Capítulo Dezesseis

SIMAS

— Aí está você — Escutei minha mãe entrar no escritório do meu pai.

Meu pai sorriu como se não a visse há meses. Eu apenas os olhei com tédio, eu os invejava um pouco, mas também me sentia desrespeitado, como eles podiam ser tão carinhosos na frente do próprio filho?

— Meu amor precisa de mim? — Ele levantou indo até minha mãe.

— De você? Em outro momento talvez — Minha mãe o olhou de cima a baixo.

— Eu estou aqui — Eu os lembrei com repulsa.

— É você quem eu estou procurando, meu filho — Minha mãe sorriu e veio até mim. Ela passou a mão no meu cabelo. — O que acha de ajudar sua amada mãe um pouco?

— Chame o pai, ele adora ajudá-la — Falei e voltei a ler o livro de contabilidade do reino.

Minha mãe me bateu e eu a olhei com surpresa. O que eu tinha feito agora!?

— Minha futura nora está fora dessa sala nos esperando — Minha mãe sorriu com irritação. — Ou você vem comigo ou você vem comigo, eu não estou aceitando um não.

— Adoraria ajudar a minha amada mãe — Sorri animado e levantei logo largando o livro de contabilidade na mesa.

— Ótimo, vão se divertir sem mim — Meu pai reclamou. — Pelo menos seja bem-sucedido nos seus objetivos, Simas.

— Pode deixar, pai.

Minha mãe sorriu e se despediu do meu pai. Eu fui na frente ansioso para ver a bela Serena novamente. Desde que a reencontrei desejava vê-la a cada minuto.

— Tia Ceci... — O sorriso da Serena morreu ao me ver sair da sala e ela se virou ficando de costas para mim.

— Bom dia, senhorita Serena — Fui para frente dela e estendi minha mão.

Minha mãe apareceu e olhou para nós dois. Serena respirou fundo e foi obrigada a me dar sua mão para manter as aparências.

Beijei sua mão protegida por uma luva de tecido macio e ela puxou sua mão rapidamente.

— Tia, não sabia que o... Simas viria — Serena sorriu forçado.

Estranhei ela me chamar de Simas após ser tão determinada em manter distância dos tratamentos informais.

— Precisamos de alguém forte para pôr para trabalhar — Minha mãe brincou e colocou a mão da Serena no meu braço. — Melhor assim.

— Tia...

— Serena, não seja tímida, o Simas foi criado com você! — Ela sorriu e eu notei maldade em sua expressão. Minha mãe era terrível quando queria algo. — São como irmãos então por que constrangimentos, não é mesmo?

Serena assentiu sorrindo e segurou meu braço com mais força me fazendo sorrir. Então ela precisava ser gentil comigo na frente dos meus pais. Isso seria interessante.

— Mas e quanto a senhora, tia? Não pode andar desacompanhada — Serena continuou tentando se afastar de mim.

— Eu sou a rainha, uma senhora casada, não há nada demais em andar desacompanhada — Minha mãe acenou como se isso fosse sem importância. — Simas cuidará de você que é uma senhorita bela demais para ficar sozinha por aí.

— Mas eu sempre...

— Serena, não discuta, é um pedido da sua mãe.

Serena finalmente desistiu após ouvir a palavra "mãe". Observei que sua mãe também era uma das apoiadoras do nosso possível casamento.

Minha mãe foi andando mais à frente nos dando privacidade. Serena tentou acompanhá-la, mas eu fiz questão de desacelerar o passo.

Ela me olhou com irritação e eu sorri gentilmente. Meu sorriso morreu quando ela beliscou com força meu braço e ela sorriu vitoriosa.

— Está mais agressiva, Serena — Murmurei.

— Só com quem merece — Ela respondeu no mesmo tom.

Pelo bem da minha pele, não a provoquei mais e passamos a acompanhar minha mãe.

Quando chegamos nos estábulos para buscar a carruagem, notei que ela não estava no lugar habitual.

