XVI.

“A vida só existe porquê tudo precisa de um início para enfim, chegar ao fim.” — Alice Cardoso (Verdades não ditas)

Capítulo dezesseis: o passado lhes condena.

— Com sua licença — Nam se retira da mesa e vai realizar uma ligação longe dos olhos e ouvidos curiosos.

Alice o observa se afastar e então volta sua atenção para os convidados. Sua maioria são homens e alguns de idade até, eles riem provavelmente contando histórias de sua estádia no hotel e no quão maravilhoso ele é afinal, é realmente esplendoroso. Alguns minutos se passam e o garçom não serve o jantar, já impaciente Alice começa a olhar para os lados ansiosa pensando se Namjoon foi embora e lhe deixou sozinha. A hipótese lhe desanima e fica amuada olhando para baixo criando diversas hipóteses do que pode ter acontecido ao seu companheiro desta noite, e percebe também que precisa fazer as unhas com urgência.

— Você fica mais bonita sorrindo — sua face aparece de repente ao lado da dela lhe assustando de modo que se vire para o olhar e seus rostos fiquem próximos.

— Que susto — ri abaixando a cabeça.

— Essa era a intenção, já já vão nos servir — se senta na cadeira diante dela.

— Então... Sobre a história que você estava contando — demonstra interesse na continuidade da declaração e Namjoon tenta se lembrar a onde parou.

— Ah, sim. Depois que minha mãe faleceu meu pai nunca mais foi o mesmo principalmente comigo, eu tinha 5 ou 4 anos na época em que aconteceu mas me lembro perfeitamente de como foi. Ele era bastante calmo e se tornou agressivo e violento... Prefiro não lhe dar detalhes pra' não tirar nossos apetite mas eram punições intensas... — Vai diminuindo o tom de voz de acordo com as revelações deixando uma Alice preocupada — meu pai começou a me treinar para os “negócios” que ele estava trabalhando. Ele decidiu que iria começar um império tão poderoso capaz de conseguir matar o assassino da esposa — novamente, ele interrompe suas falas vendo um garçom ruivo familiar se aproximar.

O funcionário serve hábil e preciso cada prato deixando a anfitriã fascinada com tamanha aptidão no trabalho. Ele deseja para ambos bom apetite e se retira levando a bandeja de prata grande e redonda consigo.

— Meu pai começou do zero atuando na Máfia Russa e preciso dizer eles são muito intensos e bárbaros. Não é cruel nem maligno mas bárbaros, a partir daqui que a coisa se intensifica já que meu pai em suas plenissímas faculdades mentais me levou junto para ser treinado pelo líder dos soldados — diz optando em começar pelo vinho o abrindo com um saca rolha, ao abrir sente o doce aroma no ar e sorrio declarando suas últimas palavras.

Alice estava pondo a comida em seu prato cuidadosamente e decorando com certo perfeccionismo não deixando de ouvir Namjoon, quando este menciona a máfia Rússia ela não pôde deixar de olhar para ele com medo. A altura já sabe que está em território perigoso com minas terrestres no entanto, não imaginava que além disto estava cheio de arames farpados apronfundados no solo apenas esperando o momento certo para lhe perfurarem.

— Já ouvi coisas traumáticas sobre lá — diz desconfortável relembrando do documentário que viu sobre a criminalidade do país e seus métodos obscuros de tortura fossem ilegais ou não.

— A maioria são reais. Enfim, sei falar cinco idiomas incluindo o Russo, sei quatro tipos de artes marciais inclusive manusear armas de pequeno e grande porte... Ao menos ser açoitado e quase afogado em água fervente tinha de servir de alguma coisa

— Cala boca eles são uns cuzões — diz inconformada soltando o garfo e faca de pratas — mano que fodido eles fazerem isso com você, você era só uma criança — apoia o cotovelo na mesa e a mão no rosto suspirando frustada.

