Mas Afonso era consideravelmente bonito e não tinha mais que vinte e oito anos, além de ser herdeiro de algumas propriedades, então por que ele estava tão obcecado por mim?

— Olhe para mim, Serena — Senti ele se agachar na minha frente e continuei com meus olhos fechados.

Ignorei o senhor Afonso e ele segurou meu rosto com força me fazendo olhá-lo.

— Você vai ser minha, Serena, você só precisa escolher se será por bem ou por mal — Ele sussurrou.

Cuspi em seu rosto e ele me bateu. Me desequilibrei de como estava sentada e cai de lado no chão. Meu vestido levantou um pouco e eu comecei a arrumá-lo desesperadamente.

Eu queria chorar, mas não ia, não tão fácil assim. Eu precisava acreditar que alguém viria atrás de mim, meu pai era um soldado experiente, ele não ia me decepcionar.

— Você é mesmo uma vadia rejeitando todos e se engraçando com aquele funcionário.

— O senhor não sabe de quem está falando — Sorri com ódio.

— Acha ele melhor que eu, Serena?

— Não me chame de Serena!

Outro tapa veio e dessa vez tentei desviar. Ele caiu por cima de mim em um abraço estranho e eu comecei a empurrá-lo.

— Me larga, Afonso!

Ele riu e continuou me abraçando. Senti sua mão em meu joelho, o que me assustou tanto que tive a única reação desesperada possível. Enfiei meu polegar em seu olho direito.

Afonso começou a gritar e se afastou de mim. Eu me abracei e me encolhi contra aquela parede fria.

— Tudo bem, com o tempo você vai perceber que a única pessoa que você tem agora sou eu — Ele sorriu com a mão cobrindo seu olho machucado. — Quando quiser comer, quando quiser tomar um banho, quando quiser até mesmo sentir um pouco de sol... Terá que me pedir.

— Prefiro morrer.

Ele riu. Um riso maldoso de quem sabia que já havia ganhado o que queria. E eu agradeci aos céus ao vê-lo ir embora.

Só podia contar com o Simas agora e esperava que ele ainda fosse inteligente o suficiente para procurar ajuda. O Afonso não era nada inofensivo.

Me abracei determinada a não dormir, não que fosse possível, eu podia ouvir os camundongos correndo pelo cômodo como se estivessem bravos com a minha presença.

Respirei fundo. Que a minha família viesse logo.

...****************...

Eu acabei pegando no sono, o que foi minha ruína. Assim que acordei sentindo um peso estranho sobre mim, percebi que eu estava amarrada em uma cama enquanto Afonso tentava me despir.

— Me solta! — Gritei e comecei a me debater.

— É nossa noite de núpcias, querida, pare de gritar, ninguém vai ouvi-la.

Comecei a chorar. Eu estava aguentando minhas emoções por muito tempo, pois não queria ser uma mocinha indefesa e dar esse prazer para Afonso.

Mas eu simplesmente sentia que não conseguiria resistir por muito tempo. Eu definitivamente não casaria com ele, nem se ele tirasse toda a pureza do meu corpo, mas o que eu faria depois? Eu não conseguiria viver com esse peso.

Apenas meus braços estavam presos, mas minhas pernas não conseguiam se fechar por causa do corpo do Afonso. Tentei chutá-lo, fazer qualquer coisa que estivesse ao meu alcance. Lágrimas escorriam pelo meu rosto ao sentir a respiração do Afonso em meu pescoço.

Ele tentou me beijar e eu mordi sua boca com força recebendo um tapa em resposta.

— Você não pode simplesmente fazer seu papel de mulher, sua vadia!? — Ele esbravejou. — Tente me impedir outra vez e eu a mato e a uso como eu quiser.

— Você é desprezível! — Falei enojada.

Ele levantou a mão para me bater novamente, porém parou no meio do caminho. Eu sabia o motivo. Eu também tinha escutado passos.

— Socorro! — Comecei a gritar e Afonso colocou a mão na minha boca.

Continuei gritando até ele pegar algo na mesinha ao lado da cama e colocar em meu pescoço. A ponta de uma faca.

— Então você tem medo de morrer — Ele riu baixo ao me ver calada. — Se comporte, senão eu mato você.

Meu coração estava acelerado pelo medo. Ele não estava brincando, eu agora sabia o quão louco ele era e as "brincadeiras" que ele fazia em bailes dizendo que eu cederia a ele um dia, nunca pareceram tão sérias como agora.

Afonso colocou um pano na minha boca e passou outro ao redor. Eu não consiga dizer nada, apenas usar minha voz que estava sendo abafada pelos panos.

— Fique quietinha e quem sabe eu sou mais gentil quando voltar — Ele sorriu e saiu do quarto.

Comecei a rezar para que essa pessoa que chegou viesse me ajudar. Eu sabia que a família dele não era desprezível dessa forma, mas infelizmente eu já havia notado que essa não era a casa do seu pai. Ele tinha arquitetado tudo apenas pelos seus planos nojentos.

Escutei um barulho forte de algo indo contra a parede. Afonso gritou parecendo com dor e eu quase chorei de felicidade. Porém escutei outro grito de dor que não reconheci por soar baixo demais.

Meu coração estava disparando enquanto eu escutava tudo sem conseguir fazer nada. Eu tentava gritar, pois sabia que o Afonso não me deixaria ir independente de como eu me comportasse, mas parecia ser em vão.

Parei de gritar quando o barulho de briga cessou. Meu corpo tremia de medo com receio do que estava por vir.

A porta do quarto foi aberta e eu fechei os olhos com força tentando não chorar. Eu só precisava suportar por alguns minutos e depois me afundar na minha dor. Eu tinha que ser forte e não desistir de viver.

Afonso sentou na cama e eu senti suas mãos em meus pulsos amarrados. Não tive tempo de entender o que estava acontecendo, pois ele me abraçou repentinamente e então eu finalmente compreendi.

Aquele cheiro e braços familiares. Eu reconheceria mesmo depois de cinquenta anos, mesmo que passasse a minha vida toda sem senti-lo.

— Simas — Chorei mais ainda e o abracei apertado, ele havia desamarrado meus braços.

— Estou aqui, me desculpe, eu demorei — Ele sussurrou.

Neguei com a cabeça, pois não conseguia dizer mais nada, apenas soluçar. Simas disse palavras de conforto e tentou ver meu rosto, mas eu não deixei, não queria soltá-lo, não queria sair dos seus braços.

Eu sentia que choraria a noite toda em seus braços se não tivesse sentido algo molhado em minhas mãos.

— O que é isso? — Perguntei aflita e tentei tocar melhor. Simas gemeu de dor. — Simas!

— Estou bem... — Ele disse antes de apagar em meus braços.

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Comments

Celma Rodrigues

Celma Rodrigues

Que bom o Simas ter salvado Selena. Pelo jeito está bem machucado.

2024-11-14

0

ana

ana

nossaaaaaaaaaaaa ele consegiu

2024-11-14

0

Rosária 234 Fonseca

Rosária 234 Fonseca

ele conseguiu q bom tava preocupada. Caraca ele parece está bem machucado

2023-11-30

5

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