Capítulo 18

[ Bree ]

Já estava na porta da prefeitura antes do sol raiar. Chego cumprimentando a todos e peço ara falar diretamente com o responsavel o que me negam na hora.

— Me chamo Bree Cruz e gostaria de de falar com o prefeito.

Eles sorriem e fazem uma ligação rápida e me encaminham pra a sala dele no mesmo instante.

Caminho até a mesa me sentando na cadeira de frente pra ele.

— Senhor. Bom dia.

— Bom dia senhorita Cruz, em que posso te ajudar?

— Posto fechado na Rocinha. Gostaria de uma solução imediata.

— Senhorita, não temos como... — logo o interrompi pegando alguns papéis.

— Tem médico a mais no hospital clínico da Zona Sul. Enfermeiros recém formados sem ter onde trabalhar e o senhor ainda vai me vim com desculpas esfarrapadas?

— Mas...

— Aguardo aqui mesmo sentada para o Senhor telefonar para eles.

— Mas agora?

— Por gentileza. Tem pessoas morrendo dentro daquela comunidade.

— Porque se importa tanto?

Logo me vem Julie na mente e bloqueio esses pensamentos sem sentido voltando ao foco real.

— Gostaria que resolvesse a questão Senhor. Agradecida, fico aqui sentada aguardando.

O prefeito parece perceber a seriedade em meu olhar e minha determinação em resolver o problema. Ele suspira e pega o telefone.

— Está bem, senhorita Cruz. Vou entrar em contato com o hospital e ver o que podemos fazer. — Ele faz a ligação enquanto eu observo ansiosamente.

Minutos depois, ele desliga o telefone e se vira para mim.

— Eles disseram que podem enviar uma equipe médica temporária para a Rocinha até que a situação seja normalizada. Será preciso coordenar isso com a administração local.

Eu respiro aliviada, sabendo que essa é uma solução temporária que pode aliviar o sofrimento das pessoas na Rocinha.

— Ótimo. Vou imediatamente entrar em contato com a administração local e garantir que isso seja organizado o mais rápido possível. E quanto aos enfermeiros está aqui a lista — digo entregando vários currículos em sua mesa. — Contrate-os.

Agradeço ao prefeito pela sua colaboração e saio da sala, com um peso considerável retirado de meus ombros. Agora, eu tinha que fazer as coisas acontecerem na Rocinha, e esperava que isso fosse suficiente para provar também meu valor na empresa Cruz.

......................

Entro no carro e imediatamente pego meu telefone ligando para Julie.

— Em menos de meia hora vocês vão receber alguns médicos para estar atendendo a todos ai. É uma solução temporária, mas logo ligarei para a administração local.

— Não acredito!

— Obrigada! — digo convencida.

— Não sei como te agradecer Bree.

— Você também está me ajudando muito.

— Posso te pagar uma cerveja?

Penso muito nesse convite e lembro da última vez. Meu coração acelera e acabo ficando em silêncio por alguns segundos.

— Assim que possível te confirmo esse convite, essa semana estou bem atarefada. Preciso desligar.

Desligo a ligação sem ao menos me despedir direito, mas não poderia me dar a chance de me arriscar novamente e estragar meu casamento com Carlos.

Dirijo em direção ao escritório pensando em como equilibrar minha vida pessoal e profissional. Às vezes, essas duas áreas parecem colidir de maneira que é difícil manter o controle. Hoje teria uma reunião com Douglas o que já estava me deixando nervosa, mas sabia que tinha um ótimo rascunho a apresentar.

Ao entrar no escritório, sou recebida por uma cena que imediatamente me deixa desconfortável. Carlos e Mirela estão sentados ao refeitório, tomando café juntos. Eles estavam muito próximos, compartilhando risadas e olhares cúmplices.

Meu coração dispara, e um sentimento de ciúmes me atinge como uma onda. Parece que minha suspeita de ontem à noite está se tornando realidade diante dos meus olhos. Respiro fundo e tento manter a calma, não querendo agir impulsivamente.

— Bom dia. — Cumprimento, forçando um sorriso enquanto me aproximo da mesa.

Carlos e Mirela se separam rapidamente, mas não rápido o suficiente para passar despercebido por mim. Eles trocam olhares desconfortáveis, e a tensão no ar é palpável.

