Capítulo 4 - O Retorno

Depois de seis semanas, Maya ainda estava esperando pelo telefonema de Dean Maxwell.

Ela agira como uma tola por esperar que ele ligasse, claro e, depois de várias conversas com Kate, tivera a certeza de que Dean nunca se envolvia seriamente com as mulheres com quem saía.

Desde o fim do casamento, segundo Kate, Dean tivera uma multidão de mulheres, mas nunca, sussurrou-lhe a secretária, como se tivesse adivinhado que o interesse de Maya era sério, ficara com uma funcionária das galerias Maxwell.

E, se ficara, talvez ela tenha deixado de ser funcionária dele rapidinho, pensou Maya.

Na verdade, ela vivera a maior parte das últimas seis semanas esperando ser demitida. Claro que não era tão fácil se livrar das pessoas hoje em dia, mas Maya não tinha dúvidas de que, se Dean a quisesse longe dali, ele daria um jeito.

O fato é que ele finalmente estaria de volta a Lon­dres na semana seguinte, a tempo para a inauguração de uma exposição, e isso não a ajudava a se concentrar no trabalho.

Na verdade, Maya se sentia um tanto desastrada hoje, derrubara várias coisas pela manhã, parecendo totalmen­te descoordenada.

Claro que ela sabia a razão do crescente nervosismo.

A chegada de Dean estava se aproximando com uma velocidade que a deixava tonta.

Talvez devesse ter pedido uma licença de alguns dias, dizendo-se doente. Estava mesmo se sentindo enjoada pelos cantos, incapaz de comer o dia todo.

A ansiedade pela idéia de ver Dean novamente parecia aumentar a cada dia.

Se bem que o motivo por que ela deveria ficar nervosa estava além da compreensão. Afinal, fora Dean quem a convidara para sair, e não o contrário. E ela não se convidou para voltar ao apartamento. Na verdade...

— Maya?

Uma voz familiar lhe soou no ouvido. Ela se virou rápido e deixou cair alguns cartões que estava preparando para a exposição.

— Desculpe.

Murmurou, agachando-se para pegá-los com as mãos trêmulas e aproveitando uns poucos se­gundos para se recompor.

Durante as seis semanas de ausência e silêncio de Dean, decidira que agiria com frieza e seriedade quando o encontrasse, e não faria referência alguma, se Dean não fizesse, ao fato de eles terem passado a noite juntos no apartamento na cobertura do prédio...

— Vamos para o meu escritório.

Disse ele, mal es­condendo a

impaciência.

— Quero conversar com você.

Era o mesmo Dean, percebeu Maya, ansiosa.

A pele cor-de-oliva estava bronzeada, os olhos azuis exibiam o mesmo olhar ferino e o cabelo castanho, embora pare­cesse ter sido cortado.

Vestido de maneira formal, com um terno cinza-escuro e uma camisa branca, com uma gravata de seda caprichosamente amarrada ao pes­coço, ele parecia um homem que estava no controle da situação.

E parecia exatamente o que era: o multimilionário se­guro, proprietário de três prestigiadas galerias de arte.

Olhando para Dean agora, Maya se perguntava como pôde pensar que ele estava mesmo interessado nela!

— Maya.

Gritou Dean franzindo a testa para o silên­cio

dela.

Ela percebeu que estava se comportando como uma idiota, parada ali, olhando-o, sem palavras diante da apa­rição súbita dele na galeria.

Ela respirou fundo, desejando agir com naturalidade.

Claro, com tanta naturalidade quanto fosse possível dian­te do homem que a assombrara e com o qual sonhara nas últimas seis semanas!

— Em que posso ajudá-lo, Sr. Maxwell?

Ela per­guntou, exalando uma eficiência calma.

— Você pode subir para meu escritório comigo.

Ele respondeu, com firmeza.

— Agora!

Acrescentou, sem esperar por uma resposta e virando-se de repente, deixan­do a sala a passos largos.

