VIII

“— Me bata. Me espanque. E também, tente. Tente me silenciar, tente me reestruturar, tente me diminuir, tente tudo e um pouco mais... Mas você nunca irá conseguir calar a voz da verdade. Jamais..” — Alice Cardoso (Aquela que sussurra).

Capítulo oito: surpresa.

Todo o trajeto para o lar de Alice foi em silêncio. Ou pelo menos, para onde ela achou que iria.

— O que tem nessa flor? — diz rápido, não aguentava mais o suspense.

De imediato ela não diz ou reage. Apenas pensa.

— Bem, de todas que eu vi, ela parecia a mais bonita — diz admirando a flor que toma na palma da mão observando cada pétala azul.

— Então... Acha que ela, igual a todas as outras é especial? — Pergunta como se fosse um absurdo.

— Não acho. Pelo contrário, tenho certeza. Ela é a mais bela de suas “parecidas.” — Põe a planta de volta acima da orelha.

Namjoon ficou pensativo. Ficou encarando a vista que o luar lhe proporciona nesta noite.

— Sobre meu nome, foi um erro de Seokjin tê-lo dito, por favor, não... Diga em voz alta. Ou conte para qualquer outra pessoa — olha diretamente nos olhos azuis dela.

— Tudo bem... — direciona o olhar para o retrovisor, podendo ver o olhar de arrependimento de Seokjin. Sorri tentando faze-lo se sentir melhor — você... Hum... Trabalha... Nisto faz muito tempo? — Tenta ser amigável, puxar algum assunto. Talvez, ele se abra e já não possa mais ter tanto medo quanto sente na sua presença.

Recebe um olhar de reprovação. Ele não entende a princípio o que está por trás daquela pergunta, então toma uma expressão carrancuda e lhe ignora.

— Desculpe — abaixa a cabeça encarando as mãos, vendo que, precisa urgentemente fazer as unhas. Nem que apenas lixa-las.

Olhando pela janela, reconhece a vizinhança e se prepara para sair do veículo. Assim que Seokjin para o carro faz menção de sair, mas se lembra do pedido dele para que possa fazer seu trabalho, então, decidiu aguardar.

— Desde pequeno. — é tudo que ele diz antes de fazer uma pausa extremamente dramática.

Alice fica sem entender até ligar os pontos. Está respondendo sua pergunta, então, significa que?... Compreende. Sem pensar, ela põe sua mão sobre o ombro dele o assustando. Ele lhe encara com raiva e ela logo se arrepende, mas já que não pode mais recuar diz o que tinha em mente:

— Sinto muito. — é tudo que diz. Tudo que consegue. O olhar dele se suaviza ao receber as palavras de consolo, por ter tido uma infância problemática.

Se afastando, nota a porta agora aberta e sai acenando para ele que apenas lhe observa. Ajeitando a bolsa sobre o ombro, Alice se vira para Seokjin.

— Obrigada, por tudo. Você é meu cavaleiro de terno — diz com um sorriso doce e acaba gargalhando da sua fala — meu Deus! Isso foi ridículo, desculpe.

Do contrário que imaginou que ele ficaria, ficou o contrário. Riu também.

— Tudo bem, achei fofo. Obrigado senhorita por me conceder a oportunidade de cuidar de você. Tenha uma boa noite — ele ajeita os óculos que até onde se lembra, não tirou em momento algum.

Lice inclina a cabeça suavemente para o lado e sorri. Acena em despedida e ruma para a porta do lar, chegando, pega as chaves da bolsa e destranca a porta ouvindo o carro ir embora. Por isso, se assusta quando ouve a voz de Namjoon atrás de si a fazendo dar um breve grito. Ambos ficam se encarando até a mesma quebrar o contato suspirando fechando os olhos. O coração está dilacerado.

— O senhor precisa... De alguma coisa? — tenta falar com naturalidade mesmo que esteja bastante tensa.

— Falar sobre negócios. Sei que o horário não permite — diz olhando o objeto luxuoso posto no seu pulso para ver o horário — mas sou um homem bastante ocupado então...

A porta é aberta, Alice fica sem jeito. A protagonista não costuma levar não familiares do sexo masculino para dentro de seu lar, é seu santuário afinal. Mas, decidi dar lugar para que ele entre depois dela é claro. Acende a luz do corredor assim que ele entra e se assusta com o olhar atento dele sobre si, recua alguns passos e pendura o casaco que levou caso fizesse muito frio. O que não aconteceu. Tirando os coturnos pretos, os põe de escanteio alegando mentalmente que irá pôr-los no sapateiro mais tarde.

— Fique a vontade... Só não faça barulho, por favor, minha sobrinha está dormindo e acredito que a babá dela, minha amigas também — diz quase num sussurro rouco tomando frente guiando o turista.

A anfitriã aperta no interruptor acendendo as lâmpadas fluorescente da sala, segue para cozinha alegando que irá buscar algo para que ambos possam beber, como ele não disse nada, buscou para ambos. Voltando para o cômodo principal, viu que ele estava numa distância razoável de duas extensas prateleiras de livros.

