VI

"O meu coração quando foi partido

Ficou em frangalhos

Então, pisado

Até mesmo moído

E por fim Triturado, nunca mais bateu como batia, por ele". - Alice Cardoso (lamentações e choros de uma degenerada)

Capítulo seis: onde está meu coração?

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- Por que você está tremendo tanto? - observa as palmas e os cós das mãos dela.

Ela lhe toma as mãos e abaixa a cabeça se reprimindo mentalmente.

- Não é nada, eu consigo assinar - teima, pega a caneta e assina com pressa num silêncio eterno - aqui está - estende de cara fechada para o homem.

- Hum! - ele pega a prancheta e se levanta analisando a escrita - possui uma caligrafia bonita, aliás. Enfim, é de fato sua assinatura - diz comparando a da mesma com a que possui num papel.

Definitivamente, deve manter distância, Alice afirma mentalmente. Ela lhe observa curiosa, ele anda pelo cômodo como se esperasse por algo, ou melhor, alguém.

- Me desculpe o atrasado - um homem pouco menor que o que já está no cômodo adentra pela porta que Alice não havia reparado até ouvir seu som.

Não se atreve a olhar. Está de costas para a porta em questão e apenas escuta os passos e as vozes. Decide ajeitar seu coque e se atrapalha devido ao tamanho exagerado de suas madeixas.

- É ela? - diz em surdina entregando um envelope a Kim.

Ele contrai o maxilar desgostoso da intromissão do amigo, lhe toma o envelope; analisa, assina e entrega o papel assinado pela melânica ao mesmo com uma cara de poucos amigos.

- Deixa eu ver os olhos dela, por favor - pede com olhar de um cachorro pidão recebendo um olhar mortificante do mais velho de volta.

- Jung não seja estúpido. Mantenha sua identidade e descrição... Hoseok! - Esbraveja vendo que ele lhe ignorou e agora está ajoelhado em frente da raptada.

- Escute, não dê ouvidos a ele, ele é um ranzinza. Por sinal, você é muito bonita! Adorei os seus olhos - diz encantado tomando as mãos da mesma para si lhe olhando nos olhos.

Alice fica espantada! E admirada, não esperava esse tratamento dado às circunstâncias, gagueja um obrigado.

- Eu te conheço? - Se ele lhe trata com tanta familiaridade, deve ser conhecido.

- Eu estava ontem, quando seu amigo... Passou mal, enfim. - muda de assunto vendo a desolação que aparenta na face dela - não nos conhecemos. Mas eu gostaria! Admiro-te, você é muito corajosa Alice.

Ele diz sinceramente, e honestamente. Alice pisca entreabrindo os lábios, seus olhos são tomados por água. Está comovida com tal declaração que nunca lhe foi dada.

- Obrigada... - sorri fazendo-lhe copiar o gesto encantado.

- Parem de se arrastarem asa! Hoseok, para fora - se aproxima dele lhe pegando pelo colarinho - está vendo, tive de lhe chamar pelo nome. Maldição, nós colocámos de novo em perigo... O que faço com você em?

Jung Hoseok. Ela memoriza o nome do moreno estranho. Fica sem graça com a breve discussão de ambos e decide se calar. Hoseok tenta se explicar em vão e então é chutado para fora do cômodo, dando uma última olhada para a porta pouco antes de ser fechada.

- Grosso! - resmunga formando nos lábios um bico.

Jung se encaminha para a falsa saída da casa abandonada. O quarto em si é apenas um cômodo recriado aos gostos de Kim, que solicitou privacidade; longe de toda e qualquer civilização, tendo apenas um carro a sua espera.

Kim volta para frente de Alice e lhe encara com raiva, está transtornado.

- Você não ouviu e nem viu nada, está me entendendo? - se aproxima intimidado deixando ambos rostos próximos.

- Sim. - gagueja abaixando o olhar sendo obrigada por ele a lhe olhar nos olhos.

Ele com uma mão lhe força a encarar no fundo, de seus olhos. "Ele é louco."

- Não ouviu e nem viu. - siliba soltando o rosto dela devagar e com cuidado.

Ele se afasta soltando o ar que pelo visto prendia em seus pulmões.

- Te segurei por tempo demais... Você começa em uma semana, esteja em frente de sua porta às 18:30, em ponto, não tolero atrasos. Feche os olhos - ordena e ela obedece sem exitar.

