Capítulo 11

[ Bree ]

Procuro pelo meu celular na bolsa e vejo que já eram 5:00AM.

— Preciso ir embora._digo tentando me levantar mas sabendo que meu corpo já não respondia 100% por mim.

— Vou pedir alguém pra te levar.

— Não precisa. Eu ligo pro Carlos e ele vem me buscar.

— Claro, se ele não ligou até agora perguntando por você._diz Julie rindo ironicamente.

— Ele é um cara ocupado!

— Ou somente está...._ela pausa sua fala e olha pra mim preocupada.

— Está insinuando que ele possa estar me traindo?

— N...não. Me desculpa! Isso não é da minha conta.

— A Bárbara é sua ex namorada?_pergunto vendo que mexi em um ponto sensível dela.

— Não. Só ficamos algumas vezes...bastante vezes na verdade.

— E porque pararam?_vejo que ela dá um gole a mais no vinho então percebo que realmente a deixei incomodada. — Não precisa responder, me desculpe.

— Ela queria algo mais sério. E toda vez que ficava bêbada, dava papo de futuro. Isso a machucava. E me machucava, pois eu sabia que não iria acontecer.

— Não acredita nisso?

— Quem ama fica tolo. E eu não posso me dar o luxo de ser uma.

— Que ridículo!_comentei rindo para aliviar a tensão. Ela continua seria e né olhava profundamente. Pego meu celular novamente e abro minha câmera.

— O que está fazendo?_diz ela olhando pra baixo.

— Você é minha modelo esqueceu? Estou escrevendo um artigo sobre você. E preciso de fotos suas.

Tiro uma foto dela deslumbrante, e com toda certeza usaria ela.

As horas passavam e nossa conversa ainda se estendia. Até que o celular de Julie apita e ela sai da sala para atendê-lo.

Aproveito e mando mensagem para Carlos que parecia estar offline. Vasculho pelos stories do Instagram e me deparo com um de Mirela que fico extremamente chocada. Ela acabará de anunciar que estava grávida.

— Bree, a poeira já abaixou. Se você quiser ir..._diz Julie voltando lá de dentro.

— Sim. Claro. Eu vou...ligar pro Carlos pra ver se ele me busca.

No primeiro toque ele atende com a voz de que estava dormindo.

— Amor? Tem como você me buscar?

— Onde você está Bree?

— Na Rocinha.

— Até agora?

— Aconteceu uns problemas.

— Porque você não está de carro?

— Porque...meu Deus! Ora! Que pergunta não é mesmo Carlos.

— Não tem como chamar um táxi?

— Táxi?

— Da última vez você voltou de moto. Providência outra por aí, eu pago uma gorjeta.

— É sério isso?

— Por favor amor! Estou tão cansado. Você sabe como a empresa me suga...

— Tudo bem. Logo chego em casa.

— Tudo bem. Te amo.

Desligo o telefone e suspiro irritada. Julie se senta ao meu lado e me olha esperando uma resposta.

— Ele não vem, não é?_pergunta ela.

— Vou descendendo e pego um Uber.

— Não vou deixar você sozinha por aqui. Eu te levo até em casa.

— Você está...alcoolizada, e não deve nem ter carteira, desculpa, não quis ofender.

— Você está certa. Neste caso, terá que ficar por aqui até cedo. Os motoboys essa hora só rodam pra fazer entregas de...se é que você me entende.

— Não quero incomodar. E Carlos está me esperando, de qualquer maneira não posso ficar.

— Não seja tão careta! Fique. É só algumas horas.

Me sinto vencida e sirvo mais um copo de vinho para nós duas. Bree inicia um novo assunto fazendo com que a gente se conhecesse mais um pouco. Continuávamos conversando e nos conhecendo melhor, os minutos se transformaram em horas. A garrafa de vinho estava quase vazia, e as histórias pessoais fluíam naturalmente. Julie compartilhou mais sobre sua vida na Rocinha, suas lutas e um pouco da sua determinação em ajudar a comunidade. Eu, por outro lado, falei sobre minha carreira como empresária e fotógrafa, e meu grande sonho em se casar com Carlos.

Ficou claro que éramos duas pessoas de mundos muito diferentes, mas ainda assim, encontramos uma conexão genuína naquela noite. A conversa se tornou mais intima. Enquanto continuávamos a falar, percebi que estava me sentindo cada vez mais à vontade na presença dela. Ela era forte, determinada e, acima de tudo, genuína em seus esforços para melhorar a vida das pessoas em seu redor, por mais que aquela conversa fluiu senti que tinha mais coisas ali do que eu imaginava. Ela era uma verdadeira caixinha de segredos.

