Capítulo Sete

SIMAS

Me virei incrédulo e olhei para a senhorita antes desconhecida por mim. Finalmente meu cérebro trabalhou e eu percebi o erro que eu havia cometido.

Além da aparência semelhante, tudo que era marcante nela estava lá, o olhar e sorriso simpático, as boas maneiras, até mesmo a mão esquerda em sua taça, Serena era a única canhota que eu conhecia... Era definitivamente a Serena... Mas sem ser a Serena! A senhorita ao meu lado era uma linda mulher enquanto a Serena das minhas lembranças... Céus, ela sequer tinha esse decote.

— Para onde está olhando, Primeiro Príncipe? — Serena disse de repente e levantou indo para o lado do Vincent. — O senhor me prometeu uma dança, príncipe Vincent.

— É claro, não esqueci — Ele sorriu galanteador e ofereceu seu braço. — Vamos?

Continuei em choque vendo os dois irem para o meio do salão. Adelina começou a rir e Abby me deu dois tapinhas no ombro.

— Primo, se minhas memórias de infância não falham, vocês não eram um casal? — Abby perguntou curiosa.

— Não — Respondi ainda surpreso. — Serena era apenas uma amiga.

Eu não me arrependia de ter rejeitado ela, até porque eu teria a feito sofrer já que não a amava e não desistiria da minha viagem por seus sentimentos.

Mas vê-la agora tão belíssima... Meu coração acelerava toda vez que ela sorria e eu me sentia frustrado por não ser o causador desses sorrisos.

— Trouxa, o mundo dá voltas — Adelina riu mais ainda. — Vamos, Abby, eu vi alguns nobres bem bonitos sentados por ali.

Elas me deixaram sozinho e eu sentei ao lado do garotinho que me olhou quase que com compaixão.

— Fica tranquilo, tio, eu também não quero que ela case.

— Como é!?

— Ela é minha prima babá e não pode casar — Ele explicou e estendeu a mão. — Eu sou o Noah, vamos trabalhar juntos.

Apertei a pequena mão daquela criaturinha. Eu não estava concordando com nada, mas era melhor não contrariar crianças e pelo seu nome, Noah, eu já sabia que se tratava do FitzClarency mais novo.

— Eu sou o Simas FitzClarency, seu primo mais velho.

— Você é poderoso, minha mãe disse — Ele me olhou com admiração. — Se você não casar com a minha prima, eu gostarei de você.

Sorri. Eu não casaria com a Serena... Quer dizer, ela não casaria comigo, não depois das inúmeras rejeições que eu lhe dei.

Mas a olhando agora dançando nos braços de outro... Ela estava tão bela, tão mulher, tão atraente. Eu seria um louco se dissesse que não a desejava nenhum pouco.

— Primo, não gosto do seu olhar, é igual ao do outro primo.

— Qual deles? — Perguntei curioso.

— Vincent, mas tirando isso ele é bem legal, ele me deu brinquedos.

Eu precisava analisar o Vincent. Sempre soube que ele parecia ter uma quedinha pela Serena, mas não imaginava que essa quedinha duraria até mesmo cinco anos e uma longa distância. Será que eles trocavam cartas? Por que ela parecia tão à vontade com ele?

— Você gosta de brinquedos, não é? — Perguntei sem tirar os olhos da Serena.

— Gosto.

— Você pode ficar com todos os meus antigos brinquedos basta ficar de olho neles.

— Eu não quero, me compre novos.

Olhei para Noah e ele estava me olhando muito sério. Como ele podia ser tão mesquinho sendo um príncipe?

— Eu mal brincava com eles, estão como novos.

— Você é um príncipe, mas é muito mão de vaca.

— O que disse!?

— Ele tem razão — Um garoto sentou ao lado dele.

— Mano — Noah abraçou o rapaz que só então reconheci como o Danton.

Ele havia crescido bastante e não era mais um pirralho encrenqueiro. Mas apesar da sua aparência dócil, eu sabia que ele era tão arteiro quanto a Thalia.

— Dinheiro é sagrado, vocês precisam aprender a valorizá-lo — Falei. — Danton, bom ver como você cresceu, já está um homem.

— Não diga isso, me sinto velho como você e só tenho dezoito anos — Ele fez uma careta. — Primo, enquanto eu vinha para cá notei seus olhares para a senhorita Serena, vai cortejá-la?

— Estou pensando — Respondi francamente.

— Boa sorte — Ele riu.

Estranhei seu conselho. Serena era muito linda, mas ela era uma garota fácil de lidar, sempre foi, por que ele parecia tão incrédulo no meu potencial?

Eu sabia que tínhamos um passado ruim, mas eu estava disposto a compensá-la por tudo. Ela tinha que entender que na época eu era um rapaz e ela uma menina.

— Você parece saber algo que eu não sei, Danton.

— Primo, você sabe que minha mãe é os olhos e os ouvidos desse palácio — Ele se aproximou como se fosse me contar um segredo. — Ouvi dizer que a senhorita Serena já recusou mais de cinquenta pretendentes.

— Mesmo? — Perguntei impressionado. — Talvez ela ainda me ame?

— Nos seus sonhos! — Ele gargalhou. — Ela não o suporta, Tata vivia falando em Xin Wang que toda vez que ela escrevia seu nome em alguma carta, senhorita Serena fazia questão de enviar outra com um bonequinho enforcado, no caso você.

Passei a mão no meu pescoço quase como se pudesse sentir a corda me enforcando. Ela me odiava nesse ponto? Ora, tudo eram águas passadas, eu de fato tinha a rejeitado, mas não tinha sido maldoso de qualquer forma.

Eu queria fazer mais perguntas, mas agora Thalia estava de volta com companhias desconhecidas por mim, mas pela etnia percebi que era o povo de Xin Wang.

— Irmão, quero que conheça o príncipe de Xin Wang, Zhao Liang e a princesa Zhao Mei — Tata sorriu.

Levantei e fiz uma breve reverência assim como eles. A princesa Mei parecia uma boa moça, mas eu estava mais atento aos sorrisos que o príncipe Liang direcionava para a Tata.

Lembrei do rapaz que Tata havia mencionado em diversas cartas, seria ele?

— É um prazer conhecê-lo — Ele estendeu a mão para mim.

— Igualmente — Apertei sua mão.

— O sotaque dele não é bonitinho? — Tata perguntou.

— Thalia — Príncipe Liang a repreendeu constrangido.

Estranhei eles se tratarem tão informalmente. Eu precisava conversar com a minha irmã sobre isso mais tarde.

— Não adianta questioná-los, eles são muito carinhosos um com o outro — Princesa Mei me confidenciou e sentou ao meu lado. — Ouvi muito sobre o senhor.

— Mesmo? Espero que coisas boas.

— Tata o adora e o senhor é famoso no mundo dos negócios — Ela sorriu minimamente. — Meu pai o estima muito.

Sorri com educação. Não era anormal que o pai dela gostasse de mim, ele e meu pai eram bons amigos desde a adolescência.

Continuei conversando com a princesa Mei já que ela parecia ter muito o que dizer, mas meus pensamentos continuaram no sorriso da Serena dançando no outro lado do salão.

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