MARIANA
Estava no escritório ajudando Marta com a limpeza quando o patrão, Sr. Geraldo, entrou
- Boa tarde. – o homem falou – Qual seu nome, minha filha?
-Mariana, senhor. – a moça respondeu, nervosa. Com certeza ela seria demitida, o filho tinha pedido ao pai que a despedisse.
Foi bom enquanto durou, pensou, desolada.
- Muito obrigado, minha filha. – ele tocou suas mãos e apertou – Se não fosse você, provavelmente teríamos perdido Eduardo. Eu não sei se aguentaria. – ele apertou as mãos dela mais uma vez e soltou – Eu sei que é difícil aguentar meu filho, acredite, ele não era assim.
- Não, senhor. Não é um problema.
- Você estudou enfermagem?
- Fiz o curso de técnico de enfermagem. – falou – Mas não exerci a função...
Como explicaria que não exercia a profissão porque ficava cuidando dos sobrinhos?
Era a forma que ela via de retribuir a irmã, por deixá-la morar em sua casa.
- Infelizmente não posso cuidar diretamente do meu filho, a mãe dele... – o homem passou a mão pelos cabelos esbranquiçados parecendo desolado - Quero pedir que dê os remédios a ele, da forma que o médico prescreveu. Troque o curativo e se algo acontecer ou Eduardo der muito trabalho, me avise. – o homem mais velho disse – Marta, acrescente um bônus ao salário dela.
- Não é necessário. – ela tentou falar, mas o homem saiu sem olhar para trás.
Mariana olhou para Marta, assustada, mas a governanta sorriu.
- Ele é um homem bom, menina. E justo. – suspirou – Nunca imaginei que o menino faria isso.
- Você acha que ele tentou tirar a própria vida? – perguntou.
Ela viu a mulher mais velha concordar e os olhos encherem de lágrimas.
- Eu vi esse menino nascer. Ele sempre foi uma pessoa boa, feliz... mas depois da confusão e o acidente, parece que apagaram a alma do meu menino. Acho que ele desistiu da vida.
Mariana ouviu a mulher contando histórias da infância do homem, sem imaginar que ela falava do mesmo homem mal humorado que estava no quarto se recuperando de uma possível tentativa de suicídio.
Decidiu que cuidaria dele como cuidava dos sobrinhos, sem se importar com as birras. Ficaria de olho nele para que aquele episódio não se repetisse.
#
EDUARDO
Provavelmente tinha calmante naquele soro, pois ele dormiu por horas e desde que sofrera o acidente não dormia mais do que quatro horas por noite.
Quando acordou viu que já era noite.
O braço ainda doía, olhou para o local em que estava o soro e não havia mais nada ali, o acesso tinha sido retirado.
Apenas o curativo em seu pulso e um pequeno curativo onde estava o acesso do soro.
Aquela moça tinha mãos leves, ele não sentira nada.
Ou o calmante no soro era bem pesado.
Bufou de raiva.
Se o pai pensava que ia mantê-lo sob efeito de remédios estava realmente muito enganado!
Com dificuldade, sentou-se na cama. Seu corpo todo estava muito pesado e os braços cansados. Pegou a cadeira de rodas que estava próxima e posicionou ao lado, como sempre fazia quando queria sair da cama.
Mas aquele não era um dia como os outros.
Ele tinha perdido muito sangue e estava fraco (embora não admitisse).
Por isso, quando foi passar da cama para a cadeira, se desequilibrou e caiu no chão, arrancando um grito de raiva dele.
Odiava ser inútil!
- Senhor? – a voz suave disse da porta do quarto.
- Vá embora! – ele rugiu, do chão, tentando voltar para a cama, mas sentia os braços fadigados.
- Senhor, você não pode fazer força no braço. – a moça falou, ignorando os grunhidos que ele soltava, ela se aproximou – Pode abrir a ferida novamente.
- Vá embora! – mandou, mas a mocinha atrevida não obedeceu.
Ela ignorou a ordem e se abaixou examinando o curativo do pulso.
- Não está sangrando, isso é bom. – ela conferiu – Bem, segure em meus ombros, eu vou levantá-lo.
Aquilo gerou mais raiva nele.
Era um absurdo!
Como uma mocinha daquelas ia segurá-lo?
Ela era pequena e magrinha, um vento mais forte poderia carregá-la, como ela achava que poderia levantá-lo?
- Saia! Eu consigo sozinho! – rosnou.
Parecia que a moça era surda e não ouvia o que ele falava, porque ela colocou os braços ao redor dele e disse:
- Vamos. – pediu de novo.
Eles se encararam por breves segundos
Os olhos castanhos dela eram determinados, Eduardo notou. Por trás daquela aparência suave havia uma rocha. Ele não conseguiria demovê-la de seu objetivo.
- Vamos lá, assim seremos dois no chão. – falou, enquanto envolvia os ombros dela com os braços e esperava mais uma queda.
De uma vez, puxando-o para cima, ela colocou o homem na cadeira de rodas.
Eduardo ficou pasmo.
Num gesto rápido e eficaz, ele estava sentado na cadeira.
- Prontinho. – a moça sorriu, ela estava ofegante, porém satisfeita – Estou terminando o jantar. Daqui a pouco volto com a bandeja.– avisou enquanto saía.
- Eu não quero jantar! – disse, depois que se recuperou do susto.
O homem, pela primeira vez, não deu a palavra final, tamanho o choque com o que tinha acontecido.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Comments
Lucia Cezar
História maravilhosa 👏😍
2024-10-18
0
Anonymous
Continua o livra está ótimo
2024-01-05
1