— Bom dia, Bree. — Carlos responde, um tanto nervoso. — Mirela estava um pouco enjoada por conta da gravidez.

— Claro, claro. — Digo, tentando manter a voz firme e acreditar na explicação dele. — Gravidez é difícil afinal de contas.

Eles continuam conversando um pouco mais enquanto me servia uma xícara de café, mas eu não consigo deixar de me sentir desconfortável com a situação. Há algo na maneira como eles se olham e se comportam que me faz suspeitar que há algo mais acontecendo. No entanto, eu decido não confrontá-los novamente no momento, optando por observar de perto e coletar mais informações antes de agir. Afinal, eu não quero estragar tudo com acusações infundadas.

A hora da reunião chega e com ela um frio na barriga. Me sento a mesa esperando já um turbilhão de críticas, mas logo me recomponho sabendo que estava fazendo o meu melhor.

— Senhorita, o que tem pra nós? — pergunta Douglas me encarando.

— Bem, reuni aqui minhas melhores informações sobre a nossa querida Julie o qual o Senhor gostou tanto. E também algumas de suas vivências. Gostaria de estar enaltecendo o quão precário é a saúde pública da Rocinha, e as crianças precisam também de um olhar mais crítico na educação.

— Muita informação. Não quero saber de certas coisas. Não é um protesto. Só quero uma modelo pra minha capa, uma história de vida e superação e pronto.

Já me sinto agoniada com suas palavras e apenas concordo.

— Inventa algumas coisas, fala umas mentiras que vão impactar o público. — diz ele dando um gole em algo disposto na sua xícara branca.

— Isso é errado.

— Eu estou pagando você pra isso. E não é pouco dinheiro — diz ele se voltando para Carlos que imediatamente abaixa a cabeça.

A sala parece ficar mais fria com as palavras de Douglas, e eu me sinto desconfortável com a ideia de inventar histórias e distorcer a verdade para atender às expectativas deles. Mas, como sempre, o dinheiro fala mais alto, e mu futuro com Carlos também estava em jogo.

— Eu entendo a importância da revista, mas não quero prejudicar ninguém no processo. — Digo, tentando manter minha integridade, mesmo que isso signifique ir contra os desejos de Douglas.

Ele solta uma risada cínica e se inclina para frente, me olhando nos olhos com um olhar penetrante.

— Querida, todos nós fazemos concessões em nome do sucesso. Se você quer essa oportunidade, vai precisar aprender a jogar o jogo.

Carlos permanece em silêncio ao meu lado, e eu me sinto sozinha em minha luta por integridade. A pressão está aumentando, e sinto como se estivesse prestes a tomar uma decisão que poderia afetar não apenas minha carreira, mas também minha própria moral, porém apenas assinto novamente.

— Cadê a foto da nossa modelo? — pergunta ele.

Coloco uma foto de Julie em cima da mesa e suspiro ao lembrar desse dia.

— Que garota deslumbrante! Tire mais, quero várias.

O fato de ter que tirar mais fotos com ela me deixava lembrar que teria que passar mais tempo com ela. Mas penso também que poderia tratar tudo isso no profissional o que faria as coisas ficarem mais leves.

Douglas continua a planejar a matéria enquanto eu luto com a crescente sensação de desconforto. À medida que os detalhes são definidos, percebo que esta oportunidade com a revista tem um preço elevado em termos de integridade.

Carlos parecia distante e focado apenas no dinheiro que essa matéria poderia gerar.

A reunião finalmente chega ao fim, e enquanto Douglas e sua equipe saem da sala, Carlos e eu ficamos sozinhos. O clima estava tenso como sempre. 

— Bree, você precisa entender que isso é uma oportunidade única para nós. Não podemos deixá-la escapar. — diz Carlos, quebrando o silêncio.

— Eu sei, mas a que custo? — respondo, incapaz de esconder minha apreensão.

Ele suspira, parecendo exausto.

— Precisamos disso, Bree. Não podemos nos dar ao luxo de recusar. Você não quer se casar comigo?

Eu olho para ele, desconfiada, mas concordo com um aceno de cabeça relutante.

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