Capítulo Doze

SERENA

— Mamãe, eu tenho mesmo que ir?

— Serena, você adora ir ao palácio e agora que a Tata voltou você não quer ir? — Minha mãe perguntou confusa.

— O problema não é a Tata...

— Então tem um problema!?

Respirei fundo. Eu não queria falar sobre, até porque minha mãe adorava o Simas, quem não adorava no fim das contas... E eu não estava pronta para encará-lo na hora do almoço.

Mas infelizmente era domingo e sempre passávamos os domingos todos juntos no palácio enquanto durante a semana eu acompanhava a tia Cecília em seus comércios junto com a minha mãe, tia Julieta e Noah.

— Eu cuido disso, querida — Meu pai se moveu para o meu lado da carruagem. — Bebê do papai, me diga, quem eu e seu tio devemos matar?

— Papai! — Falei assustada. — Não é um problema desse tipo!

— Não? Ah... Você nunca reclama de nada, imaginei que fosse grave — Ele respirou aliviado. — Ainda bem que não é nada, eu não gosto de violência.

Acabei rindo um pouco, meu pai era um coronel aposentado e já tinha matado inúmeros inimigos, mas ele de fato odiava qualquer ato agressivo. Em suas histórias com o tio Tom, ele sempre tinha um papel amigável.

— Ninguém aqui vai ser violento — Minha mãe disse firmemente. — Serena, nos conte o problema.

— Não tem problema nenhum — Menti. — Eu só me sinto indisposta hoje.

— Está doente? — Meu pai perguntou preocupado. — Bia, se ela estiver doente temos que voltar imediatamente.

— Não estou doente! Eu só estou mal-humorada.

Meus pais se olharam e pude notar que eles estavam se comunicando de uma forma que eu não entendia, o que me irritou, pois eu não gostava de ser deixada de fora.

— Sobre o que estão falando? — Perguntei.

— Vai nos dizer qual é o problema? — Papai retrucou e eu o olhei com irritação o fazendo rir. — Você tem seu segredo e nós temos o nosso.

Minha mãe riu junto com meu pai. Eles adoravam me provocar. A vantagem de ser filha única era que eu era de fato mimada, mas a desvantagem era que meu pai era um brincalhão nato e não perdia a oportunidade de me incomodar. Já minha mãe sempre ria de tudo... Quando ela não era o alvo do meu pai, claro.

O restante do trajeto até o palácio meus pais foram conversando aleatoriedades e logo nosso destino chegou.

Desci apressada ao ver Tata na entrada possivelmente me esperando. Pelo menos o constrangimento em ver o Simas valeria um pouco a pena.

— Tata! — Eu a abracei apertado como se não tivéssemos nos visto na noite anterior.

— Que bom que veio, fiquei com medo que fugisse — Ela sussurrou.

Nós tínhamos conversado após eu encerrar qualquer relacionamento com Simas. Ela sabia que eu estava evitando ele agora.

— Não vou evitar a todos só por causa dele — Falei mesmo sabendo que se fosse necessário eu faria.

— É bom ouvir isso, vamos — Ela sorriu.

Tata cumprimentou meus pais e nós entramos no palácio logo indo para o salão de refeições.

Assim que entrei vi Simas sentado na mesa com a princesa Mei ao seu lado. Os dois pareciam entretidos em uma conversa.

Não pude deixar de me sentir estranha já que ele havia me cortejado tão intensamente ontem, mas tratei de ignorar esse sentimento estranho, era melhor que ele fosse atrás de outra garota.

— Senhorita Serena — Vincent levantou do seu lugar e puxou a cadeira para que eu sentasse.

Só então notei sua presença. Sorri grata e sentei mesmo sentindo alguns olhares em mim.

Agora eu estava sentada ao lado do Danton e um pouco distante do Simas, mas não o suficiente para ignorar seu olhar nada discreto.

— Faz tempo que não temos a mesa tão completa! — Tia Cecília disse contente.

— Com as crianças e o irmão mais velho e a cunhada tudo fica mais agradável — Tia Julieta sorriu.

