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"Quando E̸u̸ a lebre foi estuprada

Não assediada

Não tocada

Não violada

Não agredida

Não perturbada

Mas estuprada, E̸u̸ ela sabia que iria morrer. Mais cedo ou mais tarde aquela dor que já não era somente física mas psicológica iria mata-la de dentro para fora.

Ocorreu faz anos, M̸̷̸e̸̷̸u̸̷̸ P̸̷̸a̸̷̸i̸̷̸ Raposo disse "Ei lice, vou te mostrar os prazeres da vida adulta." inocente E̸u̸ ela pensou: papai Raposo (como com muito amor o chamava) vai me dar o dinheiro para que E̸u̸ possa comprar uma Barbie igualzinha a mim (negra) um unicórnio de pelúcia.

E̸u̸ F̸i̸q̸u̸e̸i̸ A lebre ficou tão feliz, irradiava alegria. Então ele a levou para sua toca e ela se sentou ansiosa na cama esperando a boneca ou o dinheiro para comprar o que tanto queria. A cama era onde ele dormia junto da raposa M̸ã̸e̸ então não viu problema, até existir. Encarou seus passos pesados pelo quarto, ele estava estranho. M̸a̸s̸ E̸r̸a̸ P̸a̸p̸a̸i̸.̸ O̸ M̸e̸u̸ P̸a̸i̸.̸

Ele ansiava saciar a sua fome, sua sede e os seus desejos mais sombrios. Então quando teve a lebre em sua boca fez questão de estraçalhar sua carne pelo cômodo espalhando seu sangue, sua alma, seu corpo, seus sonhos, sua dignidade, seus sentimentos, suas esperanças, seus medos, sua vida. Papai já não era mais Papai. Era um monstro, desgraçado e miserável.

Depois que P̸a̸p̸a̸i̸ matou-lhe aguardou ansioso e inquieto a chegada da cônjuge. Parecia arrependido, estava? Estava mesmo? Não. Ele não estava. Mamãe quando chegou gritou, gritou esperniou, esperniou e ficou sem voz, ficou sem alma, ficou sem cor, ficou sem vida, ficou sem razão, ficou sem nada. Ela saiu de casa arrastando o homem pelo colarinho após ele confessar o que fez e lutou contra sua pessoa levando-o para a mesma toca suja de onde ele jamais deveria ter saído.

Mas o problema é que mamãe não voltou. Ela nunca mais voltou. " - Nem todo final, acaba feliz. (Alice Cardoso)

ᴄᴀᴘɪ́ᴛᴜʟᴏ ᴛʀᴇ̂s: ᴀ ᴠɪᴅᴀ ᴇ́ ᴇɴɢʀᴀᴄ̧ᴀᴅᴀ ᴅᴇ sᴇᴍ ɢʀᴀᴄ̧ᴀ

-漫~*'¨¯¨'*·舞~ A.n ~舞*'¨¯¨'*·~漫-

- Estou pensando em publicar, você acredita que ele seja promissor? - Alice diz encarando Melissa a sua amiga de longa data que lê com curiosidade aquele manuscrito. Estava ansiosa e melancólica ao acabar a primeira página.

Melissa possui vários sinônimos, mas o melhor claramente é sincera. Sem a sinceridade da melhor amiga, Alice tem certeza de que não teria chegado onde chegou. Não existem palavras no dicionário ou enciclopédia de Cardoso para agradecer Dutra (primeiro sobrenome de Melissa).

- Espere, me dê alguns minutos - a morena deixa o livro de capa preta e letras douradas com a amiga e entra em sua residência.

Alice aguarda ansiosa se encostando no batente da porta. Veio ter com elas pois sabe que a loirinha está acordada mesmo o horário não permitindo já que mesmo em seus 19 anos, não consegue fazer outra coisa se não Lives jogando Lol. Um vício que ao menos tem retorno financeiro então Alice não se preocupa muito (tirando a aflição que sente em relação ao bem-estar, saúde emocional, saúde mental, alimentação e sono.)

- Sim. Você concerteza deve acabar e publicar essa fábrica de lágrimas - diz aparecendo com os olhos avermelhados assim como o nariz de porcelana, açoando as narinas num tecido portátil de algodão.

- Obrigada, isso era tudo que eu precisava ouvir - abraça a amiga que está pálida devido ao uso indeterminado de remédios para amenizar os sintomas de sua tuberculose.

- Preciso ir eu estou com Amélia em casa e preciso passar em um lugar antes de voltar - diz se afastando apenas para limpar as lágrimas da loirinha de íris esverdeadas.

