O Roubo

Noah

Meu primeiro dia no trailer de açaí foi um sucesso! Vendi muito mais do que o esperado, a galera curtiu os acompanhamentos que eu servi. Também preparei umas opções de vitaminas com açaí e foi bem recebido.

Estou tão feliz e animado. Fechei o trailer ontem era mais de meia noite. Como o trailer fica em frente de casa, só precisei fechar e guardar as mesas e as cadeiras no quintal. Estou ansioso para abrir de novo hoje à noite. Além de trabalho e ganhar dinheiro, eu me divirto e conheço gente nova. Estou amando.

Assim que acordo às 5 da manhã, preparo o café da manhã dos ratinhos e acordo os bonitos para pegar o ônibus, porque a escola deles fica longe pra caramba. Depois dos dois dispensados, eu arrumo a cozinha e me arrumo para o meu primeiro emprego que é no mercado.

Assim que saio de casa já percebo que tem coisa errada. Não vejo as cadeiras no quintal. Corro para frente da casa e vejo a porta do trailer arrombada. Meu coração se partiu em pedacinhos, e o desespero tomou conta de mim. Meu Deus, como eu vou fazer? Eu tenho dois empréstimos para pagar, um no mercado para comprar o trailer, e outro na lanchonete para equipar ele, e no primeiro dia sou roubado.

Meu Deus, como eu vou pagar essa dívida? O que eu faço! Nenhum vizinho viu nem ouviu nada, ou pelo menos não quiseram me dizer. Sem ter como fazer nada no momento, tive que ir trabalhar. Contei o que aconteceu para Lorena, e ela me disse que ia me ajudar a resolver no meu horário de almoço.

A manhã se passou lenta e eu estava angustiado pensando em como eu sou azarado. Devo ter sido muito mal em outra vida, porque, oh sina viu!

Finalmente, o meu horário de almoço chegou, e quando sai do mercado já vi a Lorena na moto dela me esperando. Minha amiga trabalha em um estúdio de tatuagem. Ela ainda está aprendendo a fazer tatuagens, pequenas por enquanto, o que ela mais faz mesmo é por piercing.

Subi na moto, e ela não me disse aonde íamos. Até que eu quase infartei quando ela parou na frente da boca principal do morro.

— Lorena de Deus, o que a gente está fazendo aqui mulher?

— Calma, falei que a gente ia resolver, não falei? Confia. — Ela era mais valente do que eu, com certeza. Não perdeu a postura, andou ereta com um olhar firme e pediu para falar direto com o Ruivo.

Ele era muito perigoso, mas diziam que era justo, então vir aqui falar com ele não é má ideia. O cara que estava na porta entrou para falar com o Ruivo, e o telefone da Lorena tocou logo em seguida. Era o seu chefe dando esporro porque ela esqueceu uma cliente que estava lá esperando ela para colocar piercing. Quando ela viu que eu estava apavorado por ficar lá sozinho, logo tratou de me acalmar.

— Nono, fica tranquilo. Só conta para eles o que aconteceu, conta sua história, e eles vão te ajudar. Podem ser bandidos, mas eles têm regras, lembra?

— Eu sempre vejo esse Ruivo por aí. Ele nunca sorri e está sempre com a cara fechada, como se estivesse bravo o tempo todo. Ele me dá muito medo, Lory.

— Fica calmo, e seja você mesmo. Vai dar certo. Me liga assim que sair daqui ... Te amo, bebê.

— Te amo também.

Ela saiu, e eu fiquei lá esperando. Quando eu já estava quase desistindo e indo embora correndo, a porta abriu e o pivete me mandou entrar.

— Aí, cadê a gostosa que estava contigo?

— Ela foi trabalhar, só veio me dar uma carona.

Assim que chegamos num dos quartos da casa, ele bateu na porta, abriu, e me deu passagem para entrar. Entrei e vi o tal Ruivo, sentado atrás de uma mesa com um cigarro na mão, olhando para o telefone. Tinha mais quatro homens lá com ele, e todos estavam olhando para mim.