Kate, que trabalhava ali perto, olhou curiosa para Maya quando ela seguiu Dean pela galeria. Como resposta, Maya deu de ombros, como se perguntasse "como poderia saber?".

Porque ela realmente não sabia o que estava acontecen­do. Eles jantaram e dormiram juntos, mas ela não falara a ninguém aquilo, muito menos tentara entrar em contato com Dean.

Então qual era o problema?

Quanto mais pensava no assunto, diante do silêncio que Dean fazia ao subir a escada que conduzia ao escritó­rio dele no segundo andar, com mais raiva ficava.

Será que esperava, que Maya tivesse pedido demissão antes que ele retornasse? Por que Dean estava tão furio­so? Por que ele não esperava encontrá-la na galeria?

Bem, isso teria sido mais do que injusto, não?

Maya adorava o emprego e também gostava das pesso­as com as quais trabalhava. Além do mais, a esquisitice da situação não era culpa dela, droga!

Maya olhou para Maya irritado ao fechar a porta do es­critório.

Ele podia estar enganado, mas diante do rosto vermelho e do brilho nos olhos de Maya, apostaria que estava diante de uma moça bastante indignada.

Ele se sentou atrás da mesa de mármore italiano, uma mesa que mais de um cliente tentara comprar.

Dean sempre se recusara a vendê-la, já que o móvel parecia complementar o restante do escritório, todo de madeira e bastante austero, ainda que a vista da janela desse para o rio.

— Então, por que esta com raiva, Maya?

Ele pergun­tou, com as sobrancelhas arqueadas sobre os olhos azuis que pareciam rir da situação.

— Por eu ter sido mal-edu­cado agora? Ou por que eu não telefonei nas últimas se­manas?

Desafiou.

— Seis semanas.

Ela respondeu, ficando imediata­mente vermelha.

— Que seja.

Dean deu de ombros, sabendo exa­tamente quanto tempo fazia desde que a vira pela últi­ma vez, mas sem ter a menor intenção de deixar que ela percebesse.

Estava tão certo de que Maya Jones seria como as todas as outras mulheres que ele conhecera nos últimos dois anos, fáceis e desprezíveis.

Mas, por algum motivo, não conseguira esquecê-la.

A lembrança daqueles olhos e daquele corpo macio vinha à mente nos momentos mais inoportunos. Irritando-o intensamente.

O brilho de raiva nas profundezas daqueles olhos afe­tuosos e o modo como aqueles lábios carnudos e sensu­ais se fecharam lhe diziam que a atitude pouco carinhosa dele só a deixara mais furiosa.

Mas isso não o incomoda­va muito.

Não numa relação de negócios. Numa relação pessoal, contudo, Dean achava aquilo muito excitante!

Maya estava linda, vestida com uma camisa creme por dentro de uma saia comprida até o joelho, exibindo pernas longas e sedosas.

Dean achava que, com a ausência de seis semanas da galeria de Londres, o desinteresse em cumprir a promes­sa de telefonar-lhe a própria insegurança o assegura­riam de que ele iria se esquecer completamente de Maya Jones!

Mas antes mesmo de ver o quadro, sabia que não con­seguira isso.

Dean ficou sério ao olhar para onde colocara a pintura, num suporte no canto do imenso escritório, com um pano para protegê-la. Mas também para que Maya não a visse antes de estar preparada...

Maya olhou para Dean de forma severa ao perceber que ele a continuava observando.

Embora estivesse trêmula por dentro, ela juntou as mãos para evitar que Dean percebesse.

— Desculpe, mas... Você deveria ter me ligado?

Per­guntou, com toda a frieza que conseguia fingir.

E que era considerável, pelo modo como a boca afinou-se e seus olhos se estreitaram.

— Está certo, Maya, esqueça isso por um momento.

Disse Dean.

— E me diga tudo o que você sabe sobre Andre Souter.

