O que eu sou para você?

Mesmo que eu não queira ir embora agora, ainda tenho o direito de escolher se quero ir ou ficar. Não vou abrir mão do meu direito, mesmo que não eu não vá usar, mas parece que a minha pergunta atingiu o mais fundo de Dìon.

Ele apenas respirou fundo enquanto os seus olhos voltavam ao normal, a passos lentos ele foi em direção à porta sem a minha resposta, mas assim que o chamei me arrependi.

— Então neste caso, a minha vida vai ser te admirar e te proteger de longe, mas saiba que no meu coração e no meu corpo ninguém mais toca — o seu olhar era tão triste que chegou a me dar vontade de abraçar ele.

Mas não deu tempo, enquanto fiquei processando as suas palavras ele saiu do apartamento me deixando sozinha. As minhas coisas estavam todas no mesmo lugar que da casa antiga.

Então foi fácil me localizar ali dentro, eu já tinha tomado o meu banho e procurava alguma coisa na cozinha para comer quando Bràthair bateu na porta, ele veio me trazer as duas malas que estavam no carro do Dìon.

Não tive coragem de perguntar sobre o seu irmão, não por ter feito alguma coisa errada e sim com medo de ceder aos caprichos dele. Já o conheço há alguns anos e sei bem como ele pode ser manipulador.

A noite foi tranquila e Bràthair só saiu quando eu disse que iria dormir, a sua visita foi muito agradável e agradeci imensamente por ele não tocar no assunto sobre o seu irmão.

O nosso assunto se resumiu com ele me questionando os nossos costumes e até mesmo como fui treinada desde criança. Ele demorou a entender que precisei me reinventar para não apanhar ou ser pega.

Porém, fiz isso de forma tão rápida que comecei a chamar atenção, por isso a ordem de ser enviada para as terras inimigas. Ele acabou me contando que o motivo de Dìon não saber que tem um lycano e não um simples lobo é que o seu pai mandaria matar.

Não precisei que ele me dissesse mais nada e não posso negar que não deve ter sido muito fácil para Dìon todo esse tempo. Uma onda de preocupação me abraçou quando olhei para a porta em frente a minha após a saída de Bràthair.

Na minha mente existia muitas preocupações que não eram da minha conta, não eram minhas responsabilidades neste momento, mas eu ainda sim, queria saber se ele comeu, se está bem e principalmente dizer que não quero ir embora…

— Não deveria estar dormindo? — dei um pulo de susto com a voz de Dìon — Já deve estar com frio, faz alguns minutos que está olhando para a minha porta.

— Você também não deveria estar aí no chão — ele apenas sorri fraco enquanto suspira — O que aconteceu?

— Nada que você já não saiba — apenas ergo a sobrancelha enquanto ele me encara de volta.

— Só porque o mundo não está girando como você deseja que tem o direito de descontar em mim o seu péssimo humor.

— Estou começando sentir falta da Fìor caladinha.

— Me devolve os meus inibidores que volto a ser a... — em apenas um segundo ele me prensa contra a parede com as mãos presas acima da minha cabeça.

— Nunca mais vai tomar aquela droga, além de te matar aos poucos eu não consigo sentir você.

— Dìon, o que está acontecendo? — ele tenta se afastar, mas o puxo de volta o abraçando.

A sua cabeça estava no meu pescoço enquanto os seus braços me puxavam cada vez mais para perto. Não demorou muito escuto ele chorando baixinho, acabei paralisando por alguns segundos, mas logo as minhas mãos foram para o seu cabelo.

Dou alguns passos para frente, mas ele apenas me ergue nos deitando no sofá, ou melhor, deitando sobre mim no sofá. Não tinha nada de malicioso naquele momento.

Dìon estava vulnerável e completamente exposto para mim, como ele não falava nada eu respeitei o seu momento, mas ele não sai daqui sem me contar o que está acontecendo.

Quando eu já estava quase dormindo com ele deitado sobre o meu peito, ele começou a falar. Enquanto Bràthair estava aqui comigo, ele estava lendo os diários da sua mãe, ela já sabia que ele é a reencarnação do antigo Madadh desde o nascimento.

O que deveria ser uma grande festa se tornou um grande pesadelo. Pois, o homem que deu a ordem para matar Gaol e o seu povo foi o próprio pai do Dìon. Eu tive que me controlar para não o empurrar.

Eu estava ficando sem ar, quando ele apenas se ajeitou e voltou a falar contando que ele foi pressionado pelo conselho, os mesmos que ainda estão ocupando os cargos hoje.

Consegui sentir a sua dor quando ele comentou que a sua mãe enlouqueceu quando soube da ordem dada e tirou a sua vida, mas antes fez Bràthair prometer que iria o deixar o mais longe possível do seu pai.

Tenho várias perguntas, mas não queria o interromper, então apenas o deixei falar, isso pelo jeito estava o ajudando mais do que qualquer outra coisa que eu poderia fazer.

Mas quando ele me contou que apanhava desde pequeno quando demonstrava o seu poder ou o seu lobo isso me chocou, isso quer dizer que todo aquele discurso que humanos eram mais receptivos na sua forma atual era apenas uma máscara que ele vem usando há muito tempo.

— Por que está me contanto tudo isso? — quando ele respirou fundo se erguendo contra o meu corpo, eu continuei — Não estou reclamando, eu apenas preciso entender, você nunca falou comigo, você nunca se aproximou e agora resolve me contar tudo, o que eu sou para você, Dìon?

— Porque eu me senti um lixo, um nada quando você me falou que quer ir embora, eu já estava indo abdicar do meu posto quando os diários me foram entregue e o meu lobo, ou melhor, o meu lycano me avisou que deveria me abrir que você me entenderia.

— Dìon…

— Eu já fiz muita merda nessa vida, Fìor, por favor me permita te mostrar que eu sei ser a pessoa que valeu a sua escolha de ficar.

— Como você? — tento me levantar, mas ele me puxa para o seu colo.

— Eu sei que aquele homem veio para te levar embora, também sei que ele tentou me matar e você não deixou, mas principalmente sei que você ficou por mim — eu não tinha palavras para descrever o que estava sentindo e diante do meu silêncio Dìon me beijou com toda a intensidade que o momento pediu.

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