— Não acredito — Minha mãe disse com uma surpresa exagerada.

— O que houve, tia? — Serena soltou meu braço e foi para perto da minha mãe.

— Todas as carruagens estão sendo usadas... Eu ainda mato o Thomas, francamente — Minha mãe reclamou.

Olhei incrédulo para a minha mãe. Ela não achava que a Serena cairia numa história dessas, certo? Minha mãe era a rainha de Fasnar, como ela não teria uma simples carruagem?

— Devemos ir mais tarde? Ou então eu peço para que alguém busque uma carruagem na minha casa? — Serena ofereceu preocupada.

— Não, isso vai demorar e arruinar tudo — Minha mãe disse tristemente. — E agora? Eu anunciei que abriria a loja hoje, estão todos esperando...

— Eu vou a cavalo e a senhora me encontra depois, o que acha? — Serena se ofereceu.

Imediatamente minha mãe mudou de postura e sorriu radiante. Fiquei um pouco assustado, pois ela estava quase em lágrimas há poucos segundos.

— Acho ótimo! Simas, leve a Serena para a loja, ela sabe o caminho — Minha mãe ordenou.

— Não, eu posso chamar a Tata e...

— Ela está ocupada treinando, é melhor não incomodá-la, o Simas a leva com prazer.

— Eu a levo, Serena, não se preocupe — Garanti sorrindo.

— Obrigada então, Simas — Serena me deu um olhar assustador e então sorriu gentilmente para minha mãe. — Tia, a senhora pode entrar e descansar um pouco antes das carruagens voltarem.

— Vou esperar saírem — Minha mãe colocou as mãos na cintura. — Vão logo senão vão atrasar.

Serena se virou para mim e eu quase podia ouvir sua mente gritando inúmeros xingamentos contra a minha pessoa.

Minha mãe ficou me olhando com irritação até eu lembrar que eu deveria buscar o cavalo.

— Um segundo — Falei sem graça e fui buscar um cavalo.

Assim que voltei, Serena suspirou e foi na minha direção logo estendendo a mão para mim.

Eu a ajudei a subir ou tentei já que ela não fazia ideia de como subir sozinha.

— Ajude ela direito, Simas! — Minha mãe me repreendeu.

— Com licença — Pedi.

Serena me olhou em ameaça, mas eu não sabia ajudá-la de outra forma, por isso a ignorei e segurei firme em sua cintura.

Senti o aroma do seu cabelo preso com alguns enfeites brilhantes e desejei deitar meu rosto nele para sentir a maciez que com certeza existia.

— Simas, você vai me ajudar ou não? — Serena perguntou parecendo envergonhada.

— Sim, claro — Respondi sentindo meu rosto esquentar.

Apesar de eu estar tão atrapalhado quanto ela, fomos bem sucedidos e logo ela estava em cima do cavalo em segurança.

Eu sentia minhas mãos queimarem após tocar seu corpo por tanto tempo. Porém, todo o encanto foi quebrado quando minha mãe deu um tapa nas minhas costas.

— Muito bem, Simas, continue fingindo ser tímido, derrete qualquer garota — Ela sussurrou e então olhou para Serena que nos observava com curiosidade. — Estou indo! Cuidem de tudo por mim!

Minha mãe saiu andando como se não tivesse acabado de me dar táticas de conquista.

— O senhor pode subir logo? Eu tenho medo de cair — Serena voltou a me tratar formalmente.

Eu desejei tanto ficar perto dela, mas agora que isso estava acontecendo me sentia ansioso. Mas não podia deixar minha timidez surgir justamente agora.

— Parece que deseja ficar perto de mim, Serena — Tentei aliviar minha tensão.

— Sobe logo — Ela se irritou.

Subi no cavalo e senti todo o corpo da Serena se encaixar no meu. Passei meu braço pela cintura dela e a senti respirar fundo possivelmente por estar brava.

Antes que a situação ficasse mais constrangedora, fiz o cavalo começar o trajeto para fora do palácio.

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