[ Julie ]
Acordo mais cedo que o normal naquele dia. Troco minha roupa em frente ao espelho e prendo meu cabelo em um coque.
Desço as escadas rapidamente e percebo que minha mãe não estava em casa ainda.
Pego um copo no armário e despejo nele o café de ontem. Não queria desperdiçar. Abro a geladeira pegando a manteiga e coloco em uma torrada velha. Meu telefone toca e ao ver no visor era uma mensagem de Abel me lembrando do baile hoje a noite.
Pego minha mochila no sofá e bato a porta atrás de mim indo para a feira. Hoje por ser sexta - feira o movimento estaria maior. Com toda certeza Seu João estava irradiante.
Vou descendo o escadão e já posso ver o quão lotado a feira estava.
— Bom dia seu João!_digo abraçando aquele peno senhor bondoso.
— Até que enfim não se atrasou._diz ele sorrindo.
— Qual foi padrinho?
Ajudo ele a organizar as caixas de frutas e começamos nossas vendas.
— Morena! Ei._olho pra cima e cumprimento Carol que estava com um cacho de uvas na mão.
— Carol! Você por aqui.
— Eu tô sempre por aqui._diz ela escolhendo também algumas pêras.
— Queria te perguntar se posso trazer uma amiga no baile hoje. Sei que não gosta de gente estranha e nem desconhecida por aqui.
— Pode sim. Não tem problema. Só estamos mais cautelosos porque tá rolando um problema aí.
— Como assim?_pergunta ela.
— Relaxa.
Carol colocou as frutas que havia escolhido na bolsa de feira e me pagou com uma nota de R$50,00.
— Tem troco._digo pegando no caixa.
— Pode ficar. Te vejo a noite._ela se despede e sai dali.
Enquanto as horas passavam, a movimentação na feira só aumentava. As conversas dos clientes, o colorido das frutas e vegetais expostos, o aroma das comidas sendo preparadas pelos ambulantes, tudo contribuía para criar uma atmosfera relaxante.
Seu João e eu compartilhávamos histórias e risadas com os clientes habituais. Mesmo assim a minha preocupação em relação à empresa Cruz permanecia. Tinha medo de ter uma nova batida policial no morro e dessa vez quem iria rodar seria eu.
Tento bloquear esses pensamentos e focar nas vendas, pois depois que voltasse pra casa teria que ficar na organização do baile.
Acabando o expediente subo o escadão rapidamente e vou direto pro barracão. Chegando lá Abel estava sentado na mesinha fazendo algumas anotações.
— Passa a visão._digo pegando uma seda e fumo na gaveta.
— Falta só ver as bebidas Morena. Fora isso já tá tudo em ordem. Se quiser ir lá embaixo conferir.
— Confio em vocês. Tenho que organizar umas coisas lá em casa. E fiquem de olho se entrar alguém diferente aqui em cima.
— Deixa com a gente._responde.
Acabo de enrolar meu cigarro e dou um trago. Me afasto da mesa e vou até a sacada do barracão. Muitas pessoas indo e vindo, crianças brincando. Aqui é uma teia complexa de relações, lealdades e perigos.
Eu sabia que, mesmo sendo contrária a muitos aspectos dessa vida, eu sou quem estava à frente agora. Eu era a voz do meu irmão na sua ausência, um fio de conexão entre os becos sombrios e os becos iluminados.
Dou mais um trago no cigarro, e novamente vem a sensação da sombra da responsabilidade. Eu tinha muitas facetas: filha, irmã, líder. E apesar de todas as escolhas que me cercavam, uma verdade permanecia constante, a minha determinação em proteger aqueles que amava, custasse o que custasse.
Rapidamente a noite chega. E da minha casa posso escutar o auto som do baile. Passo um batom rapidamente, e procuro pela minha pochete no guarda roupa bagunçado.
— Está linda filha._diz minha mãe entrando no quarto.
— Obrigada.
— Vê se toma cuidado.
— A senhora também. Quero que fique bem. Vou deixar um dinheiro caso queira comprar algo.
— Não precisa. Eu trabalhei hoje.
— Guarda. Vamos precisar.
— Filha...
— Eu te amo mãe. Eu vou te proteger pra sempre.
