Você é um Monstro

Noah

Já faz dois meses que o centro comunitário está funcionando, e eu estou cada vez mais apaixonado por esse trabalho. Já vimos que estamos mudando pra melhor a vida de muitas famílias aqui no morro. E eu não poderia estar mais feliz, tenho esse trabalho que eu adoro, um marido que eu amo demais, uma casa e muito amor.

Apesar de brigarmos às vezes, grande parte por causa de ciúmes, de ambas as partes, porque eu também não tenho sangue de barata, se eu vir alguma puta dando em cima do meu homem, eu vou à luta sim, amor... E sai de baixo, porque a coisa fica feia. Ele também é super protetor e possessivo então às vezes temos atritos, mas sempre resolvemos tudo com uma boa transa.

Hoje tem baile, e eu estou super animado, preciso mesmo me distrair. Ruivo cismou que hoje quer ir ao shopping comprar roupa, diz ele que nesses meses que estamos juntos, ele sempre quis me levar para fazer compras, eu acho desnecessário, mas eu vou pra agradar ele, porque ele sempre faz todas as minhas vontades e me mima muito.

No shopping, o Ruivo andava muito à vontade pra quem é procurado pelo Rio de Janeiro inteiro, ele me disse que nesse bairro os policiais são todos da mesma facção que ele, então está tudo certo.

Meu grandão comprou bastante roupa pra ele, e ficava me enfiando um monte de roupas também, nem tenho onde usar isso tudo, foi roupa, tênis de marca, bonés, chinelos, perfumes, correntes, tantas coisas, a maioria delas eu nem preciso, mas aceitei porque foi meu amor que me deu.

Chegamos em casa já de noite e eu estava morto de cansado, mas mesmo assim eu ia nesse baile nem que fosse pra ficar só um pouquinho. Me vesti com as roupas novas que o Ruivo me deu. Coloquei o colar e os brincos que ele comprou, e quando eu estava pronto, fui lá mostrar pra ele.

— O que acha vida? Estou Bonito?

Ele me olhou de cima em baixo, lambendo os lábios e com a mão na virilha sem nem disfarçar a cara de safado.

— Tá gostoso pra cacete meu nego, acho até que preciso provar hein? — Ele veio já cheio de mãos me pagando pela cintura e me beijando.

— Vida, para... A gente vai chegar muito tarde...

Chegamos no baile e como sempre estava lotado, ficamos no camarote num clima bem gostoso de casal, até eu precisar ir ao banheiro, como sempre, Ruivo foi comigo, porque ele não me larga sozinho no baile nem por um caralho.

Quando sai do banheiro fiquei na porta esperando ele, um cara chegou do nada e começou a puxar papo, eu não dei muita moral e falei que tinha namorado, mas ele continuou insistindo.

— Qual é moreno? Facilita pra mim, tu é mó gatinho... — O doido veio caindo pra cima de mim bem na hora que o Ruivo saiu do banheiro, aí já viu né? O barraco foi armado.

— Tá ficando louco cuzão? Dando em cima do que é meu? Pode ir dando adeus pra sua vida de merda que hoje você vai pro inferno comédia...

Ruivo já estava com a arma na cabeça do cara, que estava mais bêbado que tudo, e não estava ciente do perigo. Entrei na frente dele e o Ruivo me olhou com tanto ódio que eu quase caio.

— Deixa disso Ruivo, não está vendo que o cara está bêbado, nem sabe o que está fazendo...

— Tu está é gostando né desgraça? De ter macho se agarrando em tú, está protegendo ele porque está gostando né?

Não acredito que ele está falando isso pra mim, não aqui no meio de toda essa gente, depois de tudo que a gente passou junto, depois de me conhecer como ele conhece, ele ainda vai desconfiar de mim? Tentei agir com a razão, me convencendo que ele também está meio alto e que ele já é estourado.

— Para de palhaçada Ruivo, vamos conversar em casa... — Tentei ir até ele e pegar na mão dele pra sair, mas ele se afastou rápido e me empurrou, eu caí no chão, no meio de todo mundo.

— Não toca em mim sua puta safada do caralho!

Me senti tão humilhado, tão injustiçado, como ele pode fazer isso comigo? Me levantei com toda a dignidade que poderia encontrar naquele momento, bati as roupas pra me limpar, caminhei até ele e olhei bem nos olhos dele.

— Você é um monstro, eu te odeio! — Gritei com toda a força, mágoa e dor que tinha no peito. Sai de lá correndo no meio das pessoas sem nem ver para onde estava indo.

Sthefany

Meu plano deu certo, convencer aquele idiota de dar em cima da putinha foi fácil, o idiota já estava bêbado demais para pensar direito. Hora da segunda parte do meu plano. Liguei para o Nei avisando que a putinha já tinha saído do baile.

Coloquei a mão no bolso e me certifiquei que os calmantes que eu triturei até virar pó ainda estavam ali. Fui para onde o Ruivo estava e comecei a dizer para ele só o que ele queria ouvir.

— Sinto muito Ruivo, eu sempre soube que ele era infiel, mas olha, eu estou aqui, como amiga pra você sempre... — Ele me olhou ainda com ódio, mas não disse nada, nem me afastou. — Um homem como você tem que ser respeitado e obedecido, um rei desses não pode ser desafiado assim Ruivo, eu sinto mesmo.

Fui enchendo a bola dele e ganhando a confiança dele e dos amigos dele, quando achei que a barra estava limpa, coloquei o pó na bebida dele e esperei fazer efeito. Ruivo começou a bambear as pernas de sono, quase não aguentava parar de pé.

— Marreta, vou levar ele para casa, talvez o Noah esteja lá e ele cuida do soneca aqui.

Marreta concordou sem duvidar porque eu sou uma ótima atriz. Levei o Ruivo para minha casa, em vez da casa dele, assim que o Nei pegar a putinha, eu parto para parte do plano que o Nei não sabe. Sou uma Gênia não sou?

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