IX.

“ Mas, enfim. Toda história precisa do seu final feliz.

Também, não significa que irá ter.” — Alice Cardoso (aquela que sussurra)

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...Capítulo nove: boas novas....

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Radiante, preta olha sua conta bancária e da pequenos gritinhos. Seu salário foi devidamente depositado e agora ela está fazendo diversas compras on-line de itens e roupas que estava realmente, necessitada. Ela se perde em horas de busca sobre melhores marcas, qualidade de tecido, preço acessível.... Dentre outras coisinhas que um bom consumidor deveria saber.

Após enfim acabar, toma um longo e demorado banho; esfolia a pele, lava e nutre as madeixas de raíz fofa (pouco crespa) e segmento cacheado, concluí seu prolongado ritual de beleza. Ao sair do banheiro, se depara olhando para sua sala uma garotinha encolhida no canto do cômodo. Ela lê ávida e ansiosa, folheia com calma e cautela as páginas pensando em quanto faz o movimento.

Está imersa, aprofundada no enredo traçado pela autora do livro infantil. Sua tia decide não incomodar, afinal, não gostaria (não mesmo) que lhe fizessem o mesmo.

O momento da leitura é sagrado, rico, a elevação da alma para o imaginário; enrolada numa toalha, se tranca em seu quarto que docemente chama de seu santuário. Despida em frente ao espelho encara atentamente seus detalhes femininos e humanos, desde leves estrias que na não lhe incomodam tanto quanto em sua juventude, às cicatrizes e feridas (agora já curadas fisicamente) que jamais serão curadas psicologicamente.

Toca a face e não se reconhece, não se entende... Quem é? Por quê é? A mesma se senta em sua cama já que está sem resquício de água superficial pelo corpo e atônita.

Ora essa, quem é Alice? E por quê Alice é Alice e não outra? É a cura ou a doença? A salvação ou perdição? Se sim, por quê? Se não, ora... Devia ser algo. Alguém. E é, Alice é Alice. É a escrita, o silêncio que grita e o grito silenciado. É a conspiração, o trauma, a persistência e calma. As vezes desiste, vezes tempestade.

Se assustando, sai de seu transe não existencial se dando conta de que passou meia hora ali, agora já deitada e acomodada. Se assusta ao comparar no relógio o horário que entrou no cômodo e o tempo exato de que saiu de sua "crise existencial". "A mente humana nos prega muitas peças" pensa assustada.

Se passa pouco menos de duas horas; esta dirigindo. Deixou a sobrinha na creche e está vendo através da câmera do aparelho, este que está fixo e não lhe atrapalha na gestão do automóvel. Está analisando seus trajes sociais que lhe proporcionam o pensamento de uma mulher bem sucedida, por quê não? Camisa social branca de mangas médias, um blazer preto sem o abotoamento algum acompanhado por em seu colarinho, no pescoço da dama, um colar de pérolas (falsas, é claro) e em suas orelhas um par de brincos dourados. De longe lembram um gato, mas é um guepardo dourado sem detalhes. Apenas sua silhueta. Sua composição de peças de roupa acompanham de uma saia pouco justa, mas marcante preta de tecido leve. O dia é ensolarado e fresco, não há necessidade de uma calça (jeans). Seus pés estão confortavelmente vestidos por uma par de pequenas meias pretas e (invisível a olho nu) acompanhados a contragosto por um par de saltos agulha.

Hoje tem uma importantíssima reunião e deve estar conforme a imagem que estabelece: mulher culta. Misteriosa. Importante. Democrática... Sendo a personagem criada ao público.

Apesar de sua chefe ter maior parte da culpa com suas manipulações disfarçadas de conselhos, ela decidiu acatar a “ordem”.

Enquanto dirige, Lice se permite buscar seus pensamentos. Estão atordoados ao pensar no amigo ainda em coma; recebeu uma foto da mãe dele, ainda está inconsciente. De súbito não respondeu, ficou angustiada demais para reagir a imagem.