Melissa abraça a melhor amiga e desaba numa maré de mais e mais lágrimas. Prevendo tal reação, Cardoso retoma o abraço dando tapinhas nas costas da amiga.

- E-Eu nem sei o que dizer aí, Alice... - choraminga, funga, volta a chorar e até mesmo soluça. A protagonista apenas ri e afasta a amiga após lhe dar longos minutos para se recuperar.

- Está tudo bem e se não estiver vai ficar. Preciso ir, não chore! Vamos nos ver amanhã - deposita um beijo em sua testa e lhe dá as costas indo embora.

- As pessoas mais quietas são as que mais sofrem... - Melissa aperta o lenço em sua mão encarando a companheira de jogatina se afastar como sempre fez desde que a conheceu na faculdade.

Mesmo invadindo o espaço de Alice achando necessário Melissa nunca conseguiu descobrir porquê ela é tão... Alice. A jovem mulher sem dúvidas é um mistério que jamais será (ou deve ser) solucionado.

Descendo a ladeira da terceira avenida chegando a caminhar durante poucos 20 minutos, Alice avista a tão famosa boate "Afrodite" que é um famoso estabelecimento devido aos calouros que dão visibilidade ao lugar, eles divulgam com frequência em pôsteres espelhados pelo bairro e em suas redes sociais. Como habitualmente fazem, eles estão frequentando hoje por ser domingo.

A literata nascida na Bahia mas criada na cidade do Rio Vermelho após ter se mudado do seu bairro para este onde reside o cabaré, logo as propagandas do lugar lhe despertaram a curiosidade de frequentar. No entanto, não consegue se imaginar num ambiente sexista, alcoólico e com certeza onde a heroína é dada e recebida como doce para crianças. Menores de idade que anseiam a sensação inebriante de ter a droga ilícita seja em seus pulmões ou veias.

Passando em frente ao lugar que é impossível não perceber a gigantesca fila de jovens querendo participar da festa afrodisíaca, uma pessoa em especial captou a sua atenção. Ele era alto, estava bem trajado para variar, corpo magro porém robusto e tinha as madeixas ruivas bagunçadas.

- Edward?! - fica surpresa e pensa em voz alta parando para ver melhor - meu Deus, é ele mesmo!

Alice fica perplexa ao ver que ele está sendo expulso da boate por dois seguranças bem trajados e com o dobro do seu porte físico, eles arremessam o jovem homem na sarjeta e um grupo outros do mesmo gênero vão na sua direção. A mulata fica em pânico, afinal, precisa fazer algo em relação ao amigo, mas não pode demorar pois tem uma criança sobre seus cuidados em casa sozinha e não faz idéia se os homens vão lhe machucar ou fazer algo pior.

Ao perceber que o semáforo tem a cor vermelho brilhando e todos os veículos param, a jovem decide correr pela faixa de pedestres e anda com calma em direção ao melhor amigo, pretende intervir, mas no momento certo.

- Hahahahah! Eu nunca vou te' pagar, seu otário - já sob o efeito da nicotina ele rir sem parar mesmo jogado no chão.

Devido à escuridão da noite é difícil distinguir quem é quem. Mas ficando de outro ângulo escondida atrás de uma parede que divide a porta da 'boate' ao caminho que dá para os fundos, Alice observa o desenrolar da situação. Ser curiosa nunca foi sua qualidade mais admirável.

Um homem em meio aos que ela conta serem 8 alcança destaque em questão de porte físico, roupas e por usar um bastão com uma pega arredondada que lembra uma bola de bilhar número 8. Ele caminha despreocupado ficando ao lado de Edward com um ar superior, Alice sente que é hora de agir.

- Nem fudendo - se escora na parede pondo a mão sobre o seio esquerdo para sentir seus batimentos assutada com o pulsar frequente e acelerado.

Ela presume mentalmente que está em desvantagem e com muito medo, não é párea para 8 homens.

- Edward eu te proibi de frequentar o meu estabelecimento e de comprar um grama se quer da minha droga. Agora, você me aparece aqui seu cuzão comprando com um cartão falso? - mostra o cartão sem saldo algum e joga na cara dele - você é patético, um verme que me dá nojo - sobrepõe o pé direito na garganta do mais novo apertando gradualmente.

Edward começa a se debater tentando tirar o pé do dono da boate, mas é em vão pois está fraco e debilitado ( graças ao efeito dos narcóticos) sentindo gradativamente dificuldade em respirar. Ele começa a bater na perna do homem irritando-o

- Segurem as pernas e os braços dele - ordena com entonação raivosa na voz. Os supostos capangas obedecem sem exitar. Um lhe pisa a mão, o outro também, outro segura um pé e o outro repete o gesto achando graça da situação.

