Capítulo 10 — Paz e angústia.

Passadas algumas horas desde que sua amiga Júlia fora embora, Marlon enviou uma mensagem para Beatriz, pedindo que ela fosse vê-lo.

No entanto, como ainda era cedo e os pais dela estavam acordados, o encontro teria que ser rápido, apenas por alguns minutos. Beatriz inventou uma desculpa de que iria comprar um açaí.

Marlon estava com o cabelo molhado e liberava um cheiro suave de sabonete na pele. Vestia uma bermuda e uma camisa jogada casualmente sobre o ombro.

Ao vê-lo, Beatriz sentiu um arrepio percorrer todo o corpo, seu coração apertou e ela experimentou uma mistura de alegria e angústia.

“Parece que ele tem controle sobre mim. Deveria confrontá-lo, mas aqui estou, em seus braços, com minha cabeça apoiada em seu peito. Minha paz está onde encontro minha angústia”, pensou Beatriz consigo.

Quando Beatriz finalmente reuniu coragem para questionar Marlon sobre as mensagens para Júlia, ele evitou seu olhar, murmurando palavras incoerentes.

Sua raiva cresceu à medida que ela insistia nas perguntas e seu tom de voz traduzia o seu lado escuro.

— Você não precisa saber de tudo, Beatriz! Não suporto perseguições! — Ele exclamou e o brilho em seus olhos escuros a fez recuar.

— Preciso ir. Disse que estaria apenas comprando um açaí. Foi bom pedir ajuda para escolher o anel, mas não vejo mais sentido nas mensagens. — Beatriz falou, tentando manter a postura.

— Eu não quero saber da Júlia, foi só um apoio. Gosto de você, princesa!

Beatriz se despediu de Marlon e voltou para sua casa.

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À medida que Beatriz mergulhava nesse relacionamento turbulento, sua relação com seus pais se desgastava. Passou a adotar um comportamento cada vez mais rebelde e distante.

Suas notas escolares caíram e suas respostas aos seus pais eram curtas e cheias de agressividade.

Rosa, em particular, estava cada vez mais preocupada com o comportamento distante e desconfiado de Beatriz.

Ela notou que a filha mal saía do quarto, estava sempre trocando mensagens no celular e nada compartilhava com a família.

Toda vez que Rosa tentava descobrir o que estava acontecendo, Beatriz reagia com raiva e acusações, dizendo frases como: “Larga de ser intrometida! Sua fofoqueira! Odeio viver nessa casa”!

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MÁRCIO CHEGA EM CASA.

Quando Márcio chegou em casa, depois de uma partida de futebol dominical, Rosa não perdeu tempo e foi falar sobre suas preocupações. Ela acreditava que algo estava errado e não sabia como lidar.

Márcio era um homem de personalidade tranquila e amorosa e, ao observar o desespero de sua esposa, tentou acalmá-la, oferecendo uma visão ponderada, mas sem minimizar o problema.

— Bia já tem 16 anos, esses segredos podem ser apenas parte da paquera da adolescência. Ela está crescendo, precisamos estar preparados, logo teremos um rapaz sentado em nosso sofá. — Márcio sorriu ternamente.

— Márcio, você não está pensando direito! Exatamente por ter 16 anos, é crucial sabermos com quem ela está envolvida. — Rosa disse, visivelmente estressada.

— Você tem razão, mas precisamos agir com cautela. Converse com ela gradualmente, estou certo de que ela se abrirá com você. Lembre-se de que nós também fomos jovens um dia.

— É exatamente porque já fomos jovens que sei como as coisas funcionam! Sua calma me irrita! — Rosa respondeu, dirigindo-se à cozinha, ainda preocupada.

Márcio preferiu manter-se em silêncio, compreendendo os sentimentos de sua esposa. E apesar de também se preocupar com o comportamento de sua filha, ele julgava importante ter paciência, evitando um afastamento ainda maior por parte de Beatriz.

Ele resolveu ir ao quarto de Beatriz para lhe dar um beijo e tentar conversar e talvez, quem sabe, entender um pouco mais sua filha.

No entanto, ao bater à porta, Beatriz respondeu do banheiro: “Estou tomando banho!”

Em seguida, voltou à sala, sentou-se na poltrona e pegou seu celular para trocar mensagens com seu filho Pedro. Eles estavam prestes a se tornar avós pela primeira vez, o que o encheu de alegria.

Rosa notou que Márcio voltou rapidamente à sala, o que fez suspeitar que Beatriz poderia ter feito algo para afastá-lo novamente.

— O que Beatriz aprontou dessa vez? — Perguntou Rosa, com as mãos na cintura, demonstrando sua inquietação.

— Rosa, estou quase acreditando nela, você está parecendo uma perseguidora. Ela está tomando banho! — Márcio não externou grande preocupação e seus olhos brilharam ao retornar a conversa com seu filho. Estava animado com a ideia de se tornar avô.

Beatriz nunca levava o celular para o banho, preferindo deixá-lo carregando durante esse tempo. Rosa interpretou que essa poderia ser a oportunidade para descobrir algo sobre o que estava acontecendo.

— Vou ver uma coisa, Márcio. Fique aqui, por favor. — Rosa disse, decidida, e se dirigiu ao quarto de Beatriz.

Ela chegou à porta do quarto e hesitou um momento, sentindo-se invasiva. Contudo, a preocupação com a filha ultrapassou qualquer hesitação. Então, empurrou a porta de forma lenta, adentrando devagarinho no quarto.

O vapor do banheiro escapava pela porta e Beatriz ouvia funk por uma pequena caixinha de som. Isso já fez Rosa torcer o nariz e pensar: “Que música ridícula! Onde essa garota vai parar”?

Rosa encontrou o celular de Beatriz sobre a cama, bloqueado com senha. O combinado para que ela pudesse usar um celular era cadastrar a digital de sua mãe no aparelho.

Ela sentiu uma sensação ruim enquanto pressionava o seu dedo no aparelho para desbloquear com a sua digital.

Havia várias notificações, mas um nome se destacou entre as mensagens: “Marlon”. Ela não gostou da foto do perfil dele. Estava fumando!

As mensagens trocadas entre Beatriz e Marlon estavam apagadas. Restando apenas a que acabou de receber.

Na mensagem, Marlon havia enviado a foto de um filhote de pitbull com a legenda: “Eu e o Zeus já estamos com saudades. Quando você vem novamente ficar com a gente”?

O estômago de Rosa revirou e ela sentiu-se tonta. Pensou: “Quem era aquele homem? Parecia mais velho que sua filha e fumava! O que aquela mensagem queria dizer, estaria Beatriz visitando a casa dele”?

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A tensão só estava aumentando!

Rosa sabia que precisava agir: O que estaria acontecendo entre sua filha e esse “tal de Marlon”?

E agora, o que ela faria com aquela informação?

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