No entanto, afirma em pensamento que precisa se fazer mais presente durante a hibernação do amigo, mesmo que com a rotina corrida. Ele é mais importante. Sempre foi, sempre será.

Por consequência de sua distração, a jovem mulher provoca um leve e engarrafamento quando não dá continuidade ao trânsito visto que, o sinal está verde. Ela se põe a movimentar o veículo e segue seu curso.

“Acredito que preciso sair o mais breve possível deve emprego. Não posso aguentar um ano com aquele velho ranzinza, vendo a fuça de Taehyung sempre que lhe for conveniente e sendo assediada deliberadamente pelos bêbados. Preciso me valorizar mais”. Estaciona o veículo na vaga habitual e ao tirar a chave, permanece com ela em mãos ao sair do veículo. Ajeita a bolsa de alça comprida sobre o ombro e fecha a porta com certa força, tranca, e segue para dentro do grande edifício. Halley Editorial é referência na cidade de ambiente cujas pessoas são éticas e bem apessoadas.

O que é fato. Os funcionários da empresa são solidários, ao menos sua maioria. São muito receptivos até mesmo quem não gosta de muita ladainha (como a protagonista) se sente amada, mais cedo ou mais tarde por eles.

Passando pelas portas giratórias afim de chegar cedo para a reunião, logo é assombrada pela face do indivíduo que desesperadamente tem evitado ver. Dá um passo para trás e pensa em dar a volta no edifício entrando pelos fundos, tudo para não ter o mínimo de contato com ele. Descobrirá mais tarde o que ele veio fazer aqui, tem amizade com a recepcionista com quem ele conversa e ela dificilmente não tagarela por horas sobre alguém bonito. Uma pequena das loucuras.

Porém, assim que dá as costas ao homem ele lhe chama pelo nome e como um feitiço sua voz lhe imobiliza. Se forçando mentalmente, ela quebra o feitiço saíndo com pressa da Editora Alice anda apressada em direção às saídas de emergência.

“O que aquele demônio está fazendo aqui? Logo aqui! De todos os lugares possíveis, ele não pode estar me perseguindo. Não seria viável, não faz parte de seu feitio. Ou faz? Ora, as pessoas mudam... Maldito!”.

— Maldito! — Acaba dizendo em voz alta não se arrependendo visto que está sozinha. Não é habitual aquela área estar movimentada visto que é em direção a saída usada apenas em ocasiões de emergência.

Chegando enfim ao destino, quando abre a porta tem um leve sobressalto com a falta de iluminação do ambiente de dentro, chega a ser assustador.

Corajosamente, acende a lanterna do celular lhe dando algumas sacudidas e adentra no edifício fechando a porta atrás de si. Iluminando ao redor, vê uma única porta (e uma escada, mas não planeja subir) e vai na direção saíndo no corredor 7, ao lado da recepção. Fechando a porta  com cuidado para não ser ouvida ou sequer vista, Lice caminha lentamente até o elevador da sua direita. Longe da recepção, e principalmente, de Kim Taehyung.

Chegando em frente às portas prateadas, estende a mão ao painel do também lado direito e aperta o botão do andar 19, o penúltimo da construção. Respirando melhor, verifica o horário e ao ver que está como sempre meia hora adiantada procura em sua bolsa seu par de fones para poder ouvir música enquanto produz no escritório e espera o início de reunião.

Após pegar o eletrônico, por ser modelo headphone o põe pendurado no pescoço de modo que claramente, não vá cair e conecta ao aparelho telefônico. Encarando as portas de abrirem, estranha ver o botão do andar antes do seu acionado para parar. Ao estender a mão para apertar novamente no número e cancelar se assusta ao ter uma mão firme e pouco áspera segurar seu pulso. Percorre o olhar rapidamente desde a mão pálida até o braço coberto por um tecido provavelmente de terno na cor azul Royal.

Ao parar as íris cor marinha no indivíduo fica pouco boquiaberta. Claro que era ele, tinha de ser Kim Taehyung. O próprio demônio quem amaldiçoara durante todo o trajeto até ali.

