Insolente

Eu juro que pensei que estava a salvo, mas isso foi um grande erro, Tàir estava ali no escritório todos os dias e cada vez mais melosa para cima de Dìon. Isso não seria nenhum problema para mim, já que minha Lycana estava sempre adormecida ou dopada pela quantidade de inibidores que venho tomando.

O problema maior era que ela definiu na sua mente que eu estava tentando tirar ele dela, então qualquer contato que nós dois tínhamos era motivo para ela me infernizar.

Eu só queria saber como ela pensa que uma assistente consegue trabalhar sem contato algum com o seu chefe, pois sinceramente eu gostaria de saber para colocar em prática.

Por diversas vezes ela me humilhou na frente de outros funcionários, me desmerecendo por ser apenas uma loba pequena. De acordo com ela, eu apenas era empregada ainda, pois Dìon considerava a minha madrinha.

Ela infelizmente tocou num assunto delicado, a minha madrinha era o mais próximo que eu tive de uma mãe, mas não conseguia dizer nada, então apenas chorava, seja dentro da copa como nos banheiros.

Dìon por diversas vezes pegou ela fazendo isso, porém não fez nada para impedir já que ela sempre distorcia tudo quando eu respondia a sua pergunta “O que está acontecendo aqui?”

Minha vontade era gritar… não era quebrar a cara dela em vários pedaços para ninguém nunca mais conseguir juntar, como pode uma mulher tão linda ser tão desprezível?

Pelo que entendi de algumas conversas dos dois, ela queria ser marcada logo, porém ele nem a levou para a sua casa, mesmo com as semanas passando, mas cada vez que ele negava eu sabia que ela iria descontar em mim.

— Cisquinho — a voz baixa de Bràthair atrás do meu corpo me fez pular, mas antes que um grito saia da minha garganta ele tampa a minha boca.

Nós dois vemos a Tàir sair furiosa e jogando o café em cima do primeiro que viu, fazendo o coitado do lobo se abanar já que ele estava fervendo, mas acabei suspirando aliviada por não ser em mim… novamente.

— Obrigada — já estava saindo para voltar para a minha mesa quando ele me puxou — Por que você sempre me puxa?

— Vem para a minha sala, precisamos conversar.

— Não — respondo e vou saindo, ou tento, pois novamente ele me arrasta com ele.

— Viu, por isso que já te puxo é mais prático — apenas reviro os meus olhos e não me atrevo a falar mais nada.

O meu corpo congela completamente quando observo a minha imagem passando em um looping pelas várias telas que tem na parede da sua sala. Sorrindo vitorioso, ele apenas encosta a porta e fica me olhando.

Antes mesmo que eu consiga falar alguma coisa, mesmo que não tenha nada a ser dito, pois ali estava a prova que eu era exatamente a mulher que Dìon estava procurando, ele entra na sala bufando de raiva.

— O que você fez agora? — a sua voz era dura e fria, novamente direcionada a mim.

— Calma aí…

— Não venha com essa Bràthair, não reconheço mais a Fìor, ela vem a cada dia me infernizando mais — ergo o meu olhar para ele na mesma hora, já que não havia feito nada.

— O que ela fez dessa vez? — Bràthair entra na minha frente, mudando a cena de forma sutil, mas mesmo assim Dìon percebeu.

— Ela apronta infantilidades com Tàir, isso me obriga a aturar ela mais tempo aqui dentro… O que era aquilo? Volta à imagem.

— Era Fìor passando mal, estava justamente corrigindo como ela deve dizer a verdade, pois assim podemos ajudar — Bràthair me olhava diretamente e isso fez Dìon olhar também — Ela não havia comido nada.

Essa desculpa foi a pior que ele poderia ter dado, mas parece que Dìon aceitou, pois começou a fazer um discurso que se ele precisasse de mim como seria? Eu deixei de ouvir, já estava cansada de levar bronca por causa do seu péssimo humor ou então por tudo que Tàir estava sempre acusando.

Acabei saindo da sala sem falar nada e muito menos sem esperar ele terminar de falar, escutei os seus rosnados e tenho certeza que Bràthair estava o segurando, mas o grito de “Insolente” ecoou pelo corredor.

Continuei andando mesmo sem nem perceber onde estava indo, ele não me dispensou por tudo que estava acontecendo, mas sinceramente seria melhor para mim, não aguentava mais escutar e sofrer tantos abusos da égua pocotó.

Recolho as minhas coisas em completo silêncio e vou para casa, não era minha hora, mas também não conseguia mais ficar aqui. Todos os olhares estavam direcionados para mim.

Tàir conseguiu mudar a minha fama de invisível para a v@dia que quer roubar o seu companheiro, já era raro as pessoas falarem comigo algo fora do trabalho e agora nem isso elas estavam mais fazendo.

Para ajudar a piorar a situação, minha Lycana estava deprimida pela falta do toque, mas não era qualquer toque, ela queria o toque dele, do mesmo que agora só sabe me chamar de insolente.

O mesmo que protege a égua pocotó e me faz chorar até dormir todos os dias. Descobri recentemente que a alta dosagem dos inibidores me deixa lenta e completa alheia aos acontecimentos ao meu redor.

Isso estava me ajudando a não reagir da forma como eu realmente queria, preciso de tempo, então passar por isso era o menor dos meus problemas. Bràthair sabia demais e não tenho certeza por quanto tempo ele vai mentir para o seu irmão apenas para me proteger.

De qualquer forma, quando cheguei na empresa no outro dia, Tàir já estava me esperando na minha mesa, a única coisa que consegui foi respirar fundo e morder a minha língua para não responder à altura as suas provocações.

Pela alta dosagem dos inibidores estava com o humor péssimo e escutar como foi a sua noite de amor com Dìon me deixava enojada, ela percebeu isso e justamente por isso mesmo que fazia questão de me contar todos os dias pelo menos umas três vezes.

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