— Eu sei, eu sei... Mas é melhor olhar pelo lado bom do que só pensar no ruim. Enfim, meu pai foi subindo de cargo até chegar no de conselheiro atingindo o máximo de respeito de todos os na época 377 membros tirando os internacionais. Ele era o foda pra geral sabe? Nessa época eu já tinha meus 18... Espera, agora que eu percebi que simplesmente estou contando minha vida inteira pra umas desconhecida — ele estava também pondo sua comida se preparando para dar uma boa garfada quando caiu em si e afastou o talher olhando para Alice que sorriu com os lábios devido a boca cheia.

— Eu também fiquei assim — diz após engolir parte do jantar — é estranho mas eu sinto que posso... Isso vai parecer tão brega, então vou mudar: ser aberta e sincera com você. É isso — diz simplória voltando a se deliciar da comida.

— Digo o mesmo... Mas eu posso confiar em você, acho difícil não acreditar em alguém que surta por qualquer coisa e tem manias engraçadas — diz por fim pondo uma garfada de Tikka Masala com os acompanhamentos na boca.

— Ei! — Ela cobre a boca com uma mão — deixe eu e minhas manias em paz — vira o rosto empinando o nariz o olhando de soslaio.

— Daí no dia do meu aniversário quando todos estavam reunidos para comemorar, ao menos aniversários eram comemorados... Meu pai matou o fulano de tal (não posso citar nomes) enquanto ele dormia e fugiu. Horas depois quando descobriram eu fui para a passagem secreta que ele me mandou seguir (afinal eu já sabia da tramóia toda) e fugimos juntos. Linda história não?

— Você cortou maior parte dos fatos, sem graça

— Informações confidências. Mas no geral foi isso, viemos para essa cidadezinha e construímos um império do 0 onde eu agora sou o chefe mas muitos acham serem outra pessoa — diz olhando ao redor reconhecendo alguns seguranças infiltrados como convidados.

— Muito esperto — diz pegando a taça de bojo pequeno própria para esse tipo de bebida.

O jantar progride de maneira agradável, ambos conversam sobre suas vidas e Alice evita perguntas muito invasivas não querendo estragar a noite com seus monólogos profundos. Ambos estão agora observando a pista de dança afinal, começou a tocar uma música típica para valsa e muitos casais estão indo para o meio da pista para dançarem. O casal de idosos quem Alice viu mais cedo já estão agora abraçados num canto vendo os mais jovens dançarem, Namjoon segue o olhar de Alice e vê quem ela olhava esboçando um sorriso; eles lhe lembram como seus pais eram, antes de tudo acontecer.

Olhando para a convidada, ele pensa se deve lhe chamar para dançar mas é chamado a atenção por um de seus seguranças infiltrados que gostariam de falar consigo, no entanto Namjoon fica indeciso pois sabe que se não for agora perderá a oportunidade mas caso não vá ter com o funcionário pode acontecer uma tragédia se ele for lhe alertar de algo. Está indeciso.

— Estão te chamando Namjoon — Hoseok se aproxima da mesa com uma cadeira e se senta do lado esquerdo — vai lá.

— O que está fazendo aqui? — Indaga se levantando.

— Nunca sai. O que seria de você sem mim não é mesmo? Vai lá — diz dando seu melhor sorriso e Namjoon suspira.

— Eu já volto — avisa para Alice que olhava o decorrer da situação confusa.

Ela apenas acena e segue olhando para a pista de dança, em seguida, vê Namjoon passando e indo falar com um homem que chama atenção de Alice pelos trajes que usa e a intimidade com que se falam.

— Quer dançar? — Hoseok pergunta após tomar uma taça do vinho.

— Eu não sei dançar, a verdade é que eu sou terrível dançando — diz constrangida mantendo o sorriso enquanto o olha — aliás, você está elegantíssimo fiufiu — ri — desculpe, mas é sério está muito bonito

— Obrigado, vou me achar pelo resto da noite — dá um sorriso maroto mexendo no cabelo perfeitamente arrumado — Ah, não faz mal! Eu te ensino vem — se levanta empolgado — já fui dançarino profissional e não perdi a manha.

— Se eu pisar no seu pé não pode brigar comigo. E se eu cair não pode rir, aí de você que ria — diz num tom de  diversão se levantando.

