MARIANA
Ela observou o patrão saindo e ouviu os barulhos que vinham do escritório. Tinha certeza de que o homem jogava tudo que encontrava pela frente, destruindo os pobres bibelôs.
Suspirou, resignada.
Pelo visto o homem era muito irascível, mas Mariana poderia suportar tudo, precisava suportar.
Continuou preparando o omelete, mas sem ligar o rádio novamente. Estava quase terminando quando ouviu um barulho estranho, era o som do elevador.
- Bom dia! – Marta falou, alegre – Hm... que cheiro bom!
Mari sorriu.
- O menino já acordou? – a mulher perguntou, mas não foi necessário resposta, uma vez que o som de coisas sendo arremessadas na parede recomeçou.
A governanta revirou os olhos, resignada.
- Deus! Ele realmente quer dificultar as coisas. – suspirou – Bem, vamos preparar uma bandeja para ele, não se preocupe, eu levarei.
Então as duas se concentraram em ajeitar a bandeja de café da manhã do patrão, com Marta falando sobre as preferências dele.
EDUARDO
Cansou.
Arremessou todos os enfeites que estavam na mesa do escritório.
Inclusive um porta-retrato com a foto do casamento dele.
Pegou a foto do chão, depois que o vidro e a moldura se partiram. Observou o rosto de Rafaella, ele a amara tanto, dedicara anos da vida àquela mulher...
Ela parecia tão apaixonada, os cabelos loiros estavam soltos e os olhos azuis o fitavam com paixão.
Mentira.
Rasgou a foto no exato instante em que a porta era aberta, olhou para trás pronto para expulsar a empregada enxerida, mas viu Marta.
Não conseguia ser ignorante com a governanta.
- Menino, o quê você fez? – a mulher perguntou enquanto deixava a bandeja na mesa e ia até ele – Você está ferido. – ela apontou para a mão dele.
Eduardo olhou o ferimento como quem vê um pato no lago, sem interesse. Saía muito sangue de um ferimento em seu pulso, porém o homem não sentia dor, estava inerte.
- Não é nada, Marta. Pode ir e levar a bandeja, não estou com fome.
- Menino, está sangrando muito! – a mulher disse aflita, ela foi até a porta – Menina, pegue a maleta de primeiros socorros nos armário! Corra!
Eduardo revirou os olhos.
Marta era muito exagerada.
Minutos depois a empregada nova chegou com a maleta de remédios e curativos. Marta tentava estancar o sangue em sua mão com o guardanapo, mas o sangue não parava de escorrer.
- Venha, menina. – ela pediu – Me dê algodão.
A moça obedeceu, mas o sangue não parava de sair profusamente.
- Precisamos chamar um médico. – ela disse, enquanto tentava amarrar uma gaze para conter o sangramento.
Eduardo começava a sentir frio, mas não admitiria isso.
Marta saiu correndo, enquanto a mocinha continuava com o procedimento de torniquete.
- Eu não quero sua ajuda. – ele disse, começando a sentir-se fraco, um pouco tonto e com frio – Não preciso de você e nem de ninguém! – ele tentou afastar a mão, mas sentia o membro pesado.
- Por favor, não se mexa! – ela pediu, calma, pressionando o ferimento – Não se preocupe, eu tenho curso técnico de enfermagem, sei como proceder.
Marta voltou logo em seguida, acompanhada do pai de Eduardo, que falava ao celular.
- Meu Deus, meu menino, o que você foi fazer? – a mulher dizia, chorando, desesperada.
- Marta, que exagero! – ele disse, cansado. Era estranho, mas ele sentia o corpo mole, sem forças – Eu estou bem. – disse embora sentisse a língua pesada e o frio o envolvia.
Mas suas palavras foram em vão quando não conseguiu mais suportar e deixou que a escuridão o envolvesse totalmente.
Sentia uma dor latejante no braço esquerdo, além de um frio inexplicável. Abriu os olhos e se viu sozinho em seu quarto, deitado na cama, as cortinas tinha sido puxadas e o ambiente estava escuro.