Comecei a comer não muito interessada na conversa dos mais velhos. Tata estava distraída com o príncipe Liang e o pequeno Noah estava ao lado da tia Julieta longe demais para que me entretesse com suas perguntas infantis.

— Prima — Danton me chamou e eu o olhei surpresa. — Tudo bem que eu a chame assim?

— Sem problemas, Danton — Sorri, pois meus primos de sangue moravam longe demais para que eu tivesse contato então era bom tê-lo como parente. — Noah também me trata como prima.

— Bom, de qualquer forma seremos primos, não é? — Ele piscou.

Eu o olhei confusa, mas Danton apenas sorriu e voltou a comer. Olhei para Simas tentando descobrir se ele tinha dito algo, mas ele não estava prestando atenção em mim.

— O que quer dizer com isso? — Sussurrei.

— Fiquei sabendo por aí que você tem dois admiradores e dois deles são meus primos — Danton sussurrou de volta.

— Danton, você só tem dois primos solteiros que eu conheço — Falei horrorizada.

— Eu sei — Ele sorriu sugestivo. — Na verdade, eu não tinha certeza dessa fofoca, mas você acabou de confirmar, obrigado.

Danton no fim continuava a mesma peste de antes. Mas agora eu já havia revelado demais, porém ele também tinha me afirmado algo... Vincent estava interessado em mim.

Olhei discretamente para Vincent e desviei o olhar ao notar que ele me observava.

— Serena — Escutei minha mãe dizer chamando minha atenção.

Só então entendi porque Vincent estava me olhando, todos estavam fazendo o mesmo que ele, pois estavam falando comigo.

Danton estava segurando o riso e eu queria matá-lo por me deixar paranóica dessa forma.

— Disse algo mãe? Eu estava distraída com as sábias palavras do Danton — Sorri para o meu mais novo primo.

— Seu padrinho Thomas estava falando com você.

— É só uma pergunta boba — Tio Thomas esclareceu sorrindo. — Perguntei se já tem algum pretendente em mente.

Novamente todos olharam para mim em expectativa. Meu rosto corou quando cometi o erro de olhar para Simas.

— Não — Olhei para o tio Tom. — Não tenho nenhum.

— Os rapazes são muito desinteressantes realmente — Tia Julieta comentou. — É uma pena que Danton ainda não tenha um cargo no exército, senão dariam um belo casal.

Danton se engasgou no mesmo instante e eu agradeci por não estar comendo nem bebendo nada naquele momento, senão não estaria melhor.

— Mãe! Eu acabei de fazer um juramento de primo aqui — Ele se defendeu após se acalmar. — Não temos esse tipo de relacionamento.

— Que bom — O rei Adam disse de repente e todos olharam para ele. — Quero dizer que na minha opinião, a senhorita Serena não combina com você.

— E combina com quem? Vincent? — Tio Tom riu com sarcasmo.

— Eu acho eles um belo casal — Rainha Malena interveio.

— Eles não tem muito contato, a Serena é muito doce precisa de alguém que a conheça — Tia Ceci opinou. — Veja o Simas, eles são perfeitos um para o outro.

— Por que ninguém está me consultando sobre isso? É a minha filha — Mamãe disse revoltada.

— Então escolha! — Eles disseram em uníssono.

— Minha escolha é a escolha da minha menina — Minha mãe sorriu para mim.

Fiquei nervosa com todos esperando que eu escolhesse entre Simas, Vincent e Danton. Eles estavam loucos em abordar um assunto desses em um almoço de família!?

— Ela não vai casar com ninguém! — Noah ficou de pé em sua cadeira. — Quem tirar minha prima de mim pode se considerar morrido!

Tia Julieta e tio Joshua o olharam apavorados até que alguns começaram a rir pela intervenção repentina e o erro gramatical do pequeno Noah.

— Certo, certo, ninguém vai tirar sua prima de você — Tio Tom riu. — Acho que isso encerra esse assunto.

Respirei aliviada. Era bom ter o Noah como aliado.

— Prima, só entre nós, Simas ou Vincent? — Danton sussurrou.

— Repita isso e eu ficarei agressiva — Apontei discretamente meu garfo para ele.

Danton riu e parou de me perturbar. Essa tinha sido de fato por pouco.

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