Rosa olhou para o relógio e já eram 9h30 da manhã. Ela foi até o quarto da filha para chamá-la para o café.
Assim que entrou no quarto, viu que a cama estava vazia, deixando Rosa assustada e histericamente começou a chamar por Beatriz, mas não obteve resposta.
Olhou ao redor do quarto e tudo estava como na noite anterior, a mochila da escola no chão, a roupa de uniforme dependurada e o computador ligado, nada diferente.
Rosa saiu do quarto nervosa e foi até a cozinha, onde Márcio estava tomando café. Seu coração estava cheio de preocupação, pensando em mil possibilidades.
— Márcio, a Beatriz não está em casa! — Disse, desesperada.
— Mas como? Ela estava aqui ontem à noite.
— Não sei, deve ter ido se encontrar com aquele delinquente.
— Isso é um absurdo! — Disse Márcio, nervoso.
— O que fazemos, Márcio? — Rosa disse, desabando em lágrimas.
— Vamos ligar para Julia. — sugeriu Márcio.
Os dedos de Rosa tremeram quando ela discou o número de Julia, sua última esperança.
— Alô?
— Júlia, é a Rosa. A Beatriz está com você? — A voz de Rosa estava trêmula, sua esperança estava por um fio.
Julia ficou em silêncio por alguns segundos, observando a reação de Rosa, não querendo dizer o que sabia.
— Não, ela não está. — Júlia disse sentindo pena de Rosa.
— O que você disse? — As palavras atingiram Rosa, roubando-lhe o fôlego.
— Beatriz me disse que ia fugir com o Marlon! — a voz de Julia tremia, sentindo o desespero de Rosa.
— Fugir? Mas para onde? — A voz de Rosa falhou com o desespero.
— Eu não sei, ela não me disse. — As palavras de Julia pairaram pesadamente no ar, uma pergunta sem resposta que ecoou pela sala.
Rosa desabou nos braços de Márcio, a dor compartilhada era palpável.
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Nos meses que se seguiram à fuga, Rosa e Márcio fizeram tudo o que puderam para encontrar Beatriz e trazê-la de volta para casa.
Procuraram ajuda das autoridades e entraram em contato com amigos e familiares em busca de informações de Beatriz.
Sentiram-se impotentes e culpados por não conseguirem evitar a fuga. A ausência de Beatriz deixou um vazio doloroso que ecoava cada canto da casa.
Rosa e Márcio, com o tempo, foram obrigados a buscarem maneiras de lidar com a falta de sua filha.
A tristeza e o desejo de encontrá-la eram constantes, mas também havia a necessidade de seguir em frente com suas vidas.
Além disso, Beatriz logo teria 18 anos e nada mais poderia ser feito.
O local onde foram viver era uma área de risco, e como falam nas favelas: “x9 tem que morrer”. Manter-se escondido era fácil para Beatriz e Marlon.
Eles trocaram o número de celular, cadastrando a linha em nome de terceiros, e evitaram redes sociais. No entanto, a vida na comunidade não seria fácil.
Nos primeiros dias, Beatriz sentiu-se poderosa, respeitada por todos. Marlon era uma espécie de estrela, todos queriam ser amigos do gerente da boca.
De início, ele a levou a todos os lugares, exibindo-a como um troféu. Ela conheceu o famoso baile de favela e algumas pessoas do local.
Mas, com o tempo, as coisas se complicaram.
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PRIMEIRO CONFLITO
A relação de Beatriz e Marlon se aprofundou, mas não como os romances costumam ser, Beatriz começou a perceber que talvez não estivesse vivendo o conto de fadas que ele havia prometido.
Ele começou a deixá-la em casa e sair sozinho para festas e bebedeiras. Beatriz foi proibida de sair sozinha, só podia sair junto dele.
— Marlon, aonde vai?
— Vou resolver algumas coisas.
— Ouvi Júnior (um amigo de Marlon) te chamar para ir para o baile.
— Larga de ser escrota, garota!
— Se você sair, eu saio também… não sou trouxa, você sai quando quer e…
— Sua burra, tenho negócios nesses locais. — Marlon interrompe Beatriz — Nunca escondi o que faço, aqui tenho que ser respeitado. Se você andar sozinha, vão me chamar de corno. Quer que alguém morra? Quer ver o pior?
