[ Julie ]
A sexta feira chega rapidamente e com ela a correria de deixar tudo organizado.
— Abel, já viu quem vai tocar hoje?_pergunto vendo a lista de coisas a fazer.
— Já tá fechado Morena!
— Já confirmou as bebidas? Luzes? E mano, dobra lá em baixo. Por mais que a garota vai trazer uns burgueses pra nós temos que revistar até o dedo do pé deles.
— Tô ligado! Beleza. Vou descer pra avisar._diz ele se levantando do sofá e saindo pela porta.
Ratinho estava na sacada ao telefone, resolvendo algum problema. Deixei-o lá e me virei para Caim, que estava no quarto acima. Abri a porta cuidadosamente e pedi permissão antes de entrar.
— Oi._digo me aproximando.
— Fala comigo Morena!
— Caim..._sento no chão onde ele fechava alguns entorpecentes e coloco a mão em seu rosto fazendo com que olhasse para mim.
— Que foi?
— Eu tenho medo...de perder você.
Ele se vira totalmente pra mim e passa a mão em meu rosto.
— To aqui Morena.
Alcanço seus lábios colocando minha língua em sua boca e esperando que ele faça o mesmo. Percorro minha mão pelo seu tórax encerrando nosso beijo e o abraçando fortemente.
Saio do quarto e vou para casa. Chegando encontro minha mãe na cozinha, terminando de preparar o jantar. Ela olhou para mim com um sorriso.
— Como foi o seu dia, filha?
— Foi bom, mãe. Muito trabalho, como sempre._digo depositando um beijo em sua testa.
Ela assentiu e colocou uma travessa de arroz e feijão na mesa. Enquanto comíamos, eu contei a ela sobre a situação do posto de saúde e minha ideia de arrecadar fundos.
— Só toma cuidado filha. Você sabe que...
— Mãe. _— Digo a interrompendo. — Tá tudo bem. Eu não vou ter o mesmo destino que o Mason.
Ela sorri aliviada. E segura em minhas mãos.
Depois do jantar, subi para o meu quarto e comecei a me arrumar para o baile. Dessa vez escolhi um vestido mid verde com detalhes branco e as costas nuas,algo que nunca tinha usado antes.
Queria fazer do baile uma das principais fontes de renda para a comunidade, mas tinha que dar o meu melhor para garantir que as coisas corressem bem. Ao me olhar no espelho, respirei fundo e prometi a mim mesmo que tudo daria certo.
Já pronta, retornei na cozinha e me despedi da minha mãe. Ela me abraçou pedindo para que eu tomasse cuidado.
Enquanto subia o morro em direção ao baile, senti uma mistura de emoções. A noite estava apenas começando, e eu estava determinada a fazer o que fosse preciso para que tudo desse certo.
......................
Subo pra trás do palco com o radinho na mão esperando a chegada dos meninos. Eles provavelmente estariam ajudando a revistar lá em baixo.
— C...caralho! Que isso Morena._diz Caim chegando por trás de mim entrelaçando os braços em minha cintura e me dando um beijo no pescoço.
— Ridículo._digo rindo.
— Tá gata pra caralho. Deixa eu te atualizar. Tá bombando Morena! Tem umas quatrocentos pessoas diferentes que já fecharam com a gente aquele esquema mais tarde.
Fico feliz por esse dinheiro estar sendo por um bom motivo, mas preocupado de algo mais séria acontecer.
— Cadê o Ratinho e o Abel?_pergunto.
— Estão lá em baixo ainda aguardando todo mundo entrar.
Respiro profundamente tentando entender isso tudo.
— Vai dar tudo certo minha princesa, e relaxa, eu tô protegido por...Oxalá._diz Caim olhando pro céu e voltando sua atenção para mim.
Deposito um beijo em sua bochecha e desço do palco indo para o bar. Peço uma cerveja e com a garrafa na mão vou para a entrada esperando que Bree apareça.
As horas estavam passando e já tinha tomado quatro cervejas e ainda nem sinal dela, talvez o que eu estava planejando não iria realmente rolar.
Bárbara se aproxima de mim e eu imediatamente tento correr.
— Tá namorando o Caim agora?_pergunta ela vindo atrás de mim.
— Não te interessa._respondo voltando novamente pra entrada.
— Você gosta de gente no seu pé, isso sim. Não muda a cara pra iludir alguém.
— Não Bárbara! Eu odeio gente no meu pé, eu odeio gente como você no caso._repliquei sentindo minha paciência se esgotar.
