Lembranças

^^^Esse capítulo contém ataque de pânico se você não se sente confortável com esse tipo de situação sugiro que pule para o final do capítulo^^^

...Sam King...

Ao chegarmos no quarto eu me dirijo ao banheiro, as lágrimas descem sem controle, soluços saiem da minha boca, porque eu fiz isso? Porquê beijei ele?

Sempre houve uma linha tênue que eu não podia ultrapassar e eu a ultrapassei hoje, e dói, dói pra caralho querer isso, dói querer ele...

A água quente escorre por todo meu corpo e vou ao chão ao me lembrar daquela noite.

Flashback on

Vejo John vindo em minha direção, ele parecia cansado, estava com sangue na calça e blusa.

Ele me vê e acena com a cabeça

— Teve missão hoje Samael?_me pergunta enquanto coloca café na xícara_

Estávamos no campo de treinamento, na cozinha, eu estava fazendo uma mistureba nojenta pra comer.

— Sim senhor, protegi o filho de um dos cabeças._digo sem emoção_

John se encosta no balcão a minha frente e me encara com os braços cruzados.

— O que?! Você só tem nove anos, não tem capacidade para proteger um adulto!_diz incrédulo_

— reviro os olhos — Não tenho capacidade para proteger mas para matar um exército de homens eu tenho Winchester? Me poupe, e ele não é adulto, é mais velho que eu três anos.

John levanta uma sobrancelha e me olha confuso

— Deve estar se perguntando quem eu protegi não é? Eu lembro seu nome, é Henry Winchester._digo rindo debochadamente_ Fica tranquilo ele tá vivo e bem.

Vejo que John não acredita em mim e pega o celular fazendo uma ligação, suas mãos tremiam.

— Amor?! Cadê o Hen?! Dormindo? Passa pra ele, acorda ele eu quero falar com ele.

John passa a mão no cabelo raivosamente, e eu me sento em cima do balcão cruzando minhas pernas e colocando o prato com comida entre elas.

— Filho?! Você está bem? Como foi o dia?_John  abre um sorriso ao ouvir a voz do garoto e suspira_ Desculpe ter mandando sua mãe acordar você, fiquei preocupado atoa, tchau filho, bons sonhos. Eu amo você.

Reviro os olhos

— Acho que fiz um ótimo trabalho protegendo seu bastardozinho não é?_pergunto colocando meu prato de lado e cruzando os braços_ Ele até que é muito bonito, ao invés de ficar seguindo ele deveria ter dado em cima vai que meu trabalho tinha ficado mais fácil?_digo rindo debochadamente_

John me encara raivosamente e avança para cima de mim, uma de suas mãos vem em direção ao meu pescoço apertando-o dolorosamente, enquanto a outra vai até suas costas pegando a arma e apontando para minha cara. O cano gelado da glock sendo pressionado em minha bochecha esquerda, me forçava a fechar meu olho esquerdo.

— Vai John, continua, termina o trabalho, termina de foder a minha vida._falo sem remorso_

Meu sangue fervia em ódio puro, a glock pressionada em minha bochecha, machucando meus dentes não surtia efeito, minha adrenalina estava a mil, e eu não derramaria lágrimas na sua frente, nunca.

— Você não é boa para o meu filho._John cospe as palavras na minha cara_

— E quem vai ser? Seu filho tem sangue da porra de um assassino de inocentes, eu deveria tê-lo deixado morrer, assim você sentiria um por cento do que eu senti quando você matou meus pais._digo sem emoção olhando em seus olhos_

Então John vacila, seus olhos se arregalam e vejo lágrimas fazendo menção de descerem para seu rosto.

Eu só sentia raiva, o olhava com desprezo e nojo

— Mas eu sou diferente de você, não vou foder sua vida como você fodeu a minha, fica. De. Boa.

Avanço dando um soco em sua mão derrubando a arma, dou um chute em sua barriga fazendo com que o mesmo se incline, e aproveito a situação para dar-lhe um soco no rosto.

John se afastar rápido, e eu volto a cruzar minhas pernas pegando meu prato.

— De nada inclusive, pretendiam matar ele._falo pondo uma grande colherada da gororoba na boca_

— Quero deixar uma coisa clara Samael, nunca mais chegue perto do meu filho, nunca._diz saindo da cozinha_

— Essa linha eu faço questão de não cruzar SEU CUZÃO!!_grito para que o mesmo me escute_

Flashback off

As batidas frenéticas na porta me trazem de volta a realidade. Me levantando do chão e desligando o chuveiro, eu pego a toalha e passo em meu corpo, abrindo rapidamente a porta. Ao abri-la tenho a visão de um Henry totalmente diferente, seu rosto suado e sua boca sem cor, suas feições assustadas, ele estava com medo, nervoso.

— Você está bem? Estava no banheiro a uma hora, fiquei preocupado._suas feições suavizam ao me ver bem_

— Desculpe senhor, a água estava boa._me limito em dizer_

Me forço a me distanciar dele e caminho em direção ao closet, pego uma calça e blusa, ambas pretas e um tênis preto, a calça era jeans e folgada, a blusa também era folgada, coloco a roupa e não me preocupo em prender meu cabelo.

Saio do closet e vejo o Henry saindo do banheiro com a toalha na cintura, desvio rapidamente meu olhar seguindo em direção a cama.

Pego meu celular e saio do quarto, entrando no elevador faço uma ligação.

