MARIANA
Não sabia porquê se jogara nos braços do patrão, mas foi automático. Ela estava fragilizada e ele era o único humano por perto.
Sentiu o homem se aproximando e envolvendo suas costas com as mãos, ele acariciava suas costas como se quisesse acalmá-la.
O cheiro amadeirado dele invadiu as narinas da jovem e um sentimento de paz tomou conta dela.
Aos poucos, o choro tornou-se mais calmo até cessar completamente.
Não sabia dizer por quanto tempo ficaram abraçados, mas tinha sido o bastante para se envergonhar.
Ela se afastou desfazendo o abraço.
- Des...- antes que terminasse, sentiu a mão dele em seus lábios, calando-a.
- Não se desculpe. – repetiu, mas sem ignorância.
Ela aquiesceu e ele retirou a mão dos lábios dela.
- Vou deixá-la sozinha, coma e descanse. – ele se virou para sair – Se precisar, pode me chamar. Estarei no escritório.
E saiu.
Mariana suspirou, confusa.
Nunca pensou que encontraria conforto naquele homem que parecia tão rude.
Ele tinha sido tão atencioso com ela, que era uma simples empregada...
E tinha um cheiro tão bom ali no pescoço, uma fragrância que a acalmara profundamente...
Colocou a bandeja na mesa que havia ali no quarto e se deitou, abraçada com o porta-retratos dos sobrinhos. Fechou os olhos e, as cenas daquele dia lhe vinham à mente, eram uma mistura do que acontecera na casa da irmã e a sensação de estar no braços daquele homem misterioso que era seu patrão.
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EDUARDO
Estava observando as sombras no jardim quando um grito irrompeu a noite. Era um grito cheio de dor e desespero vindo do quarto de Mariana.
Nem pestanejou, saiu do escritório e se dirigiu até o quarto dela, o mais rápido que a cadeira de rodas conseguia.
Entrou no cômodo sem nem mesmo bater na porta, afinal era um caso de vida ou morte, e encontrou a jovem se revirando na cama, chorando e implorando. Ela estava no meio de um pesadelo.
Eduardo foi até a cama e a sacudiu pelo ombros tentando tirá-la daquele sofrimento. Mariana abriu os olhos e sentou na cama, assustada.
Eles se olharam por meros segundos antes que a moça se levantasse e, sentando em seu colo, ela envolveu o pescoço dele com os braços.
Eduardo ficou estático, sentindo o corpo dela balançar com o choro intenso. O rosto de Mariana encaixou em seu pescoço, enquanto ela soluçava. Aos poucos, envolveu o corpo dela com os braços e inalou o cheiro que vinha dela, uma mistura de perfume de flores com o sabonete que ela usava.
- Mariana... – sussurrou, sentindo o coração batendo forte no peito. Ele levou uma das mãos ao cabelo dela e acariciou, tentando acalmá-la.
Ela levantou a cabeça e os dois se encararam.
Era tão ruim vê-la sofrendo, ele não sabia porquê, mas queria consolá-la, queria arrancar toda a tristeza que havia no coração dela.
- Mariana... – repetiu e levantou a mão, agora acariciando o rosto dela com cuidado, secando as lágrimas que ainda estavam ali – Não chore.
Ele continuou a exploração do rosto dela, desenhando cada detalhe, maravilhado pelos traços bem delineados.
A pele pálida parecia cetim em seus dedos, então ele decidiu que queria prová-la, senti-la. Colocou os lábios em sua bochecha, percorrendo o caminho que uma lágrima tinha deixado ali.
O caminho final foi a boca.
A boca da jovem estava vermelha e entreaberta, ofegante, como se esperasse o mesmo que ele.
Eduardo encarou Mariana e, como se pedisse permissão, levou um dedo aos lábios dela, contornando, sentindo a textura...
Aproximou-se lentamente, os olhos estavam presos um num outro quando os lábios se encontraram.
- Edu! – o mundo sacolejava à sua volta – Eduardo!
Abriu os olhos e viu que tinha dormido ali mesmo no escritório, enquanto vigiava a noite.
Depois que deixou Mariana no quarto, ficou atento a cada barulho que poderia vir de lá.
- Edu, vamos, temos uma consulta com sua fisioterapeuta. – o pai dizia insistentemente.
Então havia sido um sonho.
Deus, por que sonhara com aquilo?
E por que estava tão chateado por ter sido acordado?
- Eduardo! – o pai dele insistiu e, enfim, encarou o homem. Por que ele estava ali?
Por que o pai era tão insistente?
- Eu não vou!
- Vai sim! Você me prometeu ontem!
Tentou lembrar, mas tudo que tinha na mente era a garota que dividia a casa com ele, ela em seus braços...
- Eu não quero ir! – disse cruzando os braços na frente do corpo, sabendo que estava sendo birrento – Eu sou aleijado, pai! ACEITE! Seu filho é defeituoso!
Ele o olhou com raiva.
- Você vai. Te darei meia-hora para tomar banho, trocar a roupa e então iremos ou então irei interná-lo numa clínica na Suíça.
E saiu, deixando um Eduardo revoltado e impotente para trás.
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MARIANA
Acordou muito dolorida.
Levantou-se com dificuldade e foi até o espelho que havia no banheiro. Os hematomas em seu rosto estavam mais escuros, seu olho esquerdo nem abria direito.
Olhou para o relógio e viu que já estava atrasada, era quase oito horas da manhã. Saiu do quarto e foi até o escritório, provavelmente o patrão já havia acordado e isso era terrível.
Mariana gostava de preparar o café da manhã dele antes que o homem acordasse.
Procurou o homem por todos os cômodos, mas não o encontrou em nenhum lugar. Ela queria de desculpar com ele, antes de tudo.
Ouviu a porta do elevador se abrindo e Marta entrando. A governanta a abraçou com carinho e ela se sentiu profundamente envergonhada.
- Menina, você está bem?
- Estou, Marta. – sorriu – Desculpe pela cena que fiz ontem. Estou com vergonha de você, do seu filho e até do sr. Eduardo.
- Não fale isso, minha filha. – ela disse dando um beijo na bochecha da moça – Aqui somos uma família, o menino Eduardo é um bom homem, ele ficou muito preocupado.
Sentiu o rosto esquentando ao lembrar que caiu nos braços do patrão, como uma louca.
- Você o viu? Ele não está aqui.
- Ele saiu há pouco tempo com o pai. – respondeu – Venha, vamos tomar café lá embaixo. Só estamos eu e Luís, Pedro saiu com os patrões.
Mariana não queria comer, não sentia fome, mas não disse que não queria para não chatear a mulher. As duas desceram juntas, enquanto conversavam sobre o que tinha acontecido no dia anterior.
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