EDUARDO
Os olhos azuis frios observavam o pátio da casa. Há muito tempo não olhava aquela paisagem que conhecia desde que nascera. Quando ele e o irmão, Edgar, eram crianças, corriam pelo pátio, subiam nas árvores, se escondiam dos pais para não serem punidos por alguma travessura… aquele lugar lembrava sua infância. E agora também lhe relembrava sua maior dor...
O pátio era grande e arborizado. A mãe sempre cuidou bem das plantas, principalmente do canteiro de flores, mas agora não havia mais cuidado ali. Tudo parecia sem vida e sem cor, os galhos não eram mais aparados, as folhas secas preenchiam o chão todo. A alegria daquele lugar não existia mais, assim como ele, que ocupava um corpo sem espírito.
Lembrou do dia em que ele, Rafaella, sua esposa e Edgar estavam ali, discutindo. Eduardo acabara de descobrir que a esposa, sua linda e amada esposa, o traíra por anos com o irmão e que aquele bebê que ela trazia no ventre não era seu filho.
A dor que surgiu em seu peito fez Eduardo desferir um soco no rosto de Edgar. Ele e o irmão sempre foram unidos, melhores amigos, mas naquele momento tudo mudara. Rafaella falava, mas o rapaz não conseguia compreender. As duas pessoas que ele mais amava tinham lhe roubado a confiança. Só isso importava, nada mais.
A mãe gritava para impedir a briga entre os filhos, a mulher era amparada pelos empregados que viam a cena do jardim, sem realmente saber a razão da briga entre os irmãos.
Ele desferia socos no rosto do irmão e também era golpeado, mas não sentia dor, seu objetivo era acabar com o traidor, enquanto a esposa tentava proteger o amante com o próprio corpo.
Rafaella dizia que ela e Edgar iam embora para o exterior, eles iam para longe e lá criariam o filho. Tudo que ela pedia era que Eduardo não dificultasse o processo de divórcio. Aquilo foi o bastante. Ele não queria ouvir mais nada, nem queria ver a cara dos dois traidores, por isso correu até o carro que estava estacionado ali no pátio e saiu em alta velocidade, sem um destino certo.
Viu o carro do irmão do lado do seu, Edgar sinalizava para que ele parasse, mas Eduardo ignorou. Afundou o pé no acelerador, tudo que queria era fugir dos dois e da realidade. Ele viu o caminhão vindo do lado contrário, então fechou os olhos, acelerou e foi na mesma direção, um barulho forte e a escuridão fria lhe envolveu, cessando a dor que sentia naquele momento.
Quando acordou no hospital foi informado pela mãe, aos gritos, que Edgar e Rafaella morreram no local do acidente, que ele era o culpado de tudo e que Deus o castigasse para sempre. A mulher amaldiçoou o filho inúmeras vezes e tentou agredi-lo, mas foi contida pelo marido. A mãe o odiava, Eduardo era o responsável pela morte do irmão, o filho preferido.
Sempre soube que Edgar, o caçula era o preferido, afinal tudo que ele fazia de errado era perdoado, assim o irmão se tornou um adulto mimado. Mas nunca imaginou que a mãe pudesse odiá-lo tanto.
Agora Eduardo estava ali, preso à cadeira de rodas, sem os movimentos dos membros inferiores, confinado ao terceiro andar da casa, pois a mãe não suportava vê-lo ou lembrar da existência do filho. Ela exigiu que Eduardo ficasse no último andar, sozinho, sem nenhum contato com ela.
Ela repetira que não tinha mais filho e desejou sua morte em todas as ocasiões que esteve no hospital. Então ele se convenceu que teria sido melhor se tivesse morrido ao invés do irmão, todos estariam bem e ele não sentiria mais aquela dor que queimava dentro de si.
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Comments
patricia033096@gmail.com
mulher miserável
2024-09-09
0
Vera Lucia Oliveira
cadê o resto do livro.
2023-05-17
1
Tatiana Alves
mais autora começou muito bem
2023-05-14
0