Beatriz começou a chorar, enfurecendo Marlon ainda mais. Ele a insultou com mais intensidade e raiva, parando só quando seu amigo Júnior chamou no portão.
Ele saiu de casa, deixando Beatriz chorando. No meio do caminho, enviou-lhe uma mensagem, deixando claro que era para o bem dela ficar em casa e não desobedecer.
Ela não tinha família, não tinha amigos, mal tinha alguns conhecidos. Sentia-se vulnerável, e mesmo em pedaços com o orgulho ferido, o mais sensato seria obedecê-lo. Beatriz sabia que Marlon poderia puni-la e temia as consequências.
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A PRIMEIRA AGRESSÃO FÍSICA
As agressões físicas e verbais por parte de Marlon eram frequentes. Ele não hesitou em usar força para controlar Beatriz e mantê-la sob seu domínio.
Beatriz era acostumada ir até a esquina, em uma mercearia, comprar guloseimas (doces, balas, refrigerantes). Em uma dessas idas acabou fazendo amizade com Carla, a moça que trabalhava na mercearia como atendente.
O único momento mais tranquilo e perto de ter uma amizade era esse: quando ela ia até essa mercearia e aproveitava para jogar conversa fora com a Carla.
Certo dia, Marlon a viu conversando com um rapaz com um bebê de colo nesta mercearia e se irritou ordenando que ela fosse embora na mesma hora.
A humilhação começou quando entraram em casa.
— Por que você estava conversando com aquele homem? Tem vergonha na cara, não?
Beatriz tentou explicar que estava apenas elogiando a criança por ser muito gordinha e risonha, mas Marlon não permitiu.
— Você é feia, está parecendo um esqueleto. Existem mulheres melhores que você me dando atenção. Lembre-se, você não tem mais ninguém. Se eu me cansar de você, viverá na rua.
Essas palavras enfureceram Beatriz.
— Você é covarde! Você destruiu minha família. Se quiser, eu vou embora, talvez eles me aceitem de volta…
Antes que terminasse, foi golpeada com um tapa no rosto. No impulso, partiu para cima dele, deixando-o ainda mais nervoso. A agressão só parou quando ela caiu no chão.
A vida seguia, mas para Beatriz, cada dia era uma batalha pela sobrevivência.
Ela vivia em constante tensão, nunca sabendo quando o próximo ataque de Marlon aconteceria.
As paredes da casa reduziam a cada dia, e ela se sentia como uma prisioneira em sua própria casa. Marlon, com seus ciúmes doentio, controlava cada movimento de Beatriz.
Beatriz, uma alma livre e indomável, estava aprisionada num mundo claustrofóbico, onde cada passo era vigiado e controlado.
A agressão física tornou-se uma parte sombria desse relacionamento. Marlon, incapaz de controlar sua raiva, frequentemente explodia em violência, deixando hematomas pelo corpo de Beatriz.
Cada grito, cada empurrão, cada soco, deixava um rastro de dor que ela tentava esconder desesperadamente, envergonhada e com medo das consequências.
A situação piorava à medida que Marlon se afundava cada vez mais em seu mundo sombrio. Ele traía Beatriz repetidamente, mergulhando-a numa espiral de dor e sofrimento.
A cada descoberta de uma traição, uma sensação de desamparo a consumia. No entanto, a sua obsessão, ou talvez o medo que ela sentia de Marlon, a impedisse de deixar esse relacionamento tóxico.
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Beatriz estava preste a enfrentar uma das provas mais difíceis de sua vida, enquanto o ciclo de abuso e dor continuava a se desenrolar implacavelmente.
Se a vida dela estava complicada, o que viria pela frente tornaria ainda mais complicada.
Será que Beatriz conseguirá se livrar dessa situação?
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Atualizado até capítulo 40
Comments
Giselda Wolmann Leão
Eu não tenho pena da Beatriz ela tinha uma vida de princesa com o pai e a mãe mas desprezou os conselhos se achava prisioneira e controlada por aqueles que só queriam a felicidade dela agora aguenta queria liberdade por falta de aviso e conselhos dos pais não foi a tua teimosia e falta de respeito por quem te deu a vida
2024-01-28
1
Shirlei
Já era de se esperar por isso…
2023-12-26
1
Andrógeno
🐼🐼 eu sabia, estava na cara q isso iria acontecer
2023-11-29
1