— Estou indo para este andar Sra. Fujona — lhe mostra seu sorriso ingênuo que incomunalmente lhe lembra um quadrado de pontas arredondadas — acho engraçado como você foge de mim.

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A mesma toma seu pulso para si e murmura um pedido de desculpa dando dois passos para seu lado esquerdo. Longe de Kim e do que ele representou em sua vida. Pondo os fones, Alice põe as músicas para serem reproduzidas aleatoriamente. Precisava se distrair com todas as suas forças.

Ao reparar que a porta se abre, repensar se deve entrar junto com o executivo que vê entrar também. Ele lhe encara ter os olhos lhe fitando e faz uma expressão de incógnita, deve de questionar porque não entrou também. Ela se faz a mesma pergunta. Vendo as portas se fecharem, toma como sinal de que realmente não deve ir. No entanto, contrariando seus felicidade o homem age como o cavalheiro que era e impede que as portas se fechem ao por o pé entre elas. Fazendo cara feia percebendo que não tem jeito, a mesma entra no único elevador do edifício amaldiçoando mentalmente sua supervisora/chefe por não ter construído outro elevador.

O cubículo logo se torna insuportável para Alice. É um reator do seu maior defeito: sua Ansiedade. A mesma se pega estralando os dedos de toda maneira possível, fica com as mãos inquietas, a respiração irregular e não para quieta os pés que insistem em querer sair correndo levando ela para longe.

Por possuir um leve pavor de elevador (mesmo na maior idade) a mesma se segura como se sua vida dependesse disto na barra de ferro no cubículo de prata. “É para sua segurança. Mental e fisica” diz fechando os olhos ao som de “Infinity” — James Arthur.

O tempo passa como uma tartaruga velha, chega ao ponto de evitando durante todo esse tempo, a mesma enfim olhar de relance, furtivamente o indivíduo ao seu lado. Faz cara feia, ele está lhe encarando, encarando até sua alma ela presume analisando o olhar intenso e imóvel dele.

Não irá dizer nada. Não precisa. Tudo vai acabar assim que as portas se abrirem. 10... 11... 16... 18! Abençoado 18! Ela abaixa a cabeça esboçando um sorriso de alívio. No entanto, não vê o homem sair do cubículo. Estranhando, olha diretamente na sua face vendo que ele sabe que é seu andar, mas não saí. Por quê o maldito não saí?

A mesma fica impaciente vendo que a porta está fechando e ele não irá reagir, decidida, ela retribui o gesto de caridade retirando os fones pondo o pé entre as portas.

— Seu andar — diz como se fosse óbvio olhando através da pequena abertura entre as portas, que seu pé lhe proporciona. Não pode olhar ele nos olhos. Não deve.

Sentindo um braço envolver sua cintura, Alice tem uma imediata e exagerada reação corporal; seus pelos braçais se arrepiam, suas pupilas dilatam e tem um leve sobressalto dando um pulinho. A reação se intensifica ao sentir a face dele tão colada a sua quando com ousadia ele a põe acima de seu ombro.

— Obrigado, docinho — uma frase tão simplesmente. Dá mesma maneira que foi diga ganhou um significado tão malicioso e impróprio que as janelas da alma de Alice mostraram com horror seu assombro.

Robótica, deu alguns passos para trás vendo o ex-companheiro sair com as mãos nos bolsos, despreocupado e feliz. Tem vontade de lhe xingar, de lhe menosprezar, no entanto, todo e qualquer resquício de voz lhe foge das cordas vocais. É uma lástima pensa ela ao se reencontrar apoiada na barra de ferro, visto que o peso do seu corpo não pode mais ser sustentado pela mesma.

Fica com raiva e triste, afinal, ele ainda possui um forte efeito sobre si. Mesmo que físico ou até mesmo carnal, gostaria de não sentir nada em relação a Taehyung. Nada além de indiferença e se possível, desprezo. No entanto cá está, com o coração dilacerado tentando entender a motivação real da causa. Não acha. Frustada, tenta se recompor e ao chegar no andar solicitado, corre para o banheiro e se olha no espelho.