Ouço batidas forte da porta e Julie se assusta mas levanta cautelosa para ver quem era. Rapidamente a pessoa do outro lado empurra a porta a abrindo por contra própria.

— Polícia! Mãos e pés na parede._diz um deles segurando Julie pelo braço.

— Ei. O que é isso?_pergunto assustada me levantando do sofá.

Um deles vem até mim e me pede para fazer o mesmo. Me revista por inteiro e me encara.

— Arrumadinha demais pra estar aqui. O que tá fazendo nesse lixo?

— Vim visitar uma amiga._digo o encarando sem fraquejar nas palavras.

— Aquela ali? Essa hora?

— Algum problema Senhor?

— Nenhum. Só cuidado onde você anda._diz ele saindo de perto de mim e agora se voltando para Julie.

— Sua cela ao lado do seu irmão tá arrumadinha pra você._diz ele alto o suficiente para eu escutar.

Eles saem dali indo embora e batendo a porta. Fico assustada e com medo e vou até Julie que estava com o cenho fechado aparentemente de raiva.

— Obrigada._diz ela me abraçando imediatamente.

— E...eu não sabia o que dizer, eu tive medo._sei que era o efeito da bebida, do medo e emoção então começo a chorar.

— Está tudo bem! Já passou.

— Eu não conseguiria viver como você. Eu...

— Tá tudo bem Bree. Já passou.

Ela se senta no sofá comigo e limpa minhas lágrimas que insiste em rolar pelas minhas bochechas.

O toque áspero do seus dedos pelo meu rosto me desperta uma certa carência e fecho os olhos querendo um pouco mais daquilo. Imediatamente meu coração começa a pulsar mais forte quando percebo a respiração de Julie mais perto de mim. Não queria abrir os olhos e ver que ela estava prestes a me beijar, pois por mais errado, e por mais que isso era novo pra mim eu queria aquilo naquele momento.

Sinto meus lábios tocarem os delas e permito que sua língua explore totalmente minha boca. Mas antes que eu possa deixar tudo isso acontecer somos interrompidas pelo som de passos vindos do corredor. O coração de Julie dispara, e ela se afasta de mim abruptamente. Nossos olhares se encontram, cheios de desejo e surpresa, mas também de preocupação.

— Filha?

A voz de sua mãe ecoa pelo corredor, e ela para abruptamente ao nos ver no sofá. O silêncio paira no ar, e a tensão é quase palpável. Me levanto rapidamente e sorrio a cumprimentando.

— Oi mãe. Te acordei. Me desculpa._diz Julie indo até ela.

— Tá tudo bem. Só escutei alguns barulhos e fiquei preocupada. Irei voltar para cama.

Imediatamente estávamos sozinhas novamente, mas já tinha me recomposto para saber que aquilo que acabará de acontecer foi totalmente asqueroso da minha parte.

— Julie. Vou embora._digo firmemente pegando minha bolsa e saindo pela porta sem ao menos ouvir qualquer palavra que ela tenha a dizer.

Enquanto desço o morro sem olhar para trás. Vejo pessoas me encararem enquanto passo pelas vielas, mas apenas ignoro. Começo a refletir sobre o que não aconteceu naquela noite e o quão errada eu estava.

Avisto um ponto de táxi ao chegar na avenida e  peço um para me levar para casa. O caminho é silencioso, e a culpa me consome enquanto penso no que aconteceu na casa de Julie. Eu não devia ter cedido à tentação. O que eu estava pensando?

Chego em casa e subo para o meu apartamento, onde tudo parece ainda mais vazio do que antes. Sinto-me suja e arrependida, e a imagem do olhar de Julie quando fomos interrompidas não sai da minha mente.

Jogo-me na cama ao lado de Carlos que estava dormindo e fecho os olhos, tentando ignorar a confusão de emoções que estavam me consumindo.

A noite tinha sido uma montanha-russa de acontecimentos, e eu estava certa de que isso não terminaria ali. O que o futuro reservava para mim naquele lugar, eu não tinha ideia, mas sabia que precisava encontrar um caminho que me fizesse sentir menos perdida e culpada.

Enquanto a luz da manhã começava a filtrar-se pela janela, eu me permiti fechar os olhos relaxar para dormir.

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