A essa altura eu já estava para lá de desesperado. Aquele homem levantou a cabeça e me olhou com aqueles olhos verdes, e eu quase perco as forças das pernas. Ele é lindo, lindo e assustador.

— Qual é, menor? Fala logo qual é a fita?

— Sa-sabe o que é... — Droga, péssima hora pra gaguejar! — Eu fui roubado, senhor! Eu abri um trailer de açaí lá na frente da minha casa, na rua do posto. Abri ontem, mas hoje de manhã eu vi que levaram tudo.

— Hum, e tu, é noia? Está devendo grana para nós, ou para alguém do morro? Isso aí pode ser acerto de contas. — Ruivo falou com impaciência.

— Olha moço, eu tenho 22 anos e moro aqui desde que eu nasci, e essa é a primeira vez que piso o pé em uma boca. Eu não uso nada, e nem devo dinheiro para o crime. — Vi que ele me olhava atento. Preciso que ele me ajude a recuperar minhas coisas, então tomei coragem e continuei. — Eu trabalho desde os 16 anos, quando a minha vó morreu e me deixou cuidando dos meus irmãos gêmeos e da minha mãe drogada. Minha mãe morreu também, então sou só eu e eles dois. Apesar de trabalhar feito doido em dois empregos, o dinheiro ainda não dá. Meus irmãos vão para a faculdade esse ano, e eu preciso bancar aluguel e alimentação deles lá, fora livros e outras coisas mais. Por isso, eu pedi um empréstimo com meus patrões para comprar aquele trailer e vender açaí para complementar a renda. Pode pesquisar aí, eu não sou gente ruim, eu só preciso de ajuda para recuperar minhas coisas e voltar a trabalhar. Me disseram que você é justo, eu nunca vim aqui incomodar ou trazer problemas, mas agora eu realmente preciso de ajuda.

A essa altura eu já tinha perdido a pose, estava com os olhos cheios de lágrimas, o rosto vermelho, deixando transparecer todo meu cansaço, minha frustração e tristeza. Não quero me fazer de vítima, longe disso, mas esse desabafo me fez pensar em como minha vida é triste, cansativa e solitária. Não vim pedir por pena, só quero justiça.

O tal Ruivo pareceu convencido, me olhou com uma cara que não deu para decifrar, já que ele sempre estava com a cara fechada. Mas logo em seguida me olhou, e sustentou o olhar com um aceno.

— Juba, descobre quem foi o desgraçado. Já falei que não quero roubo na quebrada.

— Aí menor, fica susse que quando der de tarde, seus bagulhos vão tá tudo no lugar. Passa pro Klebim uma lista de tudo que sumiu e deixa com a gente que tá resolvido.

Ele falou com uma confiança como se realmente ele tivesse tudo sob controle, e eu acho que ele realmente tem. Não pude esconder o sorriso. Estava feliz que poder trabalhar de novo.

— Obrigado moço, obrigado mesmo!

Sai de lá todo sorridente e aliviado. Esse homem realmente é justo. Ele parece um Deus grego, como aqueles dos livros, tão lindo que nem parece de verdade. Mas como sempre é hetero. Mesmo se não fosse, com a vida de merda que eu tenho e a aparência de quem não dorme há um mês, eu com certeza não chamaria a atenção dele nunca.

Fui trabalhar mais calmo, mas sempre que fechava os olhos, eu via aquele par de olhos verdes e profundos que pareciam enxergar dentro de mim. Ah, não custa sonhar, não posso ter, mas posso sonhar...

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Comments

Wolf blek

Wolf blek

eita que esse apaixonou foi certo

2024-05-05

0

🌟OüTıß🌟

🌟OüTıß🌟

AMO O JEITO VAGABINDO DELE,QUERO SÓ VER QUANDO FOR MACETAR

2024-04-12

1

Santos 💗

Santos 💗

🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣 o vida de pobre!!!
aproveitar, porque AINDA não paga impostos.🤭🤣🤣🤣

2024-04-09

1

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