Espera...

Antes que as minhas mãos vão para a gaveta ela me segura, estendi a bolsa e ela mesma foi colocando as suas lingeries ali dentro, assim como fez com o pouco de maquiagem que ela costuma usar e os perfumes.

Sentindo os inibidores no meu bolso consigo entender o motivo de nunca ter sentido nem o seu perfume todo esse tempo, receosa ela me confirma que pegou tudo, de qualquer forma vou pedir para Bràthair recolher o resto e deixar a casa completamente vazia.

Assim que chegamos as minhas coisas já foram sendo carregadas no carro conosco lá dentro, não consegui distinguir o que a Fìor estava sentindo, pois, tinha horas que parecia estar com medo e, ao mesmo tempo, curiosa.

— Não vamos pegar nada no escritório?

— Bràthair recolhe o que for necessário.

— Claro, esqueci que você recebe tudo nas mãos.

— Está bem ousada…

— Acredito que tenho esse direito já que perdi o controle da minha vida — ela estava sendo pressionada por mim e a sua defesa foi me atacar.

— Pode me explicar o motivo dessa revolta toda? Pelo que me lembro estou protegendo a sua vida.

— Não, senhor, você me colocou em risco — respiro fundo para não começar a gritar aqui, consigo entender o que ela sentindo, já passei por isso antes e dei muito mais trabalho que ela.

— Vamos começar novamente — puxo as suas mãos, as segurando com um pouco de força, já que ela não estava colaborando e ficava tentando tirar as suas mãos — Tem algo no escritório que vá precisar?

— Os meus eletrônicos e também os seus, já que preciso acessar a sua programação e pautas das reuniões.

— Vou pedir para Bràthair pega pessoalmente, sei que odeia que mexam nas suas coisas — o seu olhar de surpresa me irritou, mas quando ele se tornou um sorriso a irritação simplesmente sumiu.

— Obrigada — o seu suspiro me deixou mais aliviado, nem sei desde quando, mas agora eu quero ser aceito por ela.

O silêncio foi o nosso companheiro durante o trajeto, eu fiz questão de vir dirigindo para que ninguém pense que estou trazendo alguém junto comigo, até queria puxar assunto e descobrir mais da Fìor, mas tenho certeza que ela vai surtar quando chegarmos.

Não abaixei os vidros quando cheguei no portão do complexo, mesmo sabendo que eles já sabem que tem outra pessoa comigo dentro do carro, mas não vou expor Fìor neste momento.

Já que estou quebrando todos os protocolos vou direto para o chalé que fico sempre quando venho para essas reuniões, ele é simples, pequeno e o mais importante isolado dos outros.

— Devo admitir que não entendi de primeiro a sua mudança de comportamento majestade.

— Bom te ver também Airm — ele apenas sorriu enquanto eu estendia a mão para Fìor que dava tapas tentando sair sozinha de dentro do carro.

— Devo providenciar algo em especial?

— Apenas mais seguranças, a minha convidada além de ser rebelde está sendo importunada.

— Posso providenciar isso, algo mais? — não conseguimos segurar o sorriso quando Fìor olhou espantada para a quantidade de militares que estava a sua frente.

— Ela irá comigo onde eu for, apenas se certifique que não terei que arrancar nenhuma cabeça.

— Não posso realizar milagres, majestade — com o seu sorriso malicioso, Fìor se escondeu atrás de mim.

Eles não esperaram mais nada e logo desapareceram das nossas vistas, não que foram embora, aqui ninguém nunca fica sozinho e exatamente por este motivo que é tão seguro.

Fìor olhava tudo ao redor assim que entramos no chalé, ele era composto apenas por um quarto, um banheiro, uma sala e uma cozinha pequena, o seu olhar travou nas portas e nem preciso ler a sua mente para saber que ela estava surtando por ter apenas um quarto.

— Vossa majestade — pronto, quando ela começa com sarcasmo já sei que vai surtar, aprendi isso nestes últimos dias — Pode me explicar onde a sua convidada vai ficar?

— Não menti quando afirmei que você vai ficar comigo o tempo todo e se quer um conselho, não fique perto das janelas, é rara uma convidada mulher aparecer aqui — em questão de segundos ela estava próxima ao meu corpo me fazendo gargalhar.

— Para de rir Dìon, olha onde você me trouxe, às vezes me arrependo de não ter ido com Neo — a última parte ela sussurrou, mas consegui ouvir perfeitamente pela pouca distância entre nós.

— Preciso que me conte ou eu que vou acabar surtando aqui.

Ela respira fundo se aproximando das janelas novamente, mas fechou todas as cortinas, isso claro que irritou a todos ainda mais que ela fechou as janelas que mesmo que ela não saiba nos deixou em uma completa bolha.

Não tinha noção da gravidade que ela iria me revelar ali, mesmo não sabendo do meu passado com clareza sei que devo ser o vilão da sua história. Ela voltou no tempo e na merda daquela lenda.

Pela primeira vez me permiti escutar a lenda por completo, na verdade, apenas escutei, pois, era Fìor que estava contando e pelo fato que ela me puxou para se sentar no sofá junto a ela.

Claro que não permiti que ela soltasse a minha mão e novamente tive o prazer de ver ela corada pela timidez, precisei por diversos momentos forçar a minha mente a se concentrar nas palavras e não na sua boca, a qual eu queria muito beijar.

O meu corpo travou quando ela me contou que foram os meus ancestrais que mandou matar a lycana da lenda, percebi que ela evitava falar o nome da lycana de todas as formas.

— Me deixe terminar Madadh.

— Espera… — me levanto com tudo e a vejo se encolher no sofá, merda a intenção não era assustar ela — Você…

— Sim, sou a reencarnação da Gaol, isso faz de mim a sua inimiga e se quiser…

— Olha, eu não sei o que aconteceu no passado e até mesmo não tive oportunidade de pressionar o meu irmão, o que me lembro é que a minha mãe morreu pouco tempo depois que nasci e Bràthair sempre me manteve longe do meu pai.

Agora tudo fazia sentido, os inibidores eram para disfarçar o cheiro da sua lycana, quando pedi para a ver ela se recusou e até mesmo tentou fugir, mas era tarde demais a sua lycana assumiu o controle e veio voando em cima de mim.

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