EDUARDO
Ele não ia cooperar com a fisioterapeuta.
Estava ali sob a ameaça do pai, mas não era obrigado a cooperar.
A mulher tentou de todas as formas fazer com que ele participasse, mas Eduardo ficou quieto, olhando para o teto, pensando em como Mariana estava.
Será que ela acordara bem?
Talvez fosse melhor levá-la ao médico...
- E então, doutora? – o pai dele perguntou, quando a sessão terminou.
A mulher olhou para o paciente e suspirou, resignada.
- Ele não quis participar da sessão.
Eduardo viu o rosto do pai ficar vermelho instantaneamente, mas deu de ombros.
- Tudo bem, doutora. Nós voltaremos depois de amanhã.
As sessões eram feitas em dias intercalados, para que ele não se cansasse.
E era impossível ele cansar, uma vez que não participava de nada.
A médica aquiesceu e Eduardo saiu na frente, aproveitando que sua cadeira de rodas podia ser mais rápida que as pernas do pai.
Praticamente correu até o carro, onde Pedro esperava.
- Eduardo! – gritava o pai correndo atrás dele – Eduardo!
Fingiu não ouvir, parou a cadeira e esperou que o motorista abrisse a porta e o ajudasse a se acomodar no banco de trás. O pai chegou esbaforido, reclamando.
- Eduardo, você enlouqueceu?
Não respondeu.
- Meu Deus, você parece uma criança fazendo birra! – o pai disse, enquanto Eduardo permanecia calado e observava a paisagem pela janela do veículo.
O sonho não saía da sua cabeça.
A sensação de ter Mariana em seus braços, o calor dela, o gosto dos lábios vermelhos...
Deus, ele não poderia sentir nada por aquela jovem.
Não era por ela ser sua empregada, mas porque ele jurara que nunca mais ia se apaixonar...
Paixão, amor, só tinha gerado tristeza e decepção para ele.
E além disso, que futuro ele poderia dar a ela? Era um aleijado, um homem imprestável.
Mesmo assim não conseguia esquecer a moça, a forma que ela estava frágil no dia anterior. Eduardo queria cuidar dela, protegê-la da crueldade do mundo.
O carro entrou no pátio da casa e ele já estava ansioso para vê-la. Antes de sair, foi até o quarto dela, mas a moça dormia tranquilamente e ele preferiu não perturbá-la.
Pedro estacionou o veículo e, enquanto o motorista retirava a cadeira dele, Eduardo observou a cena que acontecia em frente à porta da casa.
Mariana e Luís estavam conversando. Ela parecia bem, tinha um sorriso leve no rosto, enquanto o rapaz contava alguma história e tocava no braço da moça a todo instante.
Eles estavam muito próximos.
Ignorou a raiva ao ver o garoto tocando nela.
E garoto era apenas um modo de falar, uma vez que Luís e ele tinham a mesma idade.
Ele não tinha direito de sentir ciúme.
Não, não era ciúme.
Quando ela percebeu que ele estava descendo do carro, se despediu do outro e foi até ele, com um sorriso suave no rosto.
- Olá, sr. Eduardo. – disse e ele sentiu raiva.
Porque havia várias barreiras entre eles.
E ela ser sua empregada era só mais uma delas.
Não respondeu.
Mexeu a cadeira em direção aos fundos da casa, sem esperar para ver se a moça o seguia.
Precisava, urgentemente, parar com isso.
Parar com esse sentimento idiota que insistia em aumentar a cada vez que a via.
Não queria sentir vontade de pegá-la no colo e se perder nela.
Chegou no elevador e apertou o botão do terceiro andar, a jovem entrou correndo, quase sendo atingida pelas portas do objeto.
- Sr. Eduardo, preciso me desculpar. – começou – Agi de maneira muito errada ontem.
As portas se abriram e Eduardo saiu em direção à sua caverna (escritório), com Mariana em seu encalço.
- Por favor, me perdoe. Eu juro que não deixarei mais meus assuntos pessoais interferirem no meu trabalho. Eu o agradeço muito por ter cuidado de mim.
Ele não sabia porquê estava com tanta raiva.
Sabia que não era ela a causadora, mas só havia ela ali para ouvir suas queixas.
- Cale-se! – ele falou, ríspido e a moça obedeceu. – Eu não quero ouvir desculpas!
Ele olhou para a jovem e percebeu que os olhos castanhos estavam rasos de lágrimas.
O sorriso sumira.
Ele conseguira magoá-la mais uma vez.
Ignorou o remorso no peito e continuou, duro.
- Saia! Me deixe sozinho!
A moça fez um gesto rápido com a cabeça e saiu, deixando o homem sozinho com seus pensamentos sombrios... e seu remorso.
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