Capítulo 9

[ Julie ]

Acordo mais cedo que de costume. Arrumo minha cama, tomo um banho e coloco algumas roupas pra lavar.

Minha mãe já havia saído pra trabalhar e deixado café e um bolo pra mim em cima de mesa.

— Te amo mãezinha._digo sorrindo ao ver o carinho que ela tinha por mim.

Pego o pedaço de bolo e minha mochila em cima do sofá e vou em direção ao trabalho.

— Morena!_escuto alguém me gritar e viro para ver quem era.

— Bom dia Senhora Judith. Como vai?_digo pegando em suas mãos já calejadas com o tempo.

— Fecharam o posto de saúde aqui em cima, e como a gente faz? Ajuda a gente minha filha._diz ela com os olhos marejados.

— Senhora Judith...eu...

— O Mason ajudava muito a gente, isso já não acontecia faz meses.

— Eu vou dar um jeito. Prometo._sorrio inconformada e a agradeço por ter vindo falar comigo.

Acabo de descer o escadão chegando no trabalho. Seu João descarregava as caixas e fui até ele para ajudá-lo, mas meus pensamentos estavam a mil e eu só queria hoje era que o dia passasse rápido.

......................

Acabando o expediente subo para o barracão e encontro Caim sentado no sofá da sala.

— E aí Morena!_diz ele vindo até mim e me depositando um beijo na testa.

— Cadê Ratinho e Abel?_pergunto abrindo a gaveta e pegando um cigarro de palha.

— Foi fazer uns serviços.

— Temos que dar um jeito na merda do posto de saúde. Fecharam.

— Tá sabendo não? Os médicos caíram fora. Aquilo tá um lixo. Pagamento atrasado mais de três meses.

— Nossa..._digo acendendo o cigarro.

— O que posso fazer? Eu preciso ajudar. Dona Judith me parou e disse que o Mason nunca deixou isso acontecer.

— Ele fazia o dinheiro rodar né Morena!

— Me ajuda Caim._digo soltando a fumaça.

— Já que você não quer se envolver com os esquemas, vai ter que fazer o baile lotar de gente pra gastar aqui.

— Mas e se vim gente querendo fazer estrago?

— O problema é que os que consome e compra mais com a gente são os mais bem pagos. Se é que me entende.

— Entendo.

— Estilo sua amiga Carol e aquela outra lá._diz ele se aproximando.

— Acho que tive uma idéia.

Caim senta em minha frente e sorri. Solto a última fumaça e solto a binga do cigarro no cinzeiro.

— Tô ficando mal acostumada._digo já com os lábios colados ao dele.

— Cê se amarra!_diz ele me pegando no colo e me colocando contra a parede.

Sinto o calor do corpo de Caim enquanto nossos lábios se tocam. O beijo é intenso, carregado de desejo reprimido. Minhas mãos percorrem seu cabelo bagunçado, e eu o puxo mais para perto. As batidas rápidas do meu coração ecoam no silêncio do barracão, enquanto nossas línguas se entrelaçam.

— Morena, você sabe que eu faria qualquer coisa por você, né? _ Ele sussurra entre os beijos.

— Eu sei, Caim. E eu também faria qualquer coisa por vocês. _ Minha voz é rouca, carregada de emoção.

Caim me coloca suavemente no chão, mas nossos corpos continuam grudados. Ele acaricia meu rosto e, por um momento, nossos olhares se prendem. N

— Vamos fazer esse baile bombar, Morena. Vamos arrecadar o suficiente para salvar o posto de saúde. — Ele diz, com determinação.

— Vamos sim. Preciso descer agora pra resolver esse problema — Respondo, com um sorriso no rosto e saindo daquele conforto que era a presença de Caim.

Me despeço dele e vou descendo o morro. O ponto de ônibus era distante, mas não queria que ninguém soubesse que teria que pisar em um território mais privilegiado.

Eu não sabia exatamente para onde ir, mas sabia onde encontrar essa pessoa.

......................

Chego no grande prédio que já me era familiar e entro pela grande porta de vidro. Ajeito minha roupa  e vou a recepção.

— Gostaria de falar com a...._busco na minha mente o nome da garota e por fim consigo lembrar.— Bree.

— A senhora tem hora marcada?_pergunta ela me olhando com desdém.

— Não tenho não. Só quero falar com ela mesmo.