— Juro juradinho — estende a mão para ela que aceita de bom grado.

Ele como um cavalheiro lhe conduz para o centro da pista segurando sua mão, fica de frente para a mesma e se reverência, Alice sem saber como reagir imita ele fingindo estar com um vestido apropriado pegando nas pontas, ao reparar ele ri. Com uma mão na cintura e a outra segurando sua mão Hoseok vai dizendo para que lado ir enquanto a conduz gerando muitos risos entre os dois pelos erros cometidos por ela. É bem desengonçada. Iniciando pra valer a dança ele conduz lentamente para que ela se acostume e então a medida que a música segue vai pegando o jeito.

— Olha! Eu tô dançando! Meu deus, eu sei dançar valsa — sorri de orelha a orelha olhando a maneira como seus pés se movem.

— Você é adorável — ele ri e a medida que cessa vai assumindo uma face pouco séria — Alice você já deve ter percebido que o Namjoon tá... Envolvido com umas paradas

Começa o assunto delicado que tanto queria tocar e chama a atenção da mestiça que o olha com seus olhos grandes de curiosidade, Hoseok quando vê o brilho do seu olhar chega a “recuar um passo” para o que quer falar mas decide ser franco.

— Eu gostei de você. Sinto que você serve para meu primo e que ele está muito na sua então por favor, faça ele feliz, ele já passou por tanta merda nessa vida que não consigo nem imaginar ele sofrendo denovo... — Lembranças vem a mente do parente de Namjoon que suspira nostálgico — Joonie tá metido em coisa braba então tome cuidado, não vou dizer que você deve se afastar isso é escolha sua. Mas quero que saiba para ter cuidado e se for pra ser não seja metade, seja inteira e intensa — a gira com um sorriso encantador fazendo-a sorrir de volta.

— Obrigada pelos conselhos. Vou me lembrar de todos... Por enquanto não temos nada e não sei se quero ir adiante para ser franca... Mas o que for pra ser será né? — Se sentindo segura o suficiente, ela o gira com uma mão e ele ri.

Ambos dançam uma valsa movimentada cheia de conversa risos e passos sincronizados. Após a música encerrar, todos se aplaudem e vão para seus lugares.

— Isso foi muito divertido — diz aos risos se sentando — que legal você ter um cachorrinho.

— O nome dele é Mickey, aqui as fotos — diz pegando o celular para mostrar.

— Que bonitinho ele! Uma fofura — observa o animalzinho encantada.

— Ele é meu amorzinho — diz com a voz fina e Alice é obrigada a segurar seu riso com todas as suas forças para não ofende-lo.

— Voltei — se senta de frente para Alice.

— O que é... Esse corte? — Aponta vendo um corte fino saindo sangue na bochecha dele.

— Onde? — Ele sai tocando o rosto não encontrando.

Hoseok o olha procurando algum sinal e Namjoon faz expressões faciais que Jung presume o que deve ter acontecido. Ele lhe estende o guardanapo e limpa a bochecha do amigo em silêncio.

— Obrigado, não foi nada demais apenas um imprevisto — murmura o final.

Um dos vinte garçom ali presente serve a sobremesa na mesa em que ambos estão.

— Já vou indo, apenas passei para ver se estava tudo bem. Irei voltar para meu posto — guarda o guardanapo sujo no bolso e se levanta.

— Alice foi um prazer conhecê-la, até breve — Hoseok vai até ela pegando sua mão e deposita um beijo nas costas dela.

Namjoon pigarreia olhando-o com um olhar sombrio então, o moreno se afasta sorrindo sem jeito e Alice pisca várias vezes de olha de cara feia para Namjoon.

— Pare com isso ele é bonzinho — diz fazendo cafuné em Hoseok que sorri orgulhoso.

— Adorei ela — diz se afastando indo embora sorrindo.

— Gostei do Hoseok — diz pegando uma colher de sobremesa para dar uma colherada na sobremesa gelatinosa com calda de morango.

