Capítulo Dez

SERENA

Fiquei imóvel sem saber o que dizer. Simas me olhava ansioso de uma forma que nunca o vi ficar antes, ele estava mesmo se confessando para mim tão impulsivamente no meio de um baile?

Eu havia imaginado isso tantas vezes quando era menina... Mas agora que havia acontecido, eu não sabia o que sentir. Simas podia ser irritante, mas não era mentiroso, ele sempre valorizou seus sentimentos e mesmo que fosse difícil admitir eu sabia quantas vezes ele tinha me rejeitado no passado. Ele nunca escondeu que não me amava.

Mas agora ele estava na minha frente, lindo e maduro, mais forte, mais educado e eu diria até mais extrovertido e atraente, confessando seus sentimentos que eu tinha certeza que mesmo que fossem passageiros, eram reais, pois Simas jamais mentiria sobre isso apenas para me conquistar.

— O que você disse? — Perguntei para ter certeza e ignorei as formalidades ao tratá-lo de forma íntima.

— Estou apaixonado por você — Ele sorriu mais confiante. — Você me aceita?

Despertei quando Simas fez menção de se ajoelhar e fui obrigada a segurar seus braços para impedi-lo. Notei que vários olhares se direcionaram para nós dois e me afastei rapidamente.

— O que está fazendo!?

— A pedindo em casamento, eu sou um homem sério, Serena.

— Está louco!? Quem disse que vou me casar com você!?

— Mas você sempre me amou, sei que está chateada, mas temos a vida toda para eu recompensá-la.

Escutei alguns murmúrios próximos a nós e o meu olhar encontrou o da minha mãe que me olhava com preocupação.

Respirei fundo tentando manter a calma, minha reputação seria manchada se eu continuasse a discutir isso no meio de todos.

— Primeiro Príncipe, acho que esse lugar não é adequado para falarmos sobre isso — Tentei dizer o mais discretamente possível e fiz uma reverência. — Me encontre na sala do outro corredor em dez minutos.

Simas assentiu percebendo que estávamos sendo observados. Eu o reverenciei novamente e fui até a Thalia.

— Vou roubá-la só um pouquinho — Falei para o rapaz que ela estava conversando.

— Não vai mesmo — Ela resmungou enquanto tentava desvencilhar seu braço da minha mão.

— Dois minutos — Resmunguei de volta.

— Eu estou no meio de algo aqui — Ela retrucou com irritação.

O rapaz que reconheci como o príncipe de Xin Wang forçou uma tosse e sorriu calorosamente para Tata. Eu sabia que eles eram amigos íntimos, mas ainda não tinha visto com meus próprios olhos como ele a estimava.

— Thalia, ajude sua amiga primeiro, estarei a esperando aqui para continuarmos nossa discussão sobre a guerra de vinte e cinco anos atrás.

— Eu não demoro, Liang.

Ele assentiu e sorriu minimamente para mim, sorri de volta e arrastei a Thalia para fora do salão. Assim que saímos a fiz me acompanhar até a sala que combinei com Simas.

— Pode ir — Falei despreocupada.

— Sério, Serena, você não é de aprontar só quando envolve o... — Ela arregalou os olhos. — Você e o meu irmão...

— Não! Vamos apenas conversar.

— Tem certeza?

— Absoluta.

— Bom, ele parece realmente apaixonadíssimo, não seja tão cruel.

— Eu nunca sou cruel — Retruquei.

— Minha mãe disse que toda mulher machucada é um pouco maldosa na hora da vingança.

Revirei os olhos. Eu não queria me vingar, apenas dar um basta no Simas.

— Ele se declarou para mim no meio de todos! Eu preciso fazê-lo parar.

— Serena, você sempre gostou dele, por que só não o aceita? — Tata perguntou confusa.

Era verdade. Simas era o meu padrão de homem, sempre foi, mas eu tinha minha dignidade. Antes eu era apenas uma pirralha o perseguindo pelo palácio, eu sequer tinha meus próprios hobbies e vontades, eu estava disposta a sacrificar meu tempo com as atividades favoritas dele, eu apenas queria que ele olhasse um pouco para mim.

Tudo o que eu ganhei em troca foi desprezo e humilhação. Ele fugia constantemente de mim e só agradecia meus presentes com murmúrios envergonhados. Simas não me valorizou antes e não iria me valorizar agora, ele estava apenas surpreso por ver que eu podia ser uma linda donzela.

— Você sabe que tenho meus motivos, você acompanhou tudo, Tata.

— Eu sei, mas... Vocês combinam.

— A vida não funciona assim, quando você crescer...

— Credo, eu já tenho dezessete anos, me dê alguma moral.

Acabei rindo. A Tata era uma jovem senhorita agora, não tínhamos uma diferença gritante de idade, mas vinte ainda era diferente de dezessete.

Pensar nisso me fazia refletir sobre mim e Simas. Ele no fim estava certo por não me dar atenção, mas ele foi cruel por saber sobre os meus sentimentos e não me enviar uma carta ou pelo menos se despedir. Ele me tratou friamente de uma forma que eu jamais iria perdoar.

— Certo, jovem senhorita, vá conversar com o seu príncipe — Eu a deixei ir. — Em breve seu irmão chega.

— Não faça nada que eu faria — Ela brincou me fazendo rir e então saiu.

Respirei fundo e sentei em um dos sofás. Aquela sala era onde minha mãe, tia Ceci e tia Julieta costumavam passar as tardes, eu tinha boas lembranças daquele lugar.

Minutos depois Simas apareceu e entrou quase silenciosamente. Ele sentou no sofá à minha frente e eu fiquei surpresa com o quão bonito ele era até mesmo na sua postura ao descansar.

— E então? — Ele perguntou. — Você não me aceita?

— Não, não aceito — Respondi. — E quero que pare de me cortejar.

— Esse é o único pedido que não posso realizar.

— Primeiro Príncipe, eu não quero criar inimizades desnecessárias, mas se eu digo que não quero que me procure, eu definitivamente não quero!

— Por que!? Serena, você realmente está jogando todo um futuro em potencial fora apenas por causa da minha rejeição no passado? — Ele perguntou surpreso. — Você era uma menina, você sabe disso agora!

— Sim, de fato, eu não o julgo, mas você não teve um pingo de remorso ou compaixão ao ir embora — Falei amargamente. — Eu chorei por meses esperando uma correspondência sua.

Simas me olhou sem graça. Pelo menos ele ainda conseguia sentir algum tipo de vergonha.

— Eu não queria magoá-la mais, eu sabia que gostava de mim de forma diferente, eu só queria que me esquecesse.

— E eu esqueci, obrigada, então por favor não me perturbe mais — Levantei pronta para sair.

Simas também levantou e segurou meu braço me impedindo de ir embora.

— Me desculpe, Serena, eu gostava muito de você, eu só não queria...

— Eu já entendi. Pare de se desculpar e se justificar achando que temos alguma possibilidade de ser um casal, pois não temos.

— Por que? — Ele perguntou frustrado.

— Quando você foi embora não perdeu só uma grande admiradora sua, mas também uma grande amiga — Respondi. — Acima de tudo, você era meu melhor amigo, todas as minhas melhores lembranças eram com você, mas você sequer pensou nisso... Por favor, se você realmente gosta de mim um pouco, me deixe em paz.

O aperto da mão do Simas em meu pulso afrouxou completamente e eu puxei meu braço. Dessa vez saí e não olhei para trás, e Simas não veio atrás de mim.

Suspirei realmente cansada, eram muitos sentimentos em apenas uma noite. Eu precisava descansar.

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