Capítulo 20

Aurora

Eu nunca imaginei que fazer compras fosse muito divertido, talvez eu devesse ser uma péssima mãe por passar do horário do jantar e minha filha ter comido apenas algum chocolate e batatinha que ela abria o pacote enquanto estávamos no caixa esperando a fila gigantesca para pagarmos.

- Mamãe podemos pedir pizza? – indagou ela enquanto eu passava as nossas compras, a moça do caixa nos olhou de esguelha, mas eu não me importei, dei de ombros e concordei. Depois acionaria a pediatra dela, além de uma consulta de rotina, eu iria atrás de uma indicação de psicóloga, sabia que a minha filha precisaria depois de tudo pelo que vem passando, tudo o que passou a acontecer de uma hora para outra e tudo o que estar por vir.

Eu queria poder protegê-la de tudo isso, mas como fazer isso se eu sua mãe, começou fazendo tudo errado? Porque eu deixei que ele me descontrola-se, por que eu apenas não peguei a minha filha e fugi para bem longe? Contudo se eu fizesse isso, perderia ainda mais, e faria com que pessoas que se esforçavam tanto na empresa perdessem também.

Ainda me perguntava como Jason sabia que eu havia pegado a minha filha com o cretino do Robert, mas deveria estar ciente que ele não era um homem qualquer e que sempre estaria um passo à frente. Isso quer dizer que eu teria que estar muito atenta em relação ao meu novo marido, ou ele passaria por cima de mim como um rolo compressor, me deixaria pior do que já me encontro.

A noite foi tão linda que ao ver minha filha dormindo em seu quarto novo, eu não pude deixar de evitar que as lágrimas banhassem o meu rosto. O tanto que eu imaginei tê-la pertinho de mim, onde os meus olhos pudessem ver, agora ela estava aqui, e eu não sabia parar de chorar e agradecer por esse momento.

Deitei-me ao seu lado, ouvi uma gargalhada sua, mas ela ainda estava de olhos fechados, e então novamente passou a ressonar baixinho, disse várias vezes que eu a amava, mostrei para ela o quanto eu estava feliz com a nossa oportunidade de ficar juntas, queria mostrar para minha filha o quanto eu sentia saudades, e o quanto eu a amava.

Na manhã seguinte acordei com os seus beijos em meu rosto, e devolvi agarrando o seu corpinho pequeno devolvendo os beijos em suas bochechas enquanto ela sorria.

- Bom dia meu amor – desejei e ela sorriu, mas o seu acanhamento já estava lá, nem tanto, mas percebi que ela parecia não querer se permitir – depois do banquete de besteirinhas de ontem o nosso café será um bem saudável, não é?

- Não mamãe – disse e o seu sorriso travesso me dizia que ela iria aprontar – sabia que nos desenhos e filmes as pessoas comem pizza gelada no café da manhã?

- Eu não sei disso não mocinha – assegurei, porém, era uma mentira, porque realmente algumas pessoas faziam isso, mas eu já estava com medo da minha filha ter uma dor de barriga.

Nos levantamos, decidi que não iria a empresa, tudo já estaria um caos, eu poderia dar uma passada lá pela tarde, e pedi a minha amiga Florence que não deixasse ninguém colocar fogo no lugar. Não tomamos banho, ficamos só com nossos pijamas combinando de unicórnio enquanto eu tentava fazer uma massa para panquecas.

- Mamãe, a senhora vai se casar como o papai fez? – indagou ela sentada em uma banqueta balançando os pezinhos – e eu vou ter um irmãozinho?

- Mamãe vai se casar sim filha – disse e vi os seus olhinhos curiosos se desviarem dos meus – mas só se voce estiver bem com isso, ok? Primeiro vamos conhecer o Jason, e se você der a sua aprovação, fecharemos negócio

- O casamento é um negócio? – indagou confusa, e eu sorrir

- Nem todos meu amor, alguns são por amor, outros por conveniência

- Convivência não deve fazer bem aos adultos – disse pensativa, sorrir com ela trocando as palavras me lembrou de quando era bebezinha – Jason é legal ou ele é um monstro? – monstro, essa palavra agora faria parte do seu vocabulário.

- Jason é um cara legal – disse, mas eu não sabia, e tentaria propor que vivêssemos em casa separada, não queria expor tanto a minha filha sabendo que o casamento não duraria, que ele teria prazo – você vai conhecê-lo em breve, ele está ajudando a mamãe com alguns assuntos.

- Ele está lhe ajudando a senhora a se livrar do papai? – indagou de repente curiosa, mas a pergunta me assustou

- De onde tirou isso meu amor? – indaguei, mas ela não respondeu, e começou a cantarolar músicas infantil enquanto se divertia separando os morangos e cerejas que ela queria colocar em sua comida.

Eu não precisava ser muito esperta para saber que isso tem alguma coisa a ver com Robert, esse por sinal já havia mandado mensagem pedindo fotos “minha e da minha filha” eu apenas desliguei o celular o ignorando por completo.

Estava quase chorando por não conseguir fazer o café da manhã que a minha filha queria, quando a campainha tocou, estranhei, mas logo dei de ombros, se o porteiro deixou subir deve ser a minha amiga que decidiu passar aqui antes do trabalho.