— Só não quero que tenha o mesmo destino que seu irmão.
— Vira essa boca pra lá! Pelo amor de Deus._fecho o cenho sem entender o porque daquilo, continuo procurando minha pochete.
— Filha, eu sei que você assumiu o posto dele. Mas não quero que ouse a...
— Mãe! Chega._digo já irritada._— Eu não sou meu irmão tá bom?
Ela se assusta e sai do quarto parecendo chateada. Acho o que estava procurando e coloco ela na cintura junto com meu cigarro e o celular.
Minha mãe estava sentada no sofá assistindo televisão. Me agacho em sua frente e pego em suas mãos.
— Mãe. A culpa do Mason está na cadeia não é sua.
— Eu sei filha...
— Eu te amo. Deixei o dinheiro na bancada. Me liga se precisar.
Subo o esquina e logo chego na rua do baile. Estava cheio. Mas a de ficar mais ainda. Avisto Abel, Caim e Ratinho no palco e vou até eles.
— Até que enfim a rainha chegou!_diz Caim segurando minha mão e me fazendo dar uma voltinha.
— Você é patético! Passa o radinho._digo dando um tapa em seu ombro.
— Vai ficar na espreita hoje?_pergunta Ratinho.
— Sim. Hoje quero observar tudo de perto.
Caim pega um radinho e me orienta como usá-lo. Consigo avistar muitos rostos diferentes e alguns bem conhecidos.
— Vou no bar._digo descendo já a escadas e chegando na bancada de bebidas.
— Cerveja! Por favor._digo alto o bastante pro bartender entender.
Logo dou um gole e viro metade da garrafa. Olho para os lados e consigo avistar Bárbara me encarando. Sorrio pra ela de canto e a mesma vem até mim. Essa mulher mexia comigo.
— Tá linda._diz Bárbara se aproximando.
— Você também.
— Hoje tá mais cheio que de costume._diz ela reparando ao redor.
— Que bom. Lucro pra nós! Tem que concertar as luzes da praça._digo dando mais um gole na cerveja.
— Você faz um ótimo trabalho por aqui. Sabia?_diz ela me encarando.
— Tento fazer meu melhor. Quero tudo de bom pra essa comunidade.
— E eu quero você._diz ela passando sua mão sob minha bochecha.
— Bárbara..._digo já me sentindo fraca com a situação.
— Para de resistir. Por favor.
As palavras de Bárbara eram provocativas, e eu gostava de sentir a tensão se intensificando a cada segundo, gostava das brincadeira, da atração magnética que Bárbara representava diante de mim, mesmo que não fosse amor. Era uma dança perigosa, uma interação carregada de significados.
Agarro sua cintura puxando para perto de mim e logo posso sentir seu hálito quente bem perto dos meus lábios.
A beijo com voracidade tocando nossas línguas profundamente e me deliciando daquela boca tão gostosa. Sinto meu corpo querer mais daquilo tudo e tento levá-la para um canto mais reservado.
O radinho toca fazendo com que passemos o que estávamos tentando fazer e logo tenho que atender.
—Parece que tem alguém diferente por aqui. Vou ter que ir._digo dando um selinho nela.
— Te esbarro mais tarde.
— Com toda certeza._digo já saindo de perto.
Chego até a entrada da rua e vejo Carol com sua amiga que já havia me falado.
— Oi Carol. Tá sussa?_digo a abraçando.
— Essa aqui é a Bree. Minha amiga que te falei.
— Oi._digo a olhando de cima baixo e observando como se comportava.
— Prazer. Bree._ela estende a mão e eu apenas sorrio de lado.
— Fica a vontade._digo dando passagem.
Aciono o radinho e aviso os meninos para ficarem de olho nessa amiga da Carol. Ela tinha o porte de alguém de auto nível.
A noite avançava e mais pessoas chegavam, continuo minha vigilância, balançando entre a alegria do momento e seriedade. Eu sabia que não poderia se permitir esquecer as responsabilidades que carregava, mesmo enquanto se entregava a bebidas e aos sons da noite.
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Atualizado até capítulo 52
Comments
Paulo Roberto
gente prsiza olhar de cima a baixo
2023-11-15
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