— Ei, você está sendo burra. Não seja burra! Ele só está querendo mexer com você e está conseguindo. Alice Cardoso, reage mulher — diz em voz alta com dificuldade devido aos movimentos de jogar água corrente sobre a face, para que saia do seu imaginário.

Despertando, respira fundo e tenta sorrir. Parece falso, tenta novamente e consegue. Um sorriso perfeito, para esconder sentimentos verdadeiros. Ela pega sua bolsa e caminha pelo corredor de várias portas, e entra na sua que dá para seu escritório. “Meu pequeno santuário” fica visivelmente aliviada ao sentar na cadeira giratória encostando-se por inteira nela. Se permitindo ser pouco infantil, usa os pés para dar impulso e girar na cadeira esboçando um sorriso.

Este lugar lhe trás lembranças muito boas, foi aqui que escreveu sua primeira coletânea de poemas. Deu vida a vários personagens neste cubículo de trabalho, sente orgulho da trajetória feita como escritora. Mesmo que no íntimo se considere amadora, prefere pensar que não é uma profissão, mas sim, um divino hobbie.

Parando a cadeira, se assusta ao ver a chefe escorada no batente da porta lhe encarando com seu sorriso misterioso.

— Jully! Que susto — diz risonha sobrepondo a mão no peito.

Jully é mais que uma chefe, é amiga de Alice. Lhe ajudou e apoio profissional e pessoalmente durante sua trajetória, desde a entrevista de emprego quando lhe corrigiu, até hoje que planeja firmar um contrato de anos com a mesma. Sonhos atrás de sonhos, metas e objetivos sendo enfim, realizados.

— Alguém está feliz hoje, isso é ótimo. Falemos mais tarde, a reunião foi adiantada não temos tempo a perder. Que bom que posso contar com sua presença sempre antes do horário estabelecido, venha — com sua mania, diz gesticulando para tomar toda a atenção pra' si. O que funciona. A mesma da um passo para trás e analisa a funcionária a sua frente.

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Aprovando, logo esboça um sorriso e elogia a veste que Alice usa recendo uma careta da patroa 10 anos velha. Alice se levanta rapidamente e acompanha a supervisora após fechar a porta do escritório. Ambas falam sobre seus cotidianos passados e riem ao compartilharem alegrias. Jully adianta que essa reunião é para firmar o contrato com a Editora e apresentar uma outra proposta oferecida por uma outra editora, que gostaria de estabelecer um contrato entre ambos.

— O Gerente é um gato, sério, eu fiquei sem fôlego quando vi ele — ela diz em tom de sussurro mas claramente eufórica.

— Falando assim, nem parece que você não gosta de bananas — diz fazendo clara referência ao gênero masculino fazendo a amiga rir lhe dando um levíssimo empurrãozinho.

— Realmente, minha esposa me mataria se me ouvisse falando assim. Ela anda me achando muito hétero ultimamente — diz fazendo careta abrindo a porta da sala de reuniões.

— Bom dia, Jully bom dia, Alice — Theo o faxineiro passa empurrando seu carrinho de itens da limpeza.

— Bom dia Theo — sorri para o mais velho que levanta seu chapéu tirando um risinho da jovem — ora, Melissa não conhece a bissexualidade? — interroga acompanhando a chefe entrando no cômodo.

— Pelo visto não, Bom dia Sr. Kim — diz ainda cobrindo o campo de visão de Alice.

Quando a mesma fica de costas para o cômodo em si, estranha o tratamento dado pela supervisora, então, assim que fecha a porta olha ao redor e seu queixo cai gradualmente a medida que a realidade lhe dá um soco na barriga.

Kim Taehyung é o maldito Gerente de Editora que quer firmar uma parceria com Alice.

Coincidência ou seria acaso? 

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