Já mais calmo, ele pega um pedaço de pano preto retangular comprido, que guardava sobre a cama e fica detrás de Lice. Envolve sua visão com o tecido, faz um nó que não possa lhe machucar ficando de frente para ela tocando seu rosto. Ela reage se afastando sentindo um arrepio pela região tocada, como se seu toque lhe ferisse.

- Respire fundo - pega um pano do bolso e põe sobre a narina e a boca dela. O pano umedecido logo faz seu efeito e Alice perde a consciência caindo para o lado esquerdo sendo brevemente, segurada por Kim.

Já esperando está reação, lhe toma nos braços e sai com ela no colo para fora do cômodo rumo a cidade.

1 semana, se passou. Durante esse período, Alice se preparou física e psicologicamente para o emprego que foi designada (se não, obrigada) a fazer. Publicou sua biografia; que para seu alívio, fez sucesso. Edward segue internado em estado grave e agora duas despesas hospitalares são pagas pela mãe que vive noite e dia no quarto do filho, rezando, pela sua cura.

Alice não pode se dar o mesmo luxo. Agora não pensa só por si, mas pela sua sobrinha: leva ela para a escola, dá o almoço, lanche, café... Apoio como responsável... Dentre outras obrigatoriedades. Com a rotina agitada já não sai mais pela noite em busca de algo para suprir suas dores e angústia, se mantém intocada em casa virando noites e mais noites escrevendo. Apenas, escrevendo. Abusando de livros como se não houvesse um amanhã e quando ele chega, logo uma angústia lhe toma.

A vida nos livros é tão mágica que ao terminar algum ou ser obrigada pela rotina a parar é tomada por uma tristeza incompreensível a olho nu.

Enfim, são 18:25, Lice se encara no espelho do quarto. Está pálida, magra, trajada com um uniforme calçando um par de meias brancas e coturnos pretos. Sorri para si mesma se achando bonita e dá uma voltinha diante do espelho.

Amélia entra no quarto hipnotizada no livro e ao erguer o olhar fica tão surpresa que seu queixo simplesmente cai.

- Tia! Você está tão linda - larga o livro e vai até a mais velha que ri - quero um trabalho desse quando crescer!

- Ah! Você não quer não - adverte a menor que forma um bico muito fofo nos lábios, por sinal - é um trabalho que não tenho retorno financeiro. Estou quitando uma dívida, não é divertido.

Diz amarga abaixando o olhar encontrando os brilhantes da garotinha. Afim de descontrair, lhe pega no colo enchendo a pequena de beijos.

- Você é inteligente! Vai conseguir conquistar todos os seus sonhos. Sobre o que aquele garoto disse... Você é a bruxa que não conseguiram queimar. Pense nisso - põe a garotinha no colo.

- Como assim? Ah, titia! Assim vou querer ler tudo sobre não faça isto... Mal acabei os três mosqueteiros - se lamenta indo atrás da mais velha que pega sua bolsa e segue em direção a saída.

- Melissa está chegando para tomar conta de você, se comporte mocinha - ela para de andar e se ajoelha ficando de frente para a menina - eu te amo. Amo-te muito - deposita um selar em ambas bochechas da garota que sorri.

- Também te amo! Muitãoo - abraça a tutora rindo e lhe dando vários beijos - não chegue tarde! E se cuide - diz séria encarando a mais velha.

- Prometo tentar chegar o mais cedo possível - estende o mindinho para a garotinha que entrelaça o seu.

Alice se levanta reclamando de dores nos joelhos ajeitando a bolsa sobre o ombro. Destranca a porta e pondo somente um pé para fora de casa, olha para trás, olha para sua menininha; despensa os pensamentos ruins, e acena para ela saindo do lar. Olhando em volta da vizinhança, ela está pouco movimentada, mas ainda há crianças correndo, senhores de idade passeando e o principal: um carro preto vindo na direção da porta de Alice.

Melissa vinha correndo na direção da mesma e lhe abraça assombrando a mestiça. Sim, mestiça. A princípio, Alice é filha de mãe branca e pai negro, este que, foi morto durante a marcha em busca dos direitos trabalhistas; baleado por militar, segredo de estado, sem culpados.

