Capítulo 7

Assim se passou um mês, e Marcus estava insuportável como nunca. Sua arrogância parecia ter atingido um novo patamar, e ele não perdia a oportunidade de humilhar quem estivesse ao seu alcance. Lorenzo, já no limite da paciência, chegou a discutir com William por causa dele.

— Esse cara é um completo idiota! — Lorenzo esbravejou durante uma conversa na sala de William. — Não basta ser prepotente, ele ainda faz questão de passar por cima de todo mundo.

William, que parecia exausto do assunto, suspirou e ajeitou os óculos.

— Lorenzo, eu entendo o que você está dizendo, mas minhas mãos estão atadas. Marcus é o melhor em sua área, e o que ele traz para o hospital... — William hesitou. — Os lucros são inegáveis.

— Então é isso? Você vai continuar deixando ele pisar em todo mundo porque ele traz dinheiro? — Lorenzo rebateu, indignado.

— Não é tão simples. — William respondeu com um tom firme. — Eu não estou defendendo o comportamento dele, mas o hospital precisa dele.

Lorenzo saiu da sala irritado, sentindo-se impotente. Marcus era um problema que ninguém parecia disposto a resolver.

Nos últimos meses, porém, algo inesperado começou a ocupar sua mente. Lorenzo passou a observar Zoe com mais atenção. Ele notava como ela dedicava parte do tempo livre para treinar sutura, todos os dias, sozinha em uma sala de prática.

Ela colocava todo o foco em cada movimento, ajustando a posição das mãos e repetindo o processo até alcançar a perfeição. Lorenzo, mesmo sem perceber, passou a admirá-la por isso. Ela era esforçada e determinada, qualidades que ele respeitava profundamente, mesmo que nunca tivesse admitido.

Certa tarde, enquanto passava pelo corredor, ele a viu novamente naquela sala de prática. Zoe estava tão concentrada que nem notou sua presença. Lorenzo hesitou por um momento, mas acabou encostando na porta e batendo levemente.

— Achei que os internos já tinham ido para casa. — Ele comentou casualmente, entrando na sala.

Zoe levantou os olhos, um pouco surpresa, mas respondeu com um sorriso tímido.

— Ainda tenho muito o que aprender. Não posso desperdiçar tempo.

Lorenzo deu um leve sorriso, cruzando os braços enquanto a observava.

— Você sabe que está fazendo um trabalho impecável, certo? — Ele disse, analisando a sutura que ela acabara de terminar. — Muitos já teriam desistido de tentar melhorar.

— Talvez, mas ainda não é suficiente para mim. Quero estar preparada para qualquer situação. — Zoe respondeu, sua voz carregada de determinação.

Lorenzo ficou em silêncio por um momento, admirando não apenas o que ela fazia, mas também a força de vontade que transmitia.

— Continue assim, Zoe. Essa dedicação vai te levar longe. — Ele disse antes de sair da sala, deixando-a surpresa com o elogio inesperado.

Enquanto caminhava pelos corredores do hospital, Lorenzo não pôde evitar pensar que, apesar dos problemas diários, Zoe era uma das poucas pessoas que faziam tudo valer a pena.

...[...]...

Lorenzo estacionou o carro em frente ao restaurante onde havia combinado de se encontrar com sua família. Ele sabia que esses encontros eram importantes, mas, após uma semana cheia no hospital, a última coisa que queria era lidar com o caos que sempre vinha junto com sua irmã mais nova, Giovana, que estava no auge da adolescência rebelde.

Ao entrar, viu sua mãe, Emma, já sentada em uma mesa, com o rosto iluminado por um sorriso caloroso. Ao lado dela, Loren estava ajeitando o babador da pequena Amora, de apenas dois anos, que estava em uma cadeira alta, enquanto Jacob, o marido de Loren, lia atentamente o menu.

— Finalmente! — Emma exclamou ao vê-lo, levantando-se para abraçá-lo. — Achei que não ia chegar.

— Trânsito. — Lorenzo justificou, beijando a mãe no rosto antes de cumprimentar Loren e Jacob. Ele fez uma careta divertida para Amora, que soltou uma gargalhada.

— Até que enfim, hein? Já pedi uma entrada porque achei que você ia nos deixar morrer de fome. — Loren provocou, lançando-lhe um olhar divertido.

Antes que Lorenzo pudesse responder, Giovana entrou no restaurante, arrastando os pés e com os fones de ouvido pendurados no pescoço.

— Você podia pelo menos ter tirado os fones para vir aqui, Giovana. — Emma disse, reprovando-a com o olhar.

— Ai, mãe, que diferença faz? — ela resmungou, jogando-se na cadeira ao lado de Jacob. — Eu nem queria vir.

Lorenzo soltou um suspiro, olhando para Loren, que riu baixo.

— Adolescência, fase linda da vida. — Loren comentou ironicamente.

— Eu estou cercado por loucos. — Lorenzo murmurou, abrindo o menu e tentando ignorar o olhar entediado de Giovana.

A conversa durante o jantar fluiu entre risos e provocações. Emma contou sobre seus novos projetos na comunidade local, Loren falou sobre o quanto Amora estava crescendo rápido demais, e Jacob compartilhou histórias engraçadas do trabalho. Giovana, no entanto, permaneceu no celular a maior parte do tempo, até que Emma finalmente tomou o aparelho dela.

— Mãe, sério? — Giovana reclamou, cruzando os braços.

— Sim, sério. Estamos aqui para conversar, não para você ficar no celular.

Lorenzo observou a cena com um misto de cansaço e diversão. Ele sabia que, apesar de toda a birra, Giovana tinha um bom coração, só estava passando por aquela fase difícil.

Quando os pratos principais chegaram, a conversa se voltou para Lorenzo.

— E você, Lorenzo? Alguma novidade no hospital? — Emma perguntou, enquanto cortava a comida de Amora.

Ele deu de ombros.

— Nada fora do normal, tirando um colega insuportável e alguns casos complicados.

O jantar continuou com mais risos e conversas, e, apesar das implicâncias e do caos, Lorenzo se lembrou do quanto amava sua família, com todas as suas imperfeições. Ao final, ele percebeu que, mesmo após um dia exaustivo, esses momentos eram exatamente o que ele precisava para recarregar as energias.

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