— Aqui — estende uma taça de vinho para ele que mesmo aceitando, cheira o líquido.

De imediato, Alice achou rude e bebeu do seu virando o rosto fazendo cara feia. Quando o olhou, o copo já estava vazio deixando a mesma piscando algumas vezes.

— 1978, um bom vinho — diz sem interesse em prolongar a conversa devolvendo a taça.

Momentaneamente ela se permite ficar em choque. Ele soube adivinhar o exato ano do vinhal apenas cheirando? Como é possível? Se questionou, e a melhor resposta foi de que ele realmente conhecia o líquido alcoólico roxo.

— Bom... Sobre o que deseja falar? — se agacha para pôr as taças sobre a cômoda que fica ao lado da televisão, e se levanta vendo que ele pegou um livro. Um livro de sua autoria.

— Você é escritora? — Indaga surpreso pegando no livro de qualquer maneira aborrecendo Alice. Detesta quando pegam em seus livros como se fossem um objeto qualquer.

— Prefiro uma amante de livros. Mas, neste caso... Sou sim — diz atando as mãos sobre a frente do corpo.

—  Interessante... Enfim, desculpe. — Põe o livro de volta em seu devido lugar — quero falar sobre o que achou da boate. Se tem alguma sugestão do que possa ser mudado na gestão e principalmente quero saber até onde está disposta a aguentar.

Um brilho sombrio nas íris castanhas escuras do convidado, assusta a anfitriã lhe causando arrepios e inquietação desviando o olhar.

— B-bem... Eu gostei, achei o uniforme bonito, confortável... A maioria dos funcionários são gentis e atenciosos. Tirando o chefe da equipe de cozinha ele é meio grosseiro, mas nada com o que deva se preocupar — alerta pegando as duas taças — hum... Edward continua em coma, pelo menos está respondendo aos antibióticos e outros remédios que lhe ajudam na sua melhora. Não sou boa com nomes — esboça um sorriso sem graça.

Durante toda a conversa, incomoda de primeira impressão o modo como Namjoon é tão quieto e observador. Faz lhe sentir uma tagarela desnecessária, no entanto, mostra que ele estra prestando muita atenção em tudo o que ela fala.

— E... O que quer dizer com “até onde” estou disposta a aguentar? — diz com cautela observando as reações físicas dele, quase inexistentes.

— Titia? Titia, é você? — Alice ouve a voz de sua garotinha sonolenta e rapidamente deixa as taças onde pós antes, indo até ela.

— Oi, meu amor, sou eu sim — pega a menina no colo que automaticamente repousa a cabeça no ombro da mais velha.

— Quem é esse homem engraçado? — sonolenta, logo boceja.

— Ninguém minha pequena, está tarde, durma — nina a menina no colo e faz movimentos com os lábios pedindo desculpas, ao convidado.

O próprio Kim não percebeu, mas só voltou a respirar quando ambas sumiram de seu campo de vista. Estava prendendo todo o ar, algo lhe causou essa reação e com certeza relacionado a aparição da menina.

Alice retorna e pede para que ele lhe siga e assim faz. Está tensa e com uma pontada de medo, mas decidi agir o mais profissionalmente que pode. Acende a luz principal da cozinha, e se senta numa ponta pedindo para que ele faça o mesmo e assim, ele faz.

— Não quero lhe ofender. No entanto, não acho necessário que fique um ano inteiro trabalhando igual uma condenada não ganhando remuneração pelo seu serviço. Então, pergunto se você acha que é capaz de ter aulas de polidance e dançar na Afrodite para ganhar o dinheiro que os fornecedores geralmente deixam para as dançarinas. E já te adianto: é entorno dos mil... Ou dez reais. Eu sei, é uma puta quantidade de dinheiro por isso, achei que teria interesse.

— Não. — diz simplesmente. Como se não tivesse ouvido nem metade da proposta.

— Tem certeza? — Cruza os braços se reencostando na cadeira fazendo com que seus músculos mostrem serem bem trabalhados.

— Tenho sim. Não me leve a mal, no entanto, não me acho capaz. Ou bonita, ou atraente, ou suficiente para está vocação... — diz como se procurasse as melhoras palavras e vagueia dentre elas — acho que a que foi demitida hoje, seja mais apta. Ela é voraz, determinada e muito bonita, pelo menos, no que eu reparei...

— Não se acha bonita? — ela acena discordando e ele faz cara feia — suficiente.... Suficiente?... — murmura a palavra como se fosse uma maldição — não pode dizer isso. É um absurdo — diz claramente zangado deixando ela surpresa.

— Tenho direito de recusar a proposta senhor Kim. Não vou me submeter a esse tipo de serviço, o qual não me deixa confortável ou a vontade para fazer — diz com tom de irritação na voz.

— Então não se diminua como fez. Por Deus, é um pecado essas coisas que você disse de si mesma — a mesma revira os olhos e faz cara feia olhando para o nada — revirou os olhos pra mim? — questiona desmanchando a posição dos braços e se inclina para frente.