- Que bom que cheguei a tempo! Aqui, qualquer coisa borrife na cara do infeliz - entrega um pequeno frasco borrifador que Lice logo presume ser o spray de pimenta que tanto falava durante a ligação que fizeram na tarde de hoje.

- Obrigada, por cuidar de nós duas - agradece sinceramente pondo o item na bolsa em local de fácil acesso.

- Obrigada por existir - deixa um beijinho na testa de Alice por ela ser menor que ela, e se encaminha para dentro da casa tendo uma cópia da chave principal consigo.

Se virando para a rua, se depara com um carro (Audi R8 V8) preto encaminhando seus pensamentos para o famoso livro erótico Cinquenta tons de cinza. Lembranças quentes são culpadas pelo sorriso maroto que Alice possui.

Um homem de ombros largos, lábios carnudos e óculos escuros (apesar de ser noite) sai do veículo. Ele está trajado formalmente e não esboça emoção alguma.

- Boa noite senhorita. Sou Kim Seokjin é ficarei responsável pela sua segurança e transporte durante seu período de serviços na Afrodite. Pode contar comigo para qualquer coisa - faz uma exagerada reverência e se encaminha para abrir a porta do passageiro.

- Obrigada - sorri genuína entrando no veículo e se sentando perto da janela.

- Com sua licença - fecha a porta com a força necessária e se encaminha para o banco do motorista, onde também fecha a porta na mesma medida e vira a chave do automóvel.

Ele muda a marcha, faz as manobras necessárias e sai pela mesma estrada que veio.

- Está com frio ou calor? - questiona ajeitando o retrovisor para ter uma clara visão dela.

- Não senhor. Obrigada - diz calmamente mesmo consumida por ansiedade interna. Se põe próxima da janela observando a bonita vista do luar. A lua segue minguante e tão bela quanto é inteira.

O caminho é rápido e silencioso, o motorista estaciona numa vaga específica do estacionamento do imóvel que Alice nunca teve oportunidade de conhecer (ou saber da sua existência). A protagonista fica imóvel até que ele mesmo como havia pedido, possa abrir a porta para ela e lhe ajuda a sair, e ao fazer lhe guia para dentro da boate que é muito maior do que se recorda. Quando Jin abre a porta já acostumado com as luzes, ela, no entanto tem sua visão ofuscada pelas luzes coloridas e brilhantes de led.

- Está tudo bem, você se acostuma - gesticula para que ela entre obediente, assim faz.

Seok encaminha Alice segurando-lhe a mão até a ala das funcionárias e abre a porta para que ela entre.

- Como você já está vestida... Apenas te apresento onde pode se trocar - encara a nega cacheada apenas olhar ao redor e curiosa as pessoas não movendo um único passo - não quer... Entrar?

- Ah! não. Eu... Não quero atrapalhar - diz vendo que chamou atenção das dançarinas e outras funcionárias logo recuando poucos passos.

Enquanto anda de costas, mesmo que poucos passos acabam trombando em alguém, mesmo que Seokjin tenha sido mais rápido e intervido, não conseguiu impedir que a mesma batesse suas costas no peitoral de alguém.

- Perdão - diz se virando e se surpreende, o ar lhe foge os pulmões e seus lábios rosados ficam entreabertos — você? — balbucia.

- Você? - o homem semicerra as pálpebras incrédulo com a figura feminina que está em sua frente.

- Por favor, se afaste. Funcionária da casa - diz se pondo no meio dos dois estendendo o braço protegendo Alice de qualquer ato do desconhecido.

O homem beberica a vodka do copo de cristal que tem na mão de uma vez só enquanto a encara. "De todas as pessoas, não! De todo e qualquer ser humano do passado que poderia me assombrar tinha de ser ele? Logo ele!" pensa em desespero sentindo a ansiedade se fazer novamente sua companheira.

- Isso vai ser divertido - o homem de lábios cupido, traços de um sulista asiático, voz grave profunda e olhar marcante murmura indo em direção há pista de dança principal passando com dificuldade pela multidão de corpos dançantes.

- Você está bem? - se vira para a protegida e se assusta com a vista de ela encostada na parede arfando de cabeça baixa - Alice! Alice, me diga o que está sentindo? - se aproxima invasivo tocando o ombro dela.

- Meu Deus do céu, não! - choraminga e pragueja baixinho cobrindo a face com as duas mãos.

