Novo Propósito

Noah

Depois do dia do jogo na quadra fiquei mais seguro em relação ao Ruivo, ele me assumiu mesmo, e o apelido de príncipe do morro acabou pegando, assim como a nossa música que a gente escuta juntos sempre que dá.

Ficar aqui na casa dele é bom, eu cuido da casa e a tarde a Lorena sempre vem passar um tempo comigo. Ruivo inventou um monte de churrascos aqui pros amigos dele, acho que ele quer me manter ocupado. A Aline esposa do Juba é um amor de pessoa, ela tem me ajudado muito a lidar com isso tudo, e saber que ela não me olha torto como a metade das gurias do morro já é um alívio.

Mas já estou pra lá de entediado, já quero voltar pra casa para trabalhar, mas sempre que eu tento tocar nesse assunto, Ruivo dá um jeito de desconversar. Ele tem sido tão carinhoso comigo, o sexo como sempre é maravilhoso, ele é bruto, tem pegada, mas é cuidadoso e carinhoso também quando precisa. Me sinto cada dia mais a vontade ao lado dele, para ser carinhoso, para ser eu mesmo e fazer o que tenho vontade.

Hoje é um desses dias entediantes que eu estou sem ter o que fazer, até que a Aline chega aqui, ela disse que precisava da minha ajuda pra uma coisa, eu como sempre ajudei.

Fomos no mercado, fizemos uma bela compra, e levamos em um barraco bem simples no alto do morro pra ajudar uma família que estava precisando. Aline me contou que aqui tem muita gente precisando e que ela queria ajudar mais.

— Miga, por que aqui não tem uma espécie de Centro comunitário? onde as pessoas podem ir pedir ajuda, e também poderia ter atividades para as crianças não ficarem tanto tempo na rua. Podemos ver para dar cursos para as mulheres, coisas assim sabe?

— Nono, é uma ótima ideia, já tinha pensado em algo assim, mas sozinha é complicado.

— Você não está mais sozinha, eu vou te ajudar, hoje mesmo vou falar com o Ruivo e vamos tirar essa ideia do papel o quanto antes.

Ela sorriu pra mim com uma cara estranha.

— Ah Nono, você é realmente um príncipe né, onde você estava esse tempo todo hein?

Dei risada dela, também gosto demais dessa mulher, e a admiro muito. No meio do caminho de volta, uma criança pediu moeda, disse que estava com fome, meu coração ficou pequenininho.

Ruivo disse que se eu precisasse de dinheiro era pra falar com ele ou com uma das mulas, ou ir direto na boca. Tinha uma boca aqui perto, fui até lá e peguei um dinheiro, foi a primeira vez, voltei no mercado e fiz outra compra, mas dessa vez com muita coisa que criança gosta de comer. Levei até a casa daquele pequeno, e a mãe dele me recebeu com lágrimas nos olhos, as crianças estavam tão felizes, algumas daquelas coisas eles nunca tinham comido na vida.

Naquele momento eu percebi, que era isso que eu ia fazer, enquanto eu pudesse e o Ruivo deixasse, eu ia ajudar aquelas pessoas. Estava tão feliz, era como se eu tivesse encontrado minha vocação, meu propósito de vida. Voltei pra casa louco pra falar com o Ruivo, mesmo sabendo o quanto ele ama o povo do morro e quer cuidar deles como pode, eu ainda estou com uma pontada de dúvida.

Ruivo

Não sei o que fazer, estou achando que meu pequeno está querendo ir embora lá de casa, eu não quero não, já me acostumei a dormir agarrado nele, sentindo o cheiro do cabelo dele, acordar com ele do meu lado, ver ele na cozinha fazendo café da manhã, chegar em casa pra almoçar e ver ele cantando todo feliz enquanto faz o almoço. Ele alegra a minha casa e a minha vida. Não quero ficar longe dele não.

Estou enrolando, tentando pensar numa solução, agora que a gente está bem não irei deixar que nada mude. Assumir ele não foi fácil, muita gente ficou com falatório, alguns parças da facção me excluíram, outros pararam de falar comigo, mas isso aí eu já estava esperando, besta é quem acha que eu fiquei mole por causa disso, já teve três que levou chumbo.

Andar de mãos dadas com meu moreno é muito bom, saber que eu não estou mais sozinho nos rolê e nem na vida é muito bom. Recebi mensagem de uma das bocas, dizendo que o Noah pegou mil conto lá, estranhei já que ele nunca pegou nada, as minas que ficavam comigo sempre iam na boca pegar dinheiro pra comprar roupa, fazer cabelo, esses trens aí, mas meu pequeno sempre disse que já tinha tudo o que precisava e que só queria eu. Adoro ouvir isso.

Fiquei grilado, pensado merda, e se ele pegou dinheiro pra ir embora e me deixar? Sai da boca feito bala e fui direto pra casa. Cheguei lá e chamei por ele, e nada dele responder, comecei a ficar desesperado e fui pro quarto, quando cheguei lá vi que ele estava no banheiro, só aí respirei aliviado.

Sentei na cama e ele saiu, a coisa mais deliciosa que eu já vi, com um senhor shortinho curto e coladinho, uma blusa cortada pelo meio mostrando a barriga, e caída nos ombros, os cabelos molhados ainda do banho, e um sorriso que me faz derreter todinho.

— Chegou cedo vida, aconteceu alguma coisa?

Porra eu fico todo boiolinha quando ele me chama assim.

— Estava com saudade de você meu nego, vem aqui vem, senta no meu colo. — Ele veio e sentou no meu colo todo dengoso, já cheirando meu pescoço. — Está vestido assim porque? Está querendo me matar de tesão?

— Hum talvez, está funcionando?

— Sempre meu preto, mas me promete uma coisa?

— O que?

— Só eu que vou te ver assim, essa visão de você vestido assim é só minha, promete?

— Ah como você é ciumento e bobo, me verem assim não muda o fato de eu ser só seu, mas se é importante pra você, por mim tudo bem. Mas...

— Mas o que pequeno? Não inventa...

— Você vai ter que me elogiar e me ver dançar muito pra eu não ficar carente, já que eu sou muito biscoiteiro.

— Sempre vou te mimar, te dengar e te elogiar, meu pretinho gostoso. — Sei que ele está querendo alguma coisa, já aprendi muito sobre o Noah e sei bem quando ele quer me pedir algo. — Fala pequeno, tem algum problema?

— Não, mas eu queria te falar uma coisa, te contar uma ideia que eu tive e quero muito fazer dar certo.

Quando o Noah me contou o que ele queria fazer, eu fiquei tão orgulhoso dele, meu coração chegou a doer de tanto sentimento. Quando eu penso que não tem como me apaixonar mais ainda, ele vem com uma dessas.

— Escolhe o lugar meu princeso, eu mando construir, a partir de amanhã metade da renda de todo baile vai para o teu projeto, tu me diz o que tu quer, que eu faço acontecer.

Ele pulou no meu colo todo feliz me enchendo de beijos.

— Acho que o meu Monstrão merece uma recompensa...

Ah essa carinha de safado, essa mordidinha na boca, porra! Me dei bem hoje!

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