A mesma continua o ignorando, não lhe deve, afinal, satisfação alguma sobre seu íntimo. Ele não é parte do seu mundo, nem nunca se fará. É um homem sujo, mexe com coisa suja, é portanto sujo. Ninguém é perfeito é claro, no entanto, ele se supera em imperfeição. Apesar de ser esbelto...

— Revirei. Senhor Kim, por favor, acho melhor encerrar essa conversa. E o assunto de polidance também. — se levanta encarando as mãos enquanto mexe em ambas.

Dada a sua distração, mal percebe a presença de Kim tão perto. Só nota quando ergue a cabeça e lá está ele, perto, perto demais. Por ser no mínimo 10 centímetros mais alto, não é exagero dizer que ele tem quê abaixar a cabeça para estar tão próximo do rosto dela, de modo que ela possa sentir sua respiração pesada e ver perfeitamente os detalhes do seu rosto. Como Deus reflexos mandam, assim que cai em si se afasta rapidamente e fica com o coração palpitante e respiração irregular mesmo que, não deixe transparecer nada.

— Não faça novamente isso com os olhos, não fica bonito — diz claramente transtornado e se põe a caminho da saída.

A mesma se senta de volta, quando ouve o som da porta se abrindo e então fechando, pode respirar melhor. Alice se esforça para entender o que acabou de ocorrer e apenas um livro se encaixa perfeitamente e até de mais: cinquenta tons de cinza. Fica incrédula, referências da trilogia andaram lhe perseguindo durante todo o dia. No mínimo, preocupante.

No impulso, se levanta e vai até a janela ver se ele por algum motivo estranho ainda estaria lá, parado, esperando. No entanto, para sua sorte (ou azar) ele já se foi (provavelmente andando) assim como o luar. Fica abismada, já é dia. 

A Aurora mostra suas primeiras facetas e características tão belas que somente este fenômeno é capaz de proporcionar. Sem demora, Alice pega seu aparelho telefônico e vai para a varanda da casa de sua residência para poder admirar o nascer do sol, e tirar uma foto.

Após registrar o momento, se senta em sua cadeira de balanço típica do interior (fez questão de se dar o prazer de ter esse assento) e admira os primeiros raios solares do dia; durante alguns segundos, pelo menos.

Quando desperta do sono no susto (culpa de um pesadelo envolvendo lençóis manchados de sangue...), antes de abrir completamente as pálpebras sente um peso de um corpo sobre seu colo e se assusta ao se deparar com a sobrinha. Respira fundo e expira aliviada; traumas são perigosos.

Após deixar a garota novamente em sua cama, sai se deparando com a amiga prestes a sair e vai lhe dar um abraço, agradece a comadre por ter cuidado de sua pequena e ela diz que não foi nada demais; não teve trabalho algum, pelo contrário, foi um prazer.

Após fazer as higienes matinais se assusta com seu reflexo no espelho. Pálida, com olheiras, cara de cansaço e exaustão... Precisa dormir urgentemente, ou do bom remédio adulto: café.

Sentada no sofá se deliciando de uma xícara contendo café com leite e adoçado com açúcar mascavo, recebe uma inesperada ligação lhe fazendo deixar seu precioso líquido cafeinado sobre a mesinha para ir atender. Deve ser importante, pensou.

Ao ver o contato salvo “Diretora chefe” arregala as orbes, já que a patroa só faz ligações em caso de extrema necessidade. Extrema necessidade. Alice atendeu nervosa e preocupada no entanto, apenas recebeu um parabéns e logo a ligação foi encerrada.

. . . ?

Ficou confusa e transtornada, então entrou em seu aplicativo de mensagens notando que tinha muitas mensagens para responder. Ignorou todas e foi direto para a conversa entre ela e a chefa. Estranhou, tinha apenas um link, um coração e um emoji de comemoração.

Ao abrir o link, leu o artigo ansiosa:

“ Dados do livro Aquela que sussurra:

200 livros fabricados em 02/03/2025. Lote: 193749284

Os 50 da pré-venda foram esgotados 07/03/2025 (Amazon, Instagram, Facebook, lojas parceiras...)

150 vendidos e 10 devolvidos que foram logo comprados novamente em 10/03/2025 (Amazon, Instagram, Facebook, lojas parceiras...)

O próximo lote será encaminhado para as lojas físicas e virtuais em no máximo 2 meses. Tirando as degustações, e antecipamento para blogueiras, escritoras amadoras, críticas... E etc. ”

Preta largou o celular sobre a cômoda, saiu do quarto fechando a porta e pós as duas mãos sobre a boca. Todos os seus livros foram vendidos. Todos. Todos. Todos. Não sobrou nenhum. Um único.

A jovem mulher saiu rodopiando e soltando gritinhos pela sua casa comemorando, estava em êxtase! Seu estranho está sendo cada vez mais reconhecido, é um sonho se tornando realidade!

Ou um pesadelo. Quais as consequências da fama se não, a falta de privacidade?

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