- Quem era ele? Você conhece ele. O que ele te fez? - indaga tirando os óculos guardando o objeto no bolso da calças.

Vendo que ela não reagia as suas perguntas, lhe deu um tempo e espaço para se acalmar ficando de braços cruzados ao seu lado.

- Desculpe. Eu só... Perdão. - Diz encarando o teto se forçando a reagir. Não pode se dar o prazer de chorar agora. Não deve.

- Está tudo bem - põe os óculos antes que ela veja seus olhos - contanto que você esteja bem, está? - ela acena frenética o olhando e força um pequeno sorriso - você mente tão mal... Não temos tempo, venha - estende a mão para ela que aceita e é encaminhada para a cozinha.

Lá dentro, está um movimento frenético entre os cozinheiros que gritam entre si. Um deles mais novo chama a atenção das íris azuis de Alice, o garoto está no canto sendo reprimido pelo seu chefe e pela aparência de quem se sujou com comida, parece que foi sério.

- Você pega a comanda, trás, entrega para o chefe e ele vai passar adiante. Vai voltar para o salão, pegar os outros pedidos seja de bebida ou o que for e entregar. Entendeu? - ela teria se tivesse prestando atenção.

Alice encara curiosa o garoto; olhos profundos e tristes que aparentam esconder uma grande verdade, suas pupilas castanhas escuras tão belas e jeito de garoto inocente. Enquanto ele olha ao redor encontra seu olhar, ela trata de esboçar um sorriso terno, sinônimo de empatia. Não pena.

O garoto desvia o olhar, fica inquieto e até mesmo transtornado. Suas bochechas ficam levemente rosadas como um pêssego, saindo pelas portas do fundo da grande cozinha. Alice acaba soltando uma risada: discreta, porém divertida.

- Senhorita... Peço que tenha atenção ao meu auxílio. Sim? - Alice logo se mostra arrependida e ele toma de bom grado.

Repete as explicações dadas lhe tirando suas dúvidas. Agora sim, entendeu tudo perfeitamente.

- Pedido da mesa 7 área vip - berra um cozinheiro anônimo.

- Vai lá, sua chance. Estarei a espreita te resguardando - incentiva a mais nova que concorda e aceita de bom grado.

Ela corre até a bandeja de prata onde possui ostras e acompanhamentos fazendo uma cara enojada, assim, criando do chefe uma aversão a ela mesma. Percebendo, se desculpa em vão e sai da cozinha. Como havia treinado em casa com Amélia e seus brinquedos espalhados se esguia com facilidade e agilidade em meio aos corpos suados e dançantes da pista de dança que, como está no centro do local é obrigada a passar pelo meio. Se revela uma ótima garçonete ao entregar o pedido intacto mesmo tropeçando na escadaria.

- Demorou. Perdi o apetite - o cliente diz amargurado até pôr seus pares de íris castanhas claras na jovem mulher que retirava seu pedido - quer saber... Pode deixar o pedido. Fiquei com fome... Aqui - lhe estende uma nota de 100 deixando-lhe perplexa - sua beleza me deixou em êxtase... Lembra-me alguém que amei - diz vago deixando a nota sobre a mesa de recostando no banco acolchoado.

Sem saber o que dizer, apenas pega a nota guardando no bolso da frente do uniforme e corre se esquivando de volta para a cozinha; a noite não foi muito diferente. Pessoas estranhas falando coisas estranhas: é o efeito da bebida, drogas e desejos sexuais. Presumiu presunçosa. Se sentiu segura durante todo o serviço já que estava sendo guardada pelo seu mais novo guardião que se mostrou, um verdadeiro anjo da guarda.

Seokjin lhe seguiu e apenas foi necessário intervir quando um cliente abusivo o qual expulsou aos socos, e intimidar um possível racista; muito racista por sinal. Tirando isto que ela já esperava, tudo ocorreu bem. No entanto, ao acabar de pegar duas bebidas com o Barman que se revelou chamar-se Diego (cujos aspectos são admiráveis. É um belíssimo ticão muitíssimo competente) ficou imobilizada visto que teria de encaminhar as bebidas para o homem com quem trombou mais cedo. O seu então primeiro e mais miserável amor.

Afinal, amar tem seus espinhos. Por quê?

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