Provocação

Ruivo

Estou sentado de frente para o meu irmão, e ainda não sei o que eu vou falar.

— Fala aí irmão, me conta o que está pegando, por que que tu tá assim?

— Mano, nem eu sei explicar direito... Mas me fala o que tu acha do Robson ser viado?

— Ué! Achei nada, ele dá ou come quem ele quiser, mano, tenho nada com isso não.

Ficamos em silêncio, eu ainda tentando criar coragem para falar.

— Aquilo que o Juba falou, de tu tá com um cara, é verdade mesmo?

— Porra! Está tão na cara assim?

— Não mano, mas e só que você não negou quando ele falou, e está todo esquisito aí.

— Não estou ficando com ninguém, mas tem um cara no meu pensamento que não sai nem com uma porra, parece até macumba. Não sei o que fazer irmão, estou perdido.

— Mano, tu é meu irmão e eu te amo véio, independente de tudo. Mas véio, nesse assunto aí eu não sei o que te falar cara, acho que era com o Robson que tu tinha que falar irmão.

— Tem razão, vou levar um papo com ele. Mas agora bora curtir, bebê um pouco e fuma um baseado, preciso relaxa cara.

— Demorou irmão...

Ficamos ali o restante da noite, bebendo fumando e conversando. Marreta tem razão, preciso falar com o Robson, as vezes ele me ajuda a pôr os pensamentos em ordem.

Os dias foram corridos essa semana, não consegui falar com o Robson, precisei mandar ele buscar mercadoria, porque a nossa está quase no fim, e vamos ter baile de sexta a domingo. Passei a semana resolvendo pepino, não vi mais o pequeno, mas ele não saiu da minha mente, todo dia sonhava que estava transando com ele e acordava molhado. Meu humor continua uma merda, e eu ainda me sinto confuso.

Chegou na sexta e geral estava se arrumando para o baile, também me arrumei no estilo e desci para quadra, já cheguei na área vip arrumando tudo, separando as melhores bebidas, quando o Robson chegou.

— E aí chefe, a mercadoria já está no galpão...

— Beleza mano, foi tudo tranquilo?

— Tudo de boa, viemos pela estrada de chão, foi suave.

Apenas assenti, como está cedo ainda e está vazio aqui, vou aproveitar e trocar umas ideias com o Robson.

— Preciso falar contigo mano, está de boa agora?

— Claro irmão, fala aí.

— Desde quando tu soube que curtia homem?

— Isso é um problema pra ti irmão?

— Não Caraí, já falei que estou de boa, agora reponde.

— Uai, mano, na idade que todo mundo começa a gostar, só que em vez de menina era menino, tinha uns doze anos eu acho quando entendi.

— E como foi?

— Olha irmão, não foi fácil, ainda mais sozinho, meu vô morreu cedo, e ele era das antigas não entendia e nem falava dessas coisas, então tive várias fases. Primeiro eu negava, não aceitava, achava que era coisa passageira, depois quando eu vi que não passou, tentei me livrar disso, tipo me curar sabe? Daí fui em igreja, terreiro de macumba, fiz de tudo. Um dia quando já tinha uns dezessete para dezoito anos, eu fiquei com um cara pela primeira vez, daí tudo se encaixou, eu comecei a aceitar. Mas aí tinha vergonha, medo de me assumir, só ficava escondido. Depois da primeira invasão do morro, naquela troca de tiro, cenário de guerra mesmo, e a gente saiu vivo, eu percebi que era igual a todo mundo e que não precisava ter vergonha. Só estava pensando em como conta isso pra vocês.

— Entendi. Então é isso, e só ficar com um cara e tenho certeza?

— Chefe, vou mandar a real, se tu tá pensando nele do jeito que eu acho que está, você já tem certeza do que quer, só falta ir lá e pegar.

— Ainda é estranho pensar que eu sou viado, nunca passei isso entende?

— Oh chefe, acho que tu é BI, tem quem gosta só de homem, tem quem curte os dois. Não fica encanado em saber e dar nome pras coisas.

— Ainda não sei se consigo.

— Ou você tenta, ou passa a vida toda assim, com a sensação de que está faltando algo, se sentindo insatisfeito e infeliz. Mas se tu for o cara corajoso que eu penso que é, vai encarar tudo de peito aberto. Agora eu tenho que ir, vou me arrumar para voltar para o baile e ver se acho um gatinho pra mim.

— Obrigada irmão, de verdade.

— Tamo aí chefe!

Continuo na mesma, sei o que eu quero e com quem, mas não sei se encaro a barra de ficar com ele. Só me resta mesmo beber e ver onde essa noite vai acabar.

Robson

Estou pronto, na verdade hoje estou me sentindo um gostoso do caralho. Hoje eu finalmente vou poder curtir o baile do meu jeito. Mandei já mensagem para um gatinho que eu fiquei esses dias perguntando se ele quer curtir o baile comigo.

Quando cheguei já estava lotado, meus manos estavam todos lá, o pau na zorba do Marcelo estava com cara de cu, mas eu quero mais é que ele vá chupar um canavial de rola, porque hoje ninguém tira a minha paz. Subi lá e sentei no lugar de sempre, começamos a beber e a conversar, a mulher do Juba estava lá, umas minas dando mole para o Ruivo, e uma do lado do Marreta, Marcelo também estava agarrado em uma vadia da cara lambida.

Depois de um tempo eu vi o gatinho chegando e me olhando curioso lá de baixo, como se ainda não acreditasse que eu estivesse a fim de ficar com ele em público, fiz um sinal para o parça que estava na escada deixar ele entrar, ele veio todo sem graça, deu um salve pra galera e veio se sentar do meu lado.

— Senta aqui gatinho é mais confortável. — Disse rindo e apontando para o meu colo.

Fiz ele sentar no meu colo, ele ficou todo feliz, olhei de lado e os manos fitaram em mim, mas logo cada um voltou a fazer o que estava fazendo antes, já o Marcelinho ficou bufando, vi ele travar os dentes e estava claramente com raiva. Então eu resolvi dar motivo pra ele realmente fica com raiva.

***Esta obra está sob contrato com a NovelToon, e a pirataria, como a reimpressão sem permissão, é estritamente proibida.***

***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***