— Qual é? Eu só queria um futuro contigo Julie!
— Mas não rola mano, eu não quero. Eu não sou dessas.
— Você gosta de mim! Só não quer admitir.
— Troca o disco Bárbara. Por favor. Desencana.
— Olha bem no meus olhos e diga que não gosta de mim._ela para em minha frente e segura meu rosto fazendo com que eu olhasse pra ela.
Eu estava prestes a responder com tamanha ignorância, quando Bree finalmente apareceu na entrada do baile, interrompendo nossa conversa.
— Olha quem está aqui. Graças a Deus._disse eu, desviando o olhar de Bárbara e sorrindo para Bree pegando em suas mãos.
Bree retribuiu o sorriso e se aproximou de mim. Bárbara, percebendo que não havia espaço para ela naquele momento, decidiu se afastar.
— Você me paga sua vadia! _disse ela olhando pra Bree antes de se retirar.
— Desculpe por isso. Ela não sabe quando desistir. Não deixarei nada acontecer com você. Essa noite você é minha convidada.
Bree balançou a cabeça, mas parecia assustada.
— Desculpa a demora, mas tinha muitos colegas meus em minha frente na fila._diz ela sorrindo.
— Como assim?
— Trouxe "clientes" pra você.
— NÃO ACREDITO.
— Pode acreditar!_diz ela comemorando junto comigo.
— Meu Deus!_ instintivamente a abraço e fico sem graça com a reação.
— Espero que você possa me ajudar também, você lembra do nosso combinado, não é mesmo?_pergunta ela agora bem seria.
Por mais que eu não queria me expor daquela maneira e muito menos aparecer em fotos eu aceito aquilo tudo.
— Então vem que vou te apresentar meu mundo.
Juntas, entramos no baile, e nossa primeira parada seria no bar. A faço experimentar uma cerveja barata e a mesma faz tantas caretas me fazendo rir.
Enquanto a noite avançava, Bree e eu estávamos nos divertindo. Dançamos na pista, conversamos com pessoas diferentes e, com a ajuda dela, consegui atrair alguns dos "clientes" que ela trouxera para gastar.
No entanto, meu momento de diversão foi interrompido quando o radinho acionou.
— Fala?
— Morena! A polícia tá rondando a entrada. Vamos ter que começar a acabar devagar o baile.
— Como assim?
— Lombrou filha! Pede o DJ pra mandar o pessoal ir embora porque a polícia deve bater no barracão. Ratinho e Abel tirou tudo de lá já.
— Demorou._digo preocupada com a situação.
— Vai pra casa e só sai de lá depois que a poeira abaixar.
Ele desliga e meu medo de acontecer algo maior me preocupa. Peço para Bree esperar e vou até o DJ pedindo para que encerre aquilo tudo.
Todos entendem o recado e começam a se recolher deixando tudo para trás.
As pessoas dali já estavam acostumadas com esse tipo de situações e por conta disso sempre agiam rápido.
— Ei? O que está acontecendo?_pergunta Bree segurando meu braço.
— Você se importa de ir comigo pra minha casa?
— Sim. Claro. Meu marido deve estar me esperando uma hora dessa...e...
— Tá! Você não tem escolha. Ou você vem, ou vai rodar.
— Droga!_diz ela colocando a mão na cabeça e totalmente assustada.
Ela assente e me segue até em casa. As luzes estavam apagadas e vejo que minha mãe já estava dormindo. Fecho a porta do seu quarto para não incomodo-lá e chamo Bree para se sentar no sofá comigo.
— Desculpa._digo.
— O que aconteceu?
— As coisas por aqui são assim...
— Porque não passa isso a diante?
— História longa._me levanto pegando uma garrafa de vinho na geladeira e dois copos americanos no armário. Sirvo eles colocando na mesa de centro. — Desculpa, não tenho taças.
— Tá tudo bem._ela parecia a vontade, mas provavelmente na hora que o efeito de toda a bebida passasse sentiria ânsia pelo lugar que estava.
Começamos a conversar sobre sonhos e beber aquele vinho todo. O assunto estava bom, mas logo começo a escutar alguns passos pesados pelos becos, e sabia que a polícia estava por aqui fazendo vistoria. Minha cabeça querendo ou não continuava em Caim, Ratinho e Abel que estavam lá fora, e comecei a desejar que isso tudo passasse logo.
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Atualizado até capítulo 52
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