Cardoso não via a cena de horror já que estava de costas para a tentativa de assassinato. Por isso, quando se arrisca tentando espiar fica paralisada pelo medo, suas pupilas dilatam e ela leva as mãos para a boca horrorizada com a cena. Definitivamente, não podia ficar sem fazer nada.

- Amélia me perdoe - relutante, sai de detrás do muro e caminha na direção dos homens. Para alguns passos deles e pensa no que dizer. Para seu azar, a sua lerdeza hoje foi sua maior inimiga. Um dos capangas que segura o braço de Edward nota um par de pés e vai subindo o olhar até perceber que uma mulher estava parada claramente atordoada com a situação.

- Ei! Quem é você? O que faz por aqui? - sua voz grave e ameaçadora deixou os instintos da preta em alerta e como reação, seus pelos braçais se arrepiaram de medo.

- E-eu... Bem... É que... - no pior momento possível ela começa a gaguejar e tem a atenção de todos os homens exceto Edward que já estava inconsciente.

- Aqui não é lugar e muito menos horário para uma mulher estar ainda mais desacompanhada - quem ela supôs ser o dono do estabelecimento lhe olha ameaçando reagir a sua intromissão.

- Desculpa. Eu sinto muito m-mas... É que ele é meu melhor amigo... E... - suas mãos começam a ficar úmidas pelo nervosismo então, ela segura na altura do quadril do vestido estilo tubinho preto que usa para limpar as palmas - eu estou disposta a pagar. A quantia que ele deve só não o machuquem mais, por favor?

Como a protagonista de seu livro, ela se sente uma lebre diante da raposa. No entanto, não uma, mas sim várias. Isso logo causa incômodo, os homens estão se entreolhando exceto o líder que tira seu pé da garganta de Edward e segura seu bastão à sua frente encarando ela.

- É assim que você resolve as coisas? Assumindo problemas que não são seus?... Até quando você vai conseguir sustentar esse vicio? Quanto mais vai pagar para ele continuar nessa merda? - diz em bom-tom se aproximando fazendo ela recuar.

- Por favor! Não o matem! Eu posso pagar nem que seja parcelado... Ele é meu melhor amigo desde que me entendo por gente, tenha piedade - em desespero, ela cessa seus passos e deixa ele se aproximar para que saiba que não está mentindo.

Mas para sua surpresa o homem não continua, ele também para de ir em sua direção. Eles se encaram durante segundos até ele chamar um de seus homens "Vinícius, traga seu traseiro sujo para cá". Muito carinhoso, por sinal.

- Me vê minha máquina, essa senhorita pretende quitar a dívida de dez mil do nosso querido Edward - toma um sorriso presunçoso nos lábios.

- Dez mil?... DEZ MIL? - suas pupilas azuis dilatam - como ele encheu o cu com 10 mil em heroína? Meu deus! - esfrega com a mão a parte superior do rosto, inconformada.

- O quê? Não vai pagar? - os olhos do homem escurecem duma maneira que Alice nunca viu em nenhum outro.

Remexendo em sua bolsa, ela pega seu cartão e vai na direção dele. "Sou uma adulta, sou responsável, sou uma mulher corajosa; tudo pelo meu bestie. Tudo por ele." começa um eterno mantra mental.

- Aqui - ela estende sem demonstrar nenhuma comoção o encarando diretamente nos olhos. É um acordo sério, ela pensa.

Ela acredita que seu sorriso orgulhoso vacilou, mas sabe que ele não irá admitir em voz alta o quanto ficou surpreso consigo. Ele pega o cartão e então ela murmura "débito." deixando o sorriso do desconhecido ainda maior. Ele estava se divertindo às suas custas? Ela se questionou em pensamento.

- Não devia quitar a dívida. Ele não merece - devolve o cartão dela após aproxima-lo do escâner da máquina - animem ele rapazes - ordena sem olhar para os homens permanecendo o olhar na mulher-feita, está admirado.

Alice pega seu cartão de volta e guarda em sua bolsa onde também está o manuscrito. Ela o encara e associa o fatídico dia com como este poderia ter acabado de modo similar. Isso lhe faz ter um gosto amargo na boca e engolir seco.

- Agradeça Edward, por ter uma guardiã tão generosa! - Dá as costas para Alice indo na direção do ruivo que está retomando a consciência.

Vendo o bando dissipar rumo a saída (ou entrada somente para pessoas autorizadas) da boate, Alice caminha em passos rápidos e então corre até o amigo se ajoelhando perto dele tomando-o em seus braços. Uma braço cheio de medo, saudade e angústia; um abraço apertado e tão significativo.