— Irmã? O que aconteceu?_Dean pergunta preocupado_

— Eu beijei ele._digo rápido_

— Irmã qual o pro..._corto sua fala_

— Eu o beijei, eu ultrapassei o limite, porra eu não podia ter feito isso, olha só pra mim Dean, olha o que eu sou!? Eu preciso sair daqui, preciso voltar pra casa, não posso, não posso fazer isso.

Sinto minha respiração acelerada, meu coração batia rápido

— Sam, respira, você vai ter um ataque de pânico, respira!_Dean fala alto_

Não consigo obedecê-lo, minha mente só trabalha em me lembrar daquela noite, da noite que John e eu começamos a nos odiar mais ainda, da noite que odiei cada palavra que saiu da minha boca e cada palavra de John que grudou na minha cabeça me fazendo ser o que sou hoje.

Começo a perder o controle da minha respiração, caindo de joelhos no chão do elevador, Dean grita na ligação mas não consigo entender nada.

Minhas mãos vão para o meu peito batendo desesperadamente com a esperança de que eu volte a controlar minha respiração.

As puxadas sem sucesso em busca de ar me deixam desesperada.

Me vejo jogada no chão, minhas mãos trêmulas, sem ar e o coração batendo freneticamente.

Eu estava perdida, sentia que iria morrer a qualquer segundo.

Então a voz de John ecoa em minha mente, vindo como socos estrondosos, dizendo que eu não sou boa o suficiente para ninguém, dizendo que sou um monstro, dizendo que eu não valho a pena.

Meus olhos ardem com as lágrimas que descem se perdendo em meu rosto.

Minhas forças indo embora por não conseguir respirar, sinto que a qualquer momento vou desmaiar.

Seria bom, eu penso, eu não sou boa para ninguém, então, porque estar viva? Por que se forçar tanto a continuar se no fundo, você é só mais um pedaço de merda perdido nesse mundo grotesco?

Começo a desistir da procura incessante pelo ar e fecho os olhos aceitando o que de fato é bom pra mim

Morrer

Porém as portas do elevador se abrem me deixando em alerta, forço meus olhos para cima e tenho a visão de um Henry todo suado e desarrumado me fitando com seus olhos azuis desesperados.

Ele estava com o celular em mãos recebendo instruções de alguém. Henry se joga no chão e me puxa para si.

— Дыши, все в порядке, я здесь, дыши Сэм– Respire, está tudo bem, eu estou aqui, respire Sam–_Henry me fala desajeitadamente_

Henry repetia a frase em russo, como um mantra no qual eu tinha que seguir, ele começa a fazer os movimentos de inspirar e expirar para que eu o imite. Faço os mesmos movimentos que ele e minha respiração começa a voltar aos poucos.

Minhas mãos estavam em seus braços, eu o segurava com força, como se aquilo fosse minha salvação, tocá-lo era minha salvação, pois me fazia lembrar o porquê de eu precisar estar viva.

Eu Preciso protegê-lo.

— Obri...gada._agradeço abaixando a cabeça envergonhada_

— Dean, ela voltou._Henry fala ainda com os seus olhos vidrados em mim_

— Irmã, hoje pego o primeiro voo para o Brasil. Devo chegar amanhã à tarde._o escuto dizer enquanto mexe em algo_

— Não se preocupe, estou melhor!!_digo tentando tranquiliza-lo_

— Que se foda que está melhor, amanhã estou aí!!_diz desligando_

— Ele é super protetor._aviso olhando para Henry_

— Ele está certo em ser, olha só o que aconteceu!? Eu não saberia de nada se ele não tivesse me ligado desesperado!!_diz suspirando_ Vamos para o quarto. Você precisa descansar._fala me ajudando a levantar_

Me levanto saindo do elevador e me agachando no chão.

Henry me olha sem entender

— Só preciso de um tempo, só um tempo._digo respirando fundo com os olhos fechados_

Sinto ele sentar-se no chão ao meu lado e segurar minha mão, abro meus olhos e lhe dou um sorriso tímido, o mesmo leva minha mão aos lábios dando um beijo carinhoso.

Me lembro das falas do seu pai e as minhas, eu tenho que falar pra ele a verdade, tenho que falar, não posso mais esconder.

Viro meu rosto olhando para fora do hotel, observando nas portas de vidro as pessoas passando do lado de fora, despreocupadas e tranquilas.

Queria viver assim.

Até que vejo um rosto familiar, um rosto muito familiar, ele me lança um sorriso perverso, o vejo entrar no hotel sem tirar os olhos de mim, prontamente me ponho a frente de Henry, assim tirando a visão do homem que me encara, ao se virar para a recepcionista eu me levanto e puxo o Henry para dentro da caixa metálica.

Observo as portas se fecharem rápido e suspiro aliviada.

— O que aconteceu?! Está passando mal de novo?_Henry me pergunta preocupado_

— nego com a cabeça — Estou bem, só quero voltar para o quarto._sorrio tentando passar tranquilidade_

Ele deve ter visto as notícias, eu devo ter saído em uma das fotos tiradas no aeroporto.

Eu prometo, prometo que se ele chegar perto do Henry farei com que ele implore pela morte.

"Sinto que, a cada lembrança, minha alma se perde mais ainda nessa escuridão que é meu passado, acho que chegará um dia que não sobrará nada, nada que possa me fazer querer continuar. Acabarei num vazio, construído pela minha própria mente pelos erros cometidos por mim. Meu coração grita que a culpa não é minha, mas meu cérebro, meu cérebro não me deixa esquecer que mesmo que a culpa não seja minha, o sangue está em minha mãos, e por isso sei que, no fundo, não à salvação para mim."

...Ass:Moon...

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