- Ele tentou se matar, doutor! – ouviu a voz do pai do lado de fora do quarto.
- Geraldo, não foi nada muito grave... conseguimos conter o sangramento a tempo. Talvez não tenha sido desse jeito, apenas ele se cortou com o vidro quando destruía o escritório.– o médico falava, calmo.
Eduardo olhou o braço e percebeu que onde sentia a dor, perto do pulso, estava coberto por ataduras. Além disso, ele tinha um acesso venoso ligado a uma bolsa de soro.
- Alberto, receite alguns calmantes, faça alguma coisa! – o pai exigiu ao médico e ele revirou os olhos.
O pai era dramático demais.
Não entendia porquê o homem estava tão nervoso, quando a mãe o atacou, chamando-o de assassino, em seu quarto no hospital, o pai não lhe defendeu.
Pelo contrário, o exilou no ultimo andar da casa, aproveitando-se da sua deficiência, para limitar as chances do rapaz ter contato com eles.
E ele não perdia oportunidade de jogar isso na cara do pai.
Eduardo tentou sentar-se na cama, mas não conseguiu, sentia-se fraco demais.
- Senhor. – uma voz suave veio do canto do quarto, olhou para o lugar e viu a mocinha nova, olhando para ele – Não tente se mexer, pode tirar o acesso do soro.
Ele tentou identificar algum traço de pena nela, afinal estavam dizendo que ele tinha atentado contra a própria vida, mas não encontrou nenhum rastro de pena ou comiseração. Ela parecia calma e profissional, como se não sentisse nada.
- E você, por acaso, é enfermeira? – falou revoltado, enquanto teimava em se levantar, mas as pernas mortas eram um peso a mais para ele, não tinha forças.
- Eu fiz um curso técnico de enfermagem. – respondeu, mas sem atrevimento ou algo parecido, a moça estava apenas atestando um fato – Por favor, senhor, não se mexa. – ela tocou seu ombro e tentou deitá-lo na cama, mas Eduardo gritou e se afastou.
- Solte-me! – gritou – Eu não quero sua ajuda!
Os gritos do rapaz fizeram com que o pai entrasse no quarto, assustado.
- Tudo bem, minha filha. – o pai dele disse para a mocinha – Pode ir até a Marta e pedir que faça um café?
A moça assentiu e logo os dois ficaram sozinhos.
- Filho, por que tratar assim essa pobre moça? Você nunca destratou os empregados.
- Eu era outra pessoa. – respondeu, seco - Aquele Eduardo que todo mundo conseguia enganar, morreu no acidente. Eu já disse que não quero ajuda. De ninguém.
- Filho...
- Engraçado me chamar de filho agora. – disse, a voz cheia de rancor – Mas não titubeou antes de me exilar aqui. Não me defendeu quando sua esposa disse que eu deveria ter morrido.
- Edu... – o pai tentou se aproximar dele, mas o filho virou o rosto para o lado oposto.
- Eu não tentei me matar, só estava descontando minha raiva e acabou acontecendo um acidente. – disse, sem encarar o homem mais velho – Não quero ninguém aqui, vocês me exilaram, então quero ficar só, não preciso de ninguém. – repetiu.
- Você está agindo como um adolescente rebelde. – o homem disse, chateado – Eu não demitirei essa moça, foi uma grata surpresa ver que ela tem conhecimentos na área de enfermagem. Se ela não tivesse agido rapidamente... – ele suspirou, resignado – Ela continuará aqui e você tomará os remédios que o médico receitou. Ou então terei que interná-lo em uma clínica.
E saiu.
Eduardo grunhiu e socou, com a mão boa, a cama.
Sentia-se cada vez mais imprestável.
Não andava, não tinha mais poder sobre si mesmo...
Queria REALMENTE MORRER.
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Comments
Valéria Dessire
toc. toc, autora??.🤷
2023-05-26
1
Vera Lucia Oliveira
A história tá boa só continua por favor
2023-05-22
0
Tathyane Silva
vamos que vamos autora a historia ta boa interessante so nao demora a postar alem da nossa curiosidade muitos perdem o interesse
2023-05-19
0