- Não deveria ter feito isso Lice. Eu não valho 10 mil pratas - não consegue continuar falando já que tosse violentamente.

Alice já está ligando para a emergência com as orbes, cheias d'água. Está não é a primeira, a segunda, a terceira ou vigésima vez que incidentes do gênero ocorrem em menos de dois anos.

- Você tem razão. Você não vale 10 mil reais em débito - diz com dificuldade segurando o choro e então faz questão de olhar nos olhos dele para que ele veja através de suas íris a tamanha que é sua dor - você vale muito mais que 10, 30, ou qualquer quantia que seja! Por favor, Edward eu te imploro pare de se matar!

Segura o choro para poder informar a enfermeira onde está, quem precisa de ajuda e a gravidade da situação. Após encerrar a ligação encara o amigo que lhe olha indiferente, tudo lhe causa soluços e lágrimas. Por não aguentar a redundância que é acontecimentos como este, agora nada está cansada demais para segurar seus sentimentos que estavam a flor da pele. Estava acumulando e juntando dor por dor até não aguentar e transbordar agora em lágrimas. Várias e várias e várias e mais um pouco de várias lágrimas.

- Não me peça coisas impossíveis - diz com uma pontada de raiva pondo a mão na boca para voltar a tossir.

- Não existem coisas impossíveis! Existem coisas difíceis. Você não quer que eu sei! Eu já te arranjei um psicólogo, um psiquiatra e até um TCC! O qual você nem se deu ao trabalho de tentar ir! Porra! Você acredita que isso é vida? Você aparecer na casa do caralho sujo, fedendo e preocupando tua mãe. Acredita que isso é ter dignidade? Pelo amor de Deus! - a protagonista engole seu choro para dar espaço e voz às suas lições de moral e ética.

- Eu já disse para você, caralho - se senta demonstrando tontura e logo perde as forças caindo deitado no colo de Alice que lhe segura espantada pela aparente repentina queda de pressão.

- Edward? Edward! - o pânico mais uma vez se faz seu companheiro. Ela tenta acorda-lo dando tapinhas de leve em seu rosto aumentando a intensidade até perceber que ele não iria reagir.

A espreita, o homem que concordou em aceitar o pagamento vindo dela curiava o desenrolar do diálogo. Apesar de ser proprietário, milionário e ter funcionários a sua disposição ele sempre teve o prazer de acompanhar o crescimento dos seus negócios de perto. Inclusive, a venda de drogas ilícitas, que é o maior agente financeiro dos seus esquemas.

Edward sempre lhe foi um estorvo pois, mesmo frequentando o lugar há 5 anos, nunca se deu a decência de pagar integralmente suas dívidas feitas, em maior parte no uso dos narcóticos e em menor no uso desinibido de bebidas alcoólicas. Como um bom vendedor, o homem não pôde deixar de se aproveitar da situação do jovem então sempre lhe ofereceu mais e mais e mais e mais, até ele não ter mais condição financeira alguma para pagar o que como castigo lhe gerou o prejuízo de 100 mil reais.

Apesar dele ter cobrado apenas 10 mil da jovem-mulher. Viu algo em seus olhos que lhe fez repensar, e então poupa-la

- Chefe o seu agente de finanças está aqui. Como solicitou - um homem de características asiáticas, formato da boca que lembra um triângulo e pele pouco morena emerge da porta que irradia luz de led roxa. Ele está com óculos escuros cobrindo seu olhar e usando um sobretudo preto, um típico uniforme.

- Obrigado Jung. E eu quero que Edward Mewton seja proibido de uma vez por todas de frequentar meu estabelecimento. E que isso não se repita - seu tom acusador remete contragosto em Jung, afinal, não foi ele quem permitiu a passagem do mais novo.

- Já que estamos a sós - confere antes de fechar a porta - Namjoon você sabe melhor do que eu que não foi minha pessoa quem permitiu que aquele verme entrasse. O Robin está de complô com ele e você sabe. E se sabe por que não toma providência? Cabível, é claro.

O homem estreita os olhos para o amigo de longa data e então lhe dá às costas vendo que Alice e Edward já não estavam mais ali. Despertando seu interesse, ele segue alguns passos adiante vendo uma luz vermelha brilhar se deparando com um ambulatório. Os enfermeiros estão tentando reanimar Edward enquanto Alice fala frenética ao telefone, como se estivesse pedindo algo para alguém.

Alice Cardoso se lembrará desta noite pelo resto de sua vida. A noite em que sua vida tomou um rumo do qual ela nunca conseguirá esquecer, por mais que tente.

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