Ela franziu a testa ao procurar na memória por fatos relevantes sobre o artista, sem ter a menor idéia de por que Dean estava lhe

perguntando aquilo, a não ser que fosse um esforço da parte dele para provar que ela não era pre­parada para o trabalho, tendo assim, uma desculpa para

demiti-la.

Maya engoliu em seco.

— Inglês. Nasceu em 1953. Começou a pintar com 20 anos, principalmente retratos, mas mais tarde se dedicou às paisagens, mais recentemente sobre o Alasca...

— Não estou pedindo uma biografia do cara, Maya!

Interrompeu-a Dean, levantando-se.

— Perguntei o que você sabe sobre ele.

— Eu?

Perguntou, dando um passo para trás, ligei­ramente assustada com aquela agressividade.

— Eu aca­bei de lhe dizer o que sei sobre ele?

— Não seja tão modesta, Maya.

Dean a interrom­peu mais uma vez, rindo com os olhos azuis.

— Não estou pedindo detalhes, apenas confirmando se você o conhece. E se você pode entrar em contato com ele pessoalmente.

Ela ficou totalmente confusa. A conversa não parecia ter nada a ver com a noite de seis semanas antes, nem com uma tentativa de provar que ela era incompetente.

Ao que parecia, tinha a ver somente com Andre Souter. De quem ela era admiradora, mas que com certeza jamais vira, muito menos pessoalmente.

Ela não assumiria o relacionamento, percebeu Dean frustrado. Bem, o cara era velho o bastante para ser o pai de Maya, o que talvez explicasse a relutância dela em falar sobre o assunto.

Que seja. Ele estava tentando combinar um encontro com Andre Souter há anos. Mas pela primeira vez nem os nomes Dean Maxwell nem Gale­rias Maxwell abriram-lhe as portas. E agora parecia que Maya, entre todas as pessoas, podia ser a chave para tal encontro.

Além de decidir que tinha de ficar o mais afastado possível dela no futuro e que não poderia levá-la para a cama outra vez, ele acabara de descobrir que, se quisesse chegar perto de Andre Souter com a proposta de uma exposição de suas obras, então teria de conversar com Maya.

— Veja, Maya, vamos começar esta conversa novamen­te.

Sugeriu.

—Aceito que ultrapassei o limite da relação patrão/empregado com você há seis semanas, do mesmo jeito que você tem de aceitar que não foi uma escolha só minha, certo?

Ela o fitava com certo deboche. Se ele estava tentando se desculpar pela noite que passaram juntos ou pelo te­lefonema que ele não deu desde então, era uma tentativa sofrível.

Além do mais, um pedido de desculpas era ofen­sivo, para dizer o mínimo.

Maya estivera tão triste nas últimas semanas, se per­guntando o que fizera de errado, o que fizera para que Dean Maxwell nem ao menos lhe telefonasse ou tentasse se encontrar com ela.

E agora ele surgira inesperadamente, ignorando a noi­te que passaram juntos antes de conversar sobre Andre Souter, um artista com uma reputação incrível e conhe­cido como um recluso completo há mais de 30 anos.

Maya percebeu que não entendia Dean. Agora ela o olhava com frieza.

— Isso é tudo?

— Não, claro...

Ele respirou fundo.

— Você está tentando me irritar de propósito?

Ela franziu a testa, rindo dele.

— Parece que estou fazendo isso sem nem tentar!

Ele relaxou um pouco e um sorriso de diversão surgiu nos lábios finamente esculpidos.

— Agora entendo por que achei você tão intrigante na­quela noite.

Disse Dean.

Não era o que Maya queria ouvir. Não naquele lugar. Não naquele momento.

Ela passara a primeira semana em que Dean estivera em Nova York tendo um ataque de auto-recriminação, que­rendo desesperadamente que ele telefonasse para anular aqueles pensamentos negativos.

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Minha Opnião

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A história parece boa mas é basicamente pensamento da autora

2023-12-14

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