— Eu lamento mas...

— A última vez que entrei aqui foi sem hora marcada, porque eu apenas sai entrando nessa empresa de merda, então por gentileza, vai chamar ela pra mim, porque eu estou tentando ser educada._digo a interrompendo e mostrando minha determinação.

Rapidamente ela faz um telefonema e pede para eu aguardar. Me sento nas cadeiras de espera e dentro de pouco tempo vejo Bree apontar no corredor com pura elegância em seu salto alto, e cabelos grandes e soltos caidos sob os ombros.

Me levanto estendendo a mão para cumprimenta-lá.

— Oi._diz ela retribuindo o cumprimento.

— Gostaria de te pedir um favor.

— Você vai tentar me matar hoje? Se não podemos conversar por aqui mesmo.

— Desculpa por aquele dia.

— Vou pegar minha bolsa. Podemos conversar ali enquanto tomamos um café._diz ela sorrindo.

— Café? Já é quase sete da noite._digo fazendo careta.

— Então...o que sugere?

Sorrio e vamos em direção a porta. Vejo um bar na esquina, bem chique aliás, mas devia ter uma cerveja. Logo entro e chamo por alguém para nós proporcionar uma mesa.

O bar estava elegantemente iluminado, com música suave ao fundo e uma atmosfera bem diferente do que eu estava acostumada. Sentamos em uma mesa próxima ao balcão e um garçom de terno nos trouxe o cardápio.

— O que você sugere, então? _ Bree perguntou, examinando o menu.

— Dois do seu melhor chopp por favor._ digo com um sorriso enquanto o garçom anotava.

Ela riu da situação e e se voltou para mim, pois provavelmente a mesma não era muito afim de cerveja.

Enquanto esperávamos nossas bebidas, aproveitei o momento para explicar a Bree a situação que havia acontecido na Rocinha e o como ela poderia me ajudar.

— A comunidade está desesperada. Muita gente dependia daquele posto, e agora eles têm que ir para lugares mais distantes em busca de atendimento médico. Preciso fazer algo para ajudar. _ comentei com preocupação.

Bree ouviu atentamente, seu olhar demonstrando compreensão.

— Eu estava pensando em fazer um evento no baile, algo que atraia muita gente. Gente que vai gastar de todas as formas possíveis. Quero arrecadar fundos para reformar o posto de saúde e talvez até contratarmos médicos temporários para atender a comunidade. _ Sugeri, esperando que ela concordasse.

Bree assentiu, parecendo interessada na ideia.

— E você quer que faço tipo um... convite? Promova isso para fora.

— Nossos melhores clientes são os que pagam. São os ricos._digo baixinho.

— VOCÊ SIMPLESMENTE QUER QUE EU CHAME COLEGAS E CONHECIDOS PARA COMPRAREM DR...._imediatamente aperto sua mão pedindo para que falasse mais baixo.

— Escuta porra. Não é só isso. Eu quero que eles gastem lá dentro com bebidas, mulheres, e...pode ser com coisas ilícitas também. Só quero garantir uma grana. Pela minha comunidade.

— Quero te fazer uma proposta também._diz ela cruzando os braços.

— Aí droga, tava bom demais pra se verdade.

Ela explica toda a situação que acontecerá e porque ela acabou indo lá da última vez. Acabo entendendo o seu lado, mas me recuso a fazer tal coisa mirabolantes.

— Não sou modelo. E não quero ser.

— Você vai ganhar bem. E ainda vai poder ajudar muito mais sua... família._diz ela engolindo em seco.

— Não tô afim de me expor._digo querendo colocar um ponto final na conversa e já arrependida de estar aqui.

— Seu nome é Julie, não é? Olha, eu não tenho nada a ganhar com que farei pra você e estava quase concordando porque...de alguma forma quero te ajudar. E porque você não pode fazer o mesmo por mim?

Nesse momento, nossas bebidas chegaram cortando o clima da conversa. Bebi um gole do chopp e olhei para Bree esperando que ela falasse mais alguma coisa.

— Então. Tenho que ir._ela diz pegando sua carteira e tirando algumas notas e jogando na mesa.

— Espera._digo segurando seu braço. _— Talvez essa colaboração pudesse trazer algo positivo de toda essa situação complicada, te espero na sexta feira lá no baile. Você é minha convidada.

— Combinado.

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