Capitulo 2

[ Julie ]

O sol começa a bater forte em meus olhos e posso escutar barulho de motos, e crianças gritando. Viro pro lado procurando pelo meu celular e ao olhar no visor percebo que já era 8:00 da manhã.

— Droga! Droga! Droga!_dou um pulo da cama e pego a primeira calça e blusa que vejo jogada no canto do quarto. Procuro pelo meus tênis na gaveta e os coloco.

Passo pelo pequeno corredor de minha casa chegando até a cozinha.

— Benção mãe._digo depositando um beijo em sua testa.

— Deus te abençoe minha filha. Atrasada de novo né senhorita?

— Prometo tentar dormir mais cedo._pego uma última maçã na fruteira e saio descendo o morro correndo até meu serviço.

Enquanto descia pelas vielas estreitas da favela, podia sentir a energia pulsante do lugar. O barulho das crianças brincando nas escadarias e indo pro colégio, o som animado dos vendedores ambulantes e ali que era meu lugar. Trabalhava na barraca de frutas do Seu João na feira da semana. Ele me deu essa oportunidade boa e de muita responsabilidade. Conseguia ganhar uma grana extra com os corre a noite e quando tinha baile, mas minha mãe não podia nem imaginar sobre isso, pois foi assim que meu pai faleceu e lhe causou um trauma horrível na vida dela. Meu irmão está presso a dois anos pela mesma situação, e até hoje mamãe não foi visitá-lo. Ele faz falta aqui dentro da comunidade, pois sempre foi muito bem respeitado e resolvia todos os problemas que surgia. Eles acham que o Mason é o dono desse morro, então na falta dele quem teria que resolver as coisas era eu, mas prefiro não me meter.

Cumprimentando todos que estavam pelo caminho, já avistando a barraca do Seu João.

— Desculpa padrinho, eu acabei perdendo a hora.

Ele me olha fechando o cenho, mas logo abre um sorriso me abraçando.

— Vai trabalhar menina!

Começo organizando as frutas e anunciando as promoções do dia com minha voz estridente.

— OLHA A MAÇÃ! VERMELHINHA! DOCINHA E QUE CABE NO SEU BOLSO. BORA MEU PARCEIRO, MINHA PARCEIRA. E LEMBRANDO QUE...MULHER BONITA NÃO PAGA!

— Se mulher bonita não paga, eu acho que não pago também, né?

— O que você quer Bárbara?_pergunto nem olhando em sua direção.

— Você sabe o que eu quero, faz de sonsa né Morena.

— Mano, não complica as coisas...

— E aquele papo de futuro? De ter nossas crias? Casar e o escambau?

— Eu estava bêbada Bárbara! Eu disse isso enquanto..._me aproximo mais dela pra falar baixo o suficiente para ninguém ao redor escutar.— Enquanto transavamos no banheiro do baile.

— E eu não significo nada pra você?_diz ela me olhando fixamente.

— Bárbara, depois conversamos. To trabalhando mano, não tá vendo? Se manca.

— Quero ver eu ter que contar pra sua mãe sobre...

Interrompo ela segurando em seu braço  e tampando sua boca. 

— Tá maluca porra? Você sabe da situação e ainda quer bancar a fofoqueira? Se enxerga Bárbara._digo empurrando ela que sai dali sem reação.

Me recomponho e continuo as vendas, pois o que vendia aqui hoje era lucro pra dentro de casa.

......................

Acabando a feira ajudo seu João a guardar a barraca e as frutas que sobrou. Ele me dá o pagamento do dia e algumas gorjetas. Sorrio o agradecendo e volto pelo mesmo caminho de que havia vindo.

Parando para atravessar a rua Bárbara estava sentada na calçada, quando a vejo reviro os olhos e ela vem até mim.

— Queria te pedir desculpas._diz ela colocando a mão em meu ombro.

— Só não faz mais isso. Não explana assim. Você sabe da situação, não foi escolha minha, é necessidade. Tu  não é burra.

— Desculpa morena. Não foi minha intenção.

Ela continua me acompanhando até na viela e quando chega na escada paro por alguns instantes e a puxo pro beco que era escuro o suficiente pra não enxergar nada. Puxo Bárbara pela cintura fazendo com que seu corpo fique bem junto ao meu. Posso sentir o olhar dela sobre o meu e a respiração próxima o suficiente para nossos lábios se tocarem com desejo.

Minha língua se entrelaça com a dela fazendo movimentos vorazes e intensos. Posso sentir o clima ficando mais quente a medida que subo minha mão até chegar em seus seios. Bárbara para nosso beijo e da um passo pra trás.

— Você me destrói por dentro!_diz ela.

— Desde de quanto você tem sentimentos?

— Desde de que te conheci._ela sorri com sarcasmo.

Saio do beco e vou andando em direção a minha casa. Bárbara ainda me acompanhando da uma olhada no celular e se se vira pra mim.

— Ei morena, tem um problema lá em cima._avisa ela.

— Como assim?

— Parece que a sei lá o que Cruz quer autorização pra fazer umas fotos daqui, prometeu que metade do lucro que fizessem iriam ser arrecadadas pras crianças.

— E desde de quando pedimos isso?

— Você sabe né! Qualquer chance de lucrar que esse povo rico tem eles não perdem a chance.

— Mas dessa vez eu não vou deixar._digo subindo mais rápido ainda as escadas chegando rapidamente na porta do barracão deixando Bárbara pra trás.

Por conta de uma mulher dessas que entrou aqui na favela "prometendo" um monte de coisas que meu irmão foi presso, e eu não estava disposta a deixar isso acontecer de novo com ninguém.

— Fala Ratinho._digo cumprimentando Marco. Nosso "entregador".

Me sento no sofá surrado no início da casa e acendo um cigarro de palha.

— Caim, Abel, Ratinho o assunto é sério. Senta aí._digo chamando os três. Caim e Abel eram dois irmãos nós quais apelidamos assim pelas constantes brigas e principalmente por conta de mulheres. Mas seus nomes verdadeiros eram Mateus e Jonas.

Os três sentam em minha frente e me aguardam a começar a falar.

— Tá rolando um papo de que a empresa Cruz vai fazer umas fotos pra uma campanha aqui dentro da favela e ainda vão doar metade do valor do lucro pras crianças._digo soltando a fumaça do cigarro no ar.

— Fecha tudo morena! Deixa ninguém entrar não minha parceira._reforça Caim.

— Se proibir toda a entrada é mais fácil pra gente entrar em cana. Você sabe como esse povo rico é! Então é só marcar em cima. Principalmente no baile de sexta a noite.

— Demorou. _ dizem em coro.

Pego minha mochila no chão e me despeço dos meninos. Vou descendo e por fim chego em casa.

— Mãe?_ela não estava. Provavelmente devia ter achado alguma faxina pra fazer.

Abro a geladeira e procuro por algo pra comer. Pego um pouco de iogurte e sento na sala mexendo no celular. Até que enfim, metade do dia já se passou. 

Mais populares

Comments

Paulo Roberto

Paulo Roberto

a mas pura

2023-11-15

1

Paulo Roberto

Paulo Roberto

verdade

2023-11-14

1

Ana Faneco

Ana Faneco

já gostando 😊

2023-09-24

1

Ver todos

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!