Olhos amarelados

Quando pensei que estava salva lá estava paro a minha corrida antes que o meu corpo atingisse Dìon que estava com os braços cruzados e com uma cara que irá matar alguém.

Que não seja eu… que não, seja eu… Tudo bem que coloquei o prédio inteiro em pânico, mas foi por uma boa causa, por via das dúvidas engulo seco e começo a dar passos para trás.

— Não adianta fugir, quero você na minha sala agora — ele me puxa pelo braço e quando ergo o olhar vejo uma figura de preto passar correndo entre os corredores, Bràthair também vê, pois ele já começa a correr em nossa direção.

Tàir estava chorando no sofá com as roupas um pouco rasgadas, não sei o que aconteceu ali dentro, mas deu ruim. Dìon puxa o ar e merda, agora que me lembrei do meu cheiro, os seus olhos caem sobre mim e dessa vez ele está no controle do seu corpo.

— Ferrou — penso alto demais, pois ele ergue sua sobrancelha.

— Quem vocês duas estão escondendo?

Eu juro que pensei que ele fosse me jogar no sofá, mas a sua mão não saiu do meu braço, o aperto ali não estava me machucando, mas era firme o suficiente para me balançar enquanto ele falava.

Já havia o visto furioso dessa forma, mas nunca foi comigo. As suas palavras eram duras e o que ele mais odiava era ser enganado, ele estava ferido, eu conseguia sentir, isso para ele o cheiro era importante.

Os meus pensamentos tiveram que ficar para depois, pois Tàir se levantou gritando que ele nunca iria se envolver comigo seja para qualquer coisa, as suas palavras de ofensas contra mim me fizeram querer segurar o riso, tadinha me chamar de pobre não era ofensa, eu levava sim uma vida simples, mas desde quando isso é um problema?

Dìon foi avançar nela, mas me levou junto e acabei batendo na cadeira e somente agora que ele percebeu que ainda me segurava, aproveitei esse momento de distração para sair de fininho, mas não fui rápida o suficiente.

— Foi ela — os seus dedos estavam apontados para mim enquanto Dìon me olhava em descrença — Ela estava com você na cama, mesmo eu jogando aquelas suas drogas fora, você ainda conseguiu me atrapalhar.

— Era você? — o tom de… repulsa de Dìon me fez recuar, ele não acreditava? Não sou o suficiente para ele?

Claro que não era, isso me fez erguer a minha cabeça, já está na hora de ir embora, respiro fundo já decidida que nunca mais colocaria os meus pés aqui, mas novamente a voz da égua pocotó preencheu a sala.

— Pensa que eu não sei o seu segredinho sujo?

— Do que está falando? — os dois discutindo parecia uma câmera lenta, sai da sala, o meu corpo acaba trombando com ele, o vulto preto que vi era ele… mas o que ele estava fazendo aqui?

Logo disparos ecoaram e quando ergo o olhar era ele que estava atirando, me viro na hora com medo de quem era o seu alvo, mas encontro o corpo de Tàir no chão sangrando.

Ela iria morrer, as balas estão infectadas com venenos mortais, eles não teriam tempo de salvar a sua vida. Mas por quê? Ele olha para mim, não tinha como não reconhecer aqueles olhos amarelados.

Consigo perceber pelo movimento do seu ombro que iria atirar novamente e só poderia ser no Dìon então sem pensar em mais nada o empurro contra a parede com o meu corpo.

Não sei o motivo de ter feito isso, bom, na verdade, eu sei, só não quero admitir, mas a última coisa que quero é que Dìon seja machucado, o momento foi de apenas alguns segundos, mas para mim pareceu ser longos minutos, já que aquele olhar estava tão intenso.

Ele me abraça para não cair no chão e me rodando me encosta na parede com carinho e preocupação para sair correndo em seguida, mas não antes de me olhar mais uma vez e tocar a minha bochecha, estava ainda atordoada com muitos pensamentos na minha cabeça e quando sinto os braços de Dìon me puxando eu consigo apenas me encolher.

Os seus gritos estavam carregados com a voz de comando de seu alfa, mas isso não me afetou, bom… nada me afetaria agora, os meus olhos não conseguiam deixar o corpo que a poucos momentos atrás iria…

Püta merda, ela iria contar a verdade, me solto de Dìon que me tentava me puxar de volta, mas quando me viu abaixar na lixeira e vomitar acabou me mudando o seu foco.

Respiro fundo, eu precisava sair daqui o quanto antes, se ela descobriu alguma coisa, então logo a minha cabeça vai estar a prêmio. Eu não fiquei tanto tempo escondida para morrer justo agora.

Me levanto pegando apenas as minhas chaves e saio correndo evitando qualquer corredor onde posso encontrar com Dìon ou Bràthair, um vulto preto para por mim e exalando um cheiro…

Eu conheço esse cheiro, ele estava me chamando, realmente alguma coisa aconteceu, consigo ver o momento que ele corre para a janela e pula, o meu coração dispara em completo pânico.

Afinal são trinta e cinco andares, sei que ele é muito bom em fugas, mas o meu coração não deixa de se preocupar, novamente mãos nos meus ombros me balançaram falando alguma coisa que não faço a menor ideia do que seja.

A minha única certeza é que eu preciso fugir, eu preciso o encontrar de qualquer forma, preciso brigar com ele por se arriscar tanto, mas o meu corpo não se mexe. Quando viro a minha cabeça alguém iria injetar alguma coisa, isso faz os meus sentidos todos se despertarem e num movimento rápido já tinha me livrado do aperto da pessoa e estava do outro lado da sala.

Agora tudo estava intenso, a minha visão capturava os mínimos detalhes, eu conseguia ouvir todos os andares e se me esforçasse conseguiria escutar a rua, mesmo com todo o barulho já que o alarme de incêndio ainda estava tocando, mas o que me fez engolir seco foi o meu olfato que estava muito mais apurado e me lembrou que essa explosão de sentidos também liberou o meu cheiro.

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