EDUARDO
Olhava para a paisagem através da janela do carro. O pai, mais uma vez, levara o filho para uma consulta com ortopedista.
O médico insistia numa nova cirurgia, mas Eduardo não queria. Não adiantava ver os exames que indicavam que seus nervos estavam se recuperando, não queria nada além de ficar em casa, com Mariana, claro.
Só concordava em ir para os médicos porque o pai realmente se preocupava e Eduardo acreditava que já dera muito desgosto ao pobre homem, por isso não se opunha mais a ir aos médicos.
Cirurgia era outra história.
Não ia se submeter a nenhum procedimento cirúrgico.
- Filho, você pode andar novamente. – o pai falou, enquanto voltavam para casa – Você não pensa que poderia ser feliz com Mariana se voltasse a andar?
Fechou os olhos ao ouvir as palavras do pai, porque foi como se levasse um soco no rosto.
Sabia que era mais difícil que a moça o aceitasse inválido, afinal que mulher se apaixonaria por metade de um homem?
Nenhuma mulher, em sã consciência, aceitaria um homem deficiente e ainda de gênio difícil.
Se um dia Mariana o quisesse, sempre seria um peso na vida dela. Ela sempre teria que se comportar como sua babá.
- Filho, eu não quis dizer que você não pode ser feliz com ela assim, mas pense...
- Pai, eu não vou me submeter a nenhuma cirurgia. Estou cansado. – o carro entrou no pátio da casa – Nem por Mariana, nem por ninguém.
Pedro estacionou o automóvel e a conversa entre pai e filho terminou. O rapaz desceu do veículo com a ajuda do motorista e, antes de entrarem em casa, ele avistou Mariana e Luís cuidando das plantas.
O familiar monstro do ciúme tomou conta dele. Queria destruir a cara sorridente do rival, arrancar cada dente branco com uma pinça, mas o rapaz era alto demais, e ele não o alcançaria por estar preso à maldita cadeira de rodas.
Sem pensar, movimentou a cadeira na direção dos dois, sem nem se despedir do pai.
- Bom dia, Edu!
Ele estreitou os olhos para Luís, desejando que seu olhar fulminante fosse suficiente para exterminá-lo.
O rapaz sorria abertamente, como se o enfrentasse e entendesse que aquilo o perturbava.
- Oi, Luís. E a faculdade? – alfinetou.
- Tudo bem... em breve recebo meu diploma. – o rapaz sorriu – Você gosta de jardinagem?
Não, ele não gostava.
Nem um pouco.
Não tinha paciência para esperar a planta crescer.
- Sim, adoro. – mentiu, enquanto se aproximava dos dois e ficava entre Luís e Mariana.
Ouviu o outro rindo alto e trincou os dentes, com raiva.
Que cara insuportável!
Eduardo não gostava de gente muito feliz.
- Então, venha, nos ajude com isso.
Mariana tinha as mãos enfiadas em um jarro. Luís explicava o que ele deveria fazer para ajudar a moça.
As mãos dele e as dela se encontravam na terra, enquanto afofavam para receber a nova muda.
Os dois se encararam, ignorando o que Luís falava sobre a planta. Já passara uma semana desde que Mariana voltara e eles estavam bem, conversavam sobre os livros que ela lia e o que via na televisão. Eram conversas rápidas e educadas.
Eduardo gostava de ouvi-la, Mariana falava tudo com tanta vontade, mas o homem precisava de mais. Queria saber sobre ela.
Do que mais ela gostava?
E sua família?
E amigos (além de Luís e Marta)?
- Edu? Mari? – Luís chamava os dois, a moça desviou o olhar para o outro e franziu as sobrancelhas para o rival.
- Erm... tenho que fazer algumas coisas lá dentro. – ela disse enquanto tirava a mão da terra e se afastava rapidamente.
- Mariana é especial. – Luís falou, pensativo quando só estava os dois.
O que ele estava tentando dizer?
Eduardo sentiu um dos olhos tremendo de raiva.
- Ela é uma menina muito boa e inocente. A vida dela não foi fácil. – o rapaz continuou dizendo – Você sabia que aquela surra que ela levou foi da própria irmã?
O patrão sentiu o coração apertar dentro do peito.
Lembrou de tudo que acontecera naquele dia, da forma como ela estava machucada e quebrada por dentro.
- A mulher acha que Mariana a traiu com o próprio marido quando na verdade... – Luís parou o que estava fazendo e suspirou – Eu não sei se deveria contar isso a você, afinal você duvidou da índole dela.
O outro sabia de tudo sobre a vida de Mariana, enquanto ele só conseguiu descobrir poucos detalhes.
Mas como a moça poderia confiar nele depois do jeito que a tratou?
Era um milagre que ela ainda lhe dirigisse a palavra.
- Me diga, eu não vou falar nada para ela. – prometeu.
Os dois homens se encararam. Luís avaliou o rosto do outro, sério, enquanto Eduardo estava impaciente.
- Mariana foi abusada por esse crápula que era seu cunhado. – enfim, ele disse.
Eduardo sentiu o sangue gelar nas veias.
Desde que destruíra toda a casa não tivera mais acessos de fúria, mas agora... sabendo disso, sentia todo o corpo reagir com raiva, fechou a mão em punho.
Precisava achar esse fulano e matá-lo.
- Esse cara está preso?
- Não. Mariana disse que quando a irmã chegou em casa e encontrou o marido em cima dela, ele fugiu. – Luís suspirou – Então a mulher não permitiu que Mariana explicasse nada e a expulsou de casa.
Ele queria prender o cunhado e a irmã de Mariana e mantê-la segura.
- Ela não tem pais?
- Não, eles faleceram há alguns anos. Ela sempre se dedicou à família, principalmente aos sobrinhos. – Eduardo lembrou da foto no quarto dela – Ela sente muita saudade deles.
Eduardo já encontrara a jovem olhando a foto e falando baixinho, como se conversasse com as crianças. Era perceptível o amor e a saudade que a moça sentia das crianças.
- Por que você me disse tudo isso? – perguntou, desconfiado.
Luís riu.
- Eu o conheço desde criança. Não somos amigos, mas crescemos juntos. Eu sei que você não é esse lobo mau que quer ser. – ele olhou para Eduardo – Acho que vai usar essas informações para propósitos maiores. – e saiu, deixando o patrão pensativo.
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Comments
Marcia 🌻
Que bom que o Luís tá contando a vida da Mariana pra ele 😊 assim ele não julga mais Ela 🥰 Torço por Eles Autora 🥰 os dois são sofridos pela vida e só Amor é capaz de curar os dois 🥰🥰 Amando o Livro ❤️
2023-12-20
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