— Percebi — diz ranzinza após já ter acabado de comer a sobremesa.

Alice nota seu tom amargurado e o olha vendo seu olhar escurecido de raiva. Ela sorri como uma dissimulada.

— Está com ciúmes? — Limpa os lábios com um guardanapo o olhando fazer cara feia.

Ele fica em silêncio olhando para o nada fazendo-a rir de como está sendo infantil e bobo.

— Tá com ciúmes, tá com ciúmes — cantarola calando-se com o doce na boca mantendo o sorriso labial.

— Já acabou? — Tenta mudar de assunto enquanto lhe encara.

— Uhum, ciumento — diz passando a língua no lábio inferior para limpar o resquício de geleia de morango que havia.

— Não faça isso também — alerta com aquele mesmo olhar sombrio e ela lhe olha confusa.

— O que há? Daqui a pouco não vou poder respirar mais — faz cara feia formando o ingênuo biquinho.

Namjoon se levanta sem dizer nada e vai até ela lhe estendendo sua mão, ela aceita mantendo a cara feia e se levanta ficando próxima dele, Nam lhe entrega seu celular e ela abre um sorrisão o deixando sem jeito desviando o olhar.

— Obrigado por devolver o que é meu — diminui o sorriso fazendo uma careta.

Ela dá uma rápida olhada no celular e não há nada de realmente importante. Nada se não um aviso do seu jogo de que foi atacada, ela faz cara feia para a notificação e apaga desligando o celular o pondo dentro da bolsa.

— Quero te mostrar um lugar — sai andando esperando que ela lhe siga e assim ela faz.

Namjoon lhe encaminha para longe da multidão e dos olhares curiosos indo para frente do elevador, quando ele abre lá está o funcionário e ao perceber Namjoon revira os olhos mal-humorado. Ambos trocam olhares e Alice da de ombros entrando no cubículo metálico.

— Maldito — murmura já ao lado de Alice que lhe dá um leve cotovelada.

O funcionário aperta no botão solicitado e ambos chegam após mais de cinco minutos na cobertura do edifício. Namjoon lhe paga sua gorjeta e sai do cômodo ambulante sendo seguido por Alice.

— Quando eu sinto que tudo está uma grande merda da qual não consigo escapar, é para cá que eu fujo — ele vai até a parede média de vidro dum tamanho proporcional que impeça alguém de cair acidentalmente.

Se apoiando na linha grosseira de cerâmica preta, ele encara a bela visão panorâmica, em seguida, Alice se junta a ele e fica sem palavras para descrever a beleza da vista que aquele edifício pode proporcionar. Saio centenas de edifícios e veículos bem posicionados de maneira harmônica e proporcional. Daquela visão e somente dali é possível ver como a cidade em que mora é bonita e metropolitana.

— Ali — ele aponta com o queixo e ela olha na direção.

— Que lindo, pra quem será? — pergunta curiosa imaginando quem teria feito tamanha façanha para declarar seu amor.

Namjoon fica em silêncio lhe encarando até que ela junta as peças e faz “Gasp!”.

— Você? — O olha incrédula alternando o olhar entre o coração e ele.

Ele apenas dá uma boa e alta gargalhada apoiando o cotovelo no murinho e a mão no rosto.

— Você é tão lerdinha — diz a fazendo se inflar inteira tendo as bochechas cheias por estar emburrada — e uma ranzinza, quem é ranzinza agora? — Estica o braço por ela estar perto para pegar sua bochecha e apertar.

— Você é um filha da mãe — balbucia devido aos seus movimentos constantes sobre sua bochecha.

Ele para mantendo o sorriso e volta o olhar para o coração assim como Alice e ambos observam-o mudar de cor.

— Se isso não fosse tão bonito acho que aproveitaria a oportunidade para me jogar — murmura apoiando a cabeça no ombro de Kim olhando para o horizonte.

Namjoon fica sem saber o que dizer e apenas suspira querendo fazer muito não podendo e dizer muito mas não sabendo como.

As vezes, ficar